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COLUNAS

Quinta-feira, 3/9/2015
Meio Sol Amarelo
Guilherme Carvalhal
+ de 4700 Acessos

Meio Sol Amarelo

A literatura africana é bastante distante de nós brasileiros. Se formos retratar autores deste continente, provavelmente vamos nos referir a Luandino Vieira ou Mia Couto por causa da lusofonia, incluindo o livro Os Cus de Judas, de Antônio Lobo Antunes nesse rol. Figuram ainda entre os mais conhecidos J. M. Coetzee e Naguib Mahfouz, que conseguirem ser alçados ao patamar de autores mundiais e traduzidos para diversos idiomas. Albert Camus era argelino, mas aparentemente costuma ser mais tratado como europeu do que como africano.

O livro Meio Sol Amarelo, da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, é exemplar muito claro de como determinadas barreiras culturais tem sido derrubadas e que um livro de uma autora negra e africana pode sim se tornar mundial e altamente representativo para seu país, levando sua história e sua cultura ao mundo inteiro.

Para compreender o livro, é preciso entender a história da Nigéria. O país foi uma colônia britânica, que introduziu seu idioma, sua cultura e o dividiu etnicamente. Então sua estrutura se tornou complexa, contendo vários idiomas, uma parcela da população ocidentalizada e outra mais tradicional, além da questão da multiplicidade religiosa, com o cristianismo, o islamismo e religiões tradicionais do país.

Em 1960 o país conquistou sua independência. Em 1966 passou por dois golpes de estado em sequência e os problemas étnicos e políticos levaram a etnia igbo a declara a independência da República de Biafra, situada a leste do país. Daí então sucedeu a guerra civil, deixando um saldo de mortos acima de um milhão, entre vítimas de combate e mortos do fome. Em 1970 Biafra capitulou e a Nigéria se reunificou. Esse conflito é considerado o primeiro envolvendo causas étnicas desde a Segunda Guerra Mundial.

O livro de Chimamanda Ngozi Adichie se passa durante esse período, mostrando a relação de diversos personagens com o país e com a guerra que se desenrolou. Além de ser uma história muito bem desenvolvida, é uma aula de história de seu país e de seus muitos conflitos.

O ambiente estabelecido pela autora em seu livro visa construir no leitor um painel profundo de seu país e da sua complexidade. Pode ser compreendido de diversas maneiras: o processo de ocidentalização a destruir as práticas tradicionais, a submissão popular diante de culturas tidas como mais "nobres" e que desvalorizam a cultura local, os choques entre ricos e pobres, mesmo que dentro de um igual grupo étnico, as relações pouco compreendidas que unificam um país de sociedade diversificada, como se a identidade de um nigeriano fosse fruto mais do colonialismo europeu do que do próprio entendimento de seu povo enquanto nação.

A trama conta com vários personagens principais, com destaque para Olanna, uma jovem de classe alta educada na Inglaterra. Filha de um empresário, sua família igbo é ocidentalizada e ela e sua irmã gêmea, Kainene, estudaram em outros países e possuem um padrão de vida alto.

Olanna se envolve em um relacionamento com Odenigbo, professor universitário oriundo de uma família com vínculos tribais. Odenigbo é engajado em questões políticas e é de classe alta, reunindo em sua casa um amplo grupo de intelectuais, contando de professores a militares.

Esse núcleo de personagens apresenta uma abordagem dos choques de modernidade do país, inserindo sua multiplicidade étnica e religiosa no meio. O pai de Olanna, após o golpe de estado, começa a procurar os governantes para traçar seu relacionamento empresarial, mesmo ele sendo parte da minoria igbo. Para ele não interessavam as diferenças, mas a necessidade de se lucrar dentro dessa situação, uma visão do capitalismo inserido no país a atropelar quaisquer barreiras étnicas. Da mesma maneira Olanna possui um pretendente islâmico e rico, considerado um bom partido, porém as diferenças religiosas impediriam o relacionamento. Por sua vez, Olanna enfrenta conflitos com a mãe de Odenigbo, que não aceita de maneira alguma os dois juntos por motivos étnicos.

A narrativa de Adichie constrói todo o contexto sem ser enfadonha, inserindo os personagens na sequência dos fatos históricos. São as conversas na casa de Odenigbo ou o rádio ligado nas notícias que permitem o entendimento da situação, bem como o posicionamento dos mesmos. São personagens em fuga durante os ataques, pessoas perdidas sem entender o que se passa, ricos indo para a Inglaterra, alguns confiantes de que tudo terminará bem.

Além desse grupo de personagens, há dois de destaque, que são Ugwu e Richard. Ugwu é um rapaz que mora em uma vila e vai trabalhar para Odenigbo. Ele é seu criado doméstico, limpando a casa, cuidando das roupas, fazendo comida. Ele é uma visão inocente e desinformada dos conflitos, assistindo a tudo e respaldando suas opiniões nas do patrão. Além disso, sua presença ajuda a situar Odenigbo dentro de todo contexto, porque mesmo sendo um militante contra a opressão (isso em um mundo no qual a Guerra Fria fervilhava) ele ainda era um patrão, alguém de uma situação social superior.

Richard é um escritor inglês que está estudando a cultura da Nigéria para um livro que nunca sai do papel. Ele é uma excentricidade no meio de toda a história: é inglês e mora em uma ex-colônia de sua nação sem um objetivo muito claro. Se apaixona por Kainene, uma relação que nunca se conclui de fato; ele tem dificuldades em manter ereção e ela possui outros amantes além dele. Quando começam os conflitos, ele não busca abrigo nem retorna à Inglaterra, mas se mantém em meio às animosidades do país. Durante um processo de guerra civil em um país africano, é um personagem europeu que esboça toda o absurdo do que se passa, talvez pelo seu próprio afastamento cultural. Vale destacar também seu criado Harrison, que continuamente afirma que tudo que é europeu é superior, em contraponto a Richard, cada vez mais interessado em se tornar nigeriano.

O valor do livro é muito amplo devido à abrangência de seu conteúdo. Seu contexto em torno da proclamação da República de Biafra e da guerra civil sequente o coloca como um livro de expressão de uma desgraça humana, pareado com livros e filmes como Hotel Ruanda e Diamantes de Sangue. Porém, o livro vai bem além disso. Mesmo que situado temporalmente no período do conflito, Meio Sol Amarelo é mais vasto, apresentando ao leitor toda a singularidade da Nigéria, como seus aspectos culturais, geográficos e econômicos. Sua proposta se assemelha a um romance de formação do país, mostrando o modo artificial como a Nigéria surgiu, fruto das relações do colonialismo, passando pelos conflitos que se sucederam para a construção da nação em si.

Adichie dá uma contribuição imensa para a popularização de seu país, de sua cultura e de sua literatura. O afastamento cultural inviabiliza uma melhor compreensão da literatura nigeriana, mas o número de vendas acima de um milhão de exemplares no mundo inteiro e sua tradução para 30 idiomas mostram que seu trabalho gerou um forte impacto.

Meio Sol Amarelo é um livro excelente em todos os sentidos e sua vendagem significativa mostra como a autora conseguiu levar a literatura de seu país a um amplo público. Um feito que a coloca como umas das artistas mais relevantes da atualidade.


Guilherme Carvalhal
Itaperuna, 3/9/2015

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