Submissão, oportuno, mas não perene | Guilherme Carvalhal | Digestivo Cultural

busca | avançada
74109 visitas/dia
2,0 milhões/mês
Mais Recentes
>>> 5º CineFestival Internacional de Ecoperformance reflete sobre desafios ecopolíticos pela arte
>>> DIA M marca os 207 anos de Karl Marx com programação variada no Armazém da Utopia dia 28 de junho E
>>> Projeto “Clássicos em Cena” leva trio Conversa Ribeira em Itapira
>>> Tá todo mundo rindo? Letramento Anticapacitista
>>> Sesc 14 Bis apresenta nova montagem da Companhia de Teatro Heliópolis que aborda a vida pós-cárcere
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
Colunistas
Últimos Posts
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> A crise dos 28
>>> De onde vêm os blogs?
>>> Claude 4 com Mike Krieger, do Instagram
>>> A indigência do rock e a volta dos dinossauros
>>> Para que o Cristianismo?
>>> Intervenção militar constitucional
>>> O nome da Roza
>>> As redes sociais e a política
>>> Escrevo deus com letra minúscula
>>> A proposta libertária
Mais Recentes
>>> A Construção Social Da Realidade de Peter L. Berger pela Vozes (2014)
>>> Contra O Mundo Moderno - O Tradicionalismo E A Historia Intelectual Secreta Do Seculo XX de Mark Sedgwick pela Editora Âyiné (2020)
>>> A Máquina Do Caos de Max Fisher pela Antool (2023)
>>> Demolidor - volume 21 de Charles Soule pela Panini (2019)
>>> Enfrentando O Antropoceno de Ian Angus pela Boitempo (2023)
>>> Demolidor Volume 15 de Charles Soule / Ron Garney pela Panini (2018)
>>> A Nova Segregação Racismo E Encarceramento Em Massa de Michele Alexander pela Boitempo (2017)
>>> Caçada às Cegas de Lee Child pela Bertrand Brasil (2015)
>>> Pequenos Deuses de Terry Pratchett pela Bertrand Brasil (2015)
>>> Mentiras Fatais de Frank Tallis pela Record (2011)
>>> O Túnel de Pombos de John Le Carré pela Record (2018)
>>> A Dona das Chaves de Anabela Paiva pela Record (2010)
>>> Fuga das Profundezas de Alex Kershaw pela Record (2012)
>>> Código Civil e Constituição Federal 2010 de Brasil pela Saraiva (2010)
>>> A Nova Lei da Arbitragem Brasileira de Flavia Holanda; Ricardo Medina Salla (Coords.) pela Iob/Sage (2015)
>>> Sociologia do Direito de Celso A. Pinheiro de Castro pela Atlas (1996)
>>> Lei de Licitações e Contratos Administrativos de Incluindo Legislação Complementar Correlata pela Znt (2002)
>>> Icms de Roque Antonio Carrazza pela Malheiros (2011)
>>> Teoria Geral do Estado de Marcus Cláudio Acquaviva pela Saraiva (2000)
>>> Contratos Administrativos de Roberto Ribeiro Bazilli pela Malheiros (1996)
>>> Direito Bancário: Contratos e Operações Bancárias de Ivo Waisberg; Gilberto Gornati pela Saraiva (2016)
>>> A Essência da Constituição de Ferdinand Lassalle pela Lumen Juris (2001)
>>> O Caso dos Denunciantes Invejosos de Dimitri Dimoulis pela Revista dos Tribunais (2012)
>>> Introdução À Administração Financeira E Orçamentária de Adão Eleutério Da Luz pela Intersaberes (2015)
>>> Garfield Vol. 1 de Jim Davis pela Nemo (2014)
COLUNAS

Quinta-feira, 5/5/2016
Submissão, oportuno, mas não perene
Guilherme Carvalhal
+ de 4900 Acessos

Smiley face

A leitura de Submissão, de Michel Houellebecq, se justifica menos pelas suas qualidades artísticas e mais pela polêmica que provoca. É um livro de momento, tendo em vista os profundos choques culturais que afetam o mundo, como a intensa migração de pessoas do Oriente Médio à Europa e os atentados terroristas deflagrados contra a França, país do escritor.

Esse choque cultural se dá por várias dimensões na obra. O personagem principal, François, é um professor universitário, figura desapegada a vínculos e sentimentos, porém estudiosa de Joris-Karl Huysmans, escritor francês naturalista (da geração de Émile Zola) que migrou para o decadentismo e para um apego maior ao mundo espiritual. Entre seus estudos e suas relações afetivas mais carnais do que emocionais, ele acompanha uma mudança na política de seus país, quando o islâmico Ben Abbes é eleito presidente.

A premissa de um futuro assolado por um inimigo previsível é algo corrente. George Orwell e Aldous Huxley lançaram à cultura global através da literatura o receio por uma sociedade controlada e pela individualidade suprimida por um estado poderoso. Porém, o contraponto de Houellebecq se encontra na via oposta, quando a presença do inimigo acaba gerando resultados encarados como positivos.

Em Submissão, a eleição de Ben Abbes através de sua Fraternidade Islâmica acaba sendo um contraponto aos modelos políticos franceses, como a tradicional ambivalência das alas esquerdista e direitista. Com sua medidas contra os princípios do estado laico (no país onde tal conceito se originou), ele inicia mudanças de cunho islâmico e o resultado inesperado acontece, com melhorias em questões de emprego e economia. Aí vem a principal sacada do livro, de colocar o leitor em contradição com as expectativas de que a islamização representaria a decadência dos valores europeus. Essa temida islamização acaba sendo a salvação para os princípios ocidentais da estabilidade econômica, do emprego e da segurança.

Essa relação entre ocidente e oriente não é nenhuma novidade nas obras literárias. Desde obras como Canção de Rolando que as diferenças culturais e os interesses políticos e financeiros entre nações de duas religiões quase antagônicas no campo prático vem sendo expostas em livros. A preponderância militar e econômica a partir da Idade Moderna desenvolveu uma relação de representação mais significativa do oriente pelo crivo da visão do ocidente, o que levou Edward Said a afirmar que o oriente não se representa, mas é representado pelos outros. Um exemplo simplório desse processo é a história de Aladdin, que é expressa com valores e estética típicos do ocidente.

A realidade criada por Houellebecq mostra o efeito contrário, das invasões de islâmicos na sociedade ocorrendo paulatinamente até a tomada do poder político — e pela via democrática. É o momento então em que a Europa se viria submissa a um modelo político novo, representada ela própria por um padrão diferente do seu. E, se o ocidente sempre se enxergou na função de modernizar um povo bárbaro, ele próprio se viu impulsionado pelos padrões ditos bárbaros.

A figura de François tem pouca relação com o andamento das mudanças políticas que ocorrem. Seu perfil é neutro e passivo, apenas observando sem interagir. Suas poucas preocupações residem apenas no âmbito privado, e essa é uma outra crítica nesse conflito de cultura. De um lado, há o europeu individualizado e preocupado apenas consigo mesmo, enquanto do outro surge o elemento estrangeiro imbuído de forte senso de pertencimento a uma cultura e a uma religião, tanto que o grupo político chama-se Fraternidade Islâmica. A crítica então se estende a essa individualismo, que acaba formando uma população desapegada das questões pública, a ponto dessa ser tomada pelo inimigo (uma ideia já também fartamente discutida em várias obras).

Submissão é um livro oportuno pelo momento em que a Europa vive, de incertezas com relação as ondas migratórias e de insegurança pela violência perpetrada por grupos extremistas. Não há maiores novidades em seu texto exceto pela fantasia de uma França impulsionada por um governo islâmico. Sua polêmica é proveitosa pelos debates que suscita, porém deixa uma forte sensação de não ter perenidade, de que aquilo que enseja discutir seja rapidamente esquecido caso as dúvidas e os problemas atuais sejam solucionados.


Guilherme Carvalhal
Itaperuna, 5/5/2016

Mais Guilherme Carvalhal
Mais Acessadas de Guilherme Carvalhal em 2016
01. Três filmes sobre juventude no novo século - 3/11/2016
02. Brasil em Cannes - 30/6/2016
03. Submissão, oportuno, mas não perene - 5/5/2016
04. Os novos filmes de Iñárritu - 17/3/2016
05. A pérola do cinema sul-americano - 6/10/2016


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Guia do acionista consciente 336
Capital Aberto
Sem



Guia de Discussão S/ Atrofia Muscular Espinhal (ame) no Brasil
Biogen
Biogen



Centelhas
Michael Löwy/ Daniel Bensaïd
Boitempo
(2017)



Einstein o Enigma do Universo
Huberto Rohden
Martin Claret
(2004)



Os Melhores Contos para Meninos
Celia Cruz
Girassol
(2012)



Coal to Cream a Black Mans Journey Beyond Color to An Affirmation O
Eugene Robinson
The Free Press
(1999)



Soluções Garantidas para Necessidade de Atenção, Desejo, Preocupação
Nithyananda
Life Bliss
(2006)



A Lagarta Faceira
Antonio Filho
Seduc
(2008)



É Proibido Chorar
J. M. Simmel
Nova Fronteira
(1981)



Dicionário de Termos de Negócios Inglês 567
Dicionário de Termos de Negócios
Publifolha
(2005)





busca | avançada
74109 visitas/dia
2,0 milhões/mês