Submissão, oportuno, mas não perene | Guilherme Carvalhal | Digestivo Cultural

busca | avançada
49237 visitas/dia
1,2 milhão/mês
Mais Recentes
>>> BuZum! encena “Perigo Invisível” em Itaguaí, Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty (RJ)
>>> Festival de Teatro de Curitiba para Joinville
>>> TIETÊ PLAZA INAUGURA A CACAU SHOW SUPER STORE
>>> A importância da água é tema de peças e oficinas infantis gratuitas em Vinhedo (SP)
>>> BuZum! encena “Perigo Invisível” em SP e público aprende a combater vilões com higiene
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O batom na cueca do Jair
>>> O engenho de Eleazar Carrias: entrevista
>>> As fitas cassete do falecido tio Nelson
>>> Casa de bonecas, de Ibsen
>>> Modernismo e além
>>> Pelé (1940-2022)
>>> Obra traz autores do século XIX como personagens
>>> As turbulentas memórias de Mark Lanegan
>>> Gatos mudos, dorminhocos ou bisbilhoteiros
>>> Guignard, retratos de Elias Layon
Colunistas
Últimos Posts
>>> Barracuda com Nuno Bettencourt e Taylor Hawkins
>>> Uma aula sobre MercadoLivre (2023)
>>> Lula de óculos ou Lula sem óculos?
>>> Uma história do Elo7
>>> Um convite a Xavier Zubiri
>>> Agnaldo Farias sobre Millôr Fernandes
>>> Marcelo Tripoli no TalksbyLeo
>>> Ivan Sant'Anna, o irmão de Sérgio Sant'Anna
>>> A Pathétique de Beethoven por Daniel Barenboim
>>> A história de Roberto Lee e da Avenue
Últimos Posts
>>> Nem o ontem, nem o amanhã, viva o hoje
>>> Igualdade
>>> A baleia, entre o fim e a redenção
>>> Humanidade do campo a cidade
>>> O Semáforo
>>> Esquartejar sem matar
>>> Assim criamos os nossos dois filhos
>>> Compreender para entender
>>> O que há de errado
>>> A moça do cachorro da casa ao lado
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Fim dos blogs (#comofas)
>>> Um caso de manipulação
>>> Wilhelm Reich, éter, deus e o diabo (parte I)
>>> O assassinato de Herzog na arte
>>> A pobreza cultural nossa de cada dia
>>> Melhores Blogs
>>> Como resenhar sem ler o livro
>>> Bar ruim é lindo, bicho
>>> Não atirem no pianista
>>> Gerald Thomas: arranhando a superfície do fundo
Mais Recentes
>>> Oxford Student's Dictionary Of Current English de Oxford pela Oxford University Press (1997)
>>> A Nova Humanidade de Huberto Rohden pela Alvorada
>>> Número Zero de Eco Umberto pela Record (2015)
>>> A Doutrina da Prosperidade e o Apocalipse de Jim Bakker pela Bompastor (2001)
>>> Manual de Semiótica de Ugo Volli pela Loyola (2012)
>>> Maktub de Paulo Coelho pela Klick (1994)
>>> Últimos Poemas de Pablo Neruda pela LPM Pocket (2007)
>>> O Caminho da Felicidade de Huberto Rohden pela Alvorada (1982)
>>> Vigiai e Orai de Carlos A. Baccelli pela Didier (2000)
>>> Capitães da areia de Jorge Amado (Autor) pela Record (1990)
>>> Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho de Francisco Cândido Xavier pela Feb (1993)
>>> Métodos Espíritas de Cura Psiquismo e Cromoterapia de Edgard Armond pela Aliança (2004)
>>> Grandes Amores da Bíblia de João Paulo dos Reis Velloso pela Livros do Futuro (2014)
>>> Reiki Tradicional para o Mundo Moderno de Amy Z. Rowland pela Pensamento (2000)
>>> Libertação de Francisco Cândido Xavier pela Feb (1984)
>>> A Força do Um de André Trigueiro pela Infinda (2019)
>>> Chico Xavier Do Além para Você de Marcial Jardim pela Aliança (2018)
>>> Cemitérios de Dragões de Raphael Draccon (Autor) pela ‎ Fantástica Rocco (2014)
>>> A Visão da Sabedoria - E a História do Progresso do Dharma de Buda no Tibete de XIV Dalai Lama do Tibete pela Best Seller (1972)
>>> Fundamentos Socioculturais da Educação de Alessandro de Melo pela Intersaberes (2012)
>>> Manual do Guerreiro da Luz de Paulo Coelho pela Klick (1997)
>>> O Poder do Hábito de Charles Duhigg pela Objetiva (2019)
>>> Finlay Donovan: Uma Escritora de Matar de Elle Cosimano (Autor), Sofia Soter (Tradutor) pela Melhoramentos (2021)
>>> I Ching o Livro das Mutações de Hermann Hess pela Hemus
>>> Eleonora de Codro Palissy pela Federação Espírita Brasileira (1990)
COLUNAS

Quinta-feira, 5/5/2016
Submissão, oportuno, mas não perene
Guilherme Carvalhal
+ de 4400 Acessos

Smiley face

A leitura de Submissão, de Michel Houellebecq, se justifica menos pelas suas qualidades artísticas e mais pela polêmica que provoca. É um livro de momento, tendo em vista os profundos choques culturais que afetam o mundo, como a intensa migração de pessoas do Oriente Médio à Europa e os atentados terroristas deflagrados contra a França, país do escritor.

Esse choque cultural se dá por várias dimensões na obra. O personagem principal, François, é um professor universitário, figura desapegada a vínculos e sentimentos, porém estudiosa de Joris-Karl Huysmans, escritor francês naturalista (da geração de Émile Zola) que migrou para o decadentismo e para um apego maior ao mundo espiritual. Entre seus estudos e suas relações afetivas mais carnais do que emocionais, ele acompanha uma mudança na política de seus país, quando o islâmico Ben Abbes é eleito presidente.

A premissa de um futuro assolado por um inimigo previsível é algo corrente. George Orwell e Aldous Huxley lançaram à cultura global através da literatura o receio por uma sociedade controlada e pela individualidade suprimida por um estado poderoso. Porém, o contraponto de Houellebecq se encontra na via oposta, quando a presença do inimigo acaba gerando resultados encarados como positivos.

Em Submissão, a eleição de Ben Abbes através de sua Fraternidade Islâmica acaba sendo um contraponto aos modelos políticos franceses, como a tradicional ambivalência das alas esquerdista e direitista. Com sua medidas contra os princípios do estado laico (no país onde tal conceito se originou), ele inicia mudanças de cunho islâmico e o resultado inesperado acontece, com melhorias em questões de emprego e economia. Aí vem a principal sacada do livro, de colocar o leitor em contradição com as expectativas de que a islamização representaria a decadência dos valores europeus. Essa temida islamização acaba sendo a salvação para os princípios ocidentais da estabilidade econômica, do emprego e da segurança.

Essa relação entre ocidente e oriente não é nenhuma novidade nas obras literárias. Desde obras como Canção de Rolando que as diferenças culturais e os interesses políticos e financeiros entre nações de duas religiões quase antagônicas no campo prático vem sendo expostas em livros. A preponderância militar e econômica a partir da Idade Moderna desenvolveu uma relação de representação mais significativa do oriente pelo crivo da visão do ocidente, o que levou Edward Said a afirmar que o oriente não se representa, mas é representado pelos outros. Um exemplo simplório desse processo é a história de Aladdin, que é expressa com valores e estética típicos do ocidente.

A realidade criada por Houellebecq mostra o efeito contrário, das invasões de islâmicos na sociedade ocorrendo paulatinamente até a tomada do poder político — e pela via democrática. É o momento então em que a Europa se viria submissa a um modelo político novo, representada ela própria por um padrão diferente do seu. E, se o ocidente sempre se enxergou na função de modernizar um povo bárbaro, ele próprio se viu impulsionado pelos padrões ditos bárbaros.

A figura de François tem pouca relação com o andamento das mudanças políticas que ocorrem. Seu perfil é neutro e passivo, apenas observando sem interagir. Suas poucas preocupações residem apenas no âmbito privado, e essa é uma outra crítica nesse conflito de cultura. De um lado, há o europeu individualizado e preocupado apenas consigo mesmo, enquanto do outro surge o elemento estrangeiro imbuído de forte senso de pertencimento a uma cultura e a uma religião, tanto que o grupo político chama-se Fraternidade Islâmica. A crítica então se estende a essa individualismo, que acaba formando uma população desapegada das questões pública, a ponto dessa ser tomada pelo inimigo (uma ideia já também fartamente discutida em várias obras).

Submissão é um livro oportuno pelo momento em que a Europa vive, de incertezas com relação as ondas migratórias e de insegurança pela violência perpetrada por grupos extremistas. Não há maiores novidades em seu texto exceto pela fantasia de uma França impulsionada por um governo islâmico. Sua polêmica é proveitosa pelos debates que suscita, porém deixa uma forte sensação de não ter perenidade, de que aquilo que enseja discutir seja rapidamente esquecido caso as dúvidas e os problemas atuais sejam solucionados.


Guilherme Carvalhal
Itaperuna, 5/5/2016

Quem leu este, também leu esse(s):
01. O acerto de contas de Karl Ove Knausgård de Cassionei Niches Petry
02. Pantanal de Marilia Mota Silva
03. O Nobel de Tranströmer de Luiz Rebinski Junior
04. A suprema nostalgia de Marta Barcellos
05. Trinca de livros e um bate-papo de Ana Elisa Ribeiro


Mais Guilherme Carvalhal
Mais Acessadas de Guilherme Carvalhal em 2016
01. Três filmes sobre juventude no novo século - 3/11/2016
02. Brasil em Cannes - 30/6/2016
03. Submissão, oportuno, mas não perene - 5/5/2016
04. Os novos filmes de Iñárritu - 17/3/2016
05. A pérola do cinema sul-americano - 6/10/2016


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




A Golden Treasury of Wisdom Thoughts & Glimpses of Life
Mahatma
Hripra Publication



Colibri
Severo Sarduy
Rocco
(1989)



Entre corações
Isadora Raes
Novo Século
(2015)



Nosso Louco Amor
Jo Lamble & Sue Morris
Fundamento
(2004)



Entre Abrir e Fechar a Boca
Máximo Ravenna
Guarda-chuva
(2012)



Repensando O Império Romano
Gilvan Ventura Da Silva
Mauad X
(2006)



Fleur de Cendre
Annick Combier; Anne Romby
Milan Jeunesse
(2006)



Livro - Não Se Incomode - Tudo o Que Você Não Quer Perguntar Sobre Menstruação (Mas precisa saber)
Karen Gravelle
Companhia das Letras
(2000)



China: gigante milenário - Volume II Grandes impérios e civilizações
Vários Autores
Del Prado
(1997)



O Elefante do Mágico
Kate Dicamillo
Martins Fontes
(2009)





busca | avançada
49237 visitas/dia
1,2 milhão/mês