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Sexta-feira, 9/9/2016
Caindo as fichas do machismo
Marta Barcellos
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“Quer dar uma olhadinha na frente?” Não!, respondo, sem disfarçar a expressão de pânico. O céu azul-olimpíada resplandece no inverno carioca, eu já tinha cantado aos berros três músicas seguidas (uma delas de Tim Maia), a orla sem trânsito, a paradinha rápida no posto, e, de repente, aquela ameaça. Não! Por favor, não encoste no capô do meu carro, não diga que o nível de óleo está baixo, que o radiador precisa de aditivo nem me ameace com alguma daquelas mentiras que você jamais diria a um homem.

Eu, distraída, ousando me divertir sozinha e à toa, mas...Ora, aparento, sou, não posso (nem quero) deixar de ser: mulher. Era o de sempre – só que dei pra pensar nessas coisas

Quando comprei meu primeiro carro, depois de economizar microssalários por cinco anos, minha mãe achou prudente ter “a conversa” comigo. Era hora de enfrentar as coisas da vida: Filha, você precisa saber como lidar com mecânicos, borracheiros, frentistas de postos de gasolina. É preciso sair do carro, ficar séria, mostrar autoridade, demonstrar algum conhecimento do assunto. Seja o mais homem possível.

Pra ela nem era tão difícil, porque de fato entendia de mecânica. Naquela época, vale lembrar, os carros eram sempre usados, muito usados. Enguiçavam, furavam pneu, tinham sempre problema na vela ou no carburador. Fiquei com trauma da situação, de ir pro borracheiro, fingir interesse em ver o rasgo na câmara do pneu, eu que não entendia nada, tentando entender, mais ou menos, menos.

De volta ao posto de gasolina, sinto a ficha cair. Plim!, caiu mais uma ficha do quanto já fui vítima do machismo sem perceber. Ou melhor, acreditando ser tudo natural da condição feminina. Quem mandou seguir os conselhos maternos e ser uma “mulher emancipada”? Agora aguenta. Seja homem. Seja grata de ter conquistado tantos direitos, o de trabalhar, o de comprar um carro com o próprio dinheiro, o de fazer dupla jornada. Não vá ficar de mimimi, só porque sempre querem enganar as mulheres no posto de gasolina.

A minha geração de mulheres era essa, a geração grata pela dupla (tripla) jornada, grata quando o marido “ajudava”, grata por se tornar chefe na empresa (sem reparar que os chefes homens sempre ganham mais). Comecei a ser despertada, pelas novas feministas, quando senti algum espanto atordoado com as marchas das vadias. No entanto, a primeira ficha, de verdade, caiu (plim!) quando minha filha entrava na adolescência e consegui “desnaturalizar” as cantadas na rua. Tomada pela raiva, e pelas terríveis lembranças vividas nesta fase, decidi: minha filha não precisa passar por isso! Não precisa! É uma covardia, e não é "normal"!

Outro dia, pela enésima vez, me flagrei me justificando (para um homem) por andar tão "distraída" na rua, e não reconhecer os conhecidos (são sempre eles que me acham). Foi quando outra dessas fichas caiu. Plim! Um homem pode andar pelas calçadas encarando, procurando curioso por fisionomias conhecidas. Uma mulher, não. Quer dizer, pode, deveria poder, mas depois de meia dúzia de situações constrangedoras, em que acharam que estávamos “dando mole”, aprendemos a não olhar mais para o “psiu”. Ou seja, eu não sou uma bocó andando na rua – foi tudo um treinamento de "sobrevivência" ao machismo.

Quanto mais bem sucedidas, mais as mulheres da minha geração tendem a minimizar o machismo. Ora, se elas conseguiram... Aí você começa aquele trabalho básico do feminismo: se fosse homem, nessas situações de clube do bolinha que se repetem nas esferas de poder, não teria sido mais fácil? Ou menos constrangedor? Às vezes consigo que uma amiga se surpreenda – e finalmente se sinta no direito de reconhecer em si uma vítima. Plim!

Agora dei para imaginar quando será que as fichas vão cair para o machismo e a misoginia (de homens e mulheres, é bom lembrar) por trás do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Presidenta??? Quanto há de machismo e misoginia no estranhamento a essa palavra, corretíssima pela norma culta? Plim!



Marta Barcellos
Rio de Janeiro, 9/9/2016

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