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Segunda-feira, 27/5/2002
Algo de podre no reino do West End
Arcano9
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O mundinho de luzes de cores inefáveis, purpurina, brilho e sorrisos em cifrões do West End está mudando. Em Londres, as pessoas são bombardeadas pelos cartazes dos principais espetáculos de teatro do centro da cidade. Em todos os lugares, uma propaganda; em todos os cantos, agências especializadas em vender e revender ingressos para o Fantasma da Ópera ou para Cats sobrevivem com a verba dos turistas japoneses, que não se importam em gastar as 20 ou 30 libras necessárias para entrar e sair saltitando dos grandes e glamourosos auditórios. Aí precisamente está uma das mudanças: onde eu disse Cats, ignore. Cats já era. O musical felino já andava meio gasto mesmo, após nada menos que 21 anos de exibição. O último miado se deu no dia 11 de maio. A explicação dada pelos produtores para o justificar o fim do espetáculo foi que ele estava se tornando "economicamente inviável", depois de ter faturado alto durante todo o tempo em exibição no West End e em outros palcos do mundo. Acredita-se que Cats tenha rendido US$ 1,8 bilhões ao redor do planeta e tenha sido visto por mais de 8 milhões de pessoas. Outro exemplo de finado espetáculo é o Starlight Express. Uma das meninas dos olhos de Andrew Lloyd Webber, o musical sob patins foi caindo no esquecimento da mesma forma que os patins de duas rodas paralelas na frente e duas atrás foram sendo substituídos pelos patins in-line. O espetáculo se encerrou em janeiro e, quando eu comento todas as mudanças no mundo dos musicais londrinos com amigos e amigas do Brasil, muitos lamentam efusivamente. Lembro especialmente uma ex-colega de trabalho que quase chorou quando eu disse a ela que Miss Saigon estava dando adeus (isso há quase três anos) e quase emitiu uivos de dor quando soube que os gatinhos não iriam mais miar na vizinhança.

Os musicais são espetáculos de alta complexidade técnica e artística. Um ator de musical precisa ser cantor, ator, muitas vezes malabarista, algumas vezes bonito e sem dúvida muito energético. A história, teoricamente, precisa ser boa, precisa cativar. Mas não precisa ser original, certo? Certo. Não precisa ser original.

Mas é por isso que preocupa a nova onda de musicais que toma conta de Londres. Lloyd Webber, que é o papa do mercado, ainda está por aí, mas me sinto sinceramente decepcionado com seus concorrentes. Se não tivessemos tido O Fantasma da Ópera há alguns anos, ou Cats, ou Miss Saigon, ou o Starlight Express, os musicais do mundo seriam o que eram no início - espetáculos que pareciam existir apenas para encaixar as maravilhosas canções de George Gershwin, Irving Berlin, Cole Porter. A regra era clara: o roteiro importa menos do que as composições. Aliás, eu tenho certeza que as composições de Gershwin ou Porter, tão boas, fariam sucesso do mesmo jeito com ou sem o espetáculo. Mas os compositores citados acima tinham o objetivo e a restrição de criá-las para uso no cinema e no teatro. Vide Kiss Me Kate, o clássico de Porter aberto por aqui em outubro passado e propagandeado ad nauseam nos metrôs londrinos.

Essa tendência antiga de encaixar melodias em espetáculos está voltando com força total. Talvez por pura falta de idéias, talvez necessidade de apostar em algo com retorno certo. Agora neste mês de maio, no mesmíssimo dia do lançamento do Star Wars: Episódio II na terra da Rainha, houve a premiére do espetáculo do Queen, We Will Rock You. Eu gosto do Queen, e você? Eles eram o máximo. Uma das maiores bandas do mundo no final dos 70/início dos 80. Lembra do Freddie Mercury cantando no Rock n'Rio? Pois é. Não sei o quanto a imprensa brasileira falou do We Will Rock You, mas eu posso resumir: no início, os ex-membros do Queen e o ator Robert de Niro se encontraram, há quase 10 anos, e decidiram montar um espetáculo para contar a história da banda (não, De Niro não encarnaria Freddie Mercury, deixemos isso claro, ele seria apenas um dos produtores). Depois, os ex-membros do Queen desistiram, já que "seria difícil e doloroso" para eles produzir um espetáculo autobiográfico. Acabaram seguindo em frente com uma outra historinha escrita para encadear porradas sonoras como I Want to Break Free, Bohemian Rhapsody e, é claro, We Will Rock You. Você escolhe: paga 20 libras e vê o espetáculo ou vai à Tower Records da Piccadilly Circus e compra um bom The Best of.

Voltando ainda algumas semanas no tempo, o gay genial Boy George, indolatrado DJ em festas e clubes seletos da capital britânica, abria com todo glitter o seu espetáculo no West End, chamado Taboo. O musical já chegou aos palcos como um grande sucesso. Mas, nesse caso, nenhum pudor: é pura autobiografia, é Boy George contando sua história, personificado por um ator que é seu sósia. É Karma Kamaleon, é Culture Club. E é mais: é um resumo do que rolava no mundo pop britânico naqueles tempos mágicos do início dos 80, quando eu ainda estava na primeira série e dos quais, hoje, tanto eu quanto qualquer pessoa que gosta minimamente de dançar sente falta. A música é ótima, meu caro. Mas, de novo, por que não gastar seu dinheirinho numa boa noitada em uma danceteria em Camden?

Mas não é apenas o fenômeno "música faz espetáculo" que está fazendo com que gases pútridos surjam e condensem-se na forma de nuvens cinzentas sobre o West End. Há também o fenômeno "veja o filme e, depois, veja o espetáculo". Ora, em outubro de 1999, o Lyceum Theatre passou a abrigar o revolucionário O Rei Leão, uma produção primorosa paga pela Disney. Muita criatividade - para encarnar os bichos, foram desenvolvidas umas fantasias especiais que o ator veste e parece, na verdade, se transformar numa marionete. Muito bonito mesmo, diferente. O espetáculo tem ritmo, tem as boas canções do filme, mas... onde está a novidade na história? Onde? O que acontece é justamente o que se espera: as pessoas vão ver dizendo: "ah, dizem que é muito bom. Eu vi o filme e o filme é ótimo, no teatro também deve ser". Esse tipo de coisa que coloca o teatro como "arte acessória", como "outro elemento" de uma gigantesca campanha de marketing encabeçada pelo cinema é deprimente. Que pena, uma peça tão bem feita, que as pessoas vão ver apenas por curiosidade, para ver como os produtores adaptaram o filme. É claro que temos aqui sucesso garantido, novamente. O mesmo vale para O Calhambeque Mágico, lançado em 16 de abril com grande estardalhaço. É o espetáculo mais caro já encenado em Londres (custou cerca US$ 9 milhões) e aposta principalmente no impacto de um efeito especial: em dado momento do espetáculo, o tal calhambeque do título (foto acima) sai voando por sobre a platéia. Boquiaberta, a audiência fica ainda mais empolgada com as contagiantes melodias extraídas do filme de 1968, de mesmo título, e que evoca a nostalgia dos mais velhos. O clima é meio Mary Poppins, fantasia infantil, conto de fadas maluco e colorido, algodão doce e sorvete. O interessante neste espetáculo é a desculpa para seu lançamento justamente neste ano. Aparentemente, ele já vinha sido planejado há muito tempo, mas é em 2002 que se comemoram os 40 anos do lançamento do primeiro filme do agente James Bond, o imortal espião criado por Ian Fleming. Poucos conhecem o trabalho de Fleming além de seu 007, mas O Calhambeque Mágico foi também escrito por ele. Eu fiquei curioso em conhecer algo tão diferente escrito por Fleming, acho que você também ficaria, especialmente se não viu o filme do calhambeque de 1968. Com a desculpa de se conhecer melhor a obra do escritor, com certeza este musical vale a pena. A opção, você já sabe qual é: encontrar em alguma locadora a fita com o filme lançado há mais de 40 anos. As entradas estão esgotadas para as próximas semanas.

Dentro da depressão inevitável de constatar a popularidade de espetáculos que são meros assessórios ou são material reciclado, resta-nos voltar novamente a Lloyd Webber. Eu não gosto particularmente dos musicais dele, eu o acho pirotécnico demais, mas Webber ainda é uma força criadora e inovadora que não pode ser ignorada. No final deste mês, mais uma prova disso. Depois de uma campanha de publicidade que já dura seis meses, no dia 31 será lançado o seu novo musical, Bombay Dreams. Mesmo que buscando inspiração nos filmes e nas histórias de Bollywood, a poderosa indústria cinematográfica indiana, o novo musical de Webber não copia nada diretamente. Não tem músicas que já foram ouvidas e reouvidas. Não é assumidamente autobiográfico. O que tem é um pouquinho de ousadia - a ousadia de colocar nos palcos a cor de pele desta sociedade cada vez menos branca e tomadora de chá, e cada vez mais viciada em curry. Ainda bem que tem alguém, pelo menos um sujeito, tentando fazer algo diferente.


Arcano9
Londres, 27/5/2002

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