Moderno antes do Modernismo | Sergio Amaral Silva | Digestivo Cultural

busca | avançada
58588 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Espetáculo teatral “Odila” chega ao interior de Caxias do Sul
>>> Empresário caxiense que instalou complexo de energia em aldeia indígena no Acre lança documentário
>>> Fernanda Porto lança música e videoclipe em homenagem a Gal Costa
>>> 75% dos líderes de marketing veem a IA generativa como ferramenta criativa essencial
>>> Printed Editions Online Print Fair
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Olimpíada de Matemática com a Catarina
>>> Mas sem só trapaças: sobre Sequências
>>> Insônia e lantanas na estreia de Rafael Martins
>>> Poesia sem oficina, O Guru, de André Luiz Pinto
>>> Ultratumba
>>> The Player at Paramount Pictures
>>> Do chão não passa
>>> Nasce uma grande pintora: Glória Nogueira
>>> A pintura admirável de Glória Nogueira
>>> Charges e bastidores do Roda Viva
Colunistas
Últimos Posts
>>> Como enriquecer, segundo @naval (2019)
>>> Walter Isaacson sobre Elon Musk (2023)
>>> Uma história da Salon, da Slate e da Wired (2014)
>>> Uma história do Stratechery (2022)
>>> Uma história da Nvidia (2023)
>>> Daniel Mazini, country manager da Amazon no Brasil
>>> Paulo Guedes fala pela primeira vez (2023)
>>> Eric Santos sobre Lean Startup (2011)
>>> Ira! no Perdidos na Noite (1988)
>>> Legião Urbana no Perdidos na Noite (1988)
Últimos Posts
>>> CHUVA
>>> DECISÃO
>>> AMULETO
>>> Oppenheimer: política, dever e culpa
>>> Geraldo Boi
>>> Dê tempo ao tempo
>>> Olá, professor Lúcio Flávio Pinto
>>> Jazz: 10 músicas para começar II
>>> Não esqueci de nada
>>> Júlia
Blogueiros
Mais Recentes
>>> O que fazer com este corpo?
>>> Acho que entendi o Roberto Setubal
>>> Flip 2005
>>> Literatura Falada (ou: Ora, direis, ouvir poetas)
>>> Arte sem limites
>>> BBB, 1984 e FEBEAPÁ
>>> Costume Bárbaro
>>> Infinitely Fascinating People
>>> Era uma vez um inverno
>>> A Auto-desajuda de Nietzsche
Mais Recentes
>>> Os contos de Beedle, o Bardo de J.K. Rowling pela Rocco (2008)
>>> S.O.S Ong de José Alberto Tozzi pela Gente (2015)
>>> Histórias do Grande Mestre de Ellen G. White pela Cpb (2014)
>>> Trajetorias De Grandes Lideres - Carreira De Pessoas Que Fizeram A Dif de Lucinda Watson pela Negócio (2001)
>>> Everest - escalando a face norte de Matt Dickison pela Gaia (2007)
>>> A Vida do Bebê de Rinaldo de Lamare pela Agir (2014)
>>> A hora da vingança de George Jonas pela Record (2006)
>>> Google Adwords - A Arte Da Guerra de Ricardo Vaz Monteiro pela Brasport (2007)
>>> Manicômios, Prisões E Conventos de Goffman, Erving pela Perspectiva (1987)
>>> Jornada Nas Estrelas - Memorias de William Shatner pela Nova Fronteira (1993)
>>> Sete casos do detetive Xulé de Ulisses Tavares pela Saraiva (2010)
>>> Mudando o seu destino: novos instrumentos dinâmicos de astrologia e de visualização para formar o seu futuro de Richard Zarro pela Summus (1991)
>>> Como Deus cura a dor de Gabriel García Márquez pela Record (1996)
>>> Como Deus cura a dor de Mark Baker pela Sextante (2008)
>>> Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis pela Martin Claret (2008)
>>> The Landmark Dictionary - para estudantes brasileiros de inglês de Richmond pela Richmond (2008)
>>> Sherlock Holmes: Um Estudo em Vermelho de Sir Arthur Conan Doyle pela Melhoramentos (2011)
>>> Sherlock Holmes: O Signo dos Quatro de Sir Arthur Conan Doyle pela Melhoramentos (2011)
>>> Bíblia Sagrada - Ed. de Promessas de Vários pela King's Cross
>>> O Menino do Dedo Verde de Maurice Druon pela José Olympio (2016)
>>> A Casa 7ª edição. de Ronald Claver pela Ed Lê (1998)
>>> Oferenda Lírica - Gitanjali de Rabindranath Tagore pela Coordenada (1969)
>>> Glands Our Invisible Guardians de Glands Our Invisible Guardians M. W. Kapp pela a: Grand Lodge Amorc (1954)
>>> Death in the Afternoon de Ernest Hemingway pela Scribner (2003)
>>> Look at it This Way Capa dura de Justin Cartwright pela McMillan (1990)
COLUNAS

Segunda-feira, 3/6/2002
Moderno antes do Modernismo
Sergio Amaral Silva
+ de 8100 Acessos

Conhece a obra de Alexandre Marcondes Machado? (não confundir com Antônio de Alcântara Machado...). E o jornalista e escritor Juó Bananére? Se você respondeu não às duas perguntas, aqui vai uma pista: trata-se da mesma pessoa, aliás, criador e criatura; ou melhor, vamos por partes...

Alexandre Ribeiro Marcondes Machado (Pindamonhangaba, 1892 - São Paulo, 1933) era engenheiro formado pela Escola Politécnica e foi sócio de um escritório de arquitetura. Publicou só um livro, sobre as construções barrocas de Minas Gerais (A arquitetura colonial no Brasil, de 1919), além de uns poucos artigos de jornal. Mesmo entre seus contemporâneos, era praticamente um desconhecido, já que costumava escrever com o pseudônimo de Juó Bananére.

Bananére foi o cronista mais popular de São Paulo entre 1911 e 1915, sendo a principal atração da revista semanal O Pirralho, criada por Oswald de Andrade. O fato de que, hoje, poucos o conhecem, tem algumas explicações além do tempo que passou.

Primeiro, porque a maior parte de sua obra, o conjunto de crônicas publicadas em O Pirralho, ainda está por organizar; segundo, pela dificuldade de acesso do leitor atual ao livro La divina increnca, só agora relançado: a obra, de 1915, teve outras oito edições até 1925 e a décima, hoje rarissima, somente em 1966; outro motivo: o fato de ter sido um escritor humorista e satírico, gênero em geral sub-valorizado em relação aos considerados "sérios".

Entre as características de Bananére, que escreveu crônicas, poesia e teatro, destaca-se a originalidade. A começar pela linguagem: ele criou seu próprio idioma, combinando italiano e português, como se imitasse a fala dos primeiros imigrantes europeus que se concentravam nos bairros paulistanos do Brás, Bexiga, Barra Funda e Bom Retiro. A essa mistura proposital de duas línguas para fazer uma paródia literária, chama-se macarronismo.

Assim, quando se diz que o dialeto inventado por Bananére era "macarrônico" , o termo, embora de origem italiana, não se aplica exclusivamente aos ítalo-paulistas. Também se costuma chamar de inglês ou francês "macarrônico" à língua falada por quem não a conhece bem. Já o macarronismo como técnica literária, intencional e criativa, exige o domínio dos dois idiomas. No caso de Marcondes Machado, o conhecimento do italiano foi um dos atributos emprestados a Bananére, segundo depoimento de Mário Leite, seu colega de turma.

A nova edição de La divina increnca reproduz integralmente o texto original de 1915. No abrangente estudo que a acompanha, intitulado Juó Bananére - o abuso em blague, Cristina Fonseca ressalta o pioneirismo do autor. Seus textos, ainda na primeira metade da década de 1910, já incorporam inovações formais de vanguardas européias como o futurismo, o dadaísmo ou o cubismo, que seriam mais difundidas no Brasil a partir da Semana de Arte Moderna de 1922. Entre os autores que influenciou, está Oswald de Andrade.

Críticas e Paródias

Juó Bananére foi um crítico ferino da política brasileira do início do século passado. Seu alvo preferencial, o presidente da República entre 1910 e 1914, marechal Hermes da Fonseca (que tratava por "Maresciallo", "Hermese" ou "Dudú"), a quem não poupava também a noiva, a caricaturista Nair de Teffé (a "Nairia"). Ironizava ainda a eminência parda do governo, o político gaúcho Pinheiro Machado (o "Pignêro"). Essas três personagens aparecem no poema O Dudú, que no trecho final os denuncia como responsáveis pelo desvio de dinheiro público:

"O Maresciallo co'a Nairia i co Pignêro
Azuláro cos dignêro
Gá du Banco da Naçô.
I un restigno che scapô distu pissoalo
O ermó du Maresciallo
Passô a mó, abafô !

I o Brasile goitado !
Ficô pilado, pilado !!..."

Outra faceta notável da poesia de Bananére é representada pelas versões populares de fábulas de La Fontaine, bem como pelas paródias de escritores consagrados, como Gonçalves Dias, Castro Alves, Casimiro de Abreu, Luís de Camões, Edgar Allan Poe ou Olavo Bilac. Este último, segundo Cristina Fonseca, era das únicas personalidades brasileiras do início do século 20 "sobre as quais pouca gente, mesmo os humoristas, se arriscaria, em sã consciência, a fazer críticas ou piadas, por desfrutarem de um sólido respeito popular". Pois o famoso soneto Via Láctea XIII, do "príncipe dos poetas", ("Ora, direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso... ") inspirou a Bananére o divertido Uvi strella:

"Che scuitá strella, né meia strella !
Vucê stá maluco ! e io ti diró intanto,
Chi p'ra iscuitalas moltas veiz livanto,
I vô dá una spiada na gianella.

I passo as notte acunversáno c'oella,
Inguanto che as otra lá d'un canto
Stó mi spiano. I o sol come un briglianto
Naçe. Oglio p'ru çéu: - Cadê strella !?

Direis intó: - Ó migno inlustre amigo !
O chi é chi as strellas ti dizia
Quano illas viéro acunversá contigo ?

E io te diró: - Studi p'ra intendela,
Pois só chi giá studô Astrolomia,
É capaiz di intendê istas strella."

Resgatar os textos do autor, colocando-os ao alcance das novas gerações de leitores, já seria um mérito deste lançamento duplo. Mas não é o único: em sua análise, Cristina Fonseca demonstra que Juó Bananére não foi apenas um autor "exótico" ou "folclórico", mas um dos escritores mais importantes do Pré-Modernismo brasileiro.

Quanto a La divina increnca, a reprodução das "Notas" da edição de 1966 teria facilitado ao leitor de hoje, identificar as personagens citadas nos poemas, com as quais por certo não está familiarizado. Fica faltando ainda outro trabalho: a compilação dos demais escritos de Bananére, abrangendo as crônicas publicadas na imprensa e seu teatro, de modo a permitir uma avaliação, pelo público, do conjunto de sua admirável obra.

Para ir além

La Divina Increnca, de Juó Bananére, 72 págs.; Juó Bananére - O Abuso em Blague, de Cristina Fonseca, 208 págs., Editora 34, R$ 29 os dois volumes.





Sergio Amaral Silva
São Paulo, 3/6/2002

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Notas confessionais de um angustiado (VII) de Cassionei Niches Petry
02. Sou da capital, sou sem-educação de Ana Elisa Ribeiro
03. 10 razões para esquecer 2005 de Marcelo Maroldi
04. Barcos e cavalos de Lúcia Carvalho
05. Um brasileiro no Uzbequistão (X) de Arcano9


Mais Sergio Amaral Silva
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Plano Nacional de Educação
Ivan Valente
Dp&a
(2001)



Comentários À Lei de Falências - Vol. 1 - 4°edição
Trajano de Miranda Valverde
Forense
(1999)



A Revista no Brasil
A Revista no Brasil
Abril
(2000)



O Livro dos Conservantes
Jack Constantine
Lush
(2016)



Bombardeiros, Caças, Guerrilheiros
Heinrich Boucsein
Biblioteca do Exército
(2002)



O Caminho Da Tranquilidade
Dalai-Lama
Sextante
(2008)



O Ritual da Comunhão Ensaios sobre a Sexualidade
José Angelo Gaiarsa
Gente
(1995)



Brandão Entre o Mar e o Amor
Jorge Amado- José Lins e Outros
Record
(2000)



Livro Turismo Guia Nova York O Guia de Viagem Mais Fácil de Usar
Anna Maria Quirino
Publifolha
(2008)



Guerra e Paz - 3 Volumes
Tolstoi
Edições de Ouro
(1966)





busca | avançada
58588 visitas/dia
1,7 milhão/mês