Múltiplas máximas incomuns | Adriana Baggio | Digestivo Cultural

busca | avançada
34956 visitas/dia
2,0 milhões/mês
Mais Recentes
>>> CCBB Educativo realiza oficinas que unem arte, tradição e festa popular
>>> Peça Dzi Croquettes Sem Censura estreia em São Paulo nesta quinta (12/6)
>>> Agenda: editora orlando estreia com livro de contos da premiada escritora Myriam Scotti
>>> Feira do Livro: Karina Galindo lança obra focada na temática do autoconhecimento
>>> “Inventário Parcial”
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
Colunistas
Últimos Posts
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
>>> Claude 4 com Mike Krieger, do Instagram
>>> NotebookLM
>>> Jony Ive, designer do iPhone, se junta à OpenAI
>>> Luiz Schwarcz no Roda Viva
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Autor não é narrador, poeta não é eu lírico
>>> Queridos amigos
>>> Agonia
>>> Sugerido para adultos?
>>> A literatura infanto-juvenil que vem de longe
>>> 2021, o ano da inveja
>>> O futuro político do Brasil
>>> David Foster Wallace e Infinite Jest
>>> Arquitetura de informação
>>> L’Empereur
Mais Recentes
>>> Entre A Glória E A Vergonha de Mario Rosa pela Geracao Editorial (2017)
>>> Matemática E Realidade - 7º Ano de Gelson Iezzi e outros pela Atual Didático (2018)
>>> Home Fun Booklet 4 de Jane Ritter pela Cambridge University Press (2016)
>>> Ao vencedor as batatas de Roberto Schwarz pela Livraria Duas Cidades (1977)
>>> Branca de Neve de Desconhcido pela Magic kids (2016)
>>> A Amazônia para os Negros Amaricanos de Nicia Vilela Luz pela Saga (1968)
>>> Paraíso de Toni Morrison pela Companhia Das Letras (1998)
>>> Pra vida toda valer a pena viver: Pequeno manual para envelhecer com alegria de Ana Claudia Quintana Arantes pela Sextante (2021)
>>> Os últimos anos da escravatura no Brasil de Robert Conrad pela Civilização Brasileira (1975)
>>> Panoramas Língua Portuguesa - 7º Ano de Cristina Hulle e Angelica prado pela Ftd Educação (2019)
>>> As Duas Faces Da Gloria de William Waack pela Planeta Do Brasil (2015)
>>> A Anatomia Da Esperança de Jerome Groopman pela Objetiva (2004)
>>> Matemática E Realidade de Varios Autores pela Atual Didáticos (2018)
>>> Resignificando de Richard Bandler pela Summus (1986)
>>> Sapos Em Principes: Programacao Neurolinguistica de Richard Bandler pela Summus (1982)
>>> Anita, A Abelha de Katia Canton pela Carochinha (2019)
>>> Brasil e o Mundo: Novas Visões de Clóvis Brigagão pela Francisco Alves (2002)
>>> Asfalto Selvagem de Nelson Rodrigues pela Editora Schwarz Ltd (1994)
>>> Fabulas De Esopo de Jean Philippe Mogenet pela Companhia Das Letrinhas (2013)
>>> Diálogo em torno da República de Norberto Bobbio + Maurizio Viroli pela Campus (2002)
>>> The Book Against God: A Novel de James Wood pela Farrar, Straus and Giroux (2003)
>>> Memórias Do Brasil Grande de Wilson Quintella pela Editora Saraiva (2008)
>>> Amor De Cabelo de Matthew A. Cherry e Vashti Harrison pela Galera (2020)
>>> Relatos Insignificantes de Vidas Anônimas de Rosana pela Contos (2020)
>>> A Arca De Noé de Vinicius de Moraes pela Companhia Das Letrinhas (2009)
COLUNAS

Quinta-feira, 22/1/2004
Múltiplas máximas incomuns
Adriana Baggio
+ de 6600 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Nas busca de idéias que dessem concretude à minha opinião sobre o livro Para viver melhor - sabedoria prática para tornar sua vida mais feliz (Alegro/Campus Editora, 2003), do Dr. Edson Engels, encontrei na própria obra e nas reflexões feitas pelo autor o argumento que sustenta minha crítica.

A "orelha" informa ao leitor que se trata de um livro onde o autor, que é psiquiatra, psicoterapeuta, conferencista e colaborador de revistas e programas de TV, analisa algumas máximas e ditados da sabedoria popular. Junte-se essa informação à promessa feita no título e à imagem que ilustra a capa do livro - linhas e formas abstratas e coloridas, lembrando um desenho infantil - e a percepção se completa: mais um livro de auto-ajuda com conceitos rasteiros, ilusórios, a repetição de uma fórmula manjada, mas que ainda rende dinheiro aos autores (aliás, se daqui a alguns séculos forem analisar a condição dos habitantes do mundo nos nossos dias através da nossa produção literária, dirão que somos uma população de emocionalmente instáveis, tal a quantidade de "manuais" produzidos para que sejamos capazes de lidar com nossos conflitos).

Essa é a percepção que se tem através dos elementos superficiais do livro, normalmente aqueles a que temos acesso quando encontramos um exemplar na prateleira de uma livraria. No entanto, ao começar a leitura, vemos que o livro é muito mais do que título, texto da "orelha" e capa aparentam. E esse é o verbo-chave da minha idéia: aparentar.

O livro é formado por 84 máximas formuladas por romancistas, personagens históricos, filósofos, políticos e pela sabedoria popular, e mais 8 máximas do próprio Dr. Edson. Todas elas são analisadas pelo médico com o intuito de auxiliar o leitor a lidar melhor com as situações da vida. Uma delas, a que eu me refiro acima como base da crítica, é um ditado romano que diz que "à mulher de César não basta ser honesta; é preciso parecer honesta". Os comentários do Dr. Engels passam pela obviedade da interpretação deste ditado no que se refere ao comportamento que se espera das mulheres, mesmo nos nossos modernos dias, mas vão além, refletindo sobre a importância que se dá à aparência, e à impossibilidade de mudar esse padrão de avaliação. A penúltima frase do comentário, "é preciso manter as aparências para evitar os preconceitos", encaixa-se perfeitamente na análise que se faz deste livro: a falta de cuidado com sua aparência desperta o preconceito de que se trata apenas de mais um pseudomanual escrito por um charlatão.

Ao ultrapassar a observação aparente, vemos que as máximas escolhidas pelo autor não são apenas aqueles lugares-comuns que sempre se repetem quando não se tem nada mais interessante para dizer. De Balzac a Ulisses Guimarães, passando por Paulinho da Viola e por piadas e ditados de domínio público, Dr. Edson Engels escolheu temas interessantes para abordar, talvez selecionando aqueles que tratam dos conflitos que são os mais comuns das suas consultas - ou das pautas das revistas femininas e dos programas de variedades que eventualmente freqüenta.

Além da qualidade da compilação, outro mérito do autor é não ceder à interpretações que aplaquem a culpa e a angústia das pessoas, mas revelar a crueza da realidade a que cada máxima se refere. Ao comentar uma frase de Santa Teresa D'Ávila, "tem solução, por que se preocupar? Não tem solução, por que se preocupar?", Engels não nos exorta a praticar esse exercício de serenidade, mas coloca que essa tranqüilidade só "é possível e buscada pelos iogues e pelos gananciosos: os primeiros, pelo capital espiritual, e os segundos, pelo capital material". Ou seja, uma postura saudável, mas que não combina com o normal da natureza humana.

Já entre as máximas elaboradas pelo próprio autor, coloca-se o dedo na sempre aberta ferida do uso de drogas. Para o Dr. Edson Engels, as substâncias consideradas como drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, devem ter como objetivo a provocação de um Estado Modificado de Consciência (sic) que torne o usuário mais alegre, solto e sociável. Quando o consumo de drogas se baseia não no meio para que se melhore o desempenho em uma outra atividade, como uma festa, por exemplo, mas no fim em si, "fica-se diante de um desvio de comportamento, da inconveniência ou da falta de senso". É o caso das pessoas que passam a usar drogas sozinhas, sem uma interação, seja com os amigos, com a diversão, com a conversa. Portanto, a máxima do médico é "com drogas: tudo bem se for aditivo; tudo mal se virar motivo". Encaixam-se nesse caso os bons artistas, aqueles que usaram a droga como aditivo e a arte como motivo, independentemente do tempo que passaram entre nós, reforça cuidadosamente o Dr. Engels. Apesar de as últimas frases do comentário afirmarem que o ideal, na verdade, é não usar droga alguma, fica claro que o autor tem uma postura bem avançada, polêmica e, talvez, mais realista sobre o consumo de drogas.

Um detalhezinho, que pode parecer um mero enfeite aos menos observadores, torna o livro muito mais interessante. São espécies de rosáceas que ilustram o início de cada capítulo e, portanto, de cada máxima. Os elementos dessas "rosáceas" têm a ver com o conteúdo do texto que ilustram. É um jogo divertido perceber a interpretação do conteúdo de cada reflexão através das ilustrações, principalmente daquelas onde a abstração deixou a artista Marta Oliveira com um pepino imagético nas mãos.

Respaldam a qualidade do trabalho o prefácio do professor da PUC-SP, Mario Sergio Cortella, e a apresentação do músico Jorge Mautner. Não conheço o professor, mas suponho que sua presença deva-se à sua autoridade em algum dos assuntos de que trata o livro, e suas palavras me soam plausíveis. No caso de Jorge Mautner, suponho que sua participação deva-se ao fato de ser paciente do Dr. Engels, pois suas palavras não me soam nada plausíveis. Tudo bem que as análises das máximas são interessantes, que o livro se supera enquanto título de auto-ajuda. Mas comparar Para viver melhor ao Tao Te King, do filósofo chinês Lao-tsé e chamá-lo de "I Ching do Brasil universal" , como faz Mautner em sua apresentação, é anormalmente hiperbólico.

Para ir além






Adriana Baggio
Curitiba, 22/1/2004

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Sexo, cinema-verdade e Pasolini de Elisa Andrade Buzzo


Mais Adriana Baggio
Mais Acessadas de Adriana Baggio em 2004
01. Maria Antonieta, a última rainha da França - 16/9/2004
02. Do que as mulheres não gostam - 14/10/2004
03. O pagode das cervejas - 18/3/2004
04. ¡Qué mala es la gente! - 27/5/2004
05. Detefon, almofada e trato - 29/4/2004


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
22/1/2004
00h25min
Atire a primeira pedra quem nunca leu (ou folheou) um livro de auto-ajuda. Acho que o sucesso desse tipo de material (não é literatura, de forma alguma) se deve ao fato de que: 1. As pessoas não se sentem bem como são. 2. As pessoas acham que devem fazer algo a respeito. Ocupar o segundo lugar no mundo em número de cirurgias plásticas (incluindo aí todas as outras alterações, tipo botox, etc) demonstra que o brasileiro caiu no conto do 'se você quer, você pode'. O problema talvez não esteja no que se quer, mas o porquê de se querer alguma coisa. Como de hábito, o ocidental acredita em ação, nada sobrando para a boa, saudável e velha auto-observação que outros povos, principalmente os orientais, praticam há tanto tempo.
[Leia outros Comentários de Barbara Pollacsek]
24/1/2004
00h27min
Adriana fiquei contente ao ler o que você escreveu sobre minhas ilustrações. Foi um trabalho interessante esse. Durante quarenta e cinco dias fiquei fazendo essas mandalas. Lia o texto e tentava ressumir seu conteúdo em um ícone. Fui muito ajudada pelo livro e a leitura sistemática acabou por me tranpostar para uma auto reflexão profunda. Obrigada. Marta Oliveira
[Leia outros Comentários de Marta Oliveira]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




George Soros - Definitivo
Roberto Slater
Campus
(2010)



O Livro dos Médiuns
Allan Kardec
Ide
(2008)



O Teatro na Educação Artística
Luiza Barreto Leite / N. Lima / D. B. Leite
Achiamé
(1980)



Tributo A Jônio Tavares Ferreira De Salles
Elma Sant'ana
Alcance
(2016)



Liderança Segundo Barack Obama
Shel Leanne
Leya
(2012)



Viagem ao Universo de Câmara Cascudo
Américo de Oliveira Costa
Fundgustoação José Au
(1969)



Cabeça de Homem
Leo Jaime
Harper Collins Br
(2014)



O Poder dos Sucos
Jay Kordich
Círculo do Livro
(1992)



Mulher Maternidade e Misoginia
Gilda de Castro
Dialética
(2020)



Nazismo: Política, Cultura e Holocausto
Marcia Mansor D'Alessio; Maria Helena Capelato
Atual
(2004)





busca | avançada
34956 visitas/dia
2,0 milhões/mês