Reflexões para um mundo em crise | Luis Eduardo Matta | Digestivo Cultural

busca | avançada
119 mil/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> DR-Discutindo a Relação, fica em cartaz até o dia 28 no Teatro Vanucci, na Gávea
>>> Ginga Tropical ganha sede no Rio de Janeiro
>>> Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania abre processo seletivo
>>> Cultura Circular: fundo do British Council investe em festivais sustentáveis e colaboração cultural
>>> Construtores com Coletivo Vertigem
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> Salve Jorge
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Falho e maléfico
>>> Casa de espelhos
>>> Jason Nation
>>> Roland Barthes e o prazer do texto
>>> Spam, I love you
>>> A morte da Gazeta Mercantil
>>> Mãos de veludo: Toda terça, de Carola Saavedra
>>> O poder transformador da arte
>>> Sinfonia Visual de Beethoven
>>> Eu, o insular Napumoceno
Mais Recentes
>>> O Alienista - serie bom livro, texto integral de Machado de Assis (com edição critica do INL) pela Ática (1994)
>>> Agosto - romance de Rubem Fonseca pela Companhia das Letras (1990)
>>> O Epicurismo e Da Natureza de Lucrecio (contem antologia de textos de Epicuro) coleção universidade de Bolso de Lucrecio( prefacio, notas e tradução de Agostinho Silva) pela Ediouro
>>> Os Aventureiros da Terra Encantada de Luis Antonio Aguiar( ilustrações Lielzo Azambuja) pela Terra Encantada
>>> Sidarta - Col. O globo 8 de Hermann Hesse pela O Globo (2003)
>>> Risco Calculado de Robin Cook pela Record (1996)
>>> Marcador de Robin Cook pela Record (2007)
>>> 007 O Foguete da Morte de Ian Fleming pela Civilização Brasileira
>>> Duas Semanas em Roma (capa dura) de Irwin Shaw pela Círculo do Livro
>>> Textbook Of Critical Care de Mitchell P. Fink, Edward Abraham, Jean-louis Vincent, Patrick Kochanek pela Saunders (2005)
>>> A Inquisição na Espanha de Henry Kamen pela Civilização Brasileira
>>> So O Amor E Real de Brian L. Weiss pela Salamandra (1996)
>>> Shike - O Tempo dos Dragões livro 1 de Robert Shea pela Record (1981)
>>> A Revolução Russa ( em quadrinhos) de André Diniz pela Escala (2008)
>>> O Pimpinela Escarlate do Vaticano de J. P. Gallagher pela Record
>>> Dicionário das Famílias Brasileiras - Tomo II (volumes 1 e 2) de Antônio Henrique da Cunha Bueno e Carlos Eduardo pela Do Autor (2001)
>>> Todas as Faces de Laurie de Mary Higgins Clark pela Rocco (1993)
>>> Toxina de Robin Cook pela Record (1999)
>>> O Fortim de F. Paul Wilson pela Record (1981)
>>> A Fogueira das Vaidades (capa dura) de Tom Wolf pela Círculo do Livro
>>> O Canhão de C. S. Forester pela Círculo do Livro
>>> Grandes Anedotas da História (capa dura) de Nair Lacerda pela Círculo do Livro
>>> Um Passe de Mágica (capa dura) de William Goldman pela Círculo do Livro
>>> Livro Sagrado Da Família - histórias Ilustradas Da Bíblia para pais e filhos de Mary Joslin, Amanda Hall e Andréa Matriz pela Gold (2008)
>>> O Magnata de Harold Robbins pela Record (1998)
COLUNAS

Terça-feira, 16/5/2006
Reflexões para um mundo em crise
Luis Eduardo Matta
+ de 18300 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Vivemos num mundo louco. Disto, creio que poucos dos que se aventuram pelas veredas do pensamento, ousam duvidar. É um mundo insano, aparentemente cada vez mais destituído dos valores mais elementares do convívio humano e que, aos poucos, vai perdendo seus traços de civilidade, tornando-se gradativamente um território selvagem onde imperam a falta de respeito, a violência, a intolerância, a ganância desenfreada e, mais especialmente, a ignorância, que se manifesta, sobretudo, na nossa quase total incapacidade de refletir e enxergar a realidade sob um prisma mais equilibrado e despreendido. Tenho pensado muito nisso ultimamente. Saio às ruas, observo a vida em movimento à minha volta e utilizo os pequenos flagrantes do cotidiano dos quais sou testemunha como material para refletir sobre a condição humana atual e, dessa forma, lapidar e polir a minha própria percepção da vida. É um exercício permanente em que ponho a prova as minhas convicções, desafio os meus preconceitos (quem não os tem?) na tentativa de, senão extirpá-los, ao menos neutralizá-los e busco amplificar a minha capacidade de compreensão da realidade e de aceitação das coisas como elas são, o que inclui a mim enquanto pessoa e, por extensão, aos demais. Com isso, percebo que, a cada dia, me sinto mais plenamente "humano", me torno mais ciente da minha insignificância num planeta de bilhões de pessoas do qual eu, como todos, um dia irei desaparecer e acabo fazendo minhas as palavras do dramaturgo e poeta romano Terêncio quando, na peça Heauton Timorumenos (O atormentador de si mesmo) escreveu a célebre passagem: "Sou humano, e nada do que é humano me é estranho".

Num mundo como esse, a reflexão é essencial, mas tem sido pouco praticada por populações assaltadas pelas urgências de uma sociedade cada vez mais rápida e exigente, que nos ilude com o mito da liberdade irrestrita e do avanço da modernidade para, em seguida, nos seqüestrar a alma com massacrantes apelos consumistas, de perfeição estética e conquistas financeiras e sexuais, obrigando-nos a despender uma vida inteira escalando uma cordilheira que, no fim das contas, não nos levará a lugar algum. Eu pergunto: tem cabimento um jovem de dezessete/dezoito anos, ainda engatinhando na vida, ser forçado a escolher uma carreira profissional que, em tese, o acompanhará por décadas? Não seria mais apropriado ele fazer essa escolha um pouco mais tarde? Poucas coisas, hoje, me dão mais calafrios do que assistir ao depoimento de um profissional de recursos humanos discorrendo sobre tudo o que uma pessoa precisa fazer e estudar para conseguir e se manter num emprego. Além de uma boa formação universitária, há a necessidade do aprendizado constante e da reciclagem periódica; a impressão é a de que basta umas férias um pouco mais prolongadas para condenar o trabalhador à obsolescência. Essa verdadeira paranóia, compreensivelmente, deixa as pessoas bastante angustiadas, tensas, apressadas, egoístas, impacientes, doentes; invertem os valores, mutilam a ética, adulteram o caráter. É a sociedade do "salve-se quem puder" e do "cada um por si", onde vale tudo para sobreviver em meio à barbárie que se alastra por toda parte. O tempo livre é escasso e, conseqüentemente, não cede espaço para a reflexão. O ato de refletir, que poderia ser o caminho para a redenção dessa sociedade enferma, simplesmente, não é praticado, senão por uma minoria.

Foi numa semana em que essas impressões me fustigavam de forma particularmente incômoda que eu tive a satisfação de descobrir dois livros, ambos recentemente lançados pelo selo Vozes Nobilis da Editora Vozes, que podem auxiliar muitas pessoas a pensar sobre as próprias vidas, o caminho que estão trilhando e o ambiente à sua volta. O primeiro deles é o interessantíssimo Não Nascemos Prontos! Provocações Filosóficas, do filósofo e professor Mario Sergio Cortella (Vozes; 136 páginas; 2006). Lembro-me de haver conhecido Cortella pela televisão. Ele apresentava um programa muito bom na TV SENAC/SP cujo nome, se não me engano, era Modernidade. Infelizmente, o sistema de TV a cabo do qual sou um assinante não muito satisfeito, retirou o canal da sua grade, sem uma razão aparente e eu nunca mais assisti ao programa (nem sei se ele ainda está no ar). Agora, pude conhecer o Cortella filósofo e de uma maneira bastante gratificante. Seu livro é ótimo em todos os sentidos e pode ser lido com facilidade mesmo por quem não é lá grande adepto da leitura. Dividido em trinta e um ensaios breves, escritos de forma clara e repleto de referências literárias e filosóficas, Não Nascemos Prontos! Provocações Filosóficas levanta questões como a volúpia do consumo, a pressa contemporânea, os exageros e equívocos na nossa relação com a tecnologia e as responsabilidades da mídia, sobretudo a televisiva, na sua relação com a formação ética e de cidadania das crianças e jovens e nos faz enxergar com espantosa clareza, o óbvio, tudo aquilo com que convivemos e nos defrontamos diariamente e de que, por inúmeras razões, não nos apercebemos como deveríamos.

Proposta semelhante, mas com outro enfoque, é o livro do teólogo e escritor Leonardo Boff, Virtudes para um Outro Mundo Possível, Volume II: Convivência, Respeito e Tolerância (Vozes; 128 páginas; 2006), segunda parte de uma série que começou com Virtudes para um Outro Mundo Possível, Volume I: Hospitalidade; Direito E Deveres de Todos (Vozes; 200 páginas; 2005) e que deverá terminar com um terceiro volume, que falará sobre a cultura da paz. Usando os ensinamentos e a própria história da fé cristã e citando episódios interessantes como o das Irmãzinhas de Jesus que, nos anos 50, foram viver na combalida tribo dos tapirapé no Mato Grosso, salvando-os da extinção iminente, Boff criou uma obra que nos abre os olhos para elementos essenciais da vida humana, muitos dos quais negligenciados pela sociedade contemporânea, onde a convivência está cada vez mais prejudicada pelo individualismo e pela busca cega pelo êxito material e onde o respeito tornou-se artigo escasso nas relações sociais, movidas por interesses e pela frivolidade. Assim como Cortella, Boff escreve de maneira clara e seu texto, embora elaborado e carregado de significado, é de facílima compreensão. Gostei, especialmente, da parte em que ele discorre sobre a tolerância, mostrando-nos o seu significado e afirmando que, antes de mais nada, ela é uma exigência ética, que representa um direito que deve ser reconhecido a cada pessoa. Se queremos construir uma sociedade melhor e menos desumana, há que saber quais valores precisamos cultivar e Boff nos apresenta o caminho das pedras.

Recomendo, firmemente, a leitura de ambos os livros, inclusive como porta de entrada para quem, mais tarde, tiver interesse de alçar vôos mais altos no campo da filosofia. Quem sabe os leitores de Cortella e Boff não se aventurem, mais tarde, por obras de Platão, Aristóteles, Schopenhauer e Nietzsche? Afinal, quando a centelha da reflexão é acendida na mente de uma pessoa, dificilmente ela volta a se acomodar a um estado de quase inércia existencial. É, creio, um benfazejo caminho sem retorno.

Para ir além









Luis Eduardo Matta
Rio de Janeiro, 16/5/2006

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Alívios diamantinos de Ana Elisa Ribeiro
02. O underground e o Estado de Evandro Ferreira


Mais Luis Eduardo Matta
Mais Acessadas de Luis Eduardo Matta em 2006
01. Sim, é possível ser feliz sozinho - 19/9/2006
02. A favor do voto obrigatório - 24/10/2006
03. Literatura de entretenimento e leitura no Brasil - 21/11/2006
04. As novas estantes virtuais - 14/2/2006
05. Reflexões para um mundo em crise - 16/5/2006


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
16/5/2006
04h02min
Bela e correta reflexão sobre o mundo atual, embora eu a faça de outra forma, visto que ao sair à rua não tenho esse particular hábito. Entretanto, percebo que existem dois comportamentos distintos nos seres humanos: um é o comportamento individual e o outro é o indivíduo na coletividade. A mesma pessoa que fala de paz com entusiasmo é capaz de ser agressiva quando inserida numa coletividade. Em resumo, os discursos se chocam frontalmente e as atitudes são contraditórias. Costumo comparar nossa sociedade atual a um horrendo aleijão onde os avanços tecnológicos evoluiram de forma fantástica e, em contrapartida, os valores éticos involuiram assustadoramente. Não me refiro a mais ou menos espiritualidade, seja religiosa ou não. Falo de valores éticos mesmo, falo do valor da vida. Se por lado são inventados aparelhos que salvam vidas, por outro, tira-se a vida com facilidade, sem culpas ou remorsos. Diria que vivemos um período altamente contraditório.
[Leia outros Comentários de regina mas]
16/5/2006
07h55min
Há um texto no DC intitulado “A Ousadia de Mudar de Profissão” do Marcelo Maroldi que também fala de um livro do professor Sérgio Cortella (Não espere pelo Epitáfio). Quem gostou de um, irá gostar de outro, vez que os dois textos acendem a agradável "centelha da reflexão". É gratificante ler textos desta qualidade no começo do dia...
[Leia outros Comentários de Marcelo Souza]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




A Abelhinha Folgada - Coleção Contos da Selva
Horacio Quiroga
Mercuryo Jovem
(2011)



A vida é feita de escolhas
Elisa Masselli
Mensagem de Luz
(2016)



Livro Literatura Estrangeira O Documento Holcroft
Robert Ludlum
Record



O caso de Charles Dexter Ward
H. P. Lovecraft
Lpm
(1988)



Livro Contos Paris Não Acaba Nunca
Betty Milan
Record
(1996)



Livro Literatura Brasileira A Vivência de Clarisse Coleção Novos Talentos da Literatura Brasileira
Isabella Danesi
Novo Século
(2013)



Talent in Action
Georges Anthoon
Lannoo Campus



Contos populares Chineses - Segundo Volume
Editora Princípio
Princípio
(1988)



Como Fazer 1 2 3
Como Fazer
Rio Grafica
(1978)



Projetando Redes Wlan Conceitos e Práticas
Carlos Alberto Sanches
Érica
(2005)





busca | avançada
119 mil/dia
2,0 milhão/mês