Um fim de semana no campo | Fabio Silvestre Cardoso | Digestivo Cultural

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Sexta-feira, 23/6/2006
Um fim de semana no campo
Fabio Silvestre Cardoso
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+ 2 Comentário(s)

Sobre o Brasil, é correto afirmar que boa parte dos brasileiros desconhece não só sua história, mas também os elementos e os lugares que fizeram parte dela. Nesse sentido, também é correto afirmar que a novela das 18h, Sinhá Moça, da Rede Globo, tem, como todas os folhetins de época, provocado um enorme interesse pela história da vida privada do século XIX. Esse tipo de ficção, de certa maneira, tem ajudado às pessoas a criar uma imagem a respeito de um período distante do ponto de vista histórico. E o mais curioso é que para muitas pessoas essa idéia só existe nas imagens das novelas e dos seriados. Desse modo, poucos imaginariam que o cenário dessas produções de época não desapareceu por completo. Na verdade, haveria uma surpresa se soubessem que determinados lugares estão mais próximos do que se imagina.

Ancorada na Serra da Mantiqueira, mais precisamente ao sul do Vale do Paraíba, a cidade de Piquete, com seus pouco mais de 18 mil habitantes, conta com uma dessas raridades de época. Essa é a impressão que os visitantes têm ao encontrar na Fazenda Santa Lídia não apenas uma preservação dos artefatos e das construções, mas também de boa parte dos costumes e outras minúcias, como a culinária e o ritmo familiar. O que se transforma em destaque numa época em que os hotéis e pousadas estão cada vez mais requintados e pasteurizados.

Assim, se corre o risco de ser chamado de rústico, o local prima pela manutenção do mesmo estilo arquitetônico e da mesma estrutura informal que tanto caracteriza as cidades do interior. (Para chegar lá, é preciso debelar alguns obstáculos. Se o viajante decidir ir de ônibus, por exemplo, o trajeto recomendado é São Paulo - Lorena - Piquete. Até a Fazenda Sta. Lídia, o ideal é recorrer aos serviços de táxi existentes na rodoviária.) O interesse pelo local, no entanto, permanece graças a duas potencialidades turísticas: a histórica e a ecológica, conforme veremos a seguir - pela ordem.

Turismo Cultural
Quem trouxe a referência da novela originalmente não foi o autor deste texto. Faltou citar a fonte. E lá vai: é Gisele, uma das responsáveis pela recepção dos hóspedes da Fazenda Santa Lídia. É ela quem apresenta o local e conta as principais histórias da Fazenda. Então, sempre de acordo com ela, aqui segue: originalmente, a fazenda pertenceu a Joaquim Vieira Teixeira Pinto, que, por sua vez, era do Partido Conservador da cidade de Lorena, uma das grandes expoentes do café no século XIX. Naquela época, a produção se sustentava não só pelos ganhos do chamado "ouro verde", mas também graças ao trabalho dos escravos. (A propriedade de Joaquim Vieira não fugia à regra.) Assim, para manter os 320 alqueires da fazenda e a produção de café, a Fazenda possuía não só a Casa Grande, mas também a Senzala. Depois da Lei Áurea, em 1888, a produção de café ainda se manteve até 1940, quando passou à criação de gado. Esse foi o outono da propriedade, que pouco a pouco foi reduzindo o seu poderio: dos 320 alqueires restam atualmente 173. E, embora a criação de gado prossiga, ela não faz sombra ao passado.

Do ponto de vista histórico, a Fazenda Sta. Lídia consegue, no entanto, preservar a memória detalhada de um período do qual sobram versões e causos, mas que, ao mesmo tempo, carece de referências físicas e geográficas. Desse modo, para além das suítes e dos quartos para hóspedes, é na Casa Grande que o visitante encontra os elementos, instrumentos e ambientes que envolviam o cenário histórico de um período no Brasil. Móveis, sofás, poltronas e acomodações pertencentes a um período distinto e, ao mesmo tempo, contraditório. De um lado, chama a atenção a elegância e a pujança dos corredores da Casa Grande, todos ele adornados com os quadros e as esculturas de época, reforçando o poder dos senhores do café. Em contrapartida, essa mesma imponência tinha uma mancha, posto que estava ancorada no regime escravocrata. E isso também está demonstrado na Fazenda, um espaço transformado em museu, mas que no passado era local de sofrimento dos escravos: a Senzala. Ali, constam instrumentos que serviam para a tortura, além de uma iconografia considerável sobre a condição dos escravos. Em determinados momentos, os visitantes se recusam a acreditar que ali era um local de tamanho contraste, mas acabam convencidos pelo choque de realismo provocado pelo local.

A visita histórica tem um dos seus pontos mais interessantes quando se chega ao local onde era guardado o café, logo abaixo da habitação da Casa Grande. O tamanho do espaço põe qualquer um a pensar: como é que esse império acabou?

Turismo Ecológico
Não há como não sentir, à primeira impressão, a diferença climática entre a caótica São Paulo - cujo ar, dependendo do dia, torna-se insuportável - e a região onde está situado a Fazenda, ao sul do Vale do Paraíba. Quando a noite chega, o visitante, especialmente se for da capital paulista, há de notar as estrelas do céu. Prosaico? Nada disso. O olhar se transforma num lugar como esse. E o domingo, com tudo isso, torna-se o dia ideal para uma passagem pela Via Sacra, uma trilha dentro das imediações da Fazenda. O caminho é tortuoso e estreito, muito adequado, portanto, ao processo de purificação espiritual, como também para quem busca um desafio de fim de semana.

Sabor local
Numa época em que os restaurantes, todos eles, passam por um processo de homogeneização, fazendo com que os temperos percam seus excessos e que até mesmo a feijoada seja light, a comida típica da fazenda também conta com seu sabor e tempero particulares. Que o visitante não espere salada de tomate seco ou petit-gateau. O melhor é esquecer o luxo e apreciar a peculiar carne de panela com arroz, tutu-de-feijão e frango com polenta. E aqui a pimenta deve ser um condimento obrigatório e, não, opcional. Além dessas refeições, cabe destacar o café da tarde. Privilégio inimaginável no dia-a-dia da cidade, este é encontro quase religioso no cotidiano da vida no campo. Na Fazenda, o visitante tem a oportunidade de acompanhar o entardecer com um saboroso bolo de cenoura, acompanhado de um café passado na hora.

Com emoção, Elis Regina cantava: "Eu quero uma casa no campo". Para quem vive em grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, este sonho é, a um só tempo, distante e improvável - afinal, mesmo o lazer hoje tem um caráter de superprodução (basta ver como funcionam os pacotes de viagens das agências). É por isso que a Fazenda Sta. Lídia se torna um lugar tão especial. Pois, se não conta com a infra-estrutura dos Resorts à moda de Campos do Jordão, tem como destaque a preservação saudável da História e de algumas tradições. Isto, sim, é qualidade de vida.

Para ir além
Fazenda Santa Lídia


Fabio Silvestre Cardoso
São Paulo, 23/6/2006

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
30/6/2006
08h09min
A historia que cada um conta tem um pouco da hierarquia que sempre dominou a sociedade brasileira. E a novela Sinhá Moça apenas faz este retrato, mas, se observarmos o nosso cotidiano, temos a sensação de que essa hierarquia ainda está plenamente em execução, há brancos ricos ou de posições de poder imaginando que é possivel estabelecer e preservar o pensamento brasileiro, que nasceu na Europa, mas que se consolidou com a luso-tropicalidade de Gilberto Freire, o inventor do Brasil... que, por sua vez, encontrou pela frente o trabalho de Florestan Fernandes, que desconstruiu o pensamento Gilberto-freiriano, e que revelou essa hierarquia de novo, entre o homem branco, a mulher branca, depois o homem negro e, por fim, a mulher negra. Essa historia que passou pela naturalização da sociedade, pela cultura... e, hoje, o que se discute é a política de "afirmação", na busca de novas identidades!
[Leia outros Comentários de Manoel Messias]
11/8/2006
16h52min
Fabio, muito obrigado pela dica. Excelente cobertura, fotos, etc. Precisamos de vez em quando respirar um pouco de ar puro e nada melhor que um local sem celular, notebook, e-mails, trânsito, etc. Podemos encontrar ótimas fazendas também na Serra da Bocaina, entre os estados do Rio e SP. Abraço, Ivo
[Leia outros Comentários de Ivo Samel]
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