Meu marido e outros tantos também | Gabriela Vargas | Digestivo Cultural

busca | avançada
133 mil/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> DR-Discutindo a Relação, fica em cartaz até o dia 28 no Teatro Vanucci, na Gávea
>>> Ginga Tropical ganha sede no Rio de Janeiro
>>> Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania abre processo seletivo
>>> Cultura Circular: fundo do British Council investe em festivais sustentáveis e colaboração cultural
>>> Construtores com Coletivo Vertigem
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> Salve Jorge
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> A morte da Gazeta Mercantil
>>> Mãos de veludo: Toda terça, de Carola Saavedra
>>> O poder transformador da arte
>>> Sinfonia Visual de Beethoven
>>> Eu, o insular Napumoceno
>>> Ah, essa falsa cultura...
>>> Teoria dos jogos perdidos
>>> United States of Brazil
>>> The Search, John Battelle e a história do Google
>>> Europeus salvaram o cinema em 2006
Mais Recentes
>>> Risco Calculado de Robin Cook pela Record (1996)
>>> Marcador de Robin Cook pela Record (2007)
>>> 007 O Foguete da Morte de Ian Fleming pela Civilização Brasileira
>>> Duas Semanas em Roma (capa dura) de Irwin Shaw pela Círculo do Livro
>>> Textbook Of Critical Care de Mitchell P. Fink, Edward Abraham, Jean-louis Vincent, Patrick Kochanek pela Saunders (2005)
>>> A Inquisição na Espanha de Henry Kamen pela Civilização Brasileira
>>> So O Amor E Real de Brian L. Weiss pela Salamandra (1996)
>>> Shike - O Tempo dos Dragões livro 1 de Robert Shea pela Record (1981)
>>> A Revolução Russa ( em quadrinhos) de André Diniz pela Escala (2008)
>>> O Pimpinela Escarlate do Vaticano de J. P. Gallagher pela Record
>>> Dicionário das Famílias Brasileiras - Tomo II (volumes 1 e 2) de Antônio Henrique da Cunha Bueno e Carlos Eduardo pela Do Autor (2001)
>>> Todas as Faces de Laurie de Mary Higgins Clark pela Rocco (1993)
>>> Toxina de Robin Cook pela Record (1999)
>>> O Fortim de F. Paul Wilson pela Record (1981)
>>> A Fogueira das Vaidades (capa dura) de Tom Wolf pela Círculo do Livro
>>> O Canhão de C. S. Forester pela Círculo do Livro
>>> Grandes Anedotas da História (capa dura) de Nair Lacerda pela Círculo do Livro
>>> Um Passe de Mágica (capa dura) de William Goldman pela Círculo do Livro
>>> Livro Sagrado Da Família - histórias Ilustradas Da Bíblia para pais e filhos de Mary Joslin, Amanda Hall e Andréa Matriz pela Gold (2008)
>>> O Magnata de Harold Robbins pela Record (1998)
>>> A Traição de Arnaud de Bochgrave e Robert Moss pela Nova Fronteira (1981)
>>> O Processo de Franz Kafka pela Principis
>>> Jogos De Poder. Métodos Simpáticos Para Influenciar Pessoas de Henrik Fexeus pela Vozes (2018)
>>> A idade média de Maria Rius pela Scipione (1990)
>>> A idade média de Maria Rius pela Scipione (1990)
COLUNAS

Sexta-feira, 3/8/2007
Meu marido e outros tantos também
Gabriela Vargas
+ de 4400 Acessos
+ 2 Comentário(s)

O grande trunfo dos livros com histórias contemporâneas é que, em certos momentos, nos fazem lembrar de algum fato que vivenciamos ou do qual tivemos conhecimento. Não são poucos os livros assim, porém é raro um livro conseguir ser ao mesmo tempo tão sugestivo e instigante sem perder o realismo, a ponto de nos fazer se identificar com a história, como o livro Meu marido (Record, 2006, 188 págs.), indicado ao prêmio Jabuti deste ano e de autoria da escritora e psicanalista carioca Livia Garcia-Roza.

Livia estreou com o romance Quarto de menina (1995) e além de Meu marido também escreveu os romances Meus queridos estranhos (1997), Cartão-postal (1999), Cine Odeon (2001), Solo feminino (2002),A palavra que veio do sul (2004), também indicado ao prêmio Jabuti, e Restou o cão (2005).

Talvez por ser psicanalista, Livia se sente à vontade tratando dos conflitos que fazem parte do nosso século, como o conflito homem-mulher, que é abordado ao longo do romance pela ótica de uma única pessoa, a narradora Belmira.

Belmira é uma mulher prestes a completar trinta anos de idade que nasceu no interior de Minas Gerais. Oriunda de uma família simples, conheceu Eduardo (o marido que dá título ao livro) numa viagem de visita a uma prima que morava no Rio de Janeiro. Ela é uma mulher estável, tranqüila, que está sempre às voltas com a família interiorana e, principalmente, com o marido e com o pequeno filho Raphael.

Mas a história não gira em torno da narradora, e sim de seu marido. Eduardo é um delegado que tem como sonho frustrado ser pianista de boate e que, ao contrário da estabilidade da narradora, é uma pessoa completamente instável, de humor corrosivo, beberrão e inseguro. A história já começa com ele dirigindo bêbado na volta para casa com a esposa, depois de alguns uísques. Quando ficava assim, não gostava que a esposa dirigisse e nem que abrisse a porta e saía gritando pela rua que era alcoólatra. Belmira narra, ao longo do romance, várias situações em que o marido fica daquele jeito, no outro dia acordando de mau humor e logo saindo para trabalhar.

Durante esses episódios, aos poucos podemos perceber o quão submissa ela se colocava perante o marido, que falava sem parar, não apenas quando estava bêbado, mas sempre que tinha oportunidade, e Belmira apenas ouvia, dizendo umas poucas palavras. Eduardo, aliás, sempre se colocava de uma forma superior à esposa, dizendo que tinha que trabalhar para sustentar a família, sugerindo que o dinheiro dela não servia para nada. Algumas vezes, enquanto falava com ela, proferia palavras de caráter mais rebuscado, logo explicando o significado para a mulher: "Nunca escutou o verbo solancar, não é? Sua expressão revelou ignorância. Solancar é trabalhar arduamente com afinco, em serviço pesado. (...)".

Interessante é que apesar desse jeito instável, Eduardo é um excelente pai. Desde que Raphael estava na barriga da mãe ele já chamava o filho de campeão e cantava para ele o hino do Botafogo, seu time do coração. Sempre fizera de tudo pelo filho, se vestindo de gigante, contando causos da delegacia em que trabalhava e dizendo que era um xerife melhor que os do faroeste, fazendo o filho dar gostosas gargalhadas e se orgulhar do pai.

Apesar de descrever com cuidado o marido, o ápice da história se dá na ausência dele, nas insistentes viagens que Eduardo começa a fazer deixando mulher e filho sozinhos durante um bom tempo. Quando volta, fica pouco tempo e depois já vai viajar de novo. A mulher começa a estranhar o comportamento do marido e o filho chora à noite de saudade, mas a vida segue, com Belmira levando o filho para natação, dando suas aulas de inglês e notando o marido cada dia mais distante. Até que um dia ela começa a receber ligações insinuando que o marido estaria tendo um caso com alguma outra mulher e a partir daí a história muda de rumo e diversos conflitos, que não necessariamente serão resolvidos, surgem na história.

"O tempo passava e eu não ouvia nem via mais meu marido. Nosso casamento devia estar mesmo para acabar, e eu precisava pensar no que ia fazer. Com a vida que ele inventara, estávamos sempre em desequilíbrio, ou eles estavam juntos, ou nós, meu filho e eu, mas nunca mais os três, pai, mãe e filho."

Alguns críticos apontaram certos deslizes que a autora comete no livro, como a mãe interiorana de Bela falar palavras rebuscadas como "longínqua", além de o texto apresentar alguns poemas de rimas pobres como podemos ver na página 14: "Nessa noite, Eduardo demorava para chegar em casa; quando se atrasava, sempre telefonava"; porém, creio que esses equívocos sejam muito pequenos diante da obra em si, em que o mais interessante é a proximidade estabelecida com o leitor. Que mulher nunca ficou insegura por causa do namorado/marido? E que homem nunca se sentiu assim por causa de uma mulher? Essas são situações comuns e cotidianas que tornam o livro tão especial, como se fosse uma narração das entrelinhas da vida, em que a psicanalista ajuda à escritora a construir com audácia um enredo atual e instigante.

Para ir além






Gabriela Vargas
Porto Alegre, 3/8/2007

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Auto-ajuda empresarial: reunite crônica de Ana Elisa Ribeiro
02. As religiões do Rio e do Brasil de Marcelo Spalding


Mais Gabriela Vargas
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
3/8/2007
13h45min
Achei o texto muito bom, de muito bom gosto, que faz com que as pessoas que não conhecem o livro ou a autora, se interessem em lê-lo. Como disse a Gabriela, quem nunca ficou inseguro por causa de outra pessoa?
[Leia outros Comentários de Jéssica Almeida]
4/8/2007
15h43min
A maioria dos livros escritos por mulheres tem os homens como vilãos ou como seres inferiores. Esse parece ser mais um. gd ab
[Leia outros Comentários de Julio Cesar Correa]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Em seus passos o que faria Jesus? 296
Charles M. Sheldon
Sem
(1975)



O Repouso do Guerreiro
C. Rochefort
Abril Cultural
(1980)



El Camino por Recorrer
Richard Peterson
Edaf
(1993)



Livro Literatura Estrangeira Questões Do Coração
Emily Giffin
Novo Conceito
(2011)



Cidades e questões sociais 429
Dirce Koga
TerraCota
(2009)



Por Que Sou Coach ?
Jose Roberto Marques
Ibc
(2015)



Homens São Analógicos Mulheres São Digitais por Que Sua Empresa
Walter Longo
Sem
(2014)



Livro Literatura Estrangeira O Símbolo Perdido
Dan Brown
Sextante
(2009)



A Estória do Jacaré Zezé e a Tartaruga Calunga
Maria Daguia
Giostrinho
(2012)



Tertúlia na Era de Aquários
Luna e Amigos
Espaço do Autor
(2003)





busca | avançada
133 mil/dia
2,0 milhão/mês