DIGESTIVOS
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Sexta-feira,
4/6/2004
Psicodelia e colesterol
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 178 >>>
Os anos 60 duraram mais do que se pensava. Nos anos 80, por exemplo. Foi nessa década que Angeli concebeu e estreou, na Folha de S. Paulo, a dupla Wood & Stock. Quem vê Arnaldo Angeli Filho passeando, em véspera de Natal, pelo shopping Higienópolis, totalmente integrado à paisagem (roupa preta, cabelo punk e barbicha são fashion hoje em dia) não imagina o que havia de rebeldia em um dos fundadores da Chiclete com Banana. Era um sinal de contestação, para a juventude incipiente dos 1980s, folhear ou mesmo empunhar a revista em público. As meninas provavelmente não conheciam. Era leitura de meninos. De sexo para cima. Não havia tanta violência nessa época; ou então, como temática, não fazia tanto sucesso. Mas sexo, sim. Não havia internet. E a Playboy era um luxo quase inacessível. Quem quiser reviver esses tempos e não os anos 60, de novo, pelo amor de Deus deve procurar a coleção Sobras Completas, que a Devir e a Jacaranda estão lançando em versão colorizada com obras de Angeli. Estamos no quinto número e já saíram, por exemplo, os álbuns da Rê Bordosa e dos Skrotinhos (duas vezes). Wood e Stock são aqueles dois sujeitos (tá bom, dos anos 60) que pararam na era do sexo, das drogas e do rocknroll. Parece que nunca trabalharam; continuaram boêmios; cantando as louquinhas que apareciam e viajando de vez em sempre. Em 1987, foi profético apostar na dupla. O filme se repetiu tantas vezes confirmando o feeling de Angeli que algumas piadas até ficaram velhas. Vimos elas encenadas na vida e na arte, até cansar. Chega a ser aflitivo revisitar Wood & Stock e pensar que muita gente continua presa no íncubo protagonizado pelo triunvirato Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison. Uma geração inteira anestesiada que pré-televisão anestesiou as outras. E o mundo saiu do coma só agora. Os hippies quando não são folclóricos são mesmo vagabundos. Vamos admitir. E alguém paga a conta do baseado depois. Ainda é gostoso rir de Wood & Stock. Mas a realidade bate à porta.
>>> Wood & Stock - Angeli - 48 págs. - Devir/Jacaranda
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Julio Daio Borges
Editor
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