Jornalismo e História: entrevista com Italo Tronca | Jardel Dias Cavalcanti | Digestivo Cultural

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Segunda-feira, 12/5/2003
Jornalismo e História: entrevista com Italo Tronca
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 8100 Acessos

Italo Arnaldo Tronca foi jornalista nos anos 60, trabalhando em jornais como Folha da Tarde, Última Hora, Jornal da Tarde e revista Veja. É autor, junto com Bernardo Kucinski, do livro Pau-de-arara, a violência militar no Brasil, que é uma das primeiras denúncias no exterior sobre a existência das torturas nos porões da ditadura militar. É professor livre-docente do Departamento de História da UNICAMP, onde trabalha há 30 anos. Publicou recentemente As Máscaras do Medo: lepra e aids, um livro que, segundo o próprio autor, "pertence a um gênero bastardo, filho de uma união profana entre história e poesia".

Abaixo, em entrevista gentilmente concedida ao Digestivo Cultural, Italo Tronca nos fala de sua atividade como jornalista nos anos 60 e sobre seu trabalho como historiador.

1 - O Sr. trabalhou como jornalista entre os anos de 1961-1972, nos jornais Última Hora, Jornal da Tarde e na revista Veja. Como foi sua experiência como jornalista num período como esse, quando a ditadura militar se assentou no país impondo severas restrições à liberdade de imprensa?

ITALO: Incluo, nesse período, uma passagem (2 anos, mais ou menos), pela redação da Folha da Tarde, como editor internacional. Foram os "anos quentes" da Guerra do Vietnã, à qual dei destaque quase diário no jornal. Em termos de experiência pessoal, diria que os quatro veículos marcaram expectativas bem definidas por parte da chamada "esquerda intelectual", na qual me incluía, em relação à História. Nos tempos de Última Hora, fui repórter e colunista (1960-64). Alimentávamos apostas numa saída revolucionária, de esquerda, para a eterna crise brasileira. Tinha liberdade para escrever e diria que aprendi o ofício nessa época. Hoje, percebo que eu e meus colegas de redação (Ignacio de Loyola Brandão, Mauricio Capovilla e mais uma turma de militantes políticos de todos os matizes, liderados pelo Armindo Blanco, um português entendido em cinema, diretor de redação), éramos românticos e ingênuos... Achávamos que a revolução estava em marcha, sem perceber que o ôvo da serpente estava sendo chocado pela direita, preparando o golpe de 1964... Os dois anos no Jornal da Tarde, primeiro, e na redação de Veja, em companhia de Raimundo Pereira, Elio Gaspari, Bernardo Kucinski, foram debaixo do guante da censura dos militares. Assim mesmo, em Veja, conseguimos, em 1968, publicar uma matéria de capa, na qual colaborei, denunciando a violência nos porões do regime, cuja figura principal era um civil, o delegado Sérgio Paranhos Fleury. É uma longa história, cheia de lances dramáticos, que não dá para contar aqui.

2 - O Sr. escreveu o livro Pau-de-arara: a violência militar no Brasil, com Bernardo Kucinski. É um livro de denúncias da tortura existente nos cárceres militares. Conte-nos a história deste livro que, embora publicado em francês e espanhol, continua inédito até hoje no Brasil.

ITALO: Essa história tem muito a ver com minha passagem por Veja (1968-72). Eu e Bernardo Kucinski andávamos de olho nas longas tiras vomitadas semanalmente pelo teletipo (não havia computador na época nas redações), enviadas pelos correspondentes da revista nas principais capitais do país, relatando atrocidades praticadas pela repressão. Não podíamos publicar nada, tínhamos censores dentro da redação, que liam as matérias antes de irem para as mesas dos editores, inclusive da do Mino Carta, diretor de redação na época. Bernardo e eu juntamos aquela papelada e escrevemos um livrinho apócrifo, que o Luiz Merlino, morto posteriormente sob tortura no Doi-Codi, levou para Paris, onde foi editado pela Maspero. O ex-presidente Fernando Henrique trouxe um dos primeiros exemplares escondido debaixo do sobretudo para São Paulo. Era diretor do Cebrape na ocasião, onde andaram fazendo discussões sigilosas a respeito das revelações do livro. Em seguida, um outro jornalista, Flávio Tavares, correspondente do O Estado de S.Paulo no México, traduziu para o espanhol o texto e o publicou pela Siglo XXI. Ao que eu saiba, nunca fomos descobertos como autores. Se fôssemos, provavelmente não estaria aqui para contar essa história...

3 - Depois da experiência como jornalista o Sr. tornou-se historiador. Existe algum ponto de encontro entre estas duas profissões?

ITALO: Jornalismo, desde o século 19 pelo menos, vem se constituindo numa preciosa fonte para historiadores. Pessoalmente, nunca abandonei uma certa técnica e, mais importante, uma visão profissional adquirida nas redações, na minha maneira de trabalhar com a história. Tenho até hoje um certo "preconceito" em relação à ingenuidade e ao excesso de academismo que viciam a área das chamadas Humanidades na universidade. Não quero dizer que o jornalista esteja qualificado automaticamente para escrever história, mas me surpreende até hoje a maneira como as ciências sociais descobrem o óbvio depois de as portas terem sido arrombadas pelos acontecimentos. São quilos de teses discorrendo sobre o "dejà-vu" que me incomodam. São coisas que me dão a impressão (com exceções, claro) produzidas numa perspectiva de "guarda-livros", como eram chamados no passado os contadores...

4 - Enquanto todas as artes do século XX romperam com sua forma tradicional de representação, do ponto de vista da narrativa a história que se escreve hoje é ainda baseada numa descrição realista típica do século XIX. Como o Sr. vê essa fixação dos historiadores nesse único modo narrativo para contar suas histórias?

ITALO: Hoje, acho que esse "realismo" é uma ilusão. A obsessão pelo documento não leva em conta, em muitos casos, o óbvio, ou seja, que os tais documentos também são produções subjetivas de seus autores, sejam documentos oficiais, sejam diários íntimos. Nesse sentido, são representações daquilo que chamamos de realidade. Portanto, existe na escrita da história, necessariamente, um caráter "ficcional" que marca qualquer narrativa historiográfica, o que não significa simulacro ou falsificação. São apenas manifestações do alcance e do limite do potencial humano.

5 - Temos visto recentemente o uso de obras literárias sendo transformadas, numa leitura limitada, em documentos históricos por historiadores (o caso de Machado de Assis, por exemplo). Da forma como estão sendo usadas, não se pensando no valor maior destas obras, que são suas características estilísticas próprias, estas produções apenas se prestam a pensar a estrutura social de determinada época, coisa que qualquer documento institucional faria melhor. Como o Sr. vê esta questão?

ITALO: Penso que transformar uma produção estética (literatura, pintura ou cinema) em documento histórico é um equívoco. Seria uma infiltração de neo-positivismo, que vê no documento a expressão lídima da verdade. Obras de arte não têm compromisso com a verdade no sentido positivista do termo, mas com "verdades" possíveis, com aquilo que não foi, mas que poderia ter sido. A estética realiza uma transposição poética, em geral alegórica, que é necessariamente polissêmica, descortina vários sentidos (não qualquer um) para eventos que a narrativa que se pretende "científica" destrói na sua platitude.

6 - De um ponto de vista metodológico, o seu livro As Máscaras do Medo: lepra e aids mescla literatura, fotografia e artes plásticas (que são discursos artísticos) com o discurso científico da pesquisa historiográfica. Do ponto de vista teórico e prático quais as conseqüências desse encontro de áreas supostamente diferentes?

ITALO: Em Máscaras do medo... tento uma experiência de fusão entre diversas linguagens - a narrativa médica sobre a doença, e a abordagem estética da moléstia. Em lugar de estabelecer uma hierarquia sobre elas, busco conferir à arte, à estética, uma dimensão tão importante quanto o discurso científico sobre o mal biológico. Em meu entender, o que se passa aí é uma simbiose entre essas linguagens que constróem o objeto "doença", conferindo-lhe um significado e um alcance que vai muito além do discurso científico.

7 - Uma das bases teóricas do livro acima citado é a alegoria. O uso da alegoria anula a pretensa visão da história como ciência/verdade e abre o campo da interpretação para uma leitura polissêmica dos fatos. Qual o valor deste instrumento nas mãos de um historiador?

ITALO: A alegoria não é um simples recurso retórico da linguagem, mas uma maneira de ver o mundo. Nesse sentido, diria que somos todos alegóricos... A alegoria está inscrita na própria natureza da linguagem (s), que é, irremediavelmente, representacional. Com isso quero dizer que a linguagem só pode ser simbólica, mesmo quando se pretende eminentemente realista. A própria ciência não escapa da alegoria. Como nós, historiadores, poderíamos ser "objetivos", pretender penetrar na realidade última das coisas, se só dispomos da linguagem?

Para ir além
As Máscaras do Medo: lepra e aids, Italo Arnaldo Tronca, Unicamp.


Jardel Dias Cavalcanti
Campinas, 12/5/2003

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