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Terça-feira, 23/9/2003
Cabeça de papel
Julio Daio Borges
+ de 13200 Acessos

Como sou da geração televisão (cresci nos anos 80), minha "formação literária", digamos assim, se deu basicamente através dos jornais. Como não havia internet na época, eles foram minha "janela para o mundo".

Também o meu trabalho no Digestivo Cultural me aproximou dos jornalistas. Eram eles o meu modelo. Fizeram não só a minha cabeça, mas também a de todos aqueles que hoje escrevem na Web brasileira.

Assim, é natural que eu comece por eles (pelos jornalistas), ao indicar quais foram (e ainda são), para mim, os livros fundamentais.

A primeira influência que me ocorre é o Paulo Francis. Acontece, porém, que nenhum livro dele capta o que ele "foi" nos jornais. Então indico Waaal (1996), que é da época em que eu respirava Paulo Francis. Na minha opinião, ele foi o sujeito que tirou do jornalismo brasileiro (principalmente do cultural) o "complexo de vira-lata". Ele era pretensioso (no bom e no mau sentido) e discutia as grandes questões. Não fazia média e tinha horizontes largos. Civilizou muita gente com seu trabalho, embora poucos admitam.

Depois, quase junto, ou "quase antes", o Nélson Rodrigues (que eu insisto em grafar com acento, respeitando o original). Este me foi apresentado pelo Ruy Castro (de quem eu falo mais adiante), quando editava, para a Companhia das Letras, toda a obra jornalística do Anjo Pornográfico. Nélson tem um dos melhores textos do "português brasileiro" e nunca encontrei nada dele que fosse "ruim". Além de gênio do teatro, ele foi gênio da palavra, e eu não hesitaria em colocá-lo como o maior escritor brasileiro do século XX (considerando Machado de Assis como do século XIX). Uma boa introdução ao Nélson é O óbvio ululante (1993); foi por onde comecei, e não parei mais.

Logo em seguida, na minha "trinca" de influências, vem um "escritor de verdade" (não-jornalista). É o Rubem Fonseca. Hoje, no meu conceito, ele passa por uma reavaliação, mas, em termos de ficção, foi quem me mostrou "que era possível". Rubem Fonseca indubitavelmente abriu um caminho que não existia: retomou a temática urbana, quando a literatura brasileira parecia "perdida para sempre" no reino do regionalismo. Sem ele, não haveria nada do que estamos vendo (no cinema) e lendo (nos livros). Nesse meio tempo, vá de O buraco na parede (1995).

O Ruy Castro eu não lembro de ter "descoberto"; acho que ele sempre foi uma presença constante. Junto com o Fernando Morais (a seguir), praticamente inventou a biografia no Brasil. Você pode ler "de olhos fechados": O anjo pornográfico (1992), Estrela solitária (1995) e Chega de saudade (1990), o meu favorito. Além disso, Ruy Castro criou toda uma mitologia em torno do Rio dos anos 50 e 60. Se hoje o Tom Jobim, o Vinicius de Moraes e a turma da Bossa Nova são o que são neste País, foi por causa do Ruy. Do alto de sua cobertura no Leblon, ele preserva a alma encantadora das ruas do Rio de Janeiro.

Já o Fernando Morais, escreveu um dos livros que mais me marcou: Chatô: o rei do Brasil (1994). O Assis Chateaubriand, para além das questões "éticas", sempre me fascinou por ser um homem de ação. Recomendo veementemente a leitura de Chatô; pelo menos para entender como um menino do interior do Nordeste, que demorou a falar, teve poderes de imperador no Brasil e nos legou uma das melhores galerias de arte do mundo: o Masp.

Saindo do rol dos brasileiros, eu citaria Kafka, que foi uma descoberta relativamente recente (o que não me impediu de ter lido quase tudo dele). Certamente eu devo esse "admirável mundo novo" kafkiano ao Modesto Carone. (Se você quiser saber a importância que tem um bom tradutor, compare as edições "antes" e "depois" de Modesto Carone.) Kafka - para além do viés interpretativo de querer relacioná-lo aos horrores da Segunda Guerra Mundial - é um autor universal. Ainda que de sua pena tenham saído muitos clássicos, para mim, Carta ao pai (1919) é insuperável.

E eu tenho uma teoria particular sobre Kafka: acho que ele saiu todo de dentro de Dostoiévski. Impossível não relacionar as descrições da São Petersburgo de Raskolnikov com as da Praga de Josef K. Assim, não é difícil adivinhar que, no meu ponto de vista, Fiódor Dostoiévski é o maior de todos. E Os irmãos Karamásov (1881), o maior entre todos (os livros). Perfeitamente construído, retrata a ascensão e a queda da espiritualidade no Ocidente, do século XIX em diante; ombreando-se com Nietzsche.

Agora vamos a outros três que eu considero "leituras básicas", embora não sejam necessariamente as minhas preferidas.

Começando por Oscar Wilde. Se você quiser compreender o "culto à personalidade" de hoje, tem de ler Wilde. Ele conseguiu a façanha de ser maior que a própria obra. O Retrato de Dorian Gray (1891) foi, para mim, um divisor de águas; e eu ficava decorando as falas de Lord Henry. Também recomendo De Profundis, uma das cartas confessionais mais bem escritas de todos os tempos. E as frases dele, que são ótimas.

Outra "leitura básica" é George Orwell, que resumiu o ocaso da individualidade (do homem comum) em 1984. Foi publicado em 1949 e é lamentável que continue tão atual. Não para Orwell, que merece muito mais; mas para nós, que continuamos vivendo sob o jugo dos "Big Brothers" da vida.

E a terceira "leitura básica", e minha última dica, é O Estrangeiro (1942), de Albert Camus. Li em francês e fiquei bestificado. Também fala da nossa existência como "autômatos": sem sentimentos, sempre "ao sabor do vento", com a eterna impressão de que "tudo foi em vão". Tem a abertura clássica do sujeito que não se lembra se a mãe morreu naquele dia ou no dia anterior. Por aí, já dá para imaginar o que virá.

Fico nesses dez. Lembrando sempre que, para nós mortais, livros e leituras são felizmente intermináveis.

Nota do Editor
Texto especialmente composto para integrar a seção "Biblioteca Ideal" da Livraria Cultura.


Julio Daio Borges
São Paulo, 23/9/2003

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