Houston, we have a problem | Renato Alessandro dos Santos | Digestivo Cultural

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Terça-feira, 19/11/2019
Houston, we have a problem
Renato Alessandro dos Santos
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Parecia um conto de fadas. A menina pobre que foi morar num castelo com um príncipe. O dragão morto. As armas. Os barões assinalados. Para viver feliz para sempre? Bem, esse tipo de coisa realmente não existe, existe? Mas, enquanto dura, é OK, tipo felicidade feito chama e tal. O problema era que o dragão não estava morto, o príncipe não era lá grande coisa e >>> Whitney Houston <<<, dando um piparote temporário na tristeza, tratou de cuidar do vozeirão que Deus, naqueles cinco minutos a mais que dispensou a ela, lhe deu.

A coisa pegou e começou a dar certo. A voz, instrumento divino, ocupava não uma sala, ou um estúdio com madeira de lei, mas um pavilhão, um estádio todo. Tudo parecia fluir como previsto. A mãe, Ciccy, já trazia outra voz que subia nas alturas também, enquanto o pai, bem, o pai era um embuste aguardando apenas a hora de amadurecer e cair do pé, para se espatifar no chão, apodrecido. Os irmãos tinham lá aquele afeto que se espera, e até mesmo a prima, Dione Warwick, tornou-se famosa primeiro, algo que fazia daquela família um acontecimento. Pena que o pai não era mesmo Duke Ellington, porque aí tudo teria sido diferente. Teria?



Chega a fama, e Nippy, que deixara de ser uma garotinha há tão pouco tempo, começa sua trajetória rumo à estratosfera da música pop, mas, no meio do caminho, faltando pouco para a coroa de abelha-rainha, alguma coisa ia saindo dos trilhos. Nada que aquela produção não pudesse maquiar, estancando as feridas. Enquanto isso, filmada, Whitney sorria. Por fora, porque por dentro vinha despedaçando-se. Drogas? As drogas são sempre um bom bode expiatório. Aos artistas, um bodoque a arremessar a imaginação acolá. Fosse o Velho Oeste, elas teriam aqueles cartazes lambe-lambe: Drogas, procuram-se! Recompensa: + Drogas. Hê, hê. As drogas, então: dos anos dourados da cannabis sativa, consumida com os irmãos, à ditadura junkiedom do crack e da cocaína.

E todo o resto? Todo o resto? Todo o resto: comprimidos, remédios, ansiolíticos iam contornando a aura da moça que, dia a dia, perdia-se mais e mais. Até que a queda parou. Alice, naquele buraco que leva ao país das maravilhas, foi caindo, mas, enquanto despencava, sonhando, ainda aguardava a luzinha ao fim; Whitney, não. Whitney jogou tudo fora e, com a mesma rapidez com que ganhara, foi perdendo tudo. Se ficasse só no terreno da melancolia, nada que Prozac e pó de pirlimpimpim aspirado em notas de uma centena de dólares não resolvessem, mas Whitney alcançou algo que nem todo mundo consegue, que foi chegar mais fundo que qualquer outro artista ao fundo do poço, e lá, cavando um punhado de terra, desceu ainda mais um pouquinho, agonizando em praça pública.

Os rumores não passavam disso; era ela gay? E daí? O problema era aquele regime colombiano; aquele que a fazia desbotar em carne e osso, mais esse do que aquele, deixando um pálido corpo com a aparência de um saco de ossos, um saco de ossos de 43 quilos e meio. Como parar em pé? Tudo desmoronando: o pai, sempre um herói a qualquer filha, ao menos é o que se espera, trabalhando para ela, rouba a garota. R.O.U.B.A. Oi? Quer dizer que a filha dá ao pai a chance de ele ser mais do que jamais havia sido e ele, simplesmente, assalta a garota? Não há Freud que resista. A moça corta todas as relações com o patriarca, que, um poço de vaidade, prefere processar judicialmente a filha. A pechincha? 100 milhões de dólares. 100 milhões de dólares numa época em que o mundo, boquiaberto, mal entendia o que estava acontecendo com aquela família. Não era o primeiro prego. O primeiro prego foi a pedofilia da tia, Dee Dee, que trocara os pés pelas mãos e, feito o monstro embaixo da cama, caiu em cima da sobrinha, devorando-a.



Tudo que vai aí está no documentário >>>Whitney<<<, disponível na Netflix. Não é preciso fazer parte do fã clube da cantora para se interessar por ela. Basta gostar de música. Naquele momento de abertura que a internet possibilitou nos anos 1990, ninguém se importava muito com Whitney Houston; ao menos até o blockbuster O guarda-costas (1992), que ela fez debutando como atriz ao lado de Kevin Costner - aliás, nunca entendi por que Madonna enfia o dedo na boca, como quem vai vomitar, logo que o ator aparece em Na cama com Madonna (1991). Por isso que sempre pensei que Kevin fosse um pé no saco. Seria? É? Nunca foi?



Bem, até aquele filme, havia uma Whitney; dali em diante, foi outra coisa. Dali em diante foi o showbiz amargo, em escala global, quando o artista começa a descobrir que a vida ordinária não teria sido um negócio tão mau assim... São nessas horas que se vê quem suporta a histeria e, com isso, consegue envelhecer sem despirocar, como um vinho inacredincrivelmente caro que, numa adega de restaurante, em meio à muvuca ladeira abaixo, vai sobrevivendo ao olhar flamejante do sommelier. Não entendi bem o que quis dizer com isso, mas entendi muito bem a colossal tristeza de Whitney, quando sem tocar os pés no chão ela vai descendo, descendo, descendo, até chegar à periferia do inferno, onde um diabo fã-farrão a aguardava com aquela mão vil que afaga.

Lá, no inferno, vemos Whitney Houston após perder tudo: fortuna, afeto, família, o amor, o respeito da filha e, pior, para nós, que nada temos que ver com isso, aquela voz de veludo cotelê que, no frio, a gente abotoava até o pescoço. Uma blusa que aquece. É nessa hora que, no documentário, a gente vê - uma vez só, sem necessidade de voltar e ver de novo; por favor, não, não faça isso - Whitney Houston rasgando o que restou do retalho de sua voz... Puxa, que triste. Refrão: nunca uma criatura desceu tanto para se autodestruir. São poucos segundos de uma fantasmagórica artista cantando a música que vai fazer o nome dela atravessar todos os séculos, como já vem acontecendo, ao menos até o dia em que algum desses presidentes tiranos resolva apertar o botão de autodestruição da humanidade. Pois Nippy, no que diz respeito a ela, e apenas a ela, apertou esse mesmo botão. No documentário, a vemos em cima de um palco cantando o que restou de "I will always loving you". Por que a deixaram fazer isso? Os artistas não têm aquelas babás que limpam suas boquinhas quando eles começam a surtar? Cadê essa pessoa?!

É triste, triste. Ninguém conseguiria - mesmo que quisesse - viver sem dinheiro e tal. Mas precisava chegar a esse ponto, Whitney? A voz, ou o fiapo que sobrou, impotente, não se levanta; não consegue, e cai, feito a maçã das aulas de física. É uma cena que, terminado o documentário, regressa à cabeça da gente sem parar. Van Gogh, ouvindo aquilo, teria arrancado a outra orelha. Beethoven? Provavelmente, viraria motorista da Ultragaz. Já gente como eu, mortal de segunda mão, só pode ficar triste por causa de Whitney Houston. Porque, cá entre nós, percebemos que ela só queria mesmo era nadar mais longe, mais fundo, como todo mundo. Pena que, na banheira, quando chegou o momento derradeiro, o salva-vidas não estava lá.

Nota do Autor
Renato Alessandro dos Santos, 47, é autor de Todos os livros do mundo estão esperando quem os leia e de O espaço que sobra, seu primeiro livro de poesia (ambos publicados pela Engenho e arte).


Renato Alessandro dos Santos
Batatais, 19/11/2019

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