2004 foi um ano ruim, mas nem tanto | Paulo Polzonoff Jr | Digestivo Cultural

busca | avançada
39612 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Festival da Linguiça de Bragança celebra mais de 110 anos de seu principal produto, em setembro
>>> Rolê Cultural do CCBB celebra o Dia do Patrimônio com visitas mediadas sobre memória e cultura
>>> Transformação, propósito, fé e inteligência emocional
>>> Festival de Inverno de Bonito(MS), de 20 a 24 de agosto, completa 24 anos de festa!
>>> Bourbon Street Fest 20 Anos, de 24 a 31 de agosto, na casa, no Parque Villa Lobos e na rua
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Chegou a hora de pensar no pós-redes sociais
>>> Two roads diverged in a yellow wood
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
Colunistas
Últimos Posts
>>> Into the Void by Dirty Women
>>> André Marsiglia explica a Magnitsky
>>> Felca sobre 'adultização'
>>> Ted Chiang sobre LLMs e veganismo
>>> Glenn Greenwald sobre as sanções em curso
>>> Waack: Moraes abandona prudência
>>> Jakurski e Stuhlberger na XP (2025)
>>> As Sete Vidas de Ozzy Osbourne
>>> 100 anos de Flannery O'Connor
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
Últimos Posts
>>> Jazz: música, política e liberdade
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Um Furto
>>> É a mãe!
>>> Projeto Itália ― Parte II
>>> Manet no Rio de Janeiro
>>> As fitas cassete do falecido tio Nelson
>>> Vida virtual, vida real
>>> Caro Francis
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Crônica: o novo jornalismo?
Mais Recentes
>>> Sobre O Humanismo de Martin Heidegger pela Tempo Brasileiro (1967)
>>> Discurso Sobre O Método de Descartes pela Livraria Exposição do Livro
>>> Moralidades Lendárias de Jules Laforgue pela Iluminuras (1989)
>>> A Filosofia de Francis Bacon de Will Durant pela Ediouro
>>> A Memória, Medida Ontológica do Cosmos de Thais Curi Beaini pela Palas Athena (1989)
>>> A Volta Ao Mito - À Margem da Obra de Marcuse de Perboyre Vasconcelos pela Laudes (1970)
>>> O coração e o Espírito - A Estória de Rousseau e Voltaire de Guy Endore pela Nacional (1965)
>>> Zen e a arte da manutenção de motocicletas - uma investigação sobre valores de Robert M Pirsig pela Paz e terra (1984)
>>> Guia Politicamente Incorreto Da História Do Mundo de Leandro Narloch pela Leya (2013)
>>> Os Lusíadas de Luís de Camões pela Nova Cultural (2002)
>>> Arte Conceitual de Cristina Freire pela Jorge Zahar (2006)
>>> Catálogo Obras de Arte Câmara e Senado Exposição Comemorativa dos 180 Anos do Poder Legislativo de Museu da Câmera do Deputados pela Museu da Câmera do Deputados (2003)
>>> Mauá: Empresário do Império de Jorge Caldeira pela Companhia Das Letras (1995)
>>> Catálogo Exposição Os Inumeráveis Estados do Ser de Museu de Imagens do Inconsciente pela Estúdio Gráfico Fotolito (1987)
>>> O Prazer de Pensar de João Amado pela Edições 70
>>> Borogodança de Nelson Job pela Folio Digital (2024)
>>> Desdobramentos do Corpo no século XXI de Maria Conceição Monteiro pela Caetés (2016)
>>> Riptide (first time in paperback) de Catherine Coulter pela Jove Books (2001)
>>> Cliffhanger - illustrated by Nick Sharratt de Jacqueline Wilson pela Corgi Yearling Books (1998)
>>> Fases da Vida de Monica Rodrigues pela Autor (1983)
>>> History and Philosophy of Science - Selected papers de Joseph W. Dauben e Virginia Staudt Sexton pela The Ney York Academy (1983)
>>> Noções Básicas de Serviço Social de Casos de Elizabeth Nicholds pela Agir (1964)
>>> Pergunte ao Seu Anjo: um guia prático para lidar com os mensageiros do céu e fortalecer e enriquecer a sua vida de Alma Daniel; Timothy Wyllie; Andrew Ramer pela Pensamento (1998)
>>> A República 3000 - coleção calouro maior de Menotti Del Picchia pela Ediouro
>>> Força Interior: Ensinamentos práticos para uma vida melhor (Capa. Dura) de Carlos França pela Círculo do Livro (1988)
COLUNAS >>> Especial Melhores de 2004

Sexta-feira, 17/12/2004
2004 foi um ano ruim, mas nem tanto
Paulo Polzonoff Jr
+ de 3900 Acessos

Definitivamente, 2004 foi um ano ruim. Não que tenha sido um ano desprezível, daqueles que a gente pensa em jogar na lata do lixo. Nada disso. Houve muitas coisas boas. Maravilhosas até. Não foi um ano de especiais tragédias nem nada. Só foi um ano ruim. Que está acabando.

Para mim foi um ano em que a esperança foi posta à prova em todos os dias. Não me orgulho em dizer que em várias ocasiões ela perdeu. Ou titubeou, o que dá no mesmo. Não se trata daquela esperança pasteurizada que se vende nas melhores igrejas do ramo. Trato aqui de uma esperança personalíssima, que sempre norteou minha vida. Não nego que sempre fui um homem de sorte. Continuo sendo, claro, mas às vezes a coisa degringola. Ou, por outra, às vezes eu não consigo entender as notas deste fado.

Fazendo uma rápida retrospectiva, constato que meu ano esteve divididinho ao meio: de janeiro a junho e de julho a dezembro. Nos primeiros seis meses, trabalhei como editor de livros. Lancei apenas dois títulos no período. E quase vi ir para o ralo um casamento de mais de quinze anos com a literatura. Tive ganas de ver minha estante virar fogueira. Mas passou, passou, passou.

Acho que depois destes seis primeiros meses, a palavra literatura ganhou outra conotação para mim. A crença nos bons homens que escrevem livros já não existe; menos ainda a crença nos bons homens que publicam livros; menos ainda a crença nos bons homens que vendem livros; e, por fim, menos ainda a crença nos bons homens que lêem livros.

Foi ruim, muito ruim. E difícil. Como se estivesse às portas de Berlim no final da guerra, tive de tomar decisões rápidas. Parei de escrever crítica literária. E, por fim, desisti da edição de livros. Sábias decisões, ainda que insistam em me contradizer. Pior ainda são os que acreditam que estou apenas "dando um tempo", que vou amadurecer e voltar. Sinto se os desaponto, mas não: não volto a escrever sobre livros a não ser informalmente, de amigo para amigo, do jeito que ando fazendo.

Sempre quis ser crítico literário. Fui. Por longos quatro anos, fui. Ou cinco, já nem sei. Li muitos livros. Houve um mês em que li dezoito livros. É coisa demais para qualquer pessoa. Fiz amigos, fiz inimigos. Escrevi laudas e laudas que já hoje não existem senão nos arquivos da biblioteca - mandei tudo para o lixo do computador. Errei muito. Acertei também. Na minha ingenuidade juvenil, propus que a crítica fosse lida como uma opinião pura e simples, isenta de sentimentos pessoais. Falhei e falhamos e é passado.

Amante dos livros, caiu-me do céu a oportunidade de ser editor, isto é, de pôr nas mãos dos bons leitores os livros que me agradavam. Uma ilusão atrás da outra: não há tantos autores bons assim; os autores estão cheios de ambições vis (exceções existem, claro); e, por fim, publicar e vender livros no Brasil é uma atividade estranha, sem qualquer romantismo nem muito menos lógica. Só não digo que é uma atividade mafiosa porque sei que há muita gente boa publicando livros por aí. Mas que é uma atividade mafiosa, lá isso é.

Foram duas grandes decepções em seis meses. Decepções ligadas àquilo que eu achava ser a minha vocação: livros. Quando me dei conta, estava odiando não só escrever, como também ler. Passei meses (dois já é plural) sem pegar num livro. Comecei a ter azia quando percebia as negociatas por trás do negócio. Enfim, nestes seis meses acho que me tornei homem da pior maneira possível: perdi todo o romantismo e fiquei apenas com folhas na mão.

Depois destes seis primeiros meses que eu ouso chamar de trágicos, viriam seis mais trágicos ainda. Mas há nesta minha concepção de tragédia muito drama e nenhuma verdade. Porque 2004 foi um ano ruim, sim, mas não um ano sem propósito. Foi mais como uma palmada de mãe e pai: necessária, mas que a gente sempre pensa que poderia ter sido evitada. Ainda hoje, no finalzinho do ano, sinto as dores da palmada de 2004: um ano que poderia não ter sido como foi. Há lições que a gente não precisa aprender com tanto sofrimento. Ou será quê?

Pois nos últimos seis meses do ano eu me descobri como jornalista. Pela primeira vez em muito tempo. Tive algumas conversas comigo mesmo a respeito do assunto, me lembrei do porquê de ter escolhido esta profissão, me lembrei dos elogios dos professores e, novamente, da fé. E me empenhei em ser jornalista.

Quem conhece os pormenores desta história deve estar se perguntando como eu posso dizer que 2004 foi um ano ruim. De fato, consegui muitas coisas boas. Escrevi matérias interessantes. Entrevistei gente que prezo. Apertei a mão e olhei bem dentro dos olhinhos pequenos de Joel Silveira. Ganhei um dinheirinho. Pensando pragmaticamente, tudo foi muito bom, obrigado. E continua sendo. O problema é que não sou totalmente um homem pragmático.

Foi um ano de expiar culpas, de encontrar no passado motivos para se arrepender e ser punido. Foi um ano de ter muitos sonhos não realizados, numa proporção nunca antes atingida. Houve semanas de choro e de esterilidade. Passei vários dias em frente ao computador, me perguntando como sairia da enrascada em que tinha me metido. Confesso que me arrependi algumas vezes de ter ousado vir para o Rio de Janeiro. E por isso peço perdão.

A verdade é que todas as vezes em que eu abaixava a cabeça, algo de bom acontecia. Algo momentâneo. Uma palavra, um telefonema, uma frase num livro, uma notícia no jornal. Amigos me deram bons conselhos que eu tentei e ainda tento acatar com a sabedoria do curumim que escuta o pajé. Dois mil e quatro foi um ano sofrido, de muitas dúvidas. Mas o bom é que a tendência das dúvidas é de que elas sejam esclarecidas logo.

O ano foi um ano ruim, mas eu aprendi que mesmo assim a vida pode ser boa, ao lado da mulher que eu amo, com meus gatos, uma paisagem deslumbrante, livros para me fazer sonhar, forró na noite de sábado entre peões de obra e caixas das Lojas Americanas, gritos de gol e xingamentos no Maracanã, almoço com os amigos e principalmente aquele brilho nos meus olhos. Aquele, que eu nem sabia que tinha. 2004 foi um ano ruim, mas eu descobri que tenho um brilho nos olhos. Sorte de quem conseguir percebê-lo em todas as suas matizes.

Nota do Editor
Paulo Polzonoff Jr. assina hoje o blog O Polzonoff, onde este texto foi originalmente publicado. (Reprodução gentilmente autorizada pelo autor.)


Paulo Polzonoff Jr
Rio de Janeiro, 17/12/2004

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Ivanhoé de Gian Danton


Mais Paulo Polzonoff Jr
Mais Acessadas de Paulo Polzonoff Jr
01. Quem sou eu? - 8/12/1977
02. Transei com minha mãe, matei meu pai - 17/10/2001
03. Olavo de Carvalho: o roqueiro improvável - 15/8/2003
04. Grande Sertão: Veredas (uma aventura) - 13/4/2006
05. Está Consumado - 14/4/2001


Mais Especial Melhores de 2004
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Mouros Franceses e Judeus três presenças no Brasil
Luís da Câmara Cascudo
Global
(2005)



Teoria Dos Números: um passeio com primos e outros numeros familiares pelo mundo inteiro
Fabio Brochero Martinez e outros
Projeto Euclides
(2025)



A Hora da Verdade - a Decisão Certa na Hora Certa
Michael Useem
Campus Elsevier
(2007)



Toda Sua
Sylvia Day
Paralela
(2013)



Fundamentals of Heat Transter
M. Mikheyev
Peace Publishers



O Cigarro e a Magia: Pare de Fumar
Adermir Ramos da Silva
Confraria Caminho
(2010)



O Corpo Tem Suas Razões
Therese Bertherat
Martins Fontes
(1976)



Tecnologias 3D - Desvendando o Passado, Modelando o Futuro
Vários autores
Lexikon
(2013)



After Effects 5.5 Efeitos Mágicos
Nathan Moody
Ciência Moderna
(2001)



Os Homens do Sal no Brasil
Marcel Jules Thíeblot
Coleção Folclore
(1979)





busca | avançada
39612 visitas/dia
2,1 milhões/mês