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Quinta-feira, 22/2/2007
A brasileira
Elisa Andrade Buzzo
+ de 6300 Acessos
+ 1 Comentário(s)


foto: Sissy Eiko

Contaram-me quem eu era: a brasileira. Foram tantas as cartas, então? Se a correspondência é recordação sempre viva para quem a recebe, agora é longínqua, carne despregada e quase esquecida para quem a envia (e quem teve o prazer de rever uma carta enviada, sente um filho doado que retorna, já irreconhecível).

O perigo e imprevisível das correspondências é alcançar a distância confortável que nos separa do local onde elas chegam. Afinal, o não estar lá é condição para o uso do correio. Transformar o não poder estar lá em estar lá (ver o local exato onde as cartas chegam) pode ser fatal para a vida dos remetentes e destinatários.

Por isso, conheci apenas parte da calle Barros Arana, espécie de centro velho paulistano em forma concentrada de um só calçadão-rua, mais limpo e com menos ambulantes. Como rua principal de Concepción (que é considerada a segunda maior cidade do Chile, ainda que alguns digam que é a terceira), o primeiro andar da maioria dos prédios é composto de cafés, sorveterias, restaurantes, lojas de departamento, galerias. Estas, em sua luz amarela e fraca, num emaranhado labiríntico de lojas de roupas e noivas antiquadas, chaveiros, emplastificação de documentos, caneterias, papelarias.

Atiçada diante dos rostos novos, dos ladrilhos e das pegadas que buscava, a resposta dos moradores era tranqüilidade refastelada nos bancos das praças, na grama das universidades, no sorvete esquecido diante da boca. Acima de todos, da manhã até a madrugada, gaivotas planando no céu - sempre aberto e azul cristal -, vindas do mar em incansável procissão diária. Escarnecendo em gritos estridentes daquela paisagem urbana absurda, urbana pacata, pois enquanto elas moravam no alto, lá embaixo era a vida de mentira, rasteira, das coisas desimportantes esquecidas nas calçadas...

As cartas devem chegar no bico rasante do vôo das gaivotas. Ou melhor, elas devem chegar no grito raivoso e enérgico do vôo das gaivotas. Quando pousam na Barros Arana, as cartas já foram seladas, sonhadas com o açúcar do tempo. Aceitam pacíficas seu destino endereçado, seu retorno inviável. Onde não há fome nem sono, lugar de ser simplesmente. Agora, os desatinos têm vida longa e própria, estão prontos para a lucidez da leitura póstuma.

As cartas devem chegar embaladas pela música líquida das ruas movimentadas do centro da cidade. Na primeira claridade intensa, os mosaicos e as lixeiras reluzindo, no horário em que o sonho se redesenha em movimento, jornais e revistas expondo a crônica do dia.

E estouram no canto da moça que toca violão em frente ao badalado Mamute restaurant, e esperneiam em frente ao Campanil da universidade - objeto cara-metade, ainda que seja minha a marca inscrita, são mãos brancas de veias azuis que se confundem no papel e tinta.

Fugir, fugir, fugir para Conce - menor e palpável - segura serena imaginada - pequena agradável. Fugir como o Carlos, de Person em São Paulo S.A., inconformado, indomável. Recomeçar, recomeçar, recomeçar sempre, mil vezes recomeçar. A cidade agora é um fantasma esvoaçando na memória.

O homem que entregava as cartas perguntava que era da brasileira. Veio para casar, selar compromisso definitivo? Não, apenas a passeio, no apelo da cordilheira. Só que de Concepción não se vêem os Andes. A natureza formidável de lá aparece no ventre do Rio Bío Bío, nesta época de verão castigado pela seca, areias movediças à mostra - chamando para o abismo.

Quando se espera uma cordilheira, se encontra um rio; é em se ganhar que se perde. Ainda assim, por que não satisfaz ter visto parte de Barros Arana? Se tivesse toda a calle seria, afinal, suficiente?


Elisa Andrade Buzzo
São Paulo, 22/2/2007

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
24/2/2007
06h35min
Sou orfão dos carteiros, que levavam as saudades vencidas em troca de mordidas de cachorro; que eram cúmplices nas cartas de amor confesso e foram se transformando em funcionários de cobranças de um tempo miserável. Noutros tempos, conduziam saudades e confissões, agora trazem urgência telegráfica; a avareza das cobranças em boletos. Quero de novo a ânsia de seus passos, a expectativa em envelopes vermelhos, que era a cor que ela usava e nos revelava em todo meu desespero. Quero de volta o ritual das cartas, que estancava o tempo em caixas de papelão, onde depositava minhas frágeis paixões e suspendia minha memória para ,algum tempo depois, novamente me emocionar. Neste tempo e-mail, o amor chega com a urgência seca das cobranças, inventariado, sem histórico e envolvido na posse do egoísmo sem memória. Perdido o romantismo, a musa onírica é somente egoísta e passional, deseja somente minha posse. Quando antigamente ela por carta teria, confesso, toda minha fé, meu ardor e meu desespero...
[Leia outros Comentários de Carlos E. F. Oliveir]
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