A Marie Antoinette de Sofia Coppola | David Donato | Digestivo Cultural

busca | avançada
55773 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Núcleo de Artes Cênicas (NAC) divulga temporada de estreia do espetáculo Ilhas Tropicais
>>> Sesc Belenzinho encerra a mostra Verso Livre com Bruna Lucchesi no show Berros e Poesia
>>> Estônia: programa de visto de startup facilita expansão de negócios na Europa
>>> Água de Vintém no Sesc 24 de Maio
>>> Wanderléa canta choros no Sesc 24 de Maio
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
>>> The Nothingness Club e a mente noir de um poeta
Colunistas
Últimos Posts
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
>>> Felipe Miranda e Luiz Parreiras (2024)
>>> Caminhos para a sabedoria
Últimos Posts
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
>>> Ser ou parecer
Blogueiros
Mais Recentes
>>> A importância do nome das coisas
>>> Latrina real - Cidade de Deus
>>> Notas de Protesto
>>> Um imenso Big Brother
>>> O enigma de Lindonéia
>>> Breve reflexão cultural sobre gaúchos e lagostas
>>> Orson Welles
>>> Crônica do Judiciário: O Processo do Sapo
>>> O produto humano
>>> O Conselheiro também come (e bebe)
Mais Recentes
>>> África e africanias de José de Guimarães pela Museu afro brasil (2006)
>>> Caderno de leitura e literatura de Valores culturais pela Sesi-SP (2014)
>>> O Corpo Fala - Aprenda a captar os sinais de alerta de Patricia Foster pela Best Seller (1999)
>>> Historias Divertidas - Coleção Para Gostar De Ler de Vários autores pela Ática (2011)
>>> Livro Jovem Você Vai Se Arriscar? de Collin Standish pela Gutenberg (2022)
>>> Asa Branca de Luiz Gonzaga; Maurício Pereira pela Difusão Cultural do Livro (2007)
>>> Quanto Mais Eu Rezo, Mais Assombração Aparece! de Lenice Gomes; Angelo Abu pela Cortez (2012)
>>> O Bom É Inimigo do Ótimo de John L. Mason pela Legado (2004)
>>> Livro Adolescer, Verbo Transição de Organização Pan pela Opas (2015)
>>> Orientações e ações para a educação das relações étnico-raciais de Ministério de Estado da Educação pela Mec (2006)
>>> A Secularização - Coleção Teologia Hoje de Hubert Lepargneur pela Duas Cidades (1971)
>>> Livro A Família Gera o Mundo - As catequeses de quarta-feira de Papa Francisco pela Paulos (2016)
>>> Jesus e As Estruturas De Seu Tempo de E. Morin pela Edições Paulinas (1982)
>>> Nascido Profeta: A Vocação De Jeremias de Airton José Da Silva pela Edições Paulinas (1992)
>>> Livro SASTUN - Meu Aprendizado com um curandeiro Maia de Rosita Arvigo com Nadine Esptein pela Nova Era (1995)
>>> Livro Ele e Ela - Ditado pelo Espírito Maria Nunes de João Nunes Maia pela Fonte Viva (1999)
>>> A Arte De Morrer de Antônio Vieira; Alcir Pécora pela Nova Alexandria (1994)
>>> Superando o racismo na escola de Kabengele Munanga pela Mec (2008)
>>> A Vida Pré-Histórica: O Homem Fóssil - Coleção Prisma de Josué C. Mendes / Michael H. Day pela Melhoramentos (1993)
>>> Jack definitivo de Jack Welch / John A. Byrne pela Campus (2001)
>>> Você não está sozinho de Vera Pedrosa Caovilla/ Paulo Renato Canineu pela Abraz (2002)
>>> Livro Direito Empresarial e Tributário 220 de Pedro Anan Jr. e José Carlos Marion pela Alínea (2009)
>>> Paradiplomacia no Brasil e no mundo de José Vicente da Silva Lessa pela Ufv (2007)
>>> O mundo em que eu vivo de Zibia M. Gasparetto pela Espaço vida e consciência (1982)
>>> Orar é a solução de Joseph Murphy pela Record (1970)
COLUNAS

Quinta-feira, 15/3/2007
A Marie Antoinette de Sofia Coppola
David Donato
+ de 4400 Acessos

Conversando com uma colega antes da exibição de outro filme, ouvia óbvios elogios ao cinema do Almodóvar pela sua rara capacidade de criar personagens femininas complexas, mulheres de verdade, com sentimentos e atitudes realmente humanas e dignas de uma mulher de carne e osso, coisa que não acontece na imensa maioria dos filmes, inclusive nos muito bons. Perguntei a ela se isso também acontecia nos filmes escritos ou dirigidos por mulheres. Diante da negativa, só pude pensar que mesmo os cineastas mais talentosos simplesmente não sabem como funciona a mente feminina.

Sofia Coppola sabe. Não só por ser (obviamente) mulher, mas por ter a sensibilidade de transmitir o olhar feminino em todos os seus filmes. Marie Antoinette não é exceção. Na verdade, é possivelmente seu exemplo mais claro até agora.

O filme acompanha a protagonista, seus gostos, seu olhar e a maneira como ela se relaciona com a nova corte, desde o momento que sai da Áustria para se casar com o desinteressado Luis XVI até o início da Revolução Francesa e da derrocada de toda a pompa da corte mais extravagante da Europa.

Desde as primeiras informações sobre o filme, o projeto da diretora que vinha de uma indicação ao Oscar por Lost in translation gerou expectativa: seu primeiro trailer mostrava Kirsten Dunst como a protagonista correndo pelos imensos jardins de Versailles ao som de New Order. Ao ter sua primeira exibição em Cannes no ano passado, no entanto, dividiu opiniões, com tantas vaias quanto aplausos. As vaias (e as críticas ruins) vieram especialmente da crítica francesa, que, como era de se supor, não gostou de ver um ícone tão importante para a história do país falando inglês e dançando ao som de rock.

Felizmente, o filme não é apenas a rotina de uma garota fútil do século XVIII. Também não se resume à cinebiografia da última rainha da França.

É, na verdade, um retrato, se não completamente fiel à protagonista (como saber? Se nem de personalidades vivas conseguimos descobrir as verdadeiras intenções...), ao menos bastante complexo e verossímil de uma mulher atemporal vivendo em um tempo e espaço bastante específicos.

Ao acompanhar o olhar da jovem delfina sobre os costumes extravagantes, os aposentos suntuosos e a etiqueta irritantemente respeitada, sentimos a mesma estranheza que ela, não porque nós não estamos acostumados com a corte do rei Luis XV, mas porque ninguém está.

O desenvolvimento da personagem é tão notável quanto real. De início, a garota procura seu espaço na corte, jogando pelas regras ditadas por seu tutor e por sua preocupada mãe, sem arroubos de genialidade que seriam típicos de um filme onde a premissa é mostrar um personagem "a frente de seu tempo". Marie Antoinette sente insegurança, tédio, alegria, rejeição e carinho na mesma medida que qualquer ser humano (especialmente se for mulher) em suas circunstâncias. Tem qualidades e defeitos que vão muito além do mito "Não têm pão? Que comam brioches!". Ela fofoca, joga, sofre e é incoerente de um modo deliciosamente humano. Ela também cresce com o passar do tempo ao se dedicar aos filhos e ao enfrentar a impopularidade tanto na corte quanto entre o povo.


illustra por goiabazul


Ao redor de um personagem extremamente bem escrito, giram outros tantos personagens notáveis, como o delfim Luis XVI, tão garoto, como ela mesma nota, que se interessa mais por caçadas do que por trazer um herdeiro para o trono, mas que ganha contornos muito mais maduros frente a revolução que se instaura.

Colabora para o filme tudo que a influência da produtora American Zoetrope, de Francis Ford Coppola, foi capaz de conseguir para acrescentar ao filme: direção de arte apurada (nos banquetes, principalmente), figurinos dignos da corte excêntrica da época (e que, não por acaso, lembram muito os de Barry Lyndon, feitos pela mesma figurinista), fotografia quase kubrickiana, com pouca granulação e apenas alguns filtros de cor aqui e ali e, o mais notável, a autorização do governo francês para filmar in loco, no próprio palácio de Versailles, onde tudo realmente aconteceu.

Sofia ainda soma criatividade na escolha da trilha sonora, com os oitentistas (reais e em espírito) Gang of Four, The Cure, New Order e The Strokes, junto de uma montagem bastante competente, o que dá o tom e traz frescor ao filme.

A história real é interessante o suficiente para prescindir de muitas licenças poéticas, e muito do que parece ter saído da cabeça da diretora (e roteirista), é, na verdade, confirmado em qualquer enciclopédia.

Uma reclamação recorrente do filme é que ele não mostra o desenrolar da Revolução nem a execução de Marie Antoinette. Apesar de perder a oportunidade de mostrar a força de Marie durante esse período difícil, a diretora nos poupa de um final inevitavelmente maniqueísta que transformaria a rainha num mártir da guilhotina. Ao invés disso, ficamos apenas com símbolos da derrubada definitiva de um regime político e, principalmente, de um estilo de vida de excessos, mas que resiste, com menos pompa (mas não com menos excentricidade) nas festas das elites atuais, que geram uma infinidade de Maries Antoinettes e que, apesar das drogas e dos sapatos Manolo, são mulheres reais em circunstâncias irreais.


David Donato
São Paulo, 15/3/2007

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Anotações de um amante das artes de Márwio Câmara


Mais David Donato
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro Literatura Estrangeira O Jardim do Éden
Ernest Heminggway
Nova Fronteira
(1987)



Tony e Susan
Austin Wright
Intrinseca
(2011)



Livro de bolso Literatura Estrangeira The Lord of the Rings Part Two The Two Towers
J. R. R. Tolkien
Unwin Paperback
(1981)



O Zen na Arte da Cerimônia das Flores
Gusty L. Herrigel
Pensamento
(1979)



Focados, Gananciosos e Eficientes
Vijay H. Vaitheeswaran
Campus / Elsevier
(2012)



De Geração para Geração - Ciclos de Vida das Empresas Familiares
Vários autores
Campus
(2006)



O Portal De Glasruhen
Catherine Cooper
Bertrand Brasil
(2012)



Rough Guide: Argentina
Lucy Phillips, Danny Aeberhard
Publifolha
(2004)



O coronel Chabert seguido de Um caso tenebroso
Honoré de Balzac
Otto Pierre editores



Livro Infanto Juvenis Um Som... Animal! Animais do Nosso Entorno
Lô Carvalho
Bamboozinho
(2013)





busca | avançada
55773 visitas/dia
2,0 milhão/mês