O dizer e o fazer em política | Luiz Rebinski Junior | Digestivo Cultural

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Quarta-feira, 1/10/2008
O dizer e o fazer em política
Luiz Rebinski Junior
+ de 4100 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Em um de seus já famosos discursos improvisados, em 2006, o presidente Lula disse que, se uma pessoa muito idosa ainda é de esquerda, é porque tem algum tipo de problema. Segundo o presidente, "a evolução da espécie" em política, não está nem na esquerda nem na direita, caminha para o centro. A frase, como quase tudo que Lula diz, teve muita repercussão e despertou a ira de comunistas históricos, que se sentiram ofendidos pelo fato do presidente associar falta de maturidade à ideologia socialista. Até Oscar Niemeyer se manifestou, fazendo questão de enfatizar sua fé no comunismo depois de ― naquela época ― quase um século de vida.

A frase pode ser interpretada como apenas mais uma fanfarronice do presidente, mas também é possível encontrar nela algum sentido quando se passa em revista o currículo de alguns nomes que hoje dão as cartas na política nacional. A começar pelo próprio Lula ― que quando soltou a frase polêmica explicava que nos anos 1970 criticava o então ministro da economia Delfim Netto e, após assumir o governo, mudou de opinião ―, sua postura radical dos primeiros anos de política em nada lembra o líder comedido de hoje. Do visual desgrenhado da eleição de 1989 sobrou pouca coisa, para não dizer nada. Assim como seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, que, ao final do mandato, também não era o mesmo de quando escreveu Dependência e desenvolvimento na América Latina, seu livro mais importante, escrito a quatro mãos com o chileno Enzo Faletto em 1969. O "esqueçam o que escrevi", supostamente dito por FHC em 1993 (ele nega veemente até hoje que tenha dito a frase), quando ainda nem era presidente, ajuda a explicar o fosso que separa a retórica política das ações práticas de um governante. Líderes que ascenderam à presidência movidos por um sentimento de mudança e depois se mostraram aquém da esperança neles depositada não são poucos. A América Latina é pródiga em exemplos desse tipo. Incentivados pela vitoriosa Revolução Cubana em 1959, movimentos políticos em todo o continente floresceram à sombra do êxito dos barbudos que destronaram Fulgencio Batista e implantaram o socialismo em Cuba. Trinta anos depois de uma revolução parecida com a cubana, quando o ditador Anastásio Somoza foi derrubado, em 1979, a Nicarágua vê hoje um dos heróis do levante sandinista sucumbir às mesmas armadilhas políticas que os ditadores que dominaram o país em boa parte do século XX. Líder da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), Daniel Ortega voltou ao poder depois de deixar o cargo em 1990. Na presidência desde 2006, Ortega é hoje acusado de sufocar qualquer tipo de oposição a seu governo, exatamente como os caudilhos da família Somoza que ele e outros líderes da FSLN tanto combateram. Outros exemplos em diferentes continentes não faltam. O Zimbábue é hoje um país arrasado, com uma hiperinflação estratosférica, que não consegue se livrar de um ditador que está no poder há 30 anos. Robert Mugabe, presidente do país, chegou ao poder com a missão de acabar com a desigualdade imposta pelos colonizadores britânicos, mas só conseguiu alimentar o caos com um discurso socialista tacanho e atrasado.

Os fracassos de governos apontados como "salvadores" trazem consigo, sempre, um sentimento de desesperança frente a possibilidades de mudança que nunca se confirmam. No Brasil este sentimento de decepção veio à tona não faz muito tempo, quando o último baluarte da ética, o PT, se juntou aos demais partidos na vala comum da corrupção, após os incidentes do mensalão.

E é exatamente este sentimento de desconfiança que vem à tona sempre que uma nova eleição se aproxima. E o descompasso de discursos pouco articulados com a realidade só aumenta o receio dos eleitores, que no fundo têm a certeza de que muito pouco do que é dito antes das eleições se confirmará mais tarde. Isso porque, hoje, não é possível nem mesmo saber o grau de conhecimento que os postulantes a cargos públicos têm dos problemas mais imediatos da população. O horário político obrigatório, na televisão e no rádio, é um show de horrores, em que até mesmo os mais capacitados candidatos parecem se igualar àqueles que só estão atrás das benesses que o Estado proporciona a quem deveria servir a população ― talvez o temor de ser ridicularizado explique por que as pessoas mais capacitadas estão fora da política, optando por carreiras na iniciativa privada. Isso dificulta a decisão daqueles que só têm a televisão e o rádio como meio de comunicação. Como votar em um vereador que resume, em uma frase, a sua linha de ação nos próximos quatro anos? É pouco inteligente pensar que a população não percebe que tudo faz parte de um jogo mal elaborado, em que a democracia é escamoteada por um teatro com atores de segunda linha. Nem mesmo as campanhas para cargos majoritários fogem da falta de clareza de idéias. Os debates, apinhados de nanicos que só querem fazer figura para depois barganhar cargos em estatais, servem para pouco, também. Persiste, assim, a impressão de que não há um candidato com projeto de governo amplo, que dê cabo às principais carências da sociedade. O que se ouve são números esparsos, soprados por assessores, que não respondem como e de que forma solucionarão as demandas da população.

Quase que uma loteria, a vitória em uma eleição é uma forma de arrumar a vida, ter um emprego fixo e estável, regalias, bom salário e comodidade. O paraíso na terra. Não importa se o vereador não tem o mínimo de conhecimento da cidade, não tem formação adequada e, o que é muito comum, nem desconfia de qual seja o papel da vereança no município. Política virou profissão. Uma pessoa deveria estar vereador, prefeito ou deputado, e não ser vereador, prefeito ou deputado. Mas o objetivo é sempre a perpetuação. Se possível, entre gerações.

Mas deve haver, sempre, uma maneira de romper com esse esquema nebuloso e viciado que virou o sistema político. O conformismo, certamente, é a pior das escolhas. A resignação é uma solução triste, ou melhor, uma não-solução. A manifestação e a informação, ainda que soem ingênuas e românticas hoje em dia, são as únicas vias que apontam alguma chance contra a barbárie e a ignorância que se impõe no andar de cima da sociedade. Só assim os discursos não serão esquecidos e as promessas lembradas, dificultando a mudança de postura de quem se comprometeu em fazer diferente.

Voto não deveria ser obrigatório, mas todos deveriam votar. Isso porque política é algo que vai muito além do ato de votar. Política faz parte da vida cotidiana, está em qualquer ação do indivíduo. Manter a fé na política ― não necessariamente nos políticos ― é querer fazer da rua, do bairro, da cidade e do país onde moramos um lugar mais decente e justo.

Mas para que isso aconteça, além da urgente reforma política que o país necessita, é preciso informação acessível a todos, o que depende, lógico, de ações políticas coerentes e sérias. Só assim a democracia, o mais perfeito dos imperfeitos modelos, terá alguma chance de êxito.


Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 1/10/2008

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
1/10/2008
10h49min
Parabéns, Luiz Rebinski!, pelo excelente texto. Você trabalhou com precisão e concisão um tema urgente do nosso tempo; trata-se de um texto informativo e educativo! Abraços do Sílvio Medeiros. Campinas, é primavera de 2008
[Leia outros Comentários de Sílvio Medeiros]
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