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Quarta-feira, 29/9/2010
O romance policial e picaresco de Denis Johnson
Luiz Rebinski Junior
+ de 3700 Acessos

Sempre que um autor envereda pelo romance policial, os nomes de Dashiell Hammett e Raymond Chandler são logo evocados, geralmente com o objetivo de comparar o debutante aos dois standards do gênero. Com razão, afinal, os dois escritores deram status de obra de arte aos antigos folhetins americanos, publicados nas chamadas revistas pulp, bastante populares na primeira metade do século passado. Mas, no caso de Ninguém se mexe (Companhia das Letras, 2010, 176 págs.), livro do norte-americano, nascido na Alemanha, Denis Johnson, o nome a ser evocado é o de outro escritor policial, bem menos festejado, chamado David Goodis.

Autor de Atire no pianista, livro que virou filme nas mãos de François Truffaut em 1960, Goodis, de quem já falei por aqui, era mestre em criar narrativas concisas e cruas sobre toda sorte de pequenas tragédias, utilizando-se para isso diálogos fulminantes, aproximando sua literatura do cinema ― arte que Goodis também dominava, pois foi roteirista de Hollywood. Goodis, além de um exímio criador de diálogos, pautava suas narrativas mais na força de seus personagens e menos na trama engenhosa. E é isso que faz Denis Johnson, autor de um empolgante livro de guerra chamado Árvore de fumaça, que em 2007 ganhou o National Book Award, o mais prestigioso prêmio das letras norte-americanas depois do Pulitzer.

Assim como os livros de Goodis, Ninguém se mexe tem uma história simples, mas bem planejada. Jimmy Luntz é um jogador inveterado que canta em um coral e deve dinheiro a um figurão mafioso chamado Juarez. Gambol é o homem encarregado de fazer Luntz pagar a dívida. Prestes a ter seus testículos literalmente comidos por Gambol, Luntz, em um momento de desespero, dá um tiro na perna de seu algoz, assinando, assim, sua sentença de morte. A trama trata, a partir daí, da fuga de Luntz e seus percalços.

Mas é nos personagens e no que sai da boca deles que Johnson ganha o leitor. A maioria das criaturas que povoam o romance é feita de gente que teve pouca sorte na vida e que convive intimamente com a contravenção. Anita Desilveira, a gata descendente de índios que se junta, involuntariamente, a Luntz em sua fuga, é uma maluca viciada em vodca com Sprite que embarca na aventura de Luntz na esperança de esquecer seus próprios problemas ― seu ex-marido a incriminou em uma falcatrua milionária. Anita bem que poderia ser a versão atualizada de Mildred, a diabólica personagem de A Garota de Cassidy, outro clássico de Goodis. Niilista e pouco preocupada com o minuto seguinte, está mais interessada na próxima dose do que em sua provável prisão. Assim como Luntz, cuja preocupação mais imediata, além de fugir de seu algoz Gambol, é arranjar outro Camel (cigarro) para se acalmar.

― Você disse que seu nome era Franklin.

― Bem, não é.

― É Ernest Gambol?

― Também não.

Com os dedos, ela jogou para o alto o cartão, que atravessou o quarto.

― Então como você se chama afinal, que mal lhe pergunte, uma vez que acabamos de trepar e tudo mais?

― Jimmy Luntz.

― Quem é Ernest Gambol?

― O Gambol é um grande de um babaca.

― Mais babaca que você?

― Mais. Na minha opinião.

Dispensando descrições psicológicas dos personagens, Johnson vai direto ao ponto com esse tipo de diálogo, seco e cheio de sarcasmo. São os próprios personagens que falam de si, deixando o narrador onisciente com a missão de ser apenas mais um leitor. O tom autodepreciativo de Luntz cria certa empatia, mesmo sendo o personagem um tipo de loser trapalhão que, ainda que esteja com a corda no pescoço, parece sofrer da síndrome de Bartleby. Luntz não quer matar seus perseguidores, não quer ganhar o dinheiro de Anita, que fica viúva do marido milionário, nem quer virar chefão de uma máfia. Pelo contrário, só quer fumar seu Camel em paz e usar suas folgadas camisas havaianas. Sua fuga desajeitada só se dá por conta da incompreensão de seus credores, que não aceitam mais suas desculpas.

Lazarillo de Tormes urbano, Luntz chama os paramédicos depois que dá um tiro no homem que queria comer seus testículos e ainda liga para o Capo Juarez, tentando o perdão de sua dívida ("Acho que você poderia deixar passar só mais desta vez, certo?"). Essas trapalhadas dão ao romance um tom picaresco que duela com a trama policialesca. Além de ficar instigado para saber o que vai acontecer com o intrépido anti-herói Luntz, o leitor segue seco atrás da próxima tirada do personagem.

A banda podre do romance também ajuda a deixar o livro mais interessante. Além de Gambol e Juarez, há o bandidão Montanha, um homem tão feio que as pessoas evitam olhar para seu rosto por mais de dez segundos, e Mary, uma ex-enfermeira que esteve na guerra do Iraque e que é recrutada por Juarez (seu ex-marido) para resgatar e cuidar do baleado Gambol. Todos com sua carga de excentricidade a serviço da trama.

Denis Johnson não tem a maestria de Cormac McCarthy, mas seu texto econômico e sua agilidade narrativa passam perto dos melhores momentos de Onde os velhos não têm vez, o livrão que os irmãos Coen fizeram o favor de popularizar. Literatura de alto nível e acessível, Ninguém se mexe não deve nada aos melhores exemplares da literatura policial.

Para ir além






Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 29/9/2010

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