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Segunda-feira, 10/12/2001
Baudolino e a obra aberta de Eco
Gian Danton
+ de 9400 Acessos
+ 3 Comentário(s)

Em Baudolino, Umberto Eco faz o que sempre fez melhor: contar histórias ambientadas na Idade Média. Seu outro grande sucesso, O Nome da Rosa, também acontece na chamada Idade das Trevas e talvez venha daí seu sucesso.

Eco tem outros textos, mais acadêmicos, em que compara a Idade Média com nossa época e diz que as semelhanças são maiores que as diferenças.

De fato, é grande a semelhança do período em que se passa Baudolino (1152 –1204) e os dias atuais.

Na época reinava na Europa o Imperador Frederico, que gastava mais tempo administrando os conflitos entre as cidades italianas do que com qualquer outra coisa. Da mesma forma, os pequenos países do Oriente Médio têm dado grande dor de cabeça para o todo-poderoso de nossa época, o presidente norte-americano George W. Bush.

E, se os italianos tinham o ouro de seu tempo (as especiarias), os mulçulmanos têm o ouro atual (o petróleo).

“Vale a pena viver nessas terras, onde todos parecem ter feito voto de suicídio, e onde uns ajudam os outros a se matarem?”, diz Baudolino, à certa altura do livro. Parece estar falando dos países do Oriente Médio, mas está se referindo à Itália.

Coincidências à parte, o livro vale pela inventividade. A história é contada a partir do relato de Baudolino, um mentiroso por natureza, que acabou sendo adotado pelo imperador Frederico após fazer uma previsão absolutamente falsa: “Quando se diz uma coisa que se imagina, e os outros dizem que é exatamente assim, acaba-se por acreditar nela, afinal. Assim, eu vagava pela Frascheta e via santos e unicórnios na floresta, e quando encontrei o imperador, sem saber quem fosse, falei em sua língua, e disse-lhe que São Baudolino me dissera que ele conquistaria Terdona. Disse-lhe isso para contentá-lo, mas para ele era conveniente que eu o dissesse a todos, e de modo especial aos mensageiros de Terdona, para que eles se convencessem de que também os santos estavam contra eles, eis a razão pela qual me comprou de meu pai”.

O livro começa com Baudolino salvando Nicetas, um sábio da corte de Constantinopla à época em que ela foi invadida pelas tropas européias. Nicetas faz um favor a seu salvador: ouve e escreve seu relato, na tentativa de contar a história de uma época.

Mas a empreitada é difícil. Baudolino é tão mentiroso que o sábio não consegue distinguir, entre o que ele fala o que é real e o que é falso. Muitas vezes o que parece real é falso e o que é falso parece real.

Baudolino é uma espécie de Forrest Gump da Idade Média. Com uma diferença: enquanto Forrest era um tolo, Baudolino é um espertalhão mentiroso.

A graça do livro está justamente aí: em ouvir uma história sem estar certo da idoneidade de quem a conta. De todos os fatos narrados, muitos são mentira e muitos são verdade, mas é impossível separa o joio do trigo.

Baudolino dá a impressão de ter sido escrito para provar uma das teses mais importantes de Eco: a obra aberta.

Na década de 60, quando o mundo das artes era sacudido por uma vanguarda pós-moderna, Eco escreveu um livro definindo o que ele chamou de Obra Aberta em oposição ao que ele chamou de discurso persuasivo, ou fechado.

O discurso persuasivo traz a mensagem pronta para o receptor. O leitor de um livro tem apenas o trabalho de descobrir o que o escritor pretendia com seu livro. Uma única leitura era a permitida.

A obra aberta revolucionava o sentido da arte forçando o receptor a ter participação ativa no processo de fruição. Assim, cada pessoa que lesse um livro ou ouvisse uma música deveria ter um entendimento próprio sobre seu significado. Já não havia mais certezas a serem desveladas. O próprio conceito de realidade é colocado em questão. Pela teoria da relatividade, cada observador teria sua própria interpretação de realidade, dependendo do ponto em que estivesse observando determinado fenômeno.

Da mesma forma, em Baudolino, realidade é o que o protagonista conta, mas ele pode estar mentindo e, assim, a realidade é relativizada. O leitor não deve confiar nem mesmo no narrador.

Mas não é necessário conhecer o conceito de obra aberta para gostar de Baudolino. Eco, como sempre, consegue transformar temas complicados (como a política medieval) em uma leitura deliciosa que envolve uma história policial, lendas medievais, uma expedição em busca do Santo Graal e até uma referência à Alexandria, cidade natal do escritor.

Outro destaque é a capa, belíssima, com impressão em prata.

Um livro para ler e reler e encontrar novos significados a cada nova leitura.


Gian Danton
Macapá, 10/12/2001

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Notas confessionais de um angustiado (III) de Cassionei Niches Petry
02. Fim dos jornais, não do jornalismo de Marta Barcellos


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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
10/12/2001
02h55min
Gian, "A mentira crítica e literária de Umberto Eco" - por Paulo Polzonoff. O texto está no saite. Se ainda não teve oportunidade, delicie-se !
[Leia outros Comentários de Breno Baldrati]
28/1/2002
11h47min
obrigada!!!!!! vcs me salvaram...... estou com uma resenha crítica para fazer sobre "obra aberta"
[Leia outros Comentários de Elizete]
28/3/2002
19h03min
Nossa!Parece ser tão...sei lá!
[Leia outros Comentários de Adriana]
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