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COLUNAS

Quinta-feira, 15/3/2012
Natureza Humana Morta
Vicente Escudero
+ de 3700 Acessos

David Fincher tornou-se o primeiro grande diretor de cinema a interpretar de forma convincente o mundo pós-internet, com uma estética baseada na reprodução sombria de lugares reconhecidos por altos valores morais e humanos, como a Universidade de Harvard em A Rede Social e a Suécia de Os Homens que Não Amavam as Mulheres, habitados por personagens lutando sem descanso contra a superfície medíocre e corrupta do cotidiano. São como os caranguejos da fábula, tentando escalar para fora do aprisionamento do balde, mas puxados de volta pela ação conjunta dos mais fracos para forçá-los a compartilhar o destino trágico da maioria. David Fincher produziu nestes últimos filmes os dois personagens mais próximos da mística de um indivíduo construído exclusivamente pelos valores prevalecentes na internet, como a solidão compartilhada e o ativismo anarquista. Em um mundo onde a vida orgânica dos personagens não entra em contato com a paisagem, que serve apenas para reprimir os desejos, a resistência individual apresenta-se como o único oxigênio a impulsionar a vida.

Lisbeth Salander e Mark Zuckerberg, personalidades danificadas e muito inteligentes, que não atuam dentro das regras tradicionais da sociedade e arriscam tudo para transformá-la, são diferentes nos limites da origem ficcional e real de cada um, mas compartilham o mesmo caráter e a moral relativista de justificativa dos meios pelos fins. Lisbeth Salander, a garota da tatuagem de dragão, não se preocupa em extrapolar os limites éticos e legais do que poderia ser uma investigação policial convencional, nem se preocupa em reprimir o desejo sádico no momento de punir seu algoz sexual. Abandonada no labirinto da burocracia pública, retratado por David Fincher como uma coleção de corredores silenciosos e salas vazias com portas trancadas, Lisbeth é a única pulsão de vida dentro de um organismo em decomposição. Seu moicano serve como uma couraça de espinhos contra a repressão da tutela exercida pelo Estado e suas tatuagens são verdadeiros símbolos religiosos servindo de proteção contra o mal. Nesse exercício de sobrevivência, não surpreende que muitas vezes acabe criando mesmo mal que combate.

Mark Zuckerberg também não se conecta com o mundo real, em A Rede Social, e consegue manter o equilíbrio nas suas relações apenas enquanto não existem disputas. A Harvard onde programa as primeiras linhas de código do Facebook não passa de um desfile de membros de fraternidades pelo prêmio do homem mais popular. Estranho imaginar os irmãos gêmeos Winklevoss, que completam as frases um do outro e se vestem da mesma forma, como pessoas reais e não uma invenção ficcional macabra. O cacoete aristocrático da dupla, no filme, transforma as instalações da Universidade, por onde passam, em vestíbulos de um castelo. Quando nasce o conflito pelo controle do Facebook, a personalidade arrogante e controladora dos irmãos vem à tona e encontra um páreo imbatível na mistura de coragem e impertinência de Zuckerberg. A narrativa da história, a partir da sala de negociações onde são ouvidas as testemunhas preliminares da disputa judicial pelo controle do Facebook é reproduzida por Fincher no mesmo estilo da Suécia de Millenium. As luzes são fracas e as cores, sem vida. Os personagens estão sentados lado a lado, mas a hostilidade dos diálogos, principalmente das falas de Zuckerberg, retratam uma disputa entre o moderno e o antigo, entre o mundo da produção burocrática do século XX e o território de conquistadores disléxicos do século XXI.

Em circunstâncias normais estas características modernas dos personagens não seriam relevantes, mas dentro da estética desenvolvida por David Fincher, em que a luz parece nunca ser suficiente para vencer a escuridão, mesmo durante o dia, elas representam a expressão mais forte da resistência, da pulsão da vida, uma espécie de adaptação genética às condições hostis de um ambiente extremamente repressivo e resistente a transformações. Essa mesma luz imobiliza os dramas e esconde da cena tudo que é acessório aos conflitos. Na Suécia de Millenium os únicos espaços iluminados são a redação da revista de Blomkvist e a casa do reencontro de Henrik e Anita Vanger. Já em A Rede Social, os momentos de claridade são o surgimento de Sean Parker, na cama com uma estudante, e seu primeiro encontro com Zuckerberg e Eduardo Saverin, num restaurante.

As personalidades de Lisbeth e Zuckerberg, nas produções de Fincher, revelam-se apenas quando retratadas no contraste com o ambiente sombrio, como pinturas da natureza morta, de objetos imóveis e solitários, iluminados por uns poucos raios de luz. A simplicidade e a falta de sentido da pintura de objetos vulgares assemelha-se à estética adotada na reprodução destes personagens por Fincher. Objetos e personagens transformam-se em arte apenas quando revelados pela luz precisa de um grande artista.


Vicente Escudero
Campinas, 15/3/2012

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