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Quarta-feira, 2/5/2012
Nem Aos Domingos
Marilia Mota Silva
+ de 7000 Acessos

Outro dia, um desses amigos de internet, que gosta de repassar power points que pingam letrinhas, piadas sexistas e textos provocativos, me mandou essa crônica de Mario Prata:

Homem Gosta é de Homem

"Homem gosta de homem! Disse, corajosamente, o cartunista Miguel Paiva (Radical Chic) na semana passada no gostoso (e gostosa) Marília Gabi. É preciso ter peito para fazer-se uma declaração dessa em público. E, quem tem peito, geralmente, são as mulheres.

E a Marília retrucou:- Mulher também.

Escrevi e montei uma peça há uns anos atrás, chamada Bésame Mucho (que depois virou filme do Ramalho).

Esta peça tratava justamente deste assunto. A relação de ternura entre dois homens. Da infância até a maturidade.

Antes que alguém viesse dizer que era coisa de viado, tive que inventar uma palavra para explicar a relação entre os dois personagens masculinos. A palavra era "homoternurismo" e, para minha infelicidade, até hoje não se incorporou ao Aurélio.

Mulher é bom, é ótimo, nem se discute. Mas que os homens preferem os homens, também não se discute.

Desde a infância, menino gosta de brincar com menino. Clube do Bolinha. Menina não entra!

Na adolescência, é a mesma coisa. Temos olhos para os seios e os bumbuns da meninas, mas no meu time de futebol elas não entravam. Era rapaz de um lado e as meninas do outro.

A gente casa, ama a esposa da gente, tem filhos, mas não vê a hora de ir para o botequim tomar umas e outras com os amigos. Os amigos do peito. Já notaram que os homens não têm amigas do peito? Têm amigas com peito. Na hora da confidência mais confidencial, na hora do aperto, do ombro amigo, é o amigo do peito (para se chorar) que está ali.

Favor não confundirem, jamais, homoternurismo com homossexualismo.

E a gente vai crescendo e vai formando o nosso time de amigos eternos, confiáveis, pau (ops!) pra toda obra.

O domingo, por exemplo, foi feito para se passar com os amigos. O jogo de futebol, os gols na televisão, a cervejinha gelada. Mas qual é a mulher que não quer ir a "um cineminha" no domingo?

Devia ser proibido mulheres aos domingos, dizia um meu amigo do peito, casado.

Tudo isso que eu escrevi aí em cima, se for mesmo válido, só é válido até uma certa idade. A idade que eu estou agora. Quase cinquenta anos, cheio de amigos e sem nenhuma mulher. Talvez por pensar assim.

"Um misógino!", diriam elas. Mas o mesmo Aurélio, que não consolidou o homoternurismo, diz que misoginia é uma "repulsa mórbida do homem ao contato sexual com as mulheres". Não é o caso. E, outro dia, discutia isso com um velho amigo velho de 84 anos. Ele concordou, em termos, do alto de sua sabedoria de ancião. Mas fez uma ressalva. Jogou na minha cara:

- Daqui para a frente, é melhor começar a convidar mulheres para ir ao jogo de futebol. É melhor ir aprendendo a tomar caipirinha com mulheres no sábado antes da feijoada. Já está na hora de parar de reparar apenas nos seios e nas bundinhas da mulheres. As mulheres têm mais alma que os homens!

- E daí?, respondeu o machão aqui.

- E dai, meu filho, que você na velhice vai ficar chato, intransigente, metódico, sistemático. Aliás, já está ficando. E não tem nenhum amigo do peito nessa hora para te socorrer.

Se você chegar sozinho na velhice, não conte comigo, que eu já fui embora. Quem sempre cuidou de você foram as mulheres. A começar pela sua mãe.

- Você está querendo que eu arrume uma outra mãe?

- Não, meu filho. Uma mulher. Vai por mim, mulher é muito melhor que homem. E quanto mais velhas ficam, melhor nos entendem. Ao contrário dos homens.

E pediu mais uma caipirinha, enquanto olhava o traseiro da jovem, muito jovem, garçonete. Encerrou, com o olhar distante:

- Mulher é o que há, menino! Trate logo de arrumar uma, enquanto você está vivo... E quer saber de mais uma coisa? Esse papo de homoternurismo, pra mim, é coisa de viado!"

O Estado de S. Paulo, em 29/05/95


Não pode ser, pensei. Seria muita boçalidade!

Para tirar a dúvida, enviei a crônica para quinze amigos, homens com mais de quarenta anos, e pedi que me dissessem se concordavam com o que a crônica dizia.

A resposta unânime foi que "sim, sim, é exatamente isso. A crônica diz a verdade". Alguns acrescentaram um "Infelizmente", como que se desculpando.

Mesmo assim, não me convenci. Eles se subestimam!

Que homem goste de homem, está bem. As mulheres também se divertem mais entre si. Mas que precisem castrar as mulheres, reduzi-las a peitos e bundas, isso não pode ser. Seria muito deprimente.

Mulher devia ser proibida aos domingos, diz a crônica. E lá vem o protesto homoternúrico: Mas elas querem ir a um cineminha! Não pode!

No resto da semana, há trabalho, duas jornadas pelo menos, se não tem filhos. Mas eles reviram os olhinhos, agoniados: o domingo foi feito para passar com os amigos! É dia em que eles assistem ao futebol, bebem cerveja e trocam olhares úmidos, carregados de homoternurismo.

Mas há uma ressalva, o autor adverte: tudo isso só vale até lá pelos cinquenta anos.
Aí a coisa muda de figura. Os rapazes viram velhos com problema de próstata e cólon. Passam direto da fase narcisística infantil para a velhice narcisística infantil. Os amigos desaparecem e eles precisam de quem cuide deles.

...Você na velhice vai ficar chato, intransigente, metódico, sistemático. Aliás, já está ficando. E não tem nenhum amigo do peito nessa hora para te socorrer...Quem sempre cuidou de você foram as mulheres. A começar por sua mãe".

Então é isso: À beira da velhice e suas mazelas, os homens devem procurar uma companheira, não porque a idade lhes ensinou a amar algo além de si mesmo e seu reflexo no espelho, mas porque precisam de alguém que cuide deles: um combo de empregada, governanta, secretária, enfermeira, acompanhante. Sem remuneração, direitos trabalhistas, turnos, folgas, horários. E que aguente tudo. Em outras palavras: Uma mulher, esposa, companheira. É o resumo da peça.

Fica a questão:

O que esse senhor casadoiro, com a barriga redonda de cerveja, agradável como um cascalho no sapato, inteligente e sensível como um prego no asfalto (a deduzir da crônica), misógino e homoternúrico, teria a oferecer à mulher escolhida?

Ele não pensa nisso, não se preocupa com isso! E ainda se pergunta porque, com menos de 50 anos (quando escreveu a crônica), estava sozinho. Oh...



Marilia Mota Silva
Rio de Janeiro, 2/5/2012

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