O que querem os homens? Do Sertão a Hollywood | Marilia Mota Silva | Digestivo Cultural

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Quarta-feira, 5/9/2012
O que querem os homens? Do Sertão a Hollywood
Marilia Mota Silva
+ de 4800 Acessos

Há alguns anos, quando vim morar nos EUA para ficar perto de minhas filhas e do neto recém-nascido, fiz um blogue para registrar as impressões da nova vida e tornar mais fácil a transição.

Foi um bom exercício, mas melhor ainda foi um efeito colateral que não havia previsto: conheci pessoas do país inteiro. Depois de um tempo, deixei o blogue, mas os amigos ficaram.

Um deles é um professor, estudioso apaixonado do sertão nordestino, seu povo e história. Uma vez, destoando dos temas usuais em seu blogue, havia um post carregado de amargura, em que lamentava estar entrando na velhice e ser sozinho. Culpava as mulheres: "só querem dinheiro, é impossível entendê-las," as queixas de sempre. Nem parecia o mesmo homem, pesquisador de mente clara e texto cativante. Escrevi-lhe sobre o post e fiz-lhe perguntas específicas na tentativa de entender oque ele havia escrito.

Talvez pelo hábito de pensar ele, de fato, refletiu sobre o assunto e respondeu com uma franqueza admirável.

Só assim, dito com todas as letras e nenhuma auto-censura, é que pude ver o imbroglio em que estão metidos corações e mentes de nossos companheiros de jornada. Ele escreveu:

"Vou expor aqui, muito brevemente, o que penso a respeito de suas interrogações. A primeira, "a masculinidade não pode prescindir do exercício do poder?" No meu entender a resposta está na pergunta. Clarice Lispector disse em uma de suas entrevistas que ninguém pode abrir mão do que lhe é essencial e arremata: "olhe no olho de um touro capado". Pois bem, todo homem que abre mão do exercício do poder é triste, sem força e inseguro. Esse papo de homem compreensivo é furado. Quando a gente está a sós, nos momentos de maior descontração, a verdade do macho aparece transparente, sem distinção de grau de instrução, classe social ou o que seja.

Quando você encontrar comum homem "civilizado", pode desconfiar: ou é um candidato a gigolô, ou é um sujeito que não gosta de você, pretendendo apenas lhe faturar, ou é um fraco.

Você sabe que no íntimo, você como todas a mulheres pretendem alguém que ofereça algum tipo de segurança, de orientação, que defina nos momentos difíceis. É a natureza. Mulher quer ser comandada e homem quer comandar. O problema é que o pensamento iluminista, que dá todo o peso à razão, não deixa a gente ver as coisas direito. Isso não quer dizer que o homem tenha que usar a força física para o domínio, mas precisa de pulso, e vocês querem pulso. Nas conversas íntimas com mulheres de todos os tipos, mesmo que a princípio neguem, após algum debate, acabam revelando uma certa recusa ao homem fraco, e raramente perdoam um corno.

Com relação à dependência e inferioridade, existe um problema sério, muito sério posto pela modernidade, quando a mulher se ombreou e está ultrapassando o homem em termos de posição no mercado de trabalho. Trabalho com jovens e tenho muito contato com pessoas adultas. Os intelectuais, como estão distantes da situação concreta, não percebem, mas está havendo um problema muito sério na relação entre gêneros. As mulheres estão estudando mais, se dedicando mais e os homens estão se encolhendo, habitando o mundo da vagabundagem. Quero dizer que já estão se dando por vencidos. Sabem que, pelas exigências do consumismo, não conseguem mais ser provedores, nem as mulheres precisam, que elas muitas vezes ganham mais que eles. Isso é uma verdadeira desgraça para um homem, ele tenha consciência disso ou não.

Por que os homens estão se encolhendo? Vou dizer o que penso, brevemente. Ser homem é muito difícil. As exigências são absurdas. Entre essas exigências está a do provimento.

Como o mercado está complicado e as exigências de consumo são absurdas, o sujeito vai se abatendo psicologicamente. A mulher pode aceitar qualquer salário, que ela, embora em muitos casos esteja sendo a provedora, não tem tal obrigação, podendo assim aceitar rendimento qualquer.

Quando é ela que provê, começa a impor e o homem ou se encolhe na vergonha, ou perde o caráter, ou vira puro macho, aquele que entra apenas com a defesa e a ferramenta sexual, mas não têm nenhum respeito dos filhos, dos vizinhos, da sociedade. Sua auto-estima entra abaixo da lata do lixo e se quiser elevá-la terá que fazer isso na porrada.

Homem quer feminilidade. A questão da independência assusta muito, principalmente se for independência emocional. Nenhum homem normal, dos que conheço, aceita mulher emocionalmente independente, aquela que decide e faz o que acha melhor para si. Nessa condição ele se acha inútil. Digo: se a mulher for inteligente e emocionalmente independente, ela poderá fazer o jogo. O jogo que o homem gosta, que é o de ser consultado, nem que só aparentemente ele dê a última palavra. Ele pode até reconhecer e gostar de saber que a mulher da relação tem muita capacidade em alguma coisa, ou na maioria das coisas, mas precisa que ela revele dependência. A dependência é um simbolismo necessário para o homem. Veja que é marca distintiva do homem a insegurança.

Uma mulher que não se mostre submissa deixa o sujeito aflito e incapacitado para defender o território.

Olha, Marília, sei que não esclareci direito, mas você há de convir que o assunto é complexo. Uma certeza eu tenho: as mulheres nunca compreenderão os homens e nós nunca compreenderemos vocês. Isso é um erro, do meu ponto de vista. Alíás, em termos intelectuais poderemos até nos compreender, mas jamais aceitar as práticas de um e de outro.Há aí uma incompatibilidade insuperável, que eu acho que é o que faz o mistério que separa e que aproxima. Acho que no momento em que vivemos está instalada uma guerra de graves consequências entre os gêneros. Acho que o caminho do encontro é aceitar as diferenças e não decretar o fim delas. Isso é um erro, do meu ponto de vista. Agora eu, como homem, gostaria de ouvir sua posição sobre a mesma questão que você colocou.
"

Apesar do espanto, fiquei agradecida. Sozinha nunca chegaria a suspeitar que a cabeça de um homem estudioso e mais velho abrigasse crenças como essas, e que as confessasse com perfeita candura, tão convencido está de sua legitimidade.

Resumindo: o que os homens querem? Que a mulher seja obediente, submissa, dependente. Se não for, que finja senão o homem fica frustrado e para se recuperar "terá que fazer isso na porrada". Simples como um ultimatum. Submeta-se ou aguente as consequências.

Pode-se pensar que pesa na opinião do professor sua origem no sertão nordestino: O homem na posição de mando é a matriz dos coronéis; a mulher submissa seria um atavismo religioso mais arraigado naquelas regiões. Mas não é verdade. Sabemos que a opressão das mulheres é doença que atinge a toda a humanidade. Mutilação genital, imposição de vestimentas que anulam sua presença são exemplos dramáticos, mas o saco de maldades tem muito mais que isso, tem armas como virus, difíceis de detectar e extremamente destrutivos.

Estão na midia, nas universidades, em países menos ou mais desenvolvidos. A luta pelo atraso, pelo sofrimento, pelo poder continua. Com sucesso. As estatísticas de crimes contra a mulher, mesmo em um país como o Brasil, em que o povo é admirado por sua alegria e pacifismo, demonstram isso.

Na sua percepção do feminino, há um ponto em que o professor acerta. De fato, as mulheres não gostam de homem fraco, inseguro, que exige joguinhos pueris de submissão, senão ele emburra, faz birra, fica violento. Desse homem a mulher foge. São esses que ficam sozinhos.

Há um fosso entre a maneira como homens e mulheres se interpretam. Há um fosso entre as expectativas que temos um do outro.

Em uma sociedade menos perversa e primitiva, a mulher seria tratada com respeito, sem ter que batalhar tanto por isso. É verdade que temos menos força física; é verdade que nos transformamos em cocoon durante meses, gerando a vida. É verdade que a sobrevivência da espécie pesa sobre nós dramaticamente. A frase famosa de Simone de Beauvoir, "Biologia não é destino" é meia verdade, se tanto. A potência de dar a vida nos define. Uma gravidez torna madura mesmo uma menina de doze anos. Essa é a realidade da mulher.

E faria, faz toda a diferença quando ela pode contar com um companheiro. Adulto. E que seja protetor, sim! Todo apoio é bem-vindo, é preciso, especialmente quando temos filhos. Que sejam protetores como somos com eles, cada um de seu jeito, nas áreas em que é mais forte. Proteção, conforto, ajuda, todos precisamos, em algum momento.

Essa mania de poder, que perda de tempo! Entretidos em suas atividades, jogando bola ou na estiva, operando grandes máquinas ou pintando porcelana chinesa - os homens têm uma energia que nos ilumina, nos faz felizes. Como sol e poesia! Os "coronéis" matam isso!

Cabe uma ressalva aqui. É certo que existem muitas "gatinhas" que atendem a demanda de homens como o professor. Querem "o herói que as proteja e sustente" mas, a certa altura, obtida a situação ou os bens que desejavam, voltam à carreira solo. Aí o homem se desorienta, acusa a mulher de mercenária, sente-se traído,reclama de "cornice", o que é outro conceito bobo. Não devia se lamentar. São as regras do jogo. Seria ilusão esperar afeto e lealdade nesse tipo de acordo: "finge que sou seu rei, que você me adora, que não vive sem mim". Os homens, principalmente os mais velhos, deviam saber disso. Até porque eles, mesmo com toda a fantasia de onipotência, não aguentariam conviver com uma pessoa submissa e dependente de verdade. Ninguém aguenta.

Esse aliás é o tema de um filme ótimo que saiu agora. O título é Ruby Sparks mas poderia ser "O que os homens querem?" O filme foi (muito bem) escrito pela jovem que também faz o papel principal, Zoe Kazan, de 28 anos. Do sertão a Hollywood, o assunto está em pauta: afinal, o que eles querem de nós?

Costumamos assistir perplexos às guerras, ao caos, à brutalidade humana, como se fôssemos estranhos a isso. Não devíamos porque a insanidade está em nós, no cerne de nossa visão do mundo e compromete a relação (que deveria ser) a mais preciosa e primordial que existe, entre homem e mulher, onde começa a vida.


Marilia Mota Silva
Washington, 5/9/2012

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