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Quinta-feira, 28/6/2012
Perdidos em Perdizes
Elisa Andrade Buzzo
+ de 5100 Acessos


foto: Sissy Eiko

Este é um lugar muito requisitado e nele moramos há muitos anos, alguns mais, outros menos, mas aqui o tempo é sempre extenso. Os parentes, influenciados por nós, acabaram vindo para cá ou para as imediações, talvez em busca da segurança de uma residência tranquila e familiar, acesso fácil às grandes avenidas, ao centro e à marginal, talvez pela falta de inspiração, modismo, não sei. O certo é que, de isolada chácara repleta de codornas-comuns, raros exemplares da arquitetura da década de 1940, ilustres habitantes, como Mário Raul de Moraes Andrade e Guilherme de Andrade de Almeida, tal parte da cidade, ainda subúrbio rural em meados do século XIX, conheceu, sub-repticiamente, uma forte migração, de modo que não se pode lançar hoje os olhos sobre ela sem avistar ferros, guindastes, jardins destruídos, estalidos e cheiro de concreto fresco.

Caímos de paraquedas em Perdizes, admirando suas padarias, hoje perplexos com o preço do pão na chapa, sem saber que ali, o bairro incongruente de ladeiras e velhinhos, viraria um reduto de escritores e intelectuais, e, mesmo que tentemos mudar de ares, não adianta, o bairro nos suga novamente num torvelinho construto-sentimental, e assim, três quarteirões abaixo da antiga casa, lá estou a acompanhar a vida comercial do bairro, num oásis plano, a três passos do Minhocão. E, quando o sino da Igreja de São Geraldo em que se cultivam samambaias no altar, no Largo Padre Péricles, dobra, ele o faz com a pompa de sino da Independência do Brasil.

Outro dia me disseram, "Perdizes é um bairro chique". Aqui os moradores se olham através das janelas com discrição, marcam encontros e "cafés" refinados e ausentes. Então sob quais olhos serei vista ao responder "Perdizes" quando perguntarem meu endereço? Não, muita gente ainda não conhece Perdizes e suas calçadas gastas, suas árvores constantemente apodrecidas pela ferrugem do tempo, suas casas abatidas em favor do futuro tropismo dos espigões neoclássicos.

Perdizes, esse amontoado de aves fêmeas, ganhou inúmeros admiradores e uma miríade de gente conhecida lá está, pela Franco da Rocha, Turiaçu, Bartira, Aimberê, Iperoig, Apiacás, Homem de Mello, Cayowaá, tornando-as nossa vida, nosso diminuto espaço de amor e consideração. Até mesmo diversos logradouros da Vila Pompeia, Pacaembu e Sumarezinho na verdade estão sob as grandiosas asas do, na verdade, distrito de Perdizes.

Impossível andar pelas ruas num sábado, ou pelos supermercados depois do expediente e não encontrar uma tia, um conhecido habitante ou um ilustre desconhecido à cata de um queijo, um sorvete, um vinho. Um famoso poeta gosta da facilidade do bairro, com sacolão, supermercado e academia num raio de 500 m. Minha falecida vizinha morou na Monte Alegre, depois na Cardoso de Almeida, foram mais de quarenta anos percorrendo Perdizes, e nunca se queixou das mudanças do bairro que acompanhou. Quem aqui vem, fica, ou retorna, e traz parentes, cachorros, gatos, passarinhos, filhos.

Ainda que tudo pareça sólido, que o Parque Fernando Costa, o Pão de Açúcar, o Tuca, o Batista e o Santa Marcelina sejam construções de raça indestrutível, a vida aqui corre sob o selo da finitude e da fluidez. Abrem-se novos restaurantes, supermercados, farmácias, lojas de sapatos. E reclamamos muito, disto ou daquilo que nos desagrada, o ronco dos ônibus, as demolições, mas aqui continuamos, como se estivéssemos de fato presos ao vício de ir e vir.

É um bairro como outro qualquer, com mendigos, loucos mansos na parte do dia rodeando as esquinas, carros adentrando trêmulos e anônimos nas garagens gradeadas, gente trepando na balaustrada dos coletivos e saltando no fim de tarde ao lançar todo o peso do corpo rumo à gelidez das noites de inverno; luz tênue nos apartamentos denunciando a doçura do aconchego dos lares familiares ou solitários; porque Perdizes é, também, um bairro de perdidos.

E numa noite qualquer, perdida na aleatoriedade do calendário, alguns de seus habitantes procuram, anseiam por algo, um lugar, uma porção de vida fugidia(?). Percorrem em vão restaurantes, bares, os garçons e manobristas avisam, já fechou, hoje não houve movimento. Diante de tal noitada veloz e clara, esdrúxula e ébria, afundam-se em sua frialdade, como num filme de Walter Hugo Khouri, deixando de lado aspirações e conveniências, lançam-se sem pudores, o contato rígido entre um lábio e outro e assim, enregelando-se com os peixes que sobraram na peixaria, corrigem o tempo perdido de Perdizes. Para o bem ou para o mal, este é nosso lugar, nosso precioso, preciso lugar no mundo, em que nos esbarramos pelas ruas tranquilas num misto de doçura e horror.


Elisa Andrade Buzzo
São Paulo, 28/6/2012

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