Lições literárias | Gian Danton | Digestivo Cultural

busca | avançada
52913 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Waacking Sessions
>>> Jazz das Minas Show 'Ayé Òrun'
>>> Banda Compasso Latino (Sesc na Virada Cultural)
>>> Benito Di Paula e Rodrigo Vellozo Show em dois pianos
>>> Banda Cólera
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
Colunistas
Últimos Posts
>>> David Soria Parra, co-criador do MCP
>>> Pondé mostra sua biblioteca
>>> Daniel Ades sobre o fim de uma era (2025)
>>> Vargas Llosa mostra sua biblioteca
>>> El País homenageia Vargas Llosa
>>> William Waack sobre Vargas Llosa
>>> O Agent Development Kit (ADK) do Google
>>> 'Não poderia ser mais estúpido' (Galloway, Scott)
>>> Scott Galloway sobre as tarifas (2025)
>>> All-In sobre as tarifas
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Tropikaos
>>> Moinho de sonhos
>>> Ferreira Gullar em dose única
>>> O melhor do jazz em 2006
>>> O Agent Development Kit (ADK) do Google
>>> Filhos de Francis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> Nelson Rodrigues sobre Telê
>>> Vivir para Contarla
>>> Parangolé: anti-obra de Hélio Oiticica
Mais Recentes
>>> O Diário de Lúcia Helena de álvaro Cardoso Gomes pela Ftd (1999)
>>> Os Homens Que Não Amavam as Mulheres - Millennium 1 de Stieg Larsson pela Companhia das Letras (2008)
>>> Contos Fantásticos do Século xix de Italo Calvino pela Companhia das Letras (2004)
>>> Perigosas - Pretty Little Liars de Sara Shepard pela Rocco Jovens Leitores (2012)
>>> Os Quadros Divertidos de Arcimboldo de Eduardo Brandão pela Cia das Letrinhas (2008)
>>> Canto Geral de Pablo Neruda pela Bertrand Brasil (2010)
>>> Saúde da Mulher de Pinotti pela Do Autor (2004)
>>> Le Petit Nicolas (french Edition) de René Goscinny; Jean Jacques Sempé pela Gallimard (1999)
>>> Sua Vida Em Movimento de Marcio Atalla pela Paralela (2012)
>>> Comer, Rezar, Amar de Elizabeth Gilbert pela Objetiva (2008)
>>> Pai É Pai- Diário de um Aprendiz de Luiz Rivoiro pela Publifolha (2005)
>>> Nada Escapa A Lady Whistledown de Julia Quinn pela Arqueiro (2018)
>>> Crescer É Perigoso de Marcia Kupstas pela Moderna (2003)
>>> O Meu Amigo Pintor - 18º Edição de Lygia Bojunga pela José Olímpio (1988)
>>> Na Sala Com Danuza de Danuza Leão pela Siciliano (1992)
>>> Como Eles Roubaram O Jogo de David A. Yallop pela Record (1998)
>>> Revisaço - Carreiras Jurídicas de Vários Autores, Henrique Correia pela Juspodivm (2015)
>>> Olhe o Que Você Está Fazendo Com a Sua Vida de Yasushi Arita pela Bela Publicações (2002)
>>> Adeus Love Story- uma Autobiografia de Ali Mac Graw pela Record (1991)
>>> Isso Ninguém Me Tira de Ana Maria Machado pela Atica (1994)
>>> Na Sala Com Danuza de Danuza Leão pela Siciliano (1992)
>>> É Isto Um Homem? de Primo Levi pela Rocco (2013)
>>> A Geometria na Sua Vida de Nílson José Machado pela Saber Mais (2003)
>>> Cinquenta Tons Mais Escuros de E L James, Juliana Romeiro pela Intrinseca (2012)
>>> Sociologia - Conceitos e Interação de Outros, Eduardo Calbucci pela Leya (2013)
COLUNAS

Segunda-feira, 30/9/2013
Lições literárias
Gian Danton
+ de 3900 Acessos

Quando conheci Afonso, aos 14 anos, eu só tinha lido um livro, Aventuras de Xisto, de Lúcia Machado de Almeida. Afonso já tinha lido todo Lobato, infantil e adulto, alguns livros de Freud e estava começando a ler Jung em edições bonitas, encadernadas, que ornavam a sala de sua casa.

Essas três coleções tinham história. Haviam pertencido ao seu padrinho, sargento do exército. Em plena ditadura, era um militar de esquerda. Um dia bateu na porta da família do afilhado com caixas repletas dessas coleções:

- Me descobriram. Eu vou sumir. Esses livros ficam de presente para o Afonso.

Nunca mais ouviram falar dele. Não se sabe se foi pego pelos órgãos de repressão, ou se fugiu para outro país.

Afonso tinha um ciúme atroz desses volumes encadernados. Coisa de colecionador. Mostrava o que estava lendo, comentava, lia um trecho, mas não me deixava nem tocar no exemplar.

Talvez isso tenha aguçado minha curiosidade pela leitura. Como não tinha livros em casa, tive que ir desbravando outros caminhos. Descobri os sebos e muitas vezes voltava a pé para casa, pois havia gastado o dinheiro da passagem com livros e gibis. 1984, de George Orwell, custou exatamente o valor de uma passagem de ônibus, depois de muito choro com o dono do sebo. Um outro livro que custou o preço exato de uma passagem de ônibus foi um volume argentino sobre história romana, com o qual não só aprendi sobre Roma, mas também comecei a dar os primeiros passos na língua espanhola.

Descobri também a biblioteca pública, em especial a seção circulante, que emprestava livros. Pegava um livro por semana, religiosamente. Passava horas olhando entre as estantes, lendo trechos, sorvendo um gostinho da obra. Na dúvida, levava Júlio Verne. E nunca me arrependi. Entre os vários xodós, um exemplar de Viagem ao Centro da Terra com um texto delicioso e ilustrações de um artista espanhol. Talvez da mesma coleção (lembro que o ilustrador também era espanhol), um outro livro que me fascinou por seu intimismo: Robison Crusoe, um livro com um único personagem na maioria dos capítulos. E, claro, Lobato, mas esse eu emprestava pouco. Havia muitos livros dele em sebos e fui comprando um a um, muitos da mesma coleção encadernada em verde que eu via na casa do Afonso.

Na circulante havia um quadro onde eram colocadas pequenas resenhas escritas pelos leitores. Quando emprestei meu primeiro livro (um ótimo volume de contos de HG Wells), a bibliotecária sugeriu que eu escrevesse uma resenha para o quadro. Escrevi e na semana seguinte escrevi outra, e outra e outra, até que o quadro fosse totalmente tomado por resenhas de minha autoria.

Eu seguia também as sugestões da bibliotecária, algo muito útil para quem leu um livro por semana, por anos a fio. Meninos de Engenho, de José Lins do Rego, foi dessa safra.

Ler era um prazer e, ao mesmo tempo, uma competição. Como na fábula do coelho e da tartaruga, eu largara muito atrás, mas queria vencer a corrida. Queria ler mais livros que o Afonso. Felizmente para mim, ele era como a tartaruga, lento para ler e preguiçoso para escrever. Aos 17 anos eu já tinha lido mais livros que ele, todos registrados em um caderno.

Além de, mesmo por vias tortas, me despertar o interesse pela leitura, Afonso, muito influenciado por Lobato, me ensinou uma grande lição: a propriedade no uso das palavras.

No meio da conversa ele soltava uma expressão que eu não conhecia e perguntava:

- Entendeu?

- Entendi, claro.

Ele ralhava:

- Entendeu nada. Você nem sabe o que essa palavra significa. Como eu negasse, ele me desafiava a definir o verdadeiro sentido da expressão.

Eu gaguejava, gaguejava, gaguejava, até que finalmente admitia ser era ignorante com relação àquele termo.

Era humilhante, mas era também uma lição: nunca finja entender de algo que não sabe e, principalmente, nunca use palavras cujo significado não esteja muito claro para você.

Hoje vejo muitas pessoas ansiosas por "falar difícil" usando expressões cujo significado desconhecem e penso: essas aí deveriam ter tido um amigo como o Afonso e um mestre como Lobato.


Gian Danton
Macapá, 30/9/2013

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Bruxas no banheiro de Marta Barcellos
02. Uma gripe e dois livros para distrair de Adriana Baggio
03. Por favor, leiam até o fim de Daniela Sandler
04. O revolucionário conservador: um sofisma de Paulo Polzonoff Jr


Mais Gian Danton
Mais Acessadas de Gian Danton em 2013
01. E Benício criou a mulher... - 19/8/2013
02. Conservadores e progressistas - 29/7/2013
03. Billy Wilder: o mestre do cinema, parte I - 8/4/2013
04. Procure saber: os novos donos da história - 21/10/2013
05. Biocyberdrama: quadrinhos pós-humanos - 20/12/2013


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Catimbó - Cana Caiana - Xenhenhém
Ascenso Ferreira
Martins Fontes
(2008)



Allegiant
Veronica Roth
HarperCollins
(2013)



Blancanieves - Marcha Criança Espanhol 3 Ano
Scipione
Scipione



Angélica na Corte de Versalhes
Anne e Serge Golon
Livraria Freitas Bastos
(1966)



Dian and the Gorillas
Norma Shapiro
Oxford
(2003)



Os pensadores XI
Abril Cultural
Abril Cultural
(1972)



O Elevador Ersatz - Volume 6 - Desventuras em Série
Lemony Snicket
Companhia das letras
(2003)



Os servidores do mal
J. W. Rochester
do Conhecimento
(2002)



Livro Em Busca Do Equilibrio Nutricional
Jona Haertel
Senac
(2010)



O Milagre Da Cana
Luiz Galdino
Ed 25
(2011)





busca | avançada
52913 visitas/dia
2,5 milhões/mês