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Segunda-feira, 16/6/2014
Uma lição de solfejo
Carina Destempero
+ de 3700 Acessos

Aí você diz que são os tempos modernos, a sociedade do consumo, a internet. Que o problema é a queda das instituições, o divórcio, a falência das religiões. E eu, também, digo isso. Mas aí leio Shakespeare. Romeu e Julieta. Aquela peça linda sobre um amor tão grande que os amantes preferiram a morte à impossibilidade de viver um sentimento tão verdadeiro. E no começo do livro tá lá o Romeu apaixonado pela Rosalina. Dois dias depois de procurar o Frei em desespero porque Rosalina não lhe queria, ele está lá de volta, mas dessa vez por causa da Julieta. Ué? Quer dizer que as juras de amor que não duram uma semana não são uma coisa atual?

Continuo concordando que muito do nosso modo de vida hoje colabora pra essas relações efêmeras que se multiplicam a cada dia, mas já começo a achar que isso só acentuou uma característica humana que já existe há muito mais tempo. Talvez antes a institucionalização dos amores pelo casamento, arranjado ou não, mas que precisava ser eterno, nos desse a impressão (para nós, que vivemos hoje) de uma permanência de sentimento, ou talvez o sentimento, pelo menos em parte, realmente fosse mais duradouro. Essa, aliás, é uma das minhas teorias: as leis, tanto a jurídica como a moral, barravam um pouco o comportamento que Freud diria seguir o Princípio do Prazer, de pensar apenas na satisfação momentânea, e agora que não há mais nada nos segurando estamos como selvagens do amor, pensando apenas no que serve para o momento, loucos atrás de uma satisfação plena cuja ilusão só perdura por instantes antes de precisar ser substituída.

Será que esquecemos como é bom dividir a vida com alguém? Esquecemos como não há preenchimento melhor do que pode dividir a falta? Saber que a pessoa está do seu lado e que não vai desistir ao primeiro sinal de dificuldade porque sabe que tudo que é bom tem um preço? Parece que sim. Aí acho que entra com força a questão da sociedade de consumo e de direitos, nossa recusa por pagar o mínimo que seja. Lembro-me agora de uma passagem da Inês Pedrosa que me marcou muito:

Habituamo-nos a tratar os amores como electrodomésticos: quando se escangalham, vamos ao supermercado comprar um novo, igualzinho ao que o outro era. Consertar? Não compensa: o arranjo sai caro, além de que nunca se sabe muito bem onde procurar a peça que falta. Substituímos a eternidade pela repetição, e o mundo começou a tornar-se monótono como uma lição de solfejo. Tememos a maior das vertigens, que é a da duração."

Acho que ela pegou no ponto do que acontecia há alguns anos. Agora me parece que está ainda pior. Não precisa mais nem dar defeito: é só aparecer um "aparelho" de modelo mais novo, que aparentemente supre melhor as nossas necessidades que pronto, lá vamos nós trocar. Parece que nos tiraram os antolhos e agora estamos perdidos, olhando o tempo inteiro para os lados, atrás do melhor parceiro, e quando o encontramos não paramos, porque vai que tem um outro melhor que eu ainda não vi?

Ao mesmo tempo, o que mais dizemos e escutamos são lamúrias: Vivemos rodeados de gente, mas sozinhos, Não aguento mais tanta solidão, Ninguém mais quer se comprometer, Ninguém quer uma relação de verdade. Quando escuto isso sempre penso, e muitas vezes pergunto, E você, que está reclamando, você quer se comprometer? Você está disposto a abrir mão de fazer tudo do seu jeito sempre, de parar de olhar o outro como mercadoria e dar tempo para que vocês se conheçam como pessoas, com qualidades, defeitos e desejos, sem compara-lo com três outros que talvez sejam melhores? Quantos de nós podemos dizer não apenas querer uma relação de verdade, mas que agimos de acordo com o que dizemos desejar?
Espero que, contrariando a tendência atual, esse número daqui em diante só aumente. Porque enquanto tratarmos as pessoas e os amores como produtos perecíveis, não podemos esperar nada além do apodrecimento.


Carina Destempero
Rio de Janeiro, 16/6/2014

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