As ruas não estão pintadas. E daí? | Duanne Ribeiro | Digestivo Cultural

busca | avançada
47578 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Na Flip, Verônica Yamada apresenta healing fiction sobre corpo, trabalho e ancestralidade
>>> Destaque na Flip, cearense Maurício Mendes lança “O homem não foi feito para ser feliz”
>>> Estreia Teatro - A Visão de Bernadette – 3 de Agosto – Teatro Ruth Escobar -18hs
>>> Com destaque na cena literária , “Cronofagia” de Carla Brasil chega à Flip 2025
>>> Filhos do Mangue, premiado filme de Eliane Caffé, estreia nos cinemas
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
Colunistas
Últimos Posts
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Farfalla
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Maffesoli, Redes Sociais e o Mundo Reencantado
>>> Desonra, por J.M. Coetzee
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> A Paris de Chico Buarque
>>> Picasso e As Senhoritas de Avignon (Parte I)
>>> Encontro com Kurt Cobain
>>> O Livro dos Insultos, de H.L. Mencken
>>> Cenas da vida carioca
Mais Recentes
>>> O Poder Da Bruxa de Laurie Cabot; Tom Cowan pela Campus (1992)
>>> Maos Que Curam de J. Bernard Hutton pela Pensamento (1995)
>>> O Poder De Cura Dos Chakras de Tori Hartman pela Pensamento (2021)
>>> Mandalas - como Usar A Energia Dos Desenhos Sagrados de Celina Fioravanti pela Pensamento (2007)
>>> O Transbordar da graca com Sao Miguel e os Anjos de Instituto Hesed pela Instituto Hesed (2022)
>>> Princípios De Administração Financeira de Lawrence J. Gitman pela Harbra (1999)
>>> A Proteção aos Animais e o Direito - O Status Jurídico dos Animais como Sujeitos de Direito de Ana Conceição Barbuda Sanches Guimarães Ferreira pela Juruá (2014)
>>> Kit C/2 Livros: Anjos E Demônios + Ponto De Impacto de Dan Brown pela Sextante
>>> As Confissões de Santo Agostinho pela Editora Quadrante (1989)
>>> Reflexos das Atitudes de Raymundo Rodrigues Espelho pela Do Lar ABC do Interior (1986)
>>> O Livro Da Abundância de John Randolph Price pela Vida & Consciencia (2008)
>>> Kit Coleção Pocket Sucessos - 9 volumes de Zibia Gasparetto; Monica de Castro; Marcelo Cezar pela Vida E Consciência (2010)
>>> Quando o Amor Veio à Terra de Djalma Motta Argollo pela Mnêmio Túlio (1996)
>>> Kit Coleção Marcelo Cezar - 4 volumes de Marcelo Cezar; Marco Aurélio pela Vida e Consciência (2010)
>>> kit Coleção Monica de Castro - 4 volumes de Mônica de Castro pela Vida e Consciência (2010)
>>> Céu Azul de Celia Xavier De Camargo pela Boa Nova (1997)
>>> Kit Coleção Zíbia Gasparetto - 8 volumes de Zíbia Gasparetto; Lucius pela Vida E Consciência (2009)
>>> Kit Coleção Eliana Machado - 5 volumes de Eliana Machado Coelho; Schellida pela Lúmen (2013)
>>> Kit Coleção Elisa Masselli - 6 volumes de Elisa Masselli pela Mensagem de Luz (2009)
>>> Arte Naval - volume único de Maurilio M. Fonseca pela Ministerio da Marinha (1960)
>>> 1434: O Ano Em Que Uma Magnifica Frota Chinesa Velejou de Gavin Menzies pela Bertrand Brasil (2010)
>>> 1421. O Ano Em Que A China Descobriu O Mundo de Gavin Menzies pela Bertrand Brasil (2011)
>>> Lágrimas De Cristo, Lágrimas Dos Homens de Francisco Faus pela Editora Quadrante (1993)
>>> Sapiens: Uma Breve Historia Da Humanidade de Yuval Noah Harari pela L&Pm (2015)
>>> Inovação e Traição - Um Ensaio Sobre Fidelidade e Tecnologia de Clóvis de Barros Filho e Adriano da Rocha Lima pela Vozes (2017)
COLUNAS >>> Especial Copa 2014

Terça-feira, 17/6/2014
As ruas não estão pintadas. E daí?
Duanne Ribeiro
+ de 4100 Acessos

Os escrevinhadores estão todos de acordo: essa é uma Copa com menos festa nas ruas por conta de um mal-estar generalizado, "por frustrações com governantes ou por temer protestos violentos", segundo o Estadão. A ideia não é absurda, mas não sei como estamos tão convictos dela - o desencanto em relação à seleção e ao Torneio Mundial, do meu ponto de vista, podem ser explicados simplesmente pelo fato de que os afetos do futebol se deslocaram: falta aos agregados nacionais a capacidade de nos unir, uma capacidade esbanjada pelos times.

Luiz Zanin diz que "nossa vida pode ser contada pelas Copas que vimos", e talvez isso possa ser verdade, principalmente para a geração dele. De minha parte, o que digo é que minha história futebolística (pouco dedicada, mas ainda assim...) pode muito mais ser contada pelas Libertadores a que assisti. Ou pela conquista de um Brasileiro, até mesmo de um Paulista. Não há partida do Brasil que valha um jogo decisivo do Corinthians (e o torcedor de outro clube não dirá o mesmo?). O gosto pela seleção é meio automático, regulamentar. O do time é genuíno, cotidiano.

Com 12 anos, em 1999, o Corinthians foi eliminado da Libertadores nas quartas-de-final pelo Palmeiras. Com 13, em 2000, novamente o mesmo time alijou o meu do troféu, dessa vez na semi. Chorei em ambas, ouvindo os fogos comemorativos e jocosos do vencedor. Em 2012, estava elétrico, paralisado frente à TV, contando os segundos, mordendo o lábio. Gritando feito um filho da puta quando acabou e éramos vitoriosos - isso nas duas finais, a da Libertadores, contra o Boca, e a do Mundial, contra o Chelsea. Minha identidade é investida de preto e branco.

Por outro lado, o Maracanaço pra mim é uma foto de almanaque. Lembro de ver as pessoas em pé, emudecidas no estádio, e a descrição dramática do jornalista. A Paolo Rossi só fui apresentado neste domingo último. Em 1994, recordo a família reunida para ver a cobrança dos pênaltis, e ter sido levado para a Paulista depois, ou algo assim, para comemorar. Eu não cheguei nem perto da euforia do Galvão. Perdemos 1998, achei chato - só. Ganhamos 2002, achei legal - só. Meus times imaginários continham jogadores da seleção e eu jogava com ela no International Super Star Soccer Deluxe, mas era apenas isso mesmo.

Eu acredito que essa conexão maior com os clubes é o motivo principal das ruas menos pintadas, do menor número de bandeirinhas penduradas, do "hoje somos todos iguais" com um mas nem tão iguais assim mais pronunciado. Também creio que é um processo irreversível, e suspeito que tem estado em movimento faz um bom tempo. Minha avó conta há duas décadas que em sua época "todo mundo se juntava para pintar a rua, e agora não tem nada". Em uma afirmação política mais arriscada, poderíamos mesmo dizer que "nações" não unem mais com tanta força - o que nos une são as identidades particulares, subjetividades de menor escala.

Narrativas Políticas
Mesmo que tenhamos explicações mais diretas e simples para a tímida (segundo o que se diz) festa da Copa, circulam versões que se apropriam desse "fato" para defender, através dele, ideias políticas. As matérias do Estadão linkadas no texto possuem esse viés: afirmam que os protestos atentam contra uma tradição, o que seria parte de uma "naturalidade" do brasileiro. Essa tese implícita é só o reverso da ideia de que uma "minoria", um grupo distinto do "povo", é que protesta.

Na manhã de 10 de junho, o jornalista José Paulo de Andrade fez uma variação da mesma ideia na rádio Bandeirantes; nos convocou a abandonar o "mau humor", o estado de desânimo gerado por alguns "radicais" desde junho de 2013. Com isso teríamos uma polarização bem definida, entre constrangidos e raivosos, e toda a efusão que constatarmos será uma derrota desses últimos. A festa da Copa, nesse sentido, seria a prova de que o "povo" não se identifica com as reivindicações. Mas eu posso ter forçado um pouco essa interpretação.

Doutro lado do espectro político, Vladimir Safatle afirmou na Folha: "no chamado 'país do futebol' pela primeira vez uma Copa do Mundo não trará dividendos (...) mostrará uma população consciente da tentativa de espoliar seus sonhos". Vejam que a equação está invertida: a falta de festa da Copa prova, agora, o "desencanto de um povo". O texto de Safatle tem, não obstante, o valor de destacar a intenção governamental ao trazer a Copa, a narrativa que almejavam construir e que teve seu caminho obstruído pelas várias tendências em conflito no país.

Essas grandes análises me parecem mais estratégias retóricas do que descrição de fenômenos. Há festa e há ausência de festa, há expectativa e indiferença, existe tanto o constrangimento quanto a raiva. Também: não há nexo obrigatório entre torcida futebolística e convicção politica. O que temos é muito mais um mosaico. Aquela sugestão que avançamos quanto aos times parece aqui menos arriscada: várias identidades, várias subjetividades formam a "nação", a "torcida", o "povo", e esse tipo de palavra megalomaníaca não é capaz de abrangê-las.

Ainda mais, desencanto e festa podem ser, digamos, cooptados. Em 9 de junho, o PSDB entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal para tentar "garantir a realização de protestos dentro dos estádios", não exatamente pelo grande amor a manifestações públicas, mas para roer a imagem do governo presidencial do PT. E o Google, que montou uma página para as ruas pintadas pelo Brasil, não contou nela que ele próprio pagou a tinta, rolos e bisnagas de pelo menos uma. Assim, os complicantes para uma explicação simplista do humor nacional aumentam.

#vaiterCopaecríticaàCopa
O que não podemos perder de vista é o valor próprio de cada reivindicação feita durante o pré-Copa. Os gastos públicos, a violência policial, a remoção de pessoas das suas casas - esses fatos não podem ser esquecidos em uma trégua eufórica. O #vaiterCopasim é leviano e apolítico na medida em que se esquece dos outros temas em jogo. A seleção pode ainda ser um fascínio nosso, contudo não precisa implicar em uma cegueira coletiva. Torcedores e/ou cidadãos, temos de saber o que nos toca, e o que toca a todos com quem compartilhamos a vida.


Duanne Ribeiro
São Paulo, 17/6/2014

Mais Duanne Ribeiro
Mais Acessadas de Duanne Ribeiro em 2014
01. O Público Contra Yayoi Kusama - 22/7/2014
02. Kurt Cobain; ou: I Miss the Comfort in Being Sad - 8/4/2014
03. Margarida e Antônio, Sueli e Israel - 4/2/2014
04. Cavaleiros e o Inexplicável - 7/10/2014
05. O Hobbit - A Desolação de Smaug - 7/1/2014


Mais Especial Copa 2014
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Questões de Partido - Atualidade do Partido Leninista no Brasil
Walter Sorretino (org.) Autografado
Anita Garibaldi
(2004)



Vale das Vertentes
Giselda Laporta Nicolelis
Moderna
(1983)



Autonomia do Príncipe
Ítalo Dal'mas
Do autor
(2013)



Movida pela Ambição
Eliana Machado Coelho
Lumen
(2012)



Livro Braquiossauro Coleção Dinossauros Incríveis
Naihobi Steinmetz Rodrigues
Culturama



Livro Casanova in Bolzano
Sándor Márai
Vintage



Eva
Nara Vidal
Todavia
(2022)



Em Costas Negras uma Historia do Trafico de Escravos
Manolo Florentino
Companhia das Letras
(1997)



Salvador Da Bahia De Todos Os Santos No Século XIX
Pedro Calmon
Odebrecht
(1985)



Um serzinho pra la de especial
Adelia Celestino
Do autor
(2023)





busca | avançada
47578 visitas/dia
1,7 milhão/mês