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Quarta-feira, 15/10/2014
Em Tempos de Eleição
Marilia Mota Silva
+ de 3800 Acessos

A situação era desesperadora. Mais de 15 milhões de desempregados vagavam pelas ruas. A criminalidade aumentava, inclusive os pequenos furtos motivados pela fome. Aumentavam também os índices de alcoolismo, suicídios, subnutrição e prostituição. Cerca de 250 mil adolescentes rodavam pelo país em trens de carga, quase sempre à procura de trabalho.

Como se não bastasse, uma grande seca forçou contingentes de lavradores a abandonar suas terras e migrar em busca de qualquer oportunidade. (Steinbeck conta a história de uma dessas famílias no livro (e filme) Vinhas da Ira.)

Os privilegiados que conseguiam trabalho, viam seus salários reduzidos drasticamente. Sem demanda, a produção industrial e o PIB caíram pela metade. Muitas escolas e todos os bancos fecharam suas portas. A máfia, o crime organizado floresciam.

Não se acreditava mais na viabilidade econômica, no capitalismo praticado nos Estados Unidos.

Do outro lado do Atlântico, o Nacional Socialismo ganhava força. Hitler assumia o governo com a aprovação de quase 100% dos alemães e da Áustria anexada. Hitler encarnava os ideais, o caminho pelo qual todos ansiavam. No Brasil, que também sofria os efeitos da crise financeira de 1929, Getúlio Vargas acompanhava com grande interesse os acontecimentos na Europa, preparando-se para adotar as reformas que o país requeria.

Quando em 1933, F.D. Roosevelt assumiu a presidência, o país vivia o quarto ano de uma depressão aguda, e tudo parecia perdido.

Mas, em menos de cem dias, a situação mudou. Havia emprego, esperança, direção.

Roosevelt fez uma ampla reforma em várias áreas da administração e impôs alguma ordem no sistema financeiro. "É preciso que haja severa supervisão do sistema bancário, de crédito e investimento, para que haja um fim para a especulação com o dinheiro dos outros", ele disse já no discurso de posse. Criou agências (FDIC) para garantir os depósitos dos clientes, e a Securities and Exchange Commission (SEC) para regular o mercado de ações e prevenir malfeitos. Décadas depois, outros presidentes, Clinton inclusive, abriram as portas para a repetição dos abusos, e da crise. Mas isso foi mais tarde. Volto ao New Deal, o Novo Acordo de Roosevelt. Vários setores da economia foram regulados, assustando os conservadores que, por princípio, repudiam qualquer intervenção do Estado.

Gostaria de falar aqui apenas de uma dessas iniciativas - uma medida de emergência, temporária e que, no entanto, foi decisiva para o moral do povo, a economia e o futuro do País: O Civilian Conservation Corps (CCC).

Com 15 milhões de desempregados, muitas famílias viviam em pobreza extrema. Para ampará-las era preciso criar empregos que absorvessem grandes contigentes de mão-de-obra desqualificada. Essa era a missão da CCC, o Exército de Arvores de Roosevelt, como foi apelidado.

Para trabalhar nessa agência era preciso ser jovem desempregado, solteiro, ter entre 18 e 25 anos, ser forte e saudável porque o trabalho seria físico e pesado. O alistamento seria de no mínimo seis meses. Só seria admitido um rapaz por família. O salário era de $30 dólares por mês (o equivalente a cerca de $550 hoje), sendo que $25 desses $30 iriam para a família do alistado. No campo, os rapazes teriam alojamento, roupas, refeições, lazer e educação.

É espantoso o que um governo pode fazer: Roosevelt enviou o projeto para o Congresso, em 21 de março. Eles levaram dez dias analisando e aprovaram. Roosevelt assinou, nomeou diretor, pôs o Exército pra fazer o alistamento. Os governos locais e estaduais forneceram as listas de jovens e famílias que recebiam ajuda do governo, algum tipo de bolsa. No dia 17 de abril, abria-se o primeiro campo de trabalho. Menos de um mês. Dia 8 de junho, o segundo. A maior parte dos jovens desempregados se concentrava na costa leste, e os projetos de trabalho estavam mais para o oeste. O Exército, Marinha, até Guarda Costeira se mobilizaram para transportar milhares de jovens através do país aos locais de trabalho.

Os primeiros 250 mil alistados, sob a direção do Departamento de Interior e Agricultura, construíram torres para controle de incêndio, pequenas represas, reservatórios de água, abrigos para animais. Reflorestaram áreas devastadas, cuidaram do solo, prevenindo a erosão intensa no meio-oeste.

Os batalhões de jovens sem experiência superavam as expectativas. O número de alistados dobrou de um ano para o outro. A taxa de criminalidade caiu 55% e houve quem atribuísse essa boa notícia ao trabalho do Corps .

Outro resultado animador. A parte do salário do filho que as famílias recebiam causaram grande impacto na economia. As compras aumentaram, os pequenos negócios brotaram de todo lado, inclusive em torno dos acampamentos e, aos poucos, o país foi reencontrando o rumo.

Em 1935 havia 2.650 campos operando em todos os Estados, incluindo o Havaí, Alasca, Porto Rico e Ilhas Virgens. Os rapazes trabalhavam duro, comiam bem, aprendiam noções de higiene, nutrição e vida em comunidade. Cada acampamento tinha uma área de lazer com mesa de sinuca, poker, ping-pong, cantina e biblioteca. Com tempo, e a descoberta de que havia entre os jovens milhares de analfabetos - 40 mil aprenderam a ler e a escrever nos acampamentos- instalou-se um sistema de educação formal, além do treinamento profissional. Enquanto isso, novas estradas foram construídas, linhas para telefone instaladas, milhões de acres recuperados para a agricultura, por drenagem de pântanos ou controle da erosão, e o primeiro milhão de árvores plantado.

O Corps estava executando mais de 100 tipos de trabalho. Suas realizações eram manchetes nos maiores jornais, inclusive nos que faziam dura oposição às outras reformas do New Deal.

O CCC nasceu como programa temporário, como nossas "frentes-de-emergência" em tempo de seca no sertão, mas acabou durando nove anos. No final, eles tinham plantado cerca de três bilhões de árvores, construído 800 parques nacionais pelo País e renovado centenas de parques estaduais.Atualizaram equipamentos e métodos de combate a incêndio, construíram estradas nas áreas mais remotas, enfim; realizaram um inestimável trabalho de infraestrutura, de conservação do meio-ambiente e das áreas públicas.

Ao longo de sua existência, a CCC empregou cerca de três milhões de homens. Dai surgiu uma classe-média sólida, confiante em sua capacidade de se sustentar, orgulhosa do trabalho realizado, e com a autoestima que resulta disso.

Até hoje a população usufrui e admira o trabalho feito por eles: a infinidade de parques, florestas, com raposas, ursos, águias, veados, centenas de espécies, vivendo tranquilos em seu habitat, sem preocupação com os humanos que caminham por lá. Há estradinhas de acesso e trilhas em todas elas. Trilhas seguras, bem sinalizadas, com passagens em deck sob áreas alagadas, mirantes, pontes de madeira. Trilhas para todos os gostos e preparo físico. Trilhas famosas pela beleza, como o Skyline Drive, em Shenandoah Park onde vale a pena ir, especialmente agora, no outono.

A pista de 160 km que cruza o parque pelo pico das montanhas já estava construída quando a CCC foi acionada para completar o trabalho. Eles graduaram a inclinação dos dois lados da estrada, construíram muros de proteção nas curvas perigosas, reforçaram as encostas, criaram dezenas de mirantes, plantaram milhares de árvores, arbustos e acres de gramado para compor a paisagem. Sinalizaram a pista e as trilhas, construíram os prédios de recepção para os visitantes e de manutenção do parque. Como fizeram em outros parques no país inteiro.

Em tempos de eleição, achei que valia a pena falar de uma iniciativa de governo que deu tão bons resultados: tirou da pobreza milhões de famílias, deu alento à economia, educou uma multidão, ensinou-lhes ofício e auto-estima, e além de tudo, cuidou do meio-ambiente quando ninguém se ocupava disso.

Uma obras duradoura que até hoje beneficia a todos, até como fonte de inspiração, por mostrar o que é possível.


Marilia Mota Silva
Arlington, VA, 15/10/2014

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