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Terça-feira, 7/7/2015
A aproximação entre Grécia e Rússia
Celso A. Uequed Pitol
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As notícias sobre a crise econômica na Grécia vêm dando espaço para todo tipo de especulações sobre o futuro daquele país. Para muitos, a saída da União Europeia é questão de tempo: a Grécia, dizem eles, não tem mais condições de seguir no bloco e qualquer ajuda momentânea é apenas adiamento do inevitável. Dentre estes, há os que receiam um aprofundamento dos problemas já existentes e os que vêm nisso a única possibilidade de salvação para a economia grega. Por outro lado, muitos não acreditam que medidas mais fortes serão tomadas: no fim das contas, dizem eles, os gregos seguirão como bons cidadãos europeus.

Há, portanto, espaço para tudo. E um espaço garantido pelo terreno das especulações, que desconhece fronteiras. Já outro terreno, o dos fatos, tem seus limites bem circunscritos; e nele há um fato bastante visível, observável a qualquer distância e reconhecível por qualquer um que se detenha sobre o tema: o de que a relação entre a Grécia e o resto da Europa está irreversivelmente abalada.

Quando aderiram à UE, em 1986, os gregos viram uma oportunidade única para sair de seu atraso histórico em relação aos vizinhos. Foram entusiastas da integração desde o começo, e ainda mais entusiasmados ficaram quanto, durante os felizes anos 90, o PIB do país crescia a taxas quase chinesas. O grego, antes emigrante miserável, passou a receber imigrantes da África e da Ásia e turistas endinheirados das nações mais ricas das Europa em busca das praias do Mediterrâneo.

Mas as coisas mudaram: os gregos já não acreditam na UE. Além disso, sentem-se desrespeitados pelas nações mais ricas e poderosas do bloco neste momento de fragilidade. Entre os demais europeus cresce a tendência a considerar a velha nação helênica como um bando de corruptos, incapazes e preguiçosos sustentados pelo labor alheio. Assim, caso permaneça na UE, o mais provável é que a Grécia passe a ser vista - e isso na melhor das hipóteses - como um familiar indesejável numa casa rica, cujos donos escondem as joias e o dinheiro com medo de serem roubados num momento de descuido.

Os gregos estão cansados disso. São um povo orgulhoso, por razões fáceis de se imaginar. Se nesta casa rica não são benquistos, procurarão outra onde sua cultura, sua maneira de viver e seu país como um todo serão mais apreciados. Surge a questão: para onde irão? Uma resposta possível, levantada por muitos analistas e sustentada por vários acontecimentos recentes, pode surpreender e atemorizar: para o círculo de influência da Rússia.

Desde que a coalizão de esquerda Syriza assumiu o poder no país, em janeiro deste ano, o primeiro ministro eleito, Alexis Tsipras, realizou várias viagens à Rússia com o discurso de estreitamento de laços na ponta da língua. "Somente ao lado da Rússia" - disse ele após uma dessas viagens- "será possível construirmos uma nova Europa". Na última delas, Tsipras esteve presente no Fórum Econômico de São Petersburgo, onde teve uma longa conversa com Vladimir Putin e selou vários acordos bilaterais. Indagado sobre o rumo que a Grécia tomará diante da crise, deu a seguinte resposta: "Estamos em meio a uma tempestade. Mas, como vocês sabem, nós vivemos perto do mar. Não temos medo de tempestades e nem de nos lançarmos em mar aberto. Estamos prontos para tomar o caminho do mar e ir em busca de um porto seguro".

Essa declaração de Tsipras tem um conteúdo simbólico poderoso. Os gregos são, de fato, um povo do mar, que fez do grande mar do Mundo Antigo - o Mediterrâneo - seu chão maior para conquistas, expansão, colonização e difusão de língua, de cultura e de tradição. Pelo mar, acompanhando as rotas comerciais, foram os missionários da Grécia, de Bizâncio e do resto do mundo helênico os responsáveis pela conversão ao cristianismo de quase todos os povos do Leste Europeu e da Ásia Menor - incluindo os russos. E uma dessas ironias da história, muito bem apontada pelo geógrafo inglês Halford Mackinder em seu ensaio fundador "The geographical pivot of history", fez do grego, filho de uma civilização marítima, o responsável por civilizar o russo; e seria o russo helenizado quem, anos depois, viria a conquistar as estepes da Ásia central e formar o mais extenso Império terrestre que o mundo conheceu. Helenizado em quase tudo: na fé, ortodoxa; na administração pública, de inspiração bizantina; e até no idioma, pois o alfabeto usado pelos russos foi criação do santo grego Cirilo, nascido em Tessalônica, responsável pela conversão dos povos eslavos orientais ao cristianismo. O "porto seguro" a que Tsipras parecia fazer referência era bem conhecido de seu povo.

Esta aproximação já fora antevista por Samuel Huntington no seu influentíssimo (e criticadíssimo) "Choque de Civilizações", de 1996. Na tipologia civilizacional ali proposta, a Grécia não está inserida na civilização ocidental, da qual é normalmente - e justamente - tida como fundadora, mas sim na chamada "Civilização Ortodoxa", ao lado da Rússia e das demais nações que, como os gregos, professam a Ortodoxia. Na época, Huntington foi ridicularizado por muitos analistas. Como assim?, perguntaram. Não é a Grécia fundadora da Europa e do Ocidente? Não é uma de nós? As respostas para estas perguntas, que um sujeito como Huntington seguramente bem conhecia, pode desapontar a quem as faz pensando que elogia os gregos: a Grécia, meus senhores - dirá um grego - não é fundadora da Europa; é, em verdade, muito mais do que isso. E são testemunha disto todos os povos que, muito antes dos europeus, conheceram os gregos e foram pelos gregos conhecidos, estudados e influenciados: os árabes, cristãos e islâmicos; os persas; os africanos do norte e mesmo os não tão a norte; e os russos.

O passado aproxima gregos e russos. Mas é preciso atualizar e concretizar essa aproximação. Por isso, no mesmo dia em que declarou-se pronto para lançar-se ao mar em busca de porto seguro, Tsiprias fechou um acordo com Vladimir Putin para a instalação de um gasoduto que ligará os fartos suprimentos de gás da Rússia central à Grécia e à Europa Ocidental. Trata-se do maior empreendimento do gênero já realizado no país e terá papel fundamental numa futura reconstrução econômica; ao mesmo tempo, lança combustível extra na fogueira das especulações sobre a saída da União Europeia. O terreno das especulações, foi dito, pode abarcar questionamentos deste tipo. Já o dos fatos - os do passado e, sobretudo, os do presente - nos mostra que, permanecendo na UE ou não, a Grécia está cada vez mais próxima da Rússia.


Celso A. Uequed Pitol
Canoas, 7/7/2015

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