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COLUNAS
Terça-feira,
28/3/2017
Amy Winehouse: uma pintura
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 6400 Acessos

A relação entre formas orgânicas e a geometria é uma constante na pintura de Fabricius Nery. Não é diferente o que acontece na tela denominada Amy Winehouse. A homenagem póstuma à cantora se efetiva na relação contrastante entre a presença figurativa da cantora e os enquadramentos geométrico-lineares ao qual está submetida.
Na tela as sugestões formais são o elementos que propiciam a possibilidade interpretativa da existência de Amy Winehouse. Como uma espécie de figura crucificada por um corte geométrico que a acolhe quase ao centro da tela, a cantora recolhe-se numa pose intimista, onde os braços tornam-se quase uma concha protetora. O braço esquerdo eleva-se à boca, cuja mão segura o cigarro que a cantora fuma; o braço direito, por sua vez, desce até o pé, segurado por sua mão, o que também remete a uma atitude de recolhimento.
Vale deter-se na composição pictural da figura de Amy. O que se nota ao se aproximar da tela é a camada rugosa de tinta que desenha e colore partes do seu corpo. Essa massa áspera de tinta nos faz pensar nas feridas interiores da cantora, na turbulenta existência que deixa suas marcas e danos. O tratamento dado por Fabricius Nery à figura, no entanto, é sutil. O contraste entre cabelos pretos, vestido preto e sapatos pretos em oposição ao róseo da pele da cantora marca a diferença entre o luto sugerido pelo negro e a vitalidade marcada pelo rosáceo da carne. A oposição entre uma presença mais áspera do desenho do corpo e uma picturalidade mais plana na geometria também é um aspecto que acentua a oposição entre um corpo vivo, podemos dizer, vibrante, e a cruz geométrica que se insinua como o contrário da vitalidade de Amy Winehouse.
Um dado que chama a atenção na pintura é a presença ao fundo do corpo da artista de uma estrutura de cavalete de pintura. Esse elemento nos fala de forma metavisual sobre a própria ideia da pintura como construção, como se estivesse nos relembrando que estamos diante de uma criação artística, de uma leitura particularmente artística da cantora. Como se nos dissesse que é aqui, no campo da criação pictórica, que temos que efetuar a leitura do quadro.
À cruz que aconchega a figura da cantora, soma-se, mais ao fundo do quadro, uma espécie de olho que a perscruta, como se fosse o reino da escuridão e da morte que a aguarda como consequência de sua desgastante vida movida a excessos de álcool e drogas.
A questão da geometria acaba sendo uma metáfora de uma prisão a que a artista se impõe, num recorte de sua existência em que nada remete à sua fulminante e promissora carreira musical. Ao contrário, a sua introspecção elimina qualquer sentido de glória, tornando-a uma solitária figura, enquadrada pela cor negra por todos os lados, da roupa à maioria das figuras geométricas que a acolhe.
Se há um momento na tela onde vislumbramos um pouco de possibilidade de diversão, é o desenho no alto da tela que remete às piscinas de plástico e, na parte inferior da tela à piscina de David Hockney no quadro “A bigger splash”. Talvez um símbolo discreto da existência divertida da cantora, que tinha nas festas infinitas que dava para seus amigos e para si o seu momento de alegria e divertimento.
Apesar dos aspectos introspectivos presentes na maior parte da tela, seja na pose da figura, seja na referência à uma crucificação, a pintura é bastante delicada e rende uma homenagem à altura desta alma profunda e perdida em si mesma que foi Amy Winehouse.
Outra leitura metafórica que o quadro sugere é a da introspecção criativa, pois o artista ao se recolher em si mesmo, ao se fechar numa concha meditativa, está prestes a gerar aquilo que o cavalete de pintura sugere dentro do próprio quadro, o ato de criar arte e a oposição entre a criação artística e a vida, como se uma coisa prescindisse da outra, como se para se criar a arte suprema tivéssemos que abdicar da vida prosaica. O artista como eterno crucificado.
Jardel Dias Cavalcanti
Londrina,
28/3/2017
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