Cuba E O Direito de Amar (2) | Marilia Mota Silva | Digestivo Cultural

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Quarta-feira, 2/12/2020
Cuba E O Direito de Amar (2)
Marilia Mota Silva
+ de 1700 Acessos

No Banco, na ante-sala do auditório, duas pessoas conversavam: o argentino, baixo e cheio de corpo, vestindo calça e camisa social sem gravata, olhava as pontas dos próprios sapatos, enquanto o outro, com terno e colete, falava com arrebatamento. O argentino me viu chegando e me deu sinal para que me aproximasse. O homem de terno me cumprimentou com a cabeça, sem interromper seu discurso: era sobre um fuzilamento, de um general, se entendi direito. Falava como se nós soubéssemos do fato. Falava da dificuldade de se manter uma ideologia anti-consumista, e nas tentativas de intervenção dos Estados Unidos através da televisão, e nos cuidados extraordinários que eram forçados a tomar para que não se formasse um mercado paralelo do dólar, principalmente com o incremento do turismo. Falava dos inimigos da revolução e da necessidade de fuzilamentos. Um idealista. Queria um mundo em que todos fossem iguais, sem sonhos, sem vontade própria, a não ser a de trabalhar e obedecer a um comando superior, o Estado onisciente.

Planes e eu nos afastamos, quando alguém se aproximou e interrompeu a fala interminável. Planes contou que não havia ninguém esperando por ele no aeroporto José Marti. Ficou retido por duas horas, teve a pasta revistada e até recortes de jornal falando do seminário, a convite do próprio governo cubano, foram lidos inteiramente pelos agentes que o detiveram.

À tarde, fomos às tiendas - onde só turistas entram - e não vi sequer um par de sapatos para criança. Na tira de papelão que Sebastian me deu, um pouco maior do que o pé da menina, ele havia me explicado, havia umas sapatilhas com elástico na borda, e nenhum solado por 13.30 dólares. Não comprei, esperando ter outra oportunidade.

Por toda a cidade, vimos cartazes, outdoors já gastos, homenageando Cienfuegos, um homem jovem, bonito, carismático. No Museu de Revolucion aprendi quem era ele: Comandante Camilo Cienfuegos, amigo de Fidel e de Guevara, um dos líderes da revolução, que morreu em um acidente aéreo, pouco tempo depois da vitória. E Che, como sabemos, foi sozinho levar a revolução para o resto da América Latina e acabou morto na Bolivia. A revolução engole seus filhos, Planes disse pesaroso.

*****.

O Memorial do Granma estava fechado. Mas pude visitar o Museo de la Revolucion, antiga sede do governo: ali estão fotos, maquetes, jornais da época, uniformes, armas, slogans, mapas, tudo o que conta a história da Revolução Cubana.

Ocupando uma parede inteira, há um mapa em relevo do centro-sul da África. A guia nos explica, com orgulho, a presença de militares cubanos na região.

O socialismo é internacionalista, lê-se em placas e cartazes por toda a cidade, e os jornais e a televisão repetem o estribilho o dia todo. Implantar sua ideologia em outros países é mais que legítimo, é sua missão. Quando outros países fazem coisa parecida são condenados como imperialistas.

*****

Maria Antonia e Ismael nos levaram ao Bodeguita del Medio. Convidamos os dois para almoçar conosco. Eles se recusaram prontamente, como se estivessem em falta. Quando insistimos, eles disseram que era proibido. Cubanos não podiam entrar nos restaurantes. Esperariam no carro.

O restaurante é cheio de charme e personalidade. Fica em uma casa velha, e tem as paredes cobertas de rabiscos, assinaturas, caricaturas de frequentadores famosos. Planes e Mazzoti pediram a típica comida "criolla" cubana: arroz, feijão, carne de porco e mandioca. Pedimos frango e salada. O frango veio branco, borrachudo e quase sem tempero. Desanimava só de olhar. Então pedimos "moros e cristianos (arroz e feijão com muita gordura e uns pedacinhos de pele de frango e de porco. Salada de abacate e mandioca cozida. Não serviam saladas verdes. A cerveja, pequenas garrafas sem rótulo, tinha sabor de cloro.

Dois músicos com instrumentos de 8 cordas duplas, no formato de bandolim, tocavam de mesa em mesa, mas não aceitaram gorjeta, não era permitido.

Depois do almoço, Ismael nos levou às tiendas na região das Embaixadas. Casas bonitas, avenidas largas e arborizadas. Há um mini-mercado e uma loja média de departamentos. Não há muito o que ver ou comprar, são quinquilharias da China e de países do leste europeu.

Procurei novamente o sapato para a filha do zelador. Encontrei apenas uns sapatos de salto alto antiquados; nada para criança.

*****

27, quarta-feira.

Assisto, às vezes, à televisão estatal. Falam de colheitas, mostram discursos de Fidel. Mostram esportes, natação, jogos de vôlei, campeonatos em que os cubanos foram campeões. Ontem uma das noticias era sobre 150 bravos compañeros que retornavam de missão em Angola. A rapaziada descia do avião, acenando bandeirinhas.

Hoje anunciam, a cada instante, que não vai ter novela. O Derecho de Amar vai passar no sábado porque hoje é dia de uma grande festa: 29 anos de inauguração do CDR - Comitê de Defesa da Revolução.

Mazzoti, como eu, tem tempo livre e gosta de andar. Fomos ao Museu Numismático e achei finalmente alguns cartões postais. Mazzoti comprou uns bichinhos de pedra ou cerâmica para levar para os filhos. Não havia quase nada à venda, já que não estavam abertos ao turismo.

Fomos almoçar em outro restaurante famoso, a Torre. Uma novidade: cerveja cubana em lata: só para turistas, informaram. O garçom, um senhor mais velho, muito amável, nos explicou que toda a produção de cerveja tinha sido canalizada para a festa do CDR, hoje, só restando aquelas em latinha, que só podiam ser vendidas a turistas e pagas em dólar.

****
Continua aqui


Marilia Mota Silva
Arlington, VA, 2/12/2020

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