G.A.L.A. no coquetel molotov de Gerald Thomas | Jardel Dias Cavalcanti | Digestivo Cultural

busca | avançada
49039 visitas/dia
1,2 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Inscrições abertas para o Concurso de Roteiros e Argumentos do 11º FRAPA
>>> BuZum! encena “Perigo Invisível” em Itaguaí, Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty (RJ)
>>> Festival de Teatro de Curitiba para Joinville
>>> TIETÊ PLAZA INAUGURA A CACAU SHOW SUPER STORE
>>> A importância da água é tema de peças e oficinas infantis gratuitas em Vinhedo (SP)
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O batom na cueca do Jair
>>> O engenho de Eleazar Carrias: entrevista
>>> As fitas cassete do falecido tio Nelson
>>> Casa de bonecas, de Ibsen
>>> Modernismo e além
>>> Pelé (1940-2022)
>>> Obra traz autores do século XIX como personagens
>>> As turbulentas memórias de Mark Lanegan
>>> Gatos mudos, dorminhocos ou bisbilhoteiros
>>> Guignard, retratos de Elias Layon
Colunistas
Últimos Posts
>>> Barracuda com Nuno Bettencourt e Taylor Hawkins
>>> Uma aula sobre MercadoLivre (2023)
>>> Lula de óculos ou Lula sem óculos?
>>> Uma história do Elo7
>>> Um convite a Xavier Zubiri
>>> Agnaldo Farias sobre Millôr Fernandes
>>> Marcelo Tripoli no TalksbyLeo
>>> Ivan Sant'Anna, o irmão de Sérgio Sant'Anna
>>> A Pathétique de Beethoven por Daniel Barenboim
>>> A história de Roberto Lee e da Avenue
Últimos Posts
>>> Nem o ontem, nem o amanhã, viva o hoje
>>> Igualdade
>>> A baleia, entre o fim e a redenção
>>> Humanidade do campo a cidade
>>> O Semáforo
>>> Esquartejar sem matar
>>> Assim criamos os nossos dois filhos
>>> Compreender para entender
>>> O que há de errado
>>> A moça do cachorro da casa ao lado
Blogueiros
Mais Recentes
>>> O que mais falta acontecer?
>>> Turbulências
>>> 453 – São Paulo para gregos e troianos
>>> O fim da revista Bravo!
>>> Ao Portal Galego da Língua
>>> Jane Fonda em biografia definitiva
>>> Porteño, Milonguero y Varón
>>> Agnaldo Farias sobre Millôr Fernandes
>>> A política brasileira perdeu a agenda
>>> Livre talento, triste exílio, doces brasileiros
Mais Recentes
>>> Como Estudar para Concursos de Alexandre Meirelles pela Método (2014)
>>> Transcomunicação Instrumental - Volume 1 de Karl W. Goldstein pela Fe (1992)
>>> Livro - Construindo o Plano Estratégico Cases Reais e Dicas Práticas de Roger Born pela Espm e Sulina (2007)
>>> Livro de bolso - O Marido Complacente de Marquês de Sade pela L&pm Editores (2004)
>>> Livro de bolso - Terra Sonâmbula de Mia Couto pela Companhia de Bolso (2015)
>>> Livro - A Nova Contabilidade Aplicada ao Setor Público de Valmir Leôncio da Silva pela Atlas (2012)
>>> Trabalho, Cidadania e Reconhecimento de Josué Pereira da Silva pela Annablume (2008)
>>> Livro de bolso - Dois Irmãos de Milton Hatoum pela Companhia de Bolso (2006)
>>> Livro - Introdução á Administração Financeira de Clóvis Luís Padoveze pela Cengage (2011)
>>> O silêncio da chuva de Luiz Alfredo Garcia-Roza pela Companhia das Letras (2000)
>>> Claude Monet - Guia Estudantil de Marilyn Diggs Mange pela Do Autor (1997)
>>> Livro de bolso - O Casaco de Marx - Roupas, memória, dor de Peter Stallybrass pela Autentica (2007)
>>> Mundialização - Ásia e América - Número 125 de Vários autores pela Tempo Brasileiro (1996)
>>> Curso de Física Básica 2: Fluidos, Oscilações e Ondas, Calor de H. Moysés Nussenzveig pela Blucher (2010)
>>> Livro de bolso - Auto Da Compadecida de Ariano Suassuna pela Agir (1998)
>>> Livro - Basquete de Sesi Sp Editora pela Sesi Sp
>>> Não Conte A Ninguém de Harlan Coben pela Arx (2003)
>>> Frankenstein - O Médico e o Monstro - Drácula - Trilogia de Terror de Mary Shelley; Robert Louis Stevenson; Bram Stoker pela Martin Claret (2012)
>>> O Que é Ser Contemporâneo? de Christine Gruwez pela Antroposofica (2011)
>>> Livro - Esgrima & Xadrez de Sesi-sp pela Sesi-sp
>>> Leituras da Utopia, I - Número 160 de Vários autores pela Tempo Brasileiro (2005)
>>> O perseguidor de Tom Figueiredo pela Global (2011)
>>> Minha Semana com Marilyn de Colin Clark pela Seoman (2012)
>>> Varal de poesias de Vários Autores pela Atica (2005)
>>> Livros/ Box - Obras de Mário de Andrade - Possui 4 Volumes de Mário de Andrade pela Novo Século
COLUNAS

Terça-feira, 1/3/2022
G.A.L.A. no coquetel molotov de Gerald Thomas
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 4900 Acessos



A absoluta radicalidade e contemporaneidade do teatro de Gerald Thomas está no fato de que ele quebra a todo momento o pacto apaziguador entre artista e público. Gerald Thomas retorna ao teatro com uma mensagem dentro do coquetel molotov. “Agora é Talibã!”. No início da peça a atriz segura uma garrafa com uma mensagem dentro, o barulho de um estridente raio a impede de abrir a mensagem, segue andando e, em seguida, tropeça em outra garrafa que é um coquetel molotov. Abertura necessária para se perceber o tamanho da explosão.

G.A.L.A. é uma peça polifônica, aberta ao infinito da composição e recomposição do texto, onde o dramaturgo coloca sua personagem num barco partido e afundando. O aspecto fluvial da fala descontínua, no seu vai-e-vem repetitivo, reforça o caráter burlesco de todo discurso que se pretende verdade ou explicação. Coerência para ele é “salsinha no meu sapato”, uma imagem surreal que faz jus ao universo de Gala e Dali. Num mundo delirante, um discurso delirante se faz necessário. Raros artistas conseguem navegar nesse mar de inconstância, insegurança, vertigem.



O cenário belíssimo, ao mesmo tempo perturbador/desolador, remete ao cinema de Fellini e às imagens românticas da barca da morte (e o primeiro objeto encontrado pela atriz é uma caveira). Um mundo afundando durante uma festa de gala. No auge do capitalismo, um planeta que não suporta mais a apropriação brutal de seus elementos naturais. A imagem do barco afundando com a foto ao fundo de duas torres (gemêas) de fábricas poluentes reforça a ideia do abismo em que a mais avançada das civilizações tecnológicas se meteu.

Pelas recordações das destruições que estão subjacentes na peça, da história (campos de concentração) à arte (de Guernica de Picasso à música dodecafônica e a afônica literatura de Beckett), G.A.L.A. não se furta ao desvario de apontar o mundo quebrado das vidas humanas e da arte como metáfora de um mundo eternamente destruído.

Tempestades interrompem a fala da personagem, sustos necessários para paralisar qualquer tentativa de emitir verdades, explicações, sugestões de caminhos. Gerald Thomas sempre questionou o papel do artista como criador de plausibilidade. Ordenar e compreender o mundo como num laboratório de ciências exatas não é o caminho para a arte.



Não é de hoje que Gerald Thomas sente na pele as dores do mundo, mas não se ressente do presente em nome de um passado nostálgico. Fatalista – "é o que temos para hoje" – assume colocar na mesa a desintegração do homem na forma da desintegração da linguagem. Nisso ele é mestre.

O texto de G.A.L.A. deliberadamente escamoteia o discurso, deixando rarefeitas as falas, mas amplia as zonas de tensão com a música, o cenário e os trejeitos de Gala (a excepcional teatralidade da atriz Fabiana Gugli). Pratos sendo quebrados ressoam uma alma quebrada ou se quebrando. Sancho, personagem ausente/presente seria a metáfora do teatro – e de todos nós – lutando contra moinhos de vento. Em uma conversa por what’s sobre críticas sucessivas ao poder, Gerald me sentenciou, fatalista: “É difícil quebrar o muro”.

Talvez haja em G.A.L.A. uma tentativa do teatro de Gerald Thomas de quebrar a memória constante do desastre – essa “faísca que atravessa os séculos”: “Pois a ruína não está mais lá! Beckett não está mais lá! Para de ficar idolatrando os cacos desesperançosos da história. Para!”. Mas não abre mão de deslocar ou truncar a narrativa. Pois no lugar das ruínas, das bombas caindo sobre nossas cabeças, estamos numa pandemia social do distanciamento total uns dos outros. Gala e Sancho se falam virtualmente, não se abraçaram depois dos seus enlaces e as mãos que se encontram no final da peça são intermediadas pelo computador que nos aproxima afastando. Como disse o próprio G. Thomas na entrevista que se seguiu à peça, Michelângelo não imaginava que entre o dedo de Deus e o de sua criação apareceria uma rachadura. Essa rachadura é o símbolo da vida humana, imperfeita, incoerente, absurda. Também é o teatro de Gerald Thomas.

G.A.L.A. não se furta, no entanto, de detratar o mundo atual, o mundo “asfixiado pelo próprio desespero”. Não surpreende que a última imagem da peça, as mãos dadas entre a atriz e a mão que sai do computador, seja a do fogo consumindo-os.



Para ir além
A peça pode ser vista no YouTube.


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 1/3/2022

Mais Jardel Dias Cavalcanti
Mais Acessadas de Jardel Dias Cavalcanti em 2022
01. Gramática da reprodução sexual: uma crônica - 7/6/2022
02. Risca Faca, poemas de Ademir Assunção - 15/2/2022
03. G.A.L.A. no coquetel molotov de Gerald Thomas - 1/3/2022
04. Neste Momento, poesia de André Dick - 20/9/2022
05. Guignard, retratos de Elias Layon - 13/12/2022


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Ver esta Imagem Turtle Moon
Alice Hoffman
Berkley Novel
(1992)



Extension Course on Metering of Alternating Current
Meter Division
Westing House
(1949)



Livro fisico - Lógica: o Cálculo Sentencial
Leônidas Hegenberg
E.p.u
(1977)



Ferramentas para Empreendedores
Vários Autores
Record
(2010)



As Tentações da Sombra
Marcius Porto
Vertente
(1996)



Turma da Monica Jovem Nº 4 - Monica e o Cavaleiro
Mauricio de Sousa
Panini Comics
(2017)



Matematica Conecte Caderno de Competencias 2
Varios
Saraiva
(2014)



Amor & Sobrevivência: a base científica para o poder curativo da intimidade
Dean Ornish, M.D.
Rocco
(1998)



Haja Coração 100 Anos de Timão
Antonio Goulart
Gente
(2013)



De moto pela america do sul diario de viagem
Ernesto che guevara
Sa
(2001)





busca | avançada
49039 visitas/dia
1,2 milhão/mês