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Terça-feira, 16/5/2023
Palavras/Imagens: A Arte de Walter Sebastião
Ronald Polito
+ de 2300 Acessos

Walter Sebastião é poeta, artista plástico e crítico da cultura. Nasceu em Juiz de Fora, em 1954, e depois migrou para Belo Horizonte, onde trabalhou anos no jornal Estado de Minas cobrindo principalmente a crítica de artes plásticas. Esses materiais precisariam ser reunidos em volume porque são iluminadores dos artistas que abordou. Há também outros textos dele como curador e em catálogos de arte que poderiam se juntar aos do jornal.

É difícil distinguir, nos seus trabalhos, onde começa a poesia e acaba o gesto plástico. Esses dois campos aparecem mesclados no que fez e surgem sempre reunidos em seus livros de poesia, seja pelas imagens de sua autoria constantes nas capas ou nas imagens no miolo dos livros dialogando com as palavras. O mesmo poderia ser pensado no sentido contrário: suas atividades no campo das artes plásticas também eventualmente se utilizam de palavras e símbolos nas composições.

Seu primeiro livro de poemas, Primeiro exercício de tiro ao alvo, saiu em Juiz de Fora, em 1978. Alguns anos depois, em 1982, participa do volume Áporo (Roseta Publicações), reunindo poetas em atividade em Juiz de Fora. Já nessa publicação se evidencia o uso da linguagem próxima à imagem, ele é o único do grupo cujos poemas são manuscritos.

No ano seguinte, em 1983, ele publicou Um peixe rasura a transparência do aquário (Juiz de Fora: Roseta Publicações), cujo título é uma cena fulgurante. O desenho da capa, com sua mistura de imagens, símbolos, linguagem (notem o “aeiou”), sintetiza essa vontade de se situar na fronteira entre sistemas de imaginação.


Quero ainda citar outro livro de poemas que publicou, em 1995, Alguns desenhos (Belo Horizonte: AP Cultural), cujo título reforça o que já foi dito: linguagem como imagem e vice-versa. Walter Sebastião ainda participou de algumas antologias, como Baú de letras (Juiz de Fora: Funalfa, 2000) e Poesia em movimento (Juiz de Fora: UFJF, 2002). E acaba de publicar um novo livro de poemas, Errante grafia (Tiradentes: Mandala Produção, 2023), que aqui será comentado.


Alguns traços são recorrentes em seus livros. O mais evidente é o privilégio da imagem por meio da palavra. Seus poemas articulam cenas, corpos, objetos, paisagens. Mas essa operação não almeja apenas uma figura porque está sempre a serviço do pensamento, as imagens, já em si luminosas, inusitadas, se sobrecarregam de ideias e problemas.

No nível formal há também recorrências ou retornos. É assim que em seu novo livro há uma acentuada presença de tercetos, forma que organiza quase integralmente Um peixe rasura a transparência do aquário e ainda se nota, mesmo que timidamente, em Alguns desenhos.

Por outro lado, em Alguns desenhos predominam os dísticos, também presentes no novo livro. Desse modo, podemos pensar que os poemas atuais repropõem os principais procedimentos formais de seus livros anteriores.


Por outro lado, essas semelhanças formais ocultam uma enorme diferença no modo de organização dos poemas. Em Um peixe rasura a transparência do aquário, as estrofes apresentam uma sintaxe clara, os enjambements tornam cada uma delas uma unidade de proposição. Já no livro seguinte se insinua uma quebra desse procedimento. Se há tercetos, dísticos, e mesmo em poemas de estrofação irregular, o procedimento é o de segmentação, cada verso constituindo uma unidade; não o fluxo, mas montagem de sentido da sucessão de pedaços. O mesmo ocorre, porém de forma mais aguda, em Errante grafia.

Em correlação com esse procedimento, Alguns desenhos e Errante grafia também se aproximam pelo uso de sequências de substantivos, separados por vírgulas, pontos ou mesmo sem sinais de pontuação. São pequenas galáxias em que gravitam termos por vezes contrastantes, e que tornam ainda mais acentuada a “desarticulação” almejada, principalmente em Errante grafia, para que a leitura se efetue como montagem, tomando o poema como filme ou videoclipe, em que constelações de figuras criam pontuações para narrativas a serem imaginadas. Esse aspecto não é casual, Walter Sebastião tem grande proximidade com a arte cinematográfica.

Para além desses aspectos, digamos, formais, que distanciam seu novo livro dos anteriores, são notáveis também outras diferenças, decisivas para a direção que essa poética tomou. Nos livros anteriores, os poemas são, em grande medida, desterritorializados, sem vinculação clara a um tempo e a uma realidade imediatos, perfazendo temáticas líricas abstratas.

Em Errante grafia o poeta vincula vários de seus poemas ao tempo presente, a questões atuais da realidade e, mesmo, a dados autobiográficos. Um deles é a exploração do universo da cidade do interior e do ambiente do campo.

Walter Sebastião reside atualmente em Bichinho, distrito de Tiradentes (MG) (veja-se, por exemplo, o poema “lugar”, com suas “vivas raízes inconfidentes”, ou o poema “quintal”, essa experiência tão interiorana e cada vez mais rara aos habitantes da cidade). Talvez por contraste, a representação da cidade também ganha relevo, como no poema “janela” (em que “uma buzina interdita devaneios”). Cidade e campo tornam-se, assim, um par a ser explorado.

Por extensão, o mundo contemporâneo se configura, como no poema “terra”, em que “zil pessoas falam com paredes/ e elas (as paredes) respondem”, “o analgésico foi canonizado/ aluga-se dor com vista paradisíaca”, entre outras imagens lancinantes; ou no poema “turba”, com seus “candidatos a hitlers”, em que “a escravidão eterna é o preço oferecido à plateia”.

Já o poema “esboço” sintetiza num traveling as últimas décadas que vivemos. Da lua azul de Gagarin aos beatniks, pollocks, bossa nova, concretos, passando pela ditadura militar com seus “heróis de lata”, mortos, exílios, até o surgimento dos abc, pts, mst em meio à “ziguizira nazi” para concluir com o brado: “a lixúria genocida não passará!”.


Paralelamente a esse apelo ao cotidiano vivido, há toda uma pauta de questões contemporâneas que posiciona o autor e dá à poesia a tarefa de intervir nos debates e problemas que atualmente nos movem. Um exemplo seriam os dois versos finais do poema “censo”: “rainha de paus/ às vezes trans”, numa alegre mistura de identidades sexuais.

Outro pode ser colhido na estrofe final do poema “Chega!”: “filho irmão amigo protesto:/ abaixo o machismo, a lgbtfobia/ e o racismo!”. Leia-se também o poema “dragoa”: “ela”, que “mede forças com o homem, é e não é”, e depois, abandonando o “buraco negro do palco”, “volta súbita ao comum. estrela vadia”. De pretensa popstar a pária.

Ainda nesse campo de vivências homoafetivas, há um conjunto de poemas de celebração do encontro, do amor, como em “pro carlos”, “pro marcos”, “rua 234” (delicada declaração de amor que abdica do amanhã porque “só você é hoje!”), “safo” e “tod( )s” (cujo título é autoexplicativo…).

Entremeando os poemas, há diversas imagens que com eles contracenam. Em uma delas, há um cordão com badulaques, entre eles uma peça em que se lê “NEM PÁTRIA NEM PATRÃO” circundando o A de “anarquia”.

Outras imagens “instalam” os materiais para escrita, desenho e pintura (em duas delas, curiosamente, há bússolas a servir de orientação); algumas paisagens, urbanas ou não, talvez realizadas com guache ou aquarela, misturam escrita e horizonte, figuração e geometria; uma delas se constitui como relevo a partir da junção de peças de madeira.

Desenho, pintura, escrita, instalação, assemblage: são diversas vertentes plásticas ao lado de distintas dicções poéticas que misturam registros, não abrindo mão, inclusive, do amálgama do oral, do coloquial, da gíria, da fala do interior, da dicção escorreita, “literária”, da poesia visual (como no poema da primeira orelha do livro) ou da emulação de modalidades discursivas (como no poema da contracapa, vertido como formulário a ser preenchido).

Essa pletora de recursos, plásticos e linguísticos, confere ao livro Errante grafia um lugar de destaque nas experiências que se situam entre linguagens para criar outros campos imagináveis.


Ronald Polito
Juiz de Fora, 16/5/2023

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