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Sexta-feira, 13/10/2023
O tipógrafo-artista Flávio Vignoli: entrevista
Ronald Polito
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Flávio Vignoli, formado em design, enveredou pelas edições em tipos móveis e vem se destacando no Brasil com um trabalho que impressiona pela qualidade dos livros que imprime. São belíssimas edições, objetos do desejo de qualquer bibliófilo e amante de livros, com escolhas sofisticadas e precisas de autores (escritores e artistas visuais), papéis, formatos, tipologias e composições que conferem um prazer todo especial à leitura.

São plaquetes, caixas, livros para serem apalpados, manuseados, admirados, enfim. Iniciando suas edições em 2008, o catálogo já conta com dezenas de títulos imperdíveis: desde autores clássicos, como Fernando Pessoa (Tabacaria, entre outros), Castro Alves (Navio negreiro) e Bernardo Guimarães (O elixir do pagé, entre outros), a autores contemporâneos, como Augusto de Campos (reedição de os sentidos sentidos, em coedição com o Selo Demônio Negro), Júlio Castañon Guimarães (Em viagem: uns estudos) e Guilherme Mansur (Melo (g/d) ramas). Seus cadernos, cadernetas, cartazes e folhas soltas são também singulares. Entre seus projetos, destacam-se as coleções “Lição de Coisas”, “Elixir” e “ágora”, além de coleções mais experimentais ou autorais, como “Gráfica utópica” ou “Livros que não tenho”.


Além do exímio trabalho tipográfico, Flávio também dirige a Papelaria Mercado Novo, em Belo Horizonte, MG (av. Olegário Maciel, 742, loja 2176/corredor J), local de encontro de escritores e artistas visuais, onde os trabalhos são comercializados. Estando em BH, é imperdível uma visita à papelaria.

Um trabalho de edição e divulgação tão articulado naturalmente repousa em anos de estudos dedicados aos designs digital e tipográfico. Flávio já editou diversos catálogos de arte e livros para lá de especiais, além de ter escrito textos acadêmicos em que aborda o design do livro. O resumo aqui reproduzido de sua dissertação para obtenção do título de Mestre em Artes (defendida em 2020 na Escola de Belas Artes da UFMG), intitulada Performance mecânica na produção dos Livros que Não Tenho e outros livros de artista impressos em tipografia no Brasil, esclarece a amplitude de seus interesses:

“Esta pesquisa-criação tem como objetivo investigar o processo criativo e as estratégias de produção dos livros de artista impressos em tipografia no Brasil e produzir um livro de artista autoral. A estrutura da escrita e o projeto gráfico desta pesquisa-criação permite que os conteúdos possam ser lidos separadamente ou na sequência proposta para os cinco capítulos, além da introdução e da conclusão: ‘Manual prático para a tipografia’, ‘Álbum de referências’, ‘Caderno de anotações’, ‘Tipografia do Zé e a Coleção Livros que Não Tenho’ e ‘Performance mecânica em tipografia’. Os conteúdos dos capítulos apresentam: os conhecimentos básicos para a tipografia e sua concepção, linguagem e metodologia; as necessidades do aprendizado e do conhecimento prático para o processo criativo e para as estratégias de experimentação em tipografia; as referências históricas da tipografia figurada e plástica com anotações sobre as suas estratégias de composição e impressão, sintaxe tipográfica, materialidade e plasticidade; as análises visuais dos quatro livros de artista selecionados pela ‘Gramática visual para a tipografia’; a história editorial da Tipografia do Zé e as estratégias de produção da Coleção Livros que Não Tenho e do livro de artista A ave Wlademir Dias-Pino; o conceito de performance mecânica para a tipografia; e uma metodologia para a tipografia contemporânea. Foram utilizadas nesta pesquisa-criação as metodologias da bibliografia material e da história oral”.

Como se vê, é leitura obrigatória para aqueles que querem enveredar pela “arte negra”.


Outro trabalho seu, A singularidade das editoras artesanais no Brasil (2017), é um excelente levantamento do que se fez no país desde os anos 1940 até hoje, listando editoras, editores e quantitativos de publicações, além de conter um farto conjunto de imagens dessas edições. Cito ainda Tipografia transversal: processos e memórias na tipografia contemporânea de Belo Horizonte (2023), que esmiuça os trabalhos desenvolvidos na capital mineira, também reproduzindo muito material visual. É ler e ver para conferir.

A seguir, uma breve entrevista com o tipógrafo-artista Flávio Vignoli, em que ele nos conta um pouco de sua aventura editorial.

1. Conte um pouco de sua história com a tipografia. De onde surgiu seu interesse pela técnica? Quando? Por onde começou? Onde aprendeu?

Mesmo sendo formado em design, não tive na disciplina de tipografia na faculdade, a oportunidade de um aprendizado prático de tipografia de caixa e muito menos uma visita técnica a uma oficina tipográfica para conhecer as máquinas, ferramentas, mobiliários e os elementos da composição tipográfica. Isto aconteceu muito depois de ter me formado, quando fui procurar a tipografia Matias, em 2006, para produzir o convite do meu casamento. Até então, trabalhava no mercado de design nas áreas de design editorial e design de exposição.

Acredito que o meu interesse pela tipografia tenha surgido por uma paixão pelos livros e consequentemente pela produção (artesanal) dos livros. Em 2008 eu constituo a Tipografia do Zé com o objetivo de produzir edições artesanais e de começar o meu aprendizado tipográfico. Neste início, os projetos eram impressos pela Tipografia Matias e eu me esforçava para o aprendizado dos gestos de composição e impressão. Paralelamente a este meu aprendizado, foi também iniciado o workshop de tipografia como estratégia de manutenção econômica da oficina tipográfica do Seu Matias.

2. Você é um grande colecionador de obras impressas tipograficamente ou com outras técnicas, um conjunto valioso e invejável para qualquer biblioteca de raridades. Quando começou seu interesse por reunir essas obras?

A partir do meu interesse pela edição artesanal, eu comecei a pesquisar as editoras artesanais brasileiras e a colecionar estas publicações com o objetivo de entender as estratégias de produção de cada editora ou coleção. E, a partir da leitura e da bibliografia material das edições, eu comecei uma análise comparativa das singularidades de cada uma que me ajudou na definição das coleções da Tipografia do Zé.

3. Quais são seus interesses ou critérios para selecionar o que publica? O que você leu e lê?

Inicialmente os textos foram selecionados por não terem direitos autorais, como Fernando Pessoa, Castro Alves e outros. O que permitia um aprendizado sem uma expectativa de lançamento ou comercialização. Depois, os textos foram selecionados a partir de uma parceria com poetas para a edição das coleções definidas, como Elixir com Ricardo Aleixo, Lição de Coisas com Mário Alex Rosa, ágora com Roberto B. de Carvalho e outros.

Mas existem coleções mais experimentais ou autorais que edito sozinho, como Gráfica utópica ou Livros que não tenho. Atualmente, as publicações são negociadas principalmente por esta rede de parceiros e agora financiadas para o lançamento e comercialização na Papelaria Mercado Novo.

4. Foi a partir da tipografia que você enveredou pelo design de livros não tipográficos ou o contrário?

Desde o início de minha formação como designer gráfico, eu tive interesse pelo design editorial que é um mercado de trabalho em que continuo atuando em Belo Horizonte. Mas, a partir da experiência com a tipografia de caixa, eu modifiquei a minha metodologia de projeto para destacar ainda mais a materialidade e o detalhe da composição tipográfica digital.


5. Dos projetos editoriais que realizou, quais você destaca?

Em cada projeto da Tipografia do Zé, eu tive um aprendizado de projeto, composição ou impressão. Cada um desses projetos foi justamente um pretexto para esse aprendizado. Como hoje também acontece o pretexto de um projeto para uma parceria e encontro com um autor que admiro. Penso que muito das edições foram realizadas para este encontro de processos e diálogos. E cada coleção tem uma estratégia entre a invenção ou tradição que me interessam.

Penso que o projeto de tipografia contemporâneo é justamente esta experimentação entre a tradição e a invenção. Weingart define a tipografia como uma relação triangular entre o conceito, os elementos tipográficos e as técnicas de impressão que precisam ser conhecidos na prática da oficina tipográfica, de preferência com um mestre de ofício como o Seu Matias.

6. Você sempre cita Cleber Teixeira e Guilherme Mansur como importantes em seu caminho. Outros tipógrafos, brasileiros ou não, também lhe serviram de norte?

Sempre tive interesse pelos poetas editores como CT, GM e Manuel Segalá. Mas também uma admiração profunda pelo Gastão de Holanda, o mais inventivo dos mãos sujas d’O Gráfico Amador. Tenho admiração pelos livros e plaquetes editados como livros ou impressos de arte, mas minha paixão é pelos projetos tipográficos experimentais.

7. Você acompanha o renascente movimento tipográfico no Brasil? Algum deles chama sua atenção?

Acompanho e tenho participado deste mercado da tipografia contemporânea com admiração pela história editorial do Grafatório, de Londrina, Quelônio e Xiloceasa, de São Paulo.


8. Quando surgiu a ideia da Papelaria Mercado Novo?

Se no início a Tipografia do Zé não tinha uma preocupação de manutenção financeira já que era mantida pelos meus projetos de design, hoje tenho um outro entendimento de que estas produções precisam ser sustentáveis e que a equação de tipógrafo–editor–livreiro é fundamental para as estratégias de comunicação e comercialização.

A PMN é sustentada principalmente pela comercialização da papelaria artesanal da Tipografia do Zé e dos cartazes produzidos pelo 62 pontos, um coletivo de artes gráficas instalado na Tipografia do Zé, e que também participa de sua manutenção e investimentos.

9. Que projetos estão em andamento?

Além dos projetos das edições artesanais de poesia, estou produzindo dois projetos de livros de artista tipográficos: uma coleção autoral que também funciona como uma espécie de arquivo de processos de composição e impressão experimentais. E outra coleção onde convido outros artistas para uma experimentação colaborativa. Estou produzindo uma primeira edição com um conteúdo do artista Paulo Bruscky que deve ser lançado no início do ano que vem.

10. Você não edita só livros ou plaquetes, mas também cartazes, cadernos, cadernetas. Quais outros formatos faltaria imprimir com tipos móveis?

Tenho interesse na produção tipográfica contemporânea em grandes formatos, como monotipias ou gravuras de tiragem única ou pequena tiragem. Acredito que existe um mercado de artes gráficas que pode ser melhor trabalhado principalmente em São Paulo.



Ronald Polito
Juiz de Fora, 13/10/2023

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