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Terça-feira, 21/5/2024
A pulsão Oblómov
Renato Alessandro dos Santos
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Para aqueles que como eu não deram a Enrique Vila-Matas a devida atenção quando o portátil escritor surgiu nas listas de autores a ser lidos um dia

(((com o agravante de que, se não fosse lido, o meliante poderia – ao chegar ao derradeiro destino – ouvir Dela, Ninguém menos do que Deus: leste Enrique Vila-Matas?

E diante da resposta negativa, em sinal de reprovação, a Divina balançaria a cabeça, e uma porta se abriria, e tragado por uma língua de camaleão o desventurado desprezador acabaria guindado para um destino incerto, temático, repleto de citações, de referências, de epígrafes, de edições... do autor espanhol, e tudo em miniatura...

))), chegou a hora.

Não tirei Enrique da estante como quem tira uma goiaba do pé, mas do galho a fruta sumarenta caiu, e, antes que uma constelação de bichinhos viesse a desfrutar dela, veio eu, e eu a peguei, e eu a mordi, e eu fui quem partiu ao meio o vermezinho machadinho.

Então, esse cara não sou eu, né?! Não. Não é você, Roberto.

Poderia ser eu, né? Sim, transeunte leitora, poderia ser a Magnífica.

E tirando eu, Roberto e a tríplice leitora, todos leram Vila-Matas não é?

Como este aqui, Ar de Dylan, editado no Brasil pela Cosac Naify, em 2012, e que só agora chegou a essas mãos de alface. Onde esteve? Em tempo: volta Cosac! (E ela voltou 😃).

No romance de Enrique, um pai morre e seu filho acaba recebendo dele mensagens do além. Percebeu a referência ao garoto dinamarquês, leitora intertextual? É pouco, eu sei, mas essa é a forma que Vila-Matas achou para seu Hamlet, que, na aparência, é um decalque de Bob Dylan.

E há a angústia da influência pós-moderna, com Hamlet - o príncipe da Dinamarca a reverberar por todo o texto: a ratoeira; Claudio Arístides Maxwell; “Sistema Brighton Rock, que não deixa pistas e parece um enfarto quando não foi”; Rosencrá e Guildestén.

O resumo se passa na Espanha, onde os personagens vivem tempos em que o fracasso está sob a pele, e, agachados, balbuciando uns aos outros, sabem que não há nada a fazer, além de resignar-se com tédio pelo fracasso individual e coletivo da humanidade.

Escreve o autor de Barteby e companhia em Ar de Dylan:

"Gosto de Oblómov. E sobretudo da pulsão Oblómov. Já ouviram falar dessa pulsão? Assume esse nome devido aos costumes apáticos do personagem de um romance que um certo Goncharov escreveu na Rússia, há cerca de cento e cinquenta anos. Oblómov é um jovem aristocrata desamparado, incapaz de fazer qualquer coisa com sua vida. Dorme muitas horas, lê de vez em quando, boceja sem parar. Dar de ombros é seu gesto favorito. É daquele tipo de pessoa que tem o costume de repousar antes de se cansar. Ficar deitado o máximo possível parece ser sua única aspiração, sua modesta rebeldia. Oblómov é, por excelência, o indiferente ao mundo."

Vilnius Dylan Hamlet Oblómov, o filho de Lancastre, poderia chamar-se assim; é ele quem, do além, recebe “infiltrações” provenientes do pai que odiou em vida e de quem não consegue se ver livre, uma vez que daddy está disposto a fazer que o príncipe tenha plena noção de que a eternidade pode esperar, pois, antes, é preciso azucrinar o rebento, entrando na cabeça do rapaz feito um facão no coração de uma melancia, a fim de que se possa viver ali mais um pouquinho, mesmo que seja necessário deixar o delfim colérico com essa derradeira atitude preternatural paterna.

Lancastre não chegou bem a ser um autor best-seller, mas deixou cá seguidores que se chamam a si mesmos de interruptores e que pertencem ao restrito círculo do Clube dos Interruptores Lancastre, pequena parcela de gente que gosta de interromper alguém para perguntar ou comentar algo cujo significado é 93,3% irrelevante. Vilnius, o Hamlet de Enrique, é um desastre: nada faz, nada quer fazer, e, obrigado a fazer algo, prefere não fazer nada. Pegou a referência, leitora escriturária?

Narrado em primeira pessoa por um escritor que se deixa “infiltrar” por Vilnius, o qual conhece em um Congresso sobre o Fracasso, Ar de Dylan pouco a pouco vai conquistando o leitor (como este que entedia vocês, gente!), e, quando menos se percebe, paira a pergunta que Deus, lá no início, fizera (e haverá de fazer, no ocaso de nossa transição): leste Vila-Matas?

E a vontade é a de pegar da estante mais obras do autor europeu que permaneciam empoeirando (Barteby e companhia e História abreviada da literatura portátil), ou outras que, como este Ar de Dylan, foram encontradas em uma lojinha da APAE a preço de banana (Suicídios exemplares e Chet Baker piensa en su arte – relatos selectos) e... Fiat lux: é um lugar comum dizer que são os livros que nos encontram, em vez do contrário, e, neste caso, foi ótimo começar a ler Vila-Matas para descobrir o quanto o autor se faz pertinente em dias tão em desacordo com o que se vivia antes (antes da internet), quando o mundo herdado, ignóbil, já era “infraleve”, colônia de promessas difíceis de cumprir, "no future", Nem-nem.

Não_Ser, eis a questão:

“(...) sociedade infraleve, que era testemunho do nada e, portanto, espelho tímido do ar de nosso tempo: reflexo de uma época na qual o drama da sociedade moderna, sua trágica inconsistência e progresso para o vazio, já é um segredo revelado e um fato brutal, que ninguém parece capaz de remediar”.

Botes contra a corrente?

Estrada menos pisoteada?

Vem sentar-se comigo Lídia e juntos vamos ver Netflix?

E no sentido figurado do verbo frigir é deste jeito que a humanidade anda: atormentadamentedïssimamente paisagem! O “vazio” foi revelado e, feito álvaro, sua complacência já nos alcançou.

"Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?"

Melhor não.

Em vez disso, vamos ver vídeos de comida de rua todo dia no YouTube🤠? Ou, talvez, bora assistir a uma série da qual já não lembramos o nome nem enquanto a estamos assistindo🤠?

Assim, mesmo com as coisas não muito alvas, como não nos deixar levar por esse autor espanhol que nos convida a questionar o bueiro que em momentos de angústia só pode fazer toda a gente jogar o tempo fora, como os litros de água que no chuveiro perdem-se, enquanto a água quente parece dizer que é merecido esse vapor todo, mesmo que o desengano, o spleen e o "deixa pra lá" sejam só mais alguns artifícios por conta do desalcance das mãos.

Entendeu essa conclusão?

😔

E daí?

😃

Nota do Editor
Leia também "Oblomov, de Ivan A. Gontcharov", "Paris não tem fim, de Enrique Vila-Matas", "Entrevista com o impostor Enrique Vila-Matas" e "O mal de Vila-Matas".


Renato Alessandro dos Santos
Batatais, 21/5/2024

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