Amores e caçadas | Marcelo Barbão | Digestivo Cultural

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Segunda-feira, 2/9/2002
Amores e caçadas
Marcelo Barbão
+ de 2800 Acessos

"Se na África você não se sentir louco a maior parte do tempo, então você é louco de verdade". Com essa frase, Ernest Hemingway consegue resumir a sua relação com o meio ambiente selvagem e, ao mesmo tempo, acolhedor do grande continente. Em meio a rifles, caçadas e leões, Hemingway cria a memória ficcional de seu último safári.

O livro Verdade ao amanhecer, apesar de girar ao redor do tema recorrente da morte, mostra um otimismo frente ao mundo que o autor evitou em outros momentos (tanto na literatura como na sua vida particular). Talvez por isso, o livro, escrito em 1953, só tenha sido publicado 46 anos depois, em 1999.

Totalmente a vontade em um acampamento no Quênia (na época colônia britânica), Hemingway e sua quarta esposa, Mary, ficam responsáveis por uma extensa área de caça. E é em torno desta atividade, por isso a recorrência da morte, que gira o dia-a-dia do autor.

Em nenhum momento, Hemingway abre mão de um fino senso de humor que torna a narrativa única, se compararmos com as suas outras obras "aventureiras", como O velho e o mar ou Por quem os sinos dobram. Este humor pode ser encontrado em momentos tão diferentes como na relação do autor com as diferentes tribos africanas que vivem na região, com sua esposa e uma namorada local ou com os animais, importantes coadjuvantes.

A história inicia com Hemingway sendo "empossado" no cargo de Bwana da Caça da região. Mais do que um funcionário colonial, Hemingway descobre que sua obrigação é cuidar para que tudo funcione perfeitamente, incluindo, em suas tarefas, o cuidado com as pessoas que vivem no local. Logo descobrirá as tensões entre diferentes tribos e os aspectos maléficos que a entrada da civilização causa entre os nativos.

Sem tornar-se panfletário, Hemingway mostra o problema da bebida entre os africanos e as mudanças que são impostas, na maioria das vezes, de forma artificial. Ele usa de humor e ironia para tratar destes temas. Isso pode ser visto principalmente na sua narrativa sobre a religião. Sem esconder uma certa tensão entre os cultos nativos, a religião muçulmana professada por muitos e o cristianismo trazido pelos colonizadores, Hemingway conta, divertido, como criou uma nova religião onde ele próprio era o profeta. O fato de, no livro inteiro, esta criação religiosa ser citada algumas poucas vezes, torna o fato mais instingante e divertido, dando um toque surreal à situação. É inevitável pensar, como teria ficado aquela gente toda, quando o escritor foi embora. Estarão ainda esperando a volta do profeta branco?

Mas a relação mais espirituosa e interessante de todo o livro é justamente com a esposa Mary, a única pessoa branca a permanecer o tempo todo com o autor. Na verdade, a história do livro é, basicamente, a luta de Mary contra um grande leão. A preparação, as lendas criadas e a caçada que resulta na morte do chamado rei das selvas são contadas de forma simples e clara por Hemingway. A tensão criada em torno deste episódio ganha um colorido especial com a postura de Mary após a grande caçada e a resposta de Hemingway. Novamente, o humor ressurge depois dos momentos mais dramáticos.

Usando imagens simples de uma caçada e esta ironia onipresente, Hemingway é capaz de discutir temas sérios como a obsessão e o vazio decorrente. E também o amor, contando a relação com uma jovem nativa apaixonada. Hemingway chega a cogitar tomá-la como segunda esposa, conforme os costumes locais. Mais um dos pontos onde nunca será possível separar a ficção da realidade. A infidelidade é contada de uma forma singela. Também é dessa forma que os abalos que essa relação extra-conjugal trazem ao seu casamento são contados.

Existe também mais um personagem que sempre é muito caro a Hemingway: a natureza. As descrições das paisagens e dos animais criam um interessante quadro da região e explicam a paixão que a África despertou no casal. Mesmo quando caça, a descrição mostra uma importante reverência ao animal. Em alguns momentos, a narrativa toma ares de cerimônia, como se os animais abatidos fossem sacrifícios dedicados ao deus da religião fictícia que Hemingway criou. Gostando ou não de caçadas, aprovando ou reprovando este chamado esporte (questionamentos que o próprio autor faz), é impossível não sentir a emoção na narrativa.

Verdade ao amanhecer foi lançado no centenário do nascimento de Ernest Hemingway e repercutiu favoravelmente no mundo inteiro. Um fecho de ouro para o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1954.

Para ir além





Marcelo Barbão
São Paulo, 2/9/2002

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