Quatro Mitos sobre Internet - parte 1 | Adrian Leverkuhn | Digestivo Cultural

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Quarta-feira, 20/11/2002
Quatro Mitos sobre Internet - parte 1
Adrian Leverkuhn
+ de 2900 Acessos

A crise das empresas baseadas na internet (não tem nada mais vulgar que dizer "as pontocom", e "estouro da bolha", de tão repetido, já ficou irritante) já se afasta de nós, e o fim da era eufórica da "revolução digital" já foi decretado há tanto tempo que comentá-la, hoje, é mais um exercício de História que qualquer outra coisa. Internet parece um tema cada vez mais passé, cada vez mais anos-noventa, cada vez mais irrelevante. Nos prometeram uma revolução, o fim da mídia impressa, nos botaram para ninar com histórias sobre a nova ecologia cognitiva e o grande renascimento da Voz (assim mesmo, em maiúscula, a grandiloqüente e quase metafísica Voz) que estavam por vir - e cá estamos nós, com nossos icqs e kazaas, cada vez mais desapontados. Depois daquela celeuma toda, uma calmaria desiludida, como se o assunto tivesse se esgotado. Mas ele não se esgotou - as perguntas, colocadas naquela época, ainda carecem de solução; a grande rede está ainda entre nós, sabendo muito mais de nós do que nós sabemos dela - apenas parece que as pessoas perderam o interesse em investigá-la. Quatro mitos datando daquela época (que nem é tão remota - muito disso era dito orgulhosamento uns dois anos atrás, e até hoje é possível achar gente descompassada com seu próprio tempo, falando isso aos quatro ventos em seus blogs e achando que estão sendo super-revolucionários), em nenhuma ordem em particular:

1. A Filtragem da Informação

Este é talvez o mais sensato dos quatro, então comecemos por ele. Consiste no seguinte: ao se conceder a chance de "se expressar" para todo e qualquer idiota, tal que todos plugados possam lê-lo, a internet acaba se atulhando de informação incorreta ou não-confirmada. Boatos e calúnias fluindo livremente graças ao anonimato de seus emissores; uma conversa de comadres interplanetária, a rede mundial da fofoca; um oceano de ruído onde com muito esforço se distingue um ou outro barco de texto relevante e responsável. Como resultado, as pessoas precisariam de grandes corporações de mídia para filtrar toda essa informação, para achar o que vale a pena nela e validá-la com a publicação. Esta colocação também podia ser lida da maneira inversa: o papel no futuro dos media conglomerates se reduziria à mera filtragem do que já está disponível na internet. Vista de hoje, qualquer profecia do fim da mídia impressa ou dos grandes jornais e redes de TV soa ridícula. Veja-se a cobertura do ataque terrorista em 2001: quando a coisa foi para valer, as pessoas desligaram seus computadores e sentaram em volta da televisão. Só depois, quando a poeira estava baixando, ou quando a televisão dava uma pequena pausa no assunto, é que os computadores voltavam a ser ligados e descobria-se todos aqueles blogs discursando longamente sobre o que estava acontecendo, os grandes portais com sua cobertura minuto-a-minuto a que ninguém deu muita bola. A grande mídia, inclusive a impressa, continuará cumprindo seu papel indispensável na sociedade, apesar da internet; ela terá, no máximo, que se acomodar como o rádio se acomodou à televisão, ou talvez algo ainda menos drástico.

Mas a grande falha no exposto acima é que se supõe uma capacidade fabulosa de se gerar informação na internet, mas se desconsidera o potencial da mesma de filtrar seu próprio conteúdo. O que se observa, pelo contrário, é a formação de redes de filtragem de informação, consumindo, como um todo, quase tanta energia e tráfego quanto a produção e publicação do conteúdo. Não é por acaso que a história da memética se entrelaça com a história das comunidades virtuais (aliás, eu li certa vez em um fórum que ser um trans-humanista é como ser um smurf, só que você fala 'meme' ao invés de 'smurf' o tempo todo. Além disso, você não é azul.). Pega-se os sites com objetivo exclusivo de divulgar links (fark.com, metafilter.com, memepool.com , para ficar entre os mais conhecidos); soma-se a eles os grandes fóruns, como a slashdot.org e a plastic.com, que dependem maciçamente dos links postados por seus usuários; muitos blogs, descobre-se em seguida, filtram links da mesma forma, só que em menor escala (os blogs, ao contrário do que muitos pensam, começaram no formato link + comentário, e só depois foram usados como diários virtuais) - para não falar nos newsgroups, nas listas de discussão e no bom e velho boca a boca via e-mail e instant messengers, que são, junto com os blogs, onde a maior parte da ação ocorre. Entre uma página ser descoberta por um visitante anônimo e se tornar, poucos dias ou até poucas horas depois, conhecida de milhões de pessoas em diferentes partes do globo, ela tem que passar por uma teia de filtragem em que, a cada nó, um usuário recebe a informação, verifica se vale a pena passá-la adiante, e a envia (ou não) para os receptores seguintes, que fazem o mesmo. É óbvio que um processo semelhante sempre ocorreu fora da internet, mas ele nunca foi tão evidente, tão rápido, em uma escala tão larga, e tão relevante. O curioso nestas redes é que seu fim é filtrar a informação para ela mesma, ou seja, os usuários que fazem o trabalho de depuração são os que vão se beneficiar dessa informação, ao contrário do que ocorre no modelo mencionado lá em cima, em que uma "caixa-preta" de profissionais faz todo o processo de seleção da informação para então entregá-la, pronta e cheia de segundas intenções, para um público-alvo. Um efeito desse modelo é a maior sinceridade na transmissão de informação, o que não implica, é importante ressaltar, em sinceridade e transparência daquilo que é comunicado: da mesma forma que algumas dessas redes se formam pelo interesse comum em se obter, por exemplo, informação confiável e novos pontos-de-vista sobre tecnologia, outras podem se formar em busca de "palavras de sabedoria", correntes de e-mail, e o mais novo boato sobre a procedência sobrenatural dos hambúrgueres do Mcdonalds.

A grande ironia é que muito da informação fluindo por essas redes tem origem na mídia profissional, o que nos dá uma inversão do mito acima: ao invés da informação sendo produzida pelos usuários, para depois ser filtrada por profissionais e então devolvida para os usuários, os usuários mesmos filtram a informação produzida pela grande mídia (e por eles mesmos), devolvendo essa informação filtrada e glosada para eles mesmos no processo. Enquanto isso, as corporações midiáticas tentam desajeitadamente interagir com a internet, copiando textos quase inalterados de blogs e divulgando, com estardalhaço, a última moda do ano passado.


[2,3 e 4 no próximo. São bem mais curtos.]


Adrian Leverkuhn
Brasília, 20/11/2002

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Por que não devemos ter Copa do Mundo no Brasil de Adriana Baggio


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