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Segunda-feira, 5/3/2012
Meus encontros e desencontros com Daniel Piza
Rafael Lima
+ de 6900 Acessos

Em 1999, minha vida era bem chata. Toda semana, eu acordava de madrugada e encarava duas horas e meia de viagem para Macaé, onde passaria os dias seguintes trabalhando. Antes do final da semana, voltava para o Rio, onde, pelo menos teoricamente, usaria o dia extra para terminar meu trabalho de fim de curso, sem o qual não teria o diploma.

Naqueles dias de pouco tempo livre, eu guardava a esperanca de conseguir ler, até o fim, o "Caderno Fim de Semana" da Gazeta Mercantil, editado pelo Daniel Piza. Geralmente, não conseguia, o que não me impedia de insistir e até guardar, anos a fio, os suplementos. Mais do que por qualquer outra coisa, Daniel Piza merece ser lembrado pelo "Fim de Semana", onde sua coluna Sinopse era apenas uma atração marginal.

Data dessa época minha fidelidade ao seu trabalho jornalístico, e também os primeiros contatos com o Julio. Como o Julio, também cheguei a escrever-lhe um e-mail e ter a grata surpresa da resposta; diferente do Julio, nunca insisti na correpondência. Piza tinha se dado ao trabalho de, semanas depois, enviar-me um texto próprio, que citara em sua mensagem ("O Balanco da Contra-cultura", presente no livro Questão de Gosto). Ele era assim, atencioso ao nivel do detalhe com seus leitores ― pelo menos, naquela época.

Nos anos que se seguiram, já como colunista do Digestivo, conheci vários colegas que tiveram contato pessoal com o Daniel Piza. Era algo mais próximo do que um Sérgio Augusto ou um Ivan Lessa, mas era ao mesmo tempo admirado por ter coluna própria na grande imprensa. Nao era um deslumbradinho de jornal paulista com a modernidade, pesava cada novidade conforme seus padrões, mas tinha interesse e curiosidade para sondar. Você lia para concordar ou discordar, não para seguir.

Nunca deixei de acompanhá-lo desde os tempos de Macaé, mas passei a dar menos importância a ele depois de um certo período, mais ou menos quando os blogs passaram a ser notícia de jornal, há uns dez anos. Por quê?

Houve uma clara divisão dos jornalistas mais conhecidos na maneira como reagiram. Diogo Mainardi, Ivan Lessa e muitos poucos defenderam os blogs desde o começo, o primeiro inclusive citando-os em seu podcast, o segundo, escrevendo a apresentação de um livro que colecionava posts impressos. Luís Antônio Giron, Lúcia Guimaraes e Sérgio Augusto e muitos outros se colocaram no campo oposto, desautorizando e desmerecendo o valor dos blogs e, de maneira geral, da confusa interatividade da internet. Hoje em dia Giron é editor de uma revista que comporta inumeros blogs em sua versao virtual e Lúcia tem coluna num jornal onde metade dos colunistas mantem blog, o que demonstra que ou eles odeiam a vida que levam ou que os blogs não eram uma ideia assim tão ruim. E o Daniel Piza, nessa historia? Poderia ter sido o Quixote da interação virtual, com sua experiencia pessoal de internet, que ia de angariar leitores a descobrir ideias novas, mas acabou engrossando o coro dos que achavam aquilo tudo porta de mictório, barbárie com verniz tecnológico.

Há motivos que explicam seu posicionamento, do salário dele ter sido historicamente pago pelos grandes meios de comunicação até um posicionamento que poderia ser taxado de elitista. Nenhum, e nem a soma deles, foi suficiente para me explicar o porquê daquela atitude.

A segunda decepção que Daniel Piza me causou foi quando do lancamento do perfil de Paulo Francis, única oportunidade que tive de trocar umas palavrinhas com ele. O ponto de contato fora Bruno Garschagen, também ex-colunista do Digestivo Cultural. Falamos um pouco sobre Paulo Francis, que na época era objeto de interesse jornalístico do Bruno, fez uma dedicatória e fim de papo. O que mais me surpreendeu foi que eu achava que ele era mais alto, não sei por quê. Li o perfil e escrevi uma notinha no meu blog, algo crítica sobre o livro; dias depois, do nada, pingou uma mensagem na minha caixa vinda do Daniel Piza, com apenas uma linha de texto, onde ele dizia que preferia aquelas criticas, seguida das aspas elogiosas de uns nomes consagrados, que inclusive foram usadas na sobrecapa produzida pela editora para divulgar o perfil.

Fiquei me perguntando o que eu tinha feito de errado para receber atenção tão personalizada assim. Se os blogs não eram importantes, por que ele se dava ao trabalho de me responder? Se eram, porque ele não dizia isso? Se ele era leitor do meu blog, por que nunca tinha me escrito antes? Se não era, passou a ler só porque foi mencionado? O episódio em si terminou até bem: eu disse que achava que o grande problema do livro era perder muito tempo tentando explicar por que e como o Paulo Francis passou da esquerda para a direita; ele concordou que política era um assunto que roubara mais tempo do que deveria dele ― e do Francis.

Em nenhum momento, deixei de ler suas colunas, sempre que a oportunidade se apresentasse ― e quase nunca ela falhava ― para varejar uma dica de cinema aqui, uma entrevista ali; adorava as entrevistas curtas que ele fazia. Parece que ele tinha um certo talento para falar com jogadores de futebol, conseguindo ótimas revelações de Pelé, nos 50 anos da primeira Copa, e Ronaldo, para a revista Trip. Foi um dos poucos que sempre defendeu o talento de Ronaldo, ao longo de toda a carreira, merecendo nota de pesames do próprio, quando do falecimento. Mais recentemente, eu preferia lê-lo quando falava sobre politica, pois era um dos poucos jornalistas que restaram escrevendo consistentemente de um ponto de vista crítico ao governo, junto com Augusto Nunes. Imprensa era para ser oposição, mas o pendor nacional para a conciliação sempre a deixa com cara de armazém de secos e molhados.

Esse, talvez, o motivo último pelo qual Piza não realizou seu destino possível de ter casado internet e imprensa, interatividade e assinatura pessoal, colaboração e remuneração: não sendo possível combinar o que naturalmente viva em competição, escolheu o que lhe dava mais retorno financeiro e em reverência, dentro daquele estabelecimento. Não é possível dizer que não alcançou êxito, ao conseguir viver de jornalismo e ser respeitado pelos leitores.

Mas, para mim, ficou aquém do que poderia.


Rafael Lima
Luanda, 5/3/2012

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