Uma dádiva celestial - Ein musikalisches Opfer | Rafael Azevedo | Digestivo Cultural

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Sexta-feira, 22/6/2001
Uma dádiva celestial - Ein musikalisches Opfer
Rafael Azevedo
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Já no fim de sua vida, ao redor dos sessenta anos de idade, J. S. Bach apreciava uma vida aparentemente calma, desfrutando muito pouco ou quase nada da notoriedade que seu nome tem em nossos dias. Ocasionalmente sua fama de tecladista virtuoso lhe rendia convites e tributos da parte de monarcas e aristocratas mais iluminados. Uma dessas "ocasiões memoráveis" deu-se em 7 de maio de 1747, quando Frederico da Prússia (a.k.a. Friedrich der Große) resolveu convidar Sebastian para um espetáculo ao órgão de sua corte, em Potsdam. Entre outras coisas, Bach tocou uma série de improvisos sobre um tema de autoria do próprio Frederico, ele próprio um músico esforçado; isto provocou uma reação imediatamente favorável tanto da parte do público como do Rei que Bach retornou a Leipzig carregado de presentes. Como retribuição, preparou imediatamente em partitura a primeira desta série de peças baseadas numa melodia de Freddy, dedicadas como "uma oferenda musical" à S. Majestade. A partitura contém diversas anotações com a caligrafia do próprio Bach, tais como "assim como as notas aumentam também a boa fortuna do rei aumente" ou "assim como as modulações sobem seja a fama do nosso monarca exaltada". Algumas peças (7 das 16) contêm flauta em seu arranjo; aparentemente este era o instrumento de escolha do monarca, que o tocava (dizem os registros) com grande habilidade. A música de Bach é fantástica. Tudo se inicia somente com o cravo, tocando a melodia Real, à qual se seguem duas vozes contrapuntísticas, e a partir daí o que Bach faz com a melodia deixa, nalgum ponto obscuro, de ser apenas música - impossível de ser transposto para essas vergonhosas coisas chamadas palavras. Seguem-se sequências fantásticas, experiências harmônicas, trocas de tonalidade enquanto as melodias se cruzam, se perseguem, brincam num semi-uníssono para então desvencilharem-se totalmente umas das outras partindo em rumos diferentes. Você pensa que esse ricercar a 3 voci foi impressionante, até que você ouve o ricercar a 6 (!) voci, que volta a se iniciar somente com a melodia Real, e se desenvolve numa fantástica avalanche até que subitamente seis vozes estão repetindo de maneira incessante melodias fantásticas num só cravo, tocado por, no máximo, duas mãos... Em duas peças, nos dois cânones que precedem a sonata, Bach deixou, intencionalmente a partitura incompleta - deixou de marcar o ponto preciso em que as vozes entram como que "ecoando" a melodia principal, e acrescentou ao lado o comentário "Suchet, so werdet ihr finden" - procure e descobrirás - pois a falta de indicação precisa dá margem a diversas possibilidades contrapuntísticas, mas somente uma será - e Johann Sebastian o sabia - característica de Bach, terá sua "marca registrada". E ainda apesar de minha descrição canhestra e de tudo o que já se escreveu e se disse sobre Bach, esta obra não soa como uma espécie de equação matemática musicada, mas como sentimentos - os mais belos e os mais puros! Pudera nosso mundo limitar-se apenas aos belos campos e às sombreadas colinas de mundo de Bach.
A versão que tenho em meu poder, única que ouvi da Oferenda, é de muito boa qualidade; o sr. Gustav Leonhardt, que tive o prazer de ver num espetáculo único em SP conduz, do cravo solo, toda a patota: os três irmãos Kuijken (Barthold na flauta transversal, Sigiswald no primeiro-violino barroco e Wieland na viola-baixo), a sra. Marie Leonhardt, que toca o segundo-violino barroco e Robert Kohnen no cravo contínuo. Interpretam com um fantástico equilíbrio entre o virtuosismo e a emoção, uma das coisas que mais aprecio sempre que ouço uma boa ensemble de instrumentos de época, essa pequena extravagância de nossos tempos.

Alpinismo literário - pequeno e íngreme lamento
Escalo todo dia vertiginosos Everests, íngremes e frios; não pedi para fazê-lo, e o perigo de despencar cresce a cada segundo.. sem que haja, na verdade, risco algum; o que quer que eu faça, a rotina assumirá meu controle e conduzirá tudo novamente ao ponto de partida. Não tenho nenhum sherpa para me auxiliar na subida, muito menos iaques para carregar os pesos de minha consciência. Acostumei-me já aos cadáveres de meu passado cujos esqueletos encontro congelados durante minha escalada, rodeados de assombrações de meu futuro. Jamais pareço chegar ao seu cume, não importa quanto me esforce; acordo, e estou de volta ao sopé da montanha.
Meu estranhamento com relação a tudo e todos que me cercam é total; luto incessantemente contra a idéia que sou obrigado a aceitar de que sou vivo, de que sou o que sou, queira eu ou não. Estranho, e muito, ter pele, ossos, cabelo, voz, pelos, cheiros, reflexos, sombra, e até pensamentos como este... Sinto-me às vezes como parte integrante dum grande nada pelo qual anseio em voltar, para nele me perder, cessar simplesmente de ser. Machuca-me a desordem dos pensamentos alheios, as vozes dos outros me soam altas demais, me incomodam; estranho tamanho desacordo com a minha confusa mas já conhecida balbúrdia interna. Minha misantropia é total e irrestrita. Paulo Francis dizia preferir livros a pessoas. Eu nem isso. Não me atrai a idéia de "pensar pelos outros", mesmo que estes sejam Tolstoi ou Shakespeare. Prefiro o nada aos dois - o nada dos meus pensamentos e memórias, que passam por mim, e têm vontade própria para fugir de meu alcance quase sempre que os quero. Thinkin' makes nuttin'. As ações e atos, que fazem a vida, são estranhos para mim - falam um idioma que aparentemente não domino. Fico com a inerte solidão de minha mente, só o que tenho, só o que me interessa e o que tanto me atormenta.

"A misantropia é uma terrível moléstia; ela nos faz ver as coisas tais como são."
Abade Mongault

"Os que mais desprezam os misantropos são justamente aqueles por cuja causa os misantropos existem."
J. L. A. Commerson

"A misantropia é a sátira da espécie humana."
Marquês de Maricá



Rafael Azevedo
São Paulo, 22/6/2001

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