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Sexta-feira, 14/3/2008
Pergunte às tartarugas
Tais Laporta
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+ 1 Comentário(s)

Não é sem motivo que o Irã é tão prestigiado nos festivais internacionais de cinema. O país chega a produzir uma média de 70 filmes por ano e está entre os 12 maiores produtores de películas do mundo. É presença quase obrigatória em Cannes, Berlim e Veneza, embora o que chegue por lá seja uma seleção de filmes mais "artísticos", que representam apenas 20% do bolo cinematográfico iraniano. Os outros 80% seguem o padrão Hollywood.

Mas os números acima não explicam, sozinhos, como um país que está no centro dos conflitos que afligem o Oriente Médio é capaz de chamar a atenção para cenários quase sempre distantes da realidade ocidental. Há um crescente interesse pelo trabalho dos diretores iranianos (entre eles Abbas Kiarostami e Mohsen Makhmalbaf), talvez porque eles consigam injetar no circuito comercial filmes produzidos a custos relativamente baixos e, ainda assim, premiadíssimos.

A razão para tantos aplausos pode estar não apenas no choque ocidente/oriente, um chamariz natural. Ainda mais depois dos atentados de 11 de setembro, quando a atenção mundial se voltou para o Oriente, questionando sua cultura, farejando o Islã e associando, erroneamente, a religião muçulmana ao anti-semitismo. Se o atrativo dos filmes iranianos fosse somente o "diferente" ou a temática de guerra, os noticiários já bastariam para saciar essa curiosidade, haja vista a cobertura constante da mídia sobre os conflitos na região.

O que faz o Irã orgulhar-se de seus filmes como produtos de exportação ― ao lado do petróleo e de tapetes suntuosos ― são ingredientes difíceis de copiar, presentes talvez no filme Tartarugas podem voar (Lakposhtha Hâm Parvaz Mikonand, 2004), do curdo-iraniano Bahman Ghobadi, já disponível em DVD. O terceiro longa-metragem do diretor, produzido em parceria com o Iraque, mostra um campo de refugiados curdos, na fronteira entre Irã e Turquia, poucos dias antes da invasão norte-americana ao país de Saddam Hussein. Lá vivem idosos e crianças, entre cabanas e destroços de guerra, cujos parentes foram assassinados pelo regime do ditador iraquiano.

Isolados pela vastidão do território, os refugiados aguardam ansiosos por notícias sobre a possível guerra no país, na esperança de serem libertados da opressão do regime. O único contato com o mundo exterior são as antenas de TV, usadas para sintonizar as notícias internacionais. E quem instala esses equipamentos é um engenhoso menino de 13 anos, apelidado de Satélite (Soran Ebrahim), que ganha respeito e poder entre os curdos ao adquirir uma antena no mercado-negro da região ― a Santa Ifigênia de lá.

Movidos por uma ingenuidade sem tamanho, os habitantes pensam que terão acesso a alguma informação privilegiada sobre a invasão dos EUA no Iraque. A começar, a incompreensão da língua inglesa os impede de entender os noticiários, restritos a palavras indecifráveis e à imagem de um homem chamado George W. Bush. Eles mal sabem o que significa a palavra EUA, o que demonstra um total isolamento e desamparo frente à própria realidade.

Satélite lidera um grupo de crianças mutiladas por minas terrestres, muitas delas sem pernas e braços, e quase todas órfãs de pai e mãe. Elas trabalham para desarmar minas escondidas e vendê-las a comerciantes em troca da sobrevivência. Brincam entre destroços de armas e velhos tanques de guerra. Um zoom mais profundo em três crianças que chegam ao vilarejo ― a garota Agrin (Avaz Latif), de 14 anos, seu irmão sem braços e um bebê cego ― é suficiente para mostrar um passado trágico.

O interessante é que Bahman Ghobadi documenta uma realidade dolorosa com olhos imparciais, colocando atrás da ficção um relato jornalístico, sem perder o tom poético e a tensão típicos de filmes iranianos. Antes de se dirigir como uma crítica política ou social, o filme tem elementos que denunciam, por si só, a situação das minorias étnicas perseguidas no Iraque. Os curdos nunca encontraram seu chão no mundo. São 36 milhões de pessoas espalhadas em países nada receptivos, entre os quais Irã, Iraque, Turquia, Armênia e Síria. O campo de refugiados no filme é uma ínfima parcela desse contingente.

Por terem sido quase dizimados por Saddam, os curdos viam a chegada dos americanos como uma possível salvação. Quando os primeiros aviões se aproximam do refúgio, a população é surpreendida por uma chuva de papéis, cuja mensagem disfarça a dureza de uma guerra. "Dias melhores virão. É o fim da miséria, do infortúnio e da pobreza. Nós somos os seus melhores amigos e irmãos. Os que estão contra nós são nossos inimigos. Faremos deste país um paraíso", anunciam os EUA.

O que se segue à mensagem de paz é um cenário de terror que os filmes ocidentais, por mais que invistam em efeitos especiais, jamais serão capazes de reproduzir. Talvez porque Tartarugas podem voar não se cubra de maquiagens e consiga passar bem longe de um suspense caricato ou forçoso. É um filme com alta carga dramática, capaz de dispensar qualquer artificialidade. Não por acaso venceu o Hugo de Prata na Mostra Internacional de Chicago e levou o prêmio da audiência na Mostra Internacional de São Paulo.

Cinema e jornalismo
A cobertura da guerra no Iraque (e de outros conflitos no Oriente Médio) é fria e habitual, a ponto de não provocar mais reação. Mortes e explosões cansam a vista. Nesse contexto, talvez pelas lentes do cinema iraniano esteja a visão menos distorcida de uma guerra, sob a ótica de quem menos a compreende. É naquilo que o jornalismo se mostra impotente, que filmes como Tartarugas podem voar tiram o espectador da indiferença.


Tais Laporta
São Paulo, 14/3/2008

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14/3/2008
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