Democracia envelhecida | Vitor Nuzzi | Digestivo Cultural

busca | avançada
105 mil/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Cultura Circular: fundo do British Council investe em festivais sustentáveis e colaboração cultural
>>> Construtores com Coletivo Vertigem
>>> Expo. 'Unindo Vozes Contra a Violência de Gênero' no Conselho Federal da OAB
>>> Novo livro de Nélio Silzantov, semifinalista do Jabuti de 2023, aborda geração nos anos 90
>>> PinForPeace realiza visita à Exposição “A Tragédia do Holocausto”
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> Salve Jorge
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Ed Catmull por Jason Calacanis
>>> O cinema brasileiro em 2002
>>> O cinema brasileiro em 2002
>>> O cinema brasileiro em 2002
>>> Conduzinho Miss Maggie
>>> Relações de sangue
>>> Unsigned and independent
>>> Pô, Gostei da Sua Saia
>>> Poesia e inspiração
>>> Painel entalhado em pranchas de cedro *VÍDEO*
Mais Recentes
>>> Lady Killers Profile: Belle Gunness (capa dura) de Harold Schechter pela Darkside (2021)
>>> Ressureição (capa dura) de Liev Tolstói pela Companhia Das Letras (2020)
>>> Reino Das Bruxas: Natureza Sombria (capa dura) de Kerri Maniscalco pela Darkside (2023)
>>> Reino Das Bruxas: Irmandade Mistica (capa dura) de Kerri Maniscalco pela Darkside (2022)
>>> O Rei De Amarelo. Edicao Definitiva (capa dura) de Robert W. Chambers pela Darkside (2023)
>>> Pinoquio - Wood Edition (capa dura) de Carlo Collodi pela Darkside (2024)
>>> O viajante do tempo de R.L. Stine pela Ediouro (1985)
>>> Corrida ao passado de Megan Stine e H. William Stine pela Ediouro (1985)
>>> Terror no Museu Mal-Assombrado de R.L. Stine pela Ediouro (1985)
>>> Discurso Sobre A Servidão Voluntária de Étienne De La Boétie pela Folha De S.Paulo (2021)
>>> Missão de Espionagem de Ruth Glick e Eileen Buckholtz pela Ediouro (1985)
>>> Voz Do Silencio, A - Colecao Dialogo de Giselda Laporta Nicolelis pela Scipione (paradidaticos)
>>> A Vingança Do Poderoso Chefão de Mark Winegardener pela Record (2009)
>>> Os Homens Que Nao Amavam As Mulheres de Stieg Larsson pela Companhia Das Letras (2008)
>>> Expedição a "Vernico 5" de Megan Stine e H. William Stine pela Ediouro (1985)
>>> Humor E Crítica de Luiz Gama pela Folha De S.Paulo (2021)
>>> Clínica de identificação de Clara Cruglak pela Companhia de Freud (2001)
>>> Inovação Como Rotina. Como Ajudar Seus Colaboradores A Transformar Ideias Criativas Em Realidade de Paddy Miller pela Mbooks (2013)
>>> Discurso Sobre A Servidão Voluntária de Étienne De La Boétie pela Folha De S.Paulo (2021)
>>> Neuroses Atuais E Patologias Da Atualidade de Paulo Ritter pela Pearson (2017)
>>> Manual De Medicina De Família E Comunidade de Ian R. McWhinney; Thomas Freeman pela Artmed (2010)
>>> Padrões De Cultura de Ruth Benedict pela Folha De S. Paulo (2021)
>>> Diário De Pilar No Egito de Flavia Lins E Silva pela Pequena Zahar - Jorge Zahar (2014)
>>> Clarice, Uma Biografia de Benjamin Moser pela Cosac & Naify (2013)
>>> Auditoria Fácil - Série Fácil de Osni Moura Ribeiro; Juliana Moura pela Saraiva (2013)
COLUNAS >>> Especial Eleições 2006

Sexta-feira, 20/10/2006
Democracia envelhecida
Vitor Nuzzi
+ de 5300 Acessos
+ 5 Comentário(s)

A primeira eleição presidencial direta pós-64 foi a de 1989. Poderia ter sido antes, caso a emenda Dante de Oliveira tivesse passado no Congresso, em 1984. Faltaram 22 votos. Enquanto multidões se esgoelavam pelas ruas do país - eu no meio delas, em dois comícios -, no grande movimento que ganhou o nome de Diretas Já, um acordo era tramado nos idos do governo militar, para que tivéssemos ainda mais uma escolha pelo colégio eleitoral, indireto, dessa vez entre dois civis, Tancredo Neves e Paulo Maluf. Tancredo ganhou, morreu antes de tomar posse, assumiu José Sarney - na época representante do antigo regime -, ganhamos o pomposo nome de Nova República, e fomos adiante.

Em 1989, sim, teríamos pela primeira vez em décadas uma eleição direta para presidente. Para quem vinha do bipartidarismo, candidatos não faltavam: Aureliano Chaves, Fernando Collor de Mello, Guilherme Afif Domingos, Leonel Brizola, Luiz Inácio Lula da Silva, Mário Covas, Paulo Maluf, Ronaldo Caiado, Ulysses Guimarães. Quase tivemos Silvio Santos também na parada, mas a Justiça Eleitoral impugnou a candidatura.

Vieram os debates na TV. Ao contrário do programa insosso de hoje (pelo menos no primeiro turno), em 1989 algum desavisado poderia pensar que assistia a uma mesa-redonda de futebol, tamanho era o bate-boca entre alguns dos participantes. Na minha memória ficaram célebres os embates entre Brizola e Maluf, o primeiro chamando o segundo de "filhote da ditadura", e o segundo, nervoso como raramente se via, chamando o oponente de "desequilibrado". Outra polêmica célebre, embora não tenha surgido em debate, foi entre Ulysses e Collor, que chamou o adversário de "velho". A resposta foi clássica: "Posso ser velho, mas não sou velhaco".

Eram candidatos para todos os gostos e de todas as colorações ideológicas. Collor e Lula foram para o segundo turno, depois de uma disputa voto a voto pelo segundo lugar entre Lula e Brizola - que deu ao adversário, e depois aliado, a alcunha, até hoje lembrada, de "sapo barbudo". Brizola, Covas e Ulysses decidiram subir no palanque do petista para o embate com os colloridos. Todos sabemos como a história acabou: o país ficou dividido, Collor ganhou, assumiu em 1990 prometendo matar o tigre da inflação com um só tiro e foi derrubado, via impeachment, no final de 1992. Perdeu os direitos políticos durante anos e voltou agora, como senador eleito. É a regra do jogo.

Mas, pode-se perguntar, por que toda essa digressão, este passeio pelo passado até recente? E a questão é exatamente essa. Quando falo em 1989, tenho a sensação de estar falando de acontecimentos não de 17 anos atrás, mas de outra era, de um tempo remoto. Porque, de lá para cá, parece que trilhamos dezenas de anos - nossa democracia, ainda de espinhas no rosto, parece ter envelhecido precocemente. Havia em 1989 um entusiasmo que não se vê mais, as pessoas demonstram cansaço diante de uma campanha política. Sabíamos quem era quem naquela eleição, enquanto hoje há uma perigosa sensação de que tudo e todos são iguais.

São exatos 125.913.479 eleitores, 51% mulheres, 24% de 25 a 34 anos, 35% com primeiro grau incompleto. Para eles, temos atualmente registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nada menos que 29 partidos. É muita coisa, ainda mais se pensarmos que a maioria deles oferece opções mais comerciais que políticas. Quem sabe as novas regras possam eliminar boa parte desses organismos. Quem sabe isso melhore o perfil de boa parte de nossos políticos. E quem sabe isso também ajude a melhorar a memória do eleitor, já que pesquisas apontam que sete em cada dez esquecem o nome de seus candidatos. Assim, se há maus políticos - e como há! -, existem também maus eleitores.

Motivos não faltam para se queixar deles, os políticos. Mas que tal prestar atenção no que é efetivamente proposta e naquilo que é fofoca? Em 1989, a internet não era sequer uma possibilidade, e se hoje ela nos deu a possibilidade de conhecer no mesmo dia os resultados de uma eleição, também trouxe o perigo da multiplicação da maledicência. Circulam na internet mensagens sobre supostos fatos deste ou daquele candidato, informações muitas vezes falsas, que vão se espalhando pela inércia e são tidas como verdadeiras, porque grande parte das pessoas não se preocupa em verificar a sua procedência. Ou preferem acreditar naquilo que lhes é mais conveniente. "Não existe opinião pública, existe opinião publicada" (frase atribuída a Winston Churchill).

Quem nasceu em 1989 tem hoje 17 anos. Votaram ou votarão, se quiserem (para eles, o voto é opcional) pela primeira vez. Segundo o TSE, os jovens de 17 anos somam 1,99 milhão e representam 1,58% do eleitorado. Os de 16 anos, para quem o voto também é facultativo, são 1,09 milhão (0,87% do total). Essa geração estava nascendo quando o país voltou às urnas para escolher o seu presidente. Eles sequer testemunharam as esperanças das pessoas que foram às ruas em 1984, acreditando que poderiam mudar o rumo dos acontecimentos. Não mudaram, mas entraram para a história do mesmo jeito. A política certamente não é um jogo de damas - nem de cavalheiros -, mas ignorar o que acontece nos palácios, no Congresso, nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras Municipais é o primeiro passo para estimular a mediocridade e perpetuar o nosso atraso.


Vitor Nuzzi
Rio de Janeiro, 20/10/2006

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Freud segundo Zweig de Ricardo de Mattos
02. Seleção, que sufoco de Adriana Baggio
03. Meus álbuns: '00 - '09 ― Pt. 1 de Rafael Fernandes
04. Os Axiomas Populares de Thom Yorke de Daniel Aurelio


Mais Vitor Nuzzi
Mais Acessadas de Vitor Nuzzi em 2006
01. Boa nova: o semi-inédito CD de Chico - 2/5/2006
02. Um imenso Big Brother - 6/2/2006
03. Os 40 anos de A Banda versus Disparada - 30/10/2006
04. Outra palavra, da cidade Coração - 11/4/2006
05. Democracia envelhecida - 20/10/2006


Mais Especial Eleições 2006
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
20/10/2006
03h19min
A democracia não envelheceu. O que acontece é que política é um assunto enfadonho e faz com que as pessoas interessadas soem levemente cansativas. Políticos são, por necessidade, mentirosos e inescrupulosos, e sobrevivem apenas porque os crédulos e os ingênuos não desistem deles. Hoje, graças a Internet, por exemplo, as pessoas estão interessadas em outras coisas mais legais.
[Leia outros Comentários de Guga Schultze]
20/10/2006
16h36min
Política é um assunto enfadonho para quem acha política um assunto enfadonho. Credulidade e ingenuidade é achar que "outras coisas" são legais e lavar as mãos.
[Leia outros Comentários de Vitor Nuzzi]
23/10/2006
09h05min
Talvez possa estar errado, não sei, mas, por uma visão de achismo, penso que o grande problema da democracia é que as pessoas não acreditam mais nela, e não compreendem a diferença de democracia como valor e como processo.
[Leia outros Comentários de Marcelo Telles]
23/10/2006
12h30min
Em minha opinião, a indiferença (à política) é o maior problema do Brasil.
[Leia outros Comentários de Janethe Fontes]
30/10/2006
17h00min
Vitor, lendo os comentários ao seu texto, fiquei um tanto confusa. Aos politicos inescrupulosos é bem interessante que a maioria continue achando política chata e se afaste cada vez mais do cenário político. Mas é meio sem sentido usar Internet em oposição a política. Será que alguém aí já notou que entre os muitos usos da Internet, política é sem dúvida alguma um deles? Outra coisa que me intriga é essa história de estarem cansados de democracia... Quer dizer que o brasileiro está pronto pra outra ditadura? Tem outra alternativa? Talvez quando as pessoas se tocarem de que fazemos política todos os dias, de várias maneiras, a coisa fique menos chata. Eu, por minha parte, como você continuo gostando um bocado de democracia, e de política.
[Leia outros Comentários de Selma Vital]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Minutos de Oração para a Mulher de Fé
Stormie Omartian
Mundo Cristão
(2011)



Livro Gibis Nana Volume 7
Ai Yazawa
Jbc
(1999)



Câncer, Vida e Sensualidade
Lourdinha Borges
Bandeirantes



O Tamanho do Céu
Thrity Umrigar
Nova Fronteira
(2009)



Rio Liberdade
Werner Zotz
Nordica



Hotel Paradise
Martha Grimes
Record
(1999)



Pego em Flagrante
José Carlos S. Moraes
Ftd
(1998)



A Revolução dos Campeões
Roberto Shinyashiki
Gente
(1996)



Livro Ensino de Idiomas Romeo and Juliet
No Fear Shakespeare
Sparknotes
(2003)



Máquinas velozes
Shane nagle
Girassol
(2008)





busca | avançada
105 mil/dia
2,0 milhão/mês