Os 40 anos de A Banda versus Disparada | Vitor Nuzzi | Digestivo Cultural

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Segunda-feira, 30/10/2006
Os 40 anos de A Banda versus Disparada
Vitor Nuzzi
+ de 5500 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Encerrada a apuração, a classificação ficou assim: 5º lugar, "Ensaio Geral". Em 4º, "Canção de não Cantar". O 3º ficou com "Canção para Maria", enquanto o 2º foi para "De Amor ou Paz". Os candidatos eram gente como Caetano Veloso, Carlos Lyra, Capinan, Edu Lobo, Gianfrancesco Guarnieri, Gilberto Gil, Luís Carlos Paraná, Maysa, Ruy Guerra. E os votos foram apurados em quatro turnos, sendo três eliminatórios.

Eram mesmo outros tempos. "Éramos felizes. E sabíamos", diz o cantor Jair Rodrigues. 29 de outubro de 2006 marca os 40 anos de um acontecimento especial para a música brasileira - com direito, inclusive, a votação. Em 29 de outubro de 1966, um sábado, a TV Record promovia uma festa para reunir os vencedores do II Festival da MPB, realizado no teatro da emissora na rua da Consolação, em São Paulo, e encerrado no dia 10 daquele mês, com duas músicas empatadas no primeiro lugar: "A Banda", de Chico Buarque, e "Disparada", de Geraldo Vandré e Theo de Barros. Uma disputa que paralisou a cidade como uma final de Copa do Mundo. "Quem tinha um ingresso para a final era considerado um sortudo", lembra o crítico e produtor Zuza Homem de Mello, autor do livro A Era dos Festivais - Uma Parábola, que como engenheiro de som viveu todo aquele clima de perto.

Estava nascendo ali toda uma geração de talentos que até hoje apresenta as suas canções. Os então novatos e hoje sessentões Caetano e Chico, por exemplo, lançaram discos neste ano. E os festivais se tornaram um dos principais canais de expressão daquela safra, que também ia sendo descoberta em diversos programas musicais na televisão - um filão que a TV descobriu no início dos anos 60. Com o tempo, também, os festivais involuntariamente se tornaram uma válvula de escape para uma juventude que foi se sentindo sufocada com os rumos do golpe de 1964. Em fevereiro de 1966, o governo editou o Ato Institucional (AI) 3, estabelecendo eleições indiretas para governadores, que indicariam os prefeitos das capitais (as eleições indiretas para presidente já haviam sido estabelecidas no final de 1965).

Isso ficaria mais evidente em 1968, ano em que o regime se fechou definitivamente - veio o AI-5, em 13 de dezembro, Caetano e Gil foram presos, Vandré deixaria o país no início de 1969, Chico seguiria o mesmo caminho. "Embora houvesse uma preocupação dos militares em relação à cultura de esquerda, muito forte na classe média universitária, até 1968 essa preocupação não implicou numa repressão ou censura sistematizada, por parte dos aparelhos de Estado, até porque essa cultura era lida pelos militares como arroubos juvenis da classe média, que no geral apoiava o regime. A questão central é que o regime começou a perder o apoio de parte da classe média em 1968, e os jovens se radicalizaram na direção da luta armada. Nesse momento, a cultura de esquerda rompeu os limites da contestação dentro do mercado de espetáculos e passou a fornecer as bases simbólicas e identitárias de uma ação política efetiva", observa Marcos Napolitano, professor de História na Universidade de São Paulo (USP) e doutor em História Social, com pesquisa em MPB.

Tempos depois, o governo tentaria usar festivais como propaganda a seu favor, mas isso já é outra história. Voltemos a 1966. As três eliminatórias foram realizadas em 27 e 28 de setembro e em 1º de outubro, com 36 músicas finalistas, selecionadas entre nada menos que 2.635 inscritas. "O melhor dos prêmios, porém, foi encontrado não na soma das notas do júri, mas nas ruas, nos colégios, no assovio do leiteiro, nas conversas de esquina, nas manchetes dos jornais, em toda uma cidade que cantava e vivia uma coisa nova", escreveu o produtor Solano Ribeiro na contracapa do LP Viva o Festival da Música Popular Brasileira. A final, com apenas 12 composições, ficou para a noite de segunda-feira, 10 de outubro. "A expectativa era tão grande que alguns cinemas e teatros chegaram a suspender suas sessões acreditando que não haveria viva alma para assisti-las naquela segunda-feira", escreveu Zuza.

"A Banda" foi interpretada por Nara Leão e "Disparada", por Jair Rodrigues - o que não deixou de ser surpresa, já que o intérprete era mais conhecido como sambista. Mas Jair imortalizou a música composta em duas ou três noites por Vandré e Theo. A letra original era ainda mais longa. "Canção para Maria", do jovem Paulinho da Viola e de Capinan, foi interpretada também por Jair, enquanto "De Amor ou Paz" (Adauto Santos e Luís Carlos Paraná) foi ouvida na voz de Elza Soares. Elis Regina defendeu a quinta colocada, "Ensaio Geral", de Gilberto Gil, e "Canção de não Cantar" (Sérgio Bittencourt) ficou sob a responsabilidade dos rapazes do MPB 4.

A decisão sobre a canção vencedora foi um caso à parte e tornou-se uma das mais famosas polêmicas da MPB. Em seu livro, Zuza revelou que "A Banda" teve sete votos, contra cinco dados à "Disparada" - mas, ainda nos bastidores, Chico Buarque não aceitou receber o prêmio sozinho. As duas foram, então, consideradas campeãs. Resultado justo para duas belas canções (mas este colaborador, se fosse jurado, votaria na épica "Disparada"). Final feliz para uma geração musical que estava apenas começando.

Post Scriptum
Já que o assunto é festival, lembremos aqui do maestro e arranjador Rogério Duprat, que morreu no último dia 26 e navegou com maestria (com o perdão do trocadilho) entre o erudito e a vanguarda.


Vitor Nuzzi
Rio de Janeiro, 30/10/2006

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
4/11/2006
18h08min
Maravilhoso. Ler e recordar sobre uma época que eu tive o privilégio e a sorte de viver. A gente era feliz e sabia... Agradeço por esse texto lindo. Marilena
[Leia outros Comentários de Marilena Cavalheiro]
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