Democracia envelhecida | Vitor Nuzzi | Digestivo Cultural

busca | avançada
77175 visitas/dia
2,4 milhões/mês
Mais Recentes
>>> “Sobre Viagens”: Pesquisadora lança livro sobre narrativas de viagem e seus impactos
>>> Elas Publicam chega a Recife para sua 7ª edição no dia 26 de abril
>>> Colóquio Nacional: Arte Sacra Brasileira – 'Da Colônia ao Império'
>>> 12 caminhos na Galeria Jacques Ardies
>>> Sax Bem Temperado’ abre nova temporada do projeto 'Clássicos em Cena' em Itapira
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
Colunistas
Últimos Posts
>>> O concerto para dois pianos de Poulenc
>>> Professor HOC sobre o cessar-fogo (2025)
>>> Suicide Blonde (1997)
>>> Love In An Elevator (1997)
>>> Ratamahatta (1996)
>>> Santo Agostinho para o hoje
>>> Uma história da Empiricus (2025)
>>> Professor HOC sobre Trump e Zelensky
>>> All-In com John e Patrick Collison (2025)
>>> Jakurski, Stuhlberger e Xavier (2025)
Últimos Posts
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
>>> Editora lança guia para descomplicar vida moderna
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Quando se está triste
>>> O difícil diálogo
>>> Felicidade (extra)conjugal
>>> A ilha do Dr Moreau, de H. G. Wells
>>> Trágico e Cômico, o debate
>>> Vá ao teatro, mas não me leve
>>> People, Hell & Angels
>>> Dalton Trevisan revisitado
>>> Escrever para não morrer
>>> Baudolino e a obra aberta de Eco
Mais Recentes
>>> Finanças Públicas da Contabilidade Criativa Ao Resgate Da Credibilidade de Felipe Salto e Mansueto Almeida pela Record (2016)
>>> Vale Tudo: O Som e a Fúria de Tim Maia de Nelson Motta pela Ponto de Leitura / Objetiva (2011)
>>> Livro O Derose Method E A Administração Do Tempo de Joris Marengo pela Marengo (1956)
>>> Livro Apócrifos Os Proscritos Da Bíblia de Maria Helena de Oliveira Tricca pela Mercuryo (1992)
>>> Antunes Filho - Poeta da Cena de Emidio Luisi e Sebastião Milaré pela SescSP (2010)
>>> Livro Como Criar o Cão Perfeito Desde Filhotinho de Cesar Millan, Melissa Jo Peltier pela Agir (2012)
>>> Meus Sentimentos,eu de Lynda Madaras e Area Madaras pela Marco Zero (1996)
>>> Cobra Norato e Outros Poemas de Raul Bopp pela Civilização Brasileira (1984)
>>> Anjos Cabalísticos de Monica Buonfiglio pela Da Autora (1993)
>>> Violenta de Eduardo Ruiz pela Quatro Cantos (2012)
>>> Avaliação Psicológica Contexto Escolar E Educacional de Org. Claudio Simon Hutz e outros pela Artmed (2022)
>>> The Failure Of Capitalist Production de Andrew Kliman pela Pluto Press (2011)
>>> Livro O Grande Conflito Uma Saga Milenar e Seu Final Surpreendente de Ellen G White pela Casa Publicadora Brasileira (2022)
>>> Meu Coracão De Pedra-pomes de Juliana Frank pela Companhia Das Letras (2013)
>>> Lincoln: Esse Desconhecido de Dale Carnegie pela Nacional (1977)
>>> 3 Livros do Club Penguin: Antes do Dojo + O Aprendiz de Inventor + A Grande Expedição dos Puffles de Disney pela Melhoramentos (2013)
>>> Livro O Homem Mais Inteligente Da História de Augusto Cury pela Sextante (2016)
>>> Illustrating Fashion - Concept to Creation de Steven Stipelman pela Fairchild (1999)
>>> Livro Altos Voos e Quedas Livres de Julian Barnes pela Rocco (2014)
>>> Livro Jorge Um Brasileiro de Oswald França pela Oswald França (1967)
>>> O Nó Econômico de Reinaldo Gonçalves pela Record (2003)
>>> Livro Rebeliões Da Senzala Coleção A Questão Social No Brasil 6 de Clovis Moura pela Ciências Humanas (1981)
>>> Sob Masoch de Flávio Braga pela Best Seller (2006)
>>> As Dez Mentiras Da Globalização de Gerald Boxberger E Harald Klimenta pela Aquariana (1999)
>>> Livro Medo da Vida Caminhos da Realização Pessoal Pela Vitória Sobre o Medo de Alexander Lowen pela Summus (1986)
COLUNAS >>> Especial Eleições 2006

Sexta-feira, 20/10/2006
Democracia envelhecida
Vitor Nuzzi
+ de 5600 Acessos
+ 5 Comentário(s)

A primeira eleição presidencial direta pós-64 foi a de 1989. Poderia ter sido antes, caso a emenda Dante de Oliveira tivesse passado no Congresso, em 1984. Faltaram 22 votos. Enquanto multidões se esgoelavam pelas ruas do país - eu no meio delas, em dois comícios -, no grande movimento que ganhou o nome de Diretas Já, um acordo era tramado nos idos do governo militar, para que tivéssemos ainda mais uma escolha pelo colégio eleitoral, indireto, dessa vez entre dois civis, Tancredo Neves e Paulo Maluf. Tancredo ganhou, morreu antes de tomar posse, assumiu José Sarney - na época representante do antigo regime -, ganhamos o pomposo nome de Nova República, e fomos adiante.

Em 1989, sim, teríamos pela primeira vez em décadas uma eleição direta para presidente. Para quem vinha do bipartidarismo, candidatos não faltavam: Aureliano Chaves, Fernando Collor de Mello, Guilherme Afif Domingos, Leonel Brizola, Luiz Inácio Lula da Silva, Mário Covas, Paulo Maluf, Ronaldo Caiado, Ulysses Guimarães. Quase tivemos Silvio Santos também na parada, mas a Justiça Eleitoral impugnou a candidatura.

Vieram os debates na TV. Ao contrário do programa insosso de hoje (pelo menos no primeiro turno), em 1989 algum desavisado poderia pensar que assistia a uma mesa-redonda de futebol, tamanho era o bate-boca entre alguns dos participantes. Na minha memória ficaram célebres os embates entre Brizola e Maluf, o primeiro chamando o segundo de "filhote da ditadura", e o segundo, nervoso como raramente se via, chamando o oponente de "desequilibrado". Outra polêmica célebre, embora não tenha surgido em debate, foi entre Ulysses e Collor, que chamou o adversário de "velho". A resposta foi clássica: "Posso ser velho, mas não sou velhaco".

Eram candidatos para todos os gostos e de todas as colorações ideológicas. Collor e Lula foram para o segundo turno, depois de uma disputa voto a voto pelo segundo lugar entre Lula e Brizola - que deu ao adversário, e depois aliado, a alcunha, até hoje lembrada, de "sapo barbudo". Brizola, Covas e Ulysses decidiram subir no palanque do petista para o embate com os colloridos. Todos sabemos como a história acabou: o país ficou dividido, Collor ganhou, assumiu em 1990 prometendo matar o tigre da inflação com um só tiro e foi derrubado, via impeachment, no final de 1992. Perdeu os direitos políticos durante anos e voltou agora, como senador eleito. É a regra do jogo.

Mas, pode-se perguntar, por que toda essa digressão, este passeio pelo passado até recente? E a questão é exatamente essa. Quando falo em 1989, tenho a sensação de estar falando de acontecimentos não de 17 anos atrás, mas de outra era, de um tempo remoto. Porque, de lá para cá, parece que trilhamos dezenas de anos - nossa democracia, ainda de espinhas no rosto, parece ter envelhecido precocemente. Havia em 1989 um entusiasmo que não se vê mais, as pessoas demonstram cansaço diante de uma campanha política. Sabíamos quem era quem naquela eleição, enquanto hoje há uma perigosa sensação de que tudo e todos são iguais.

São exatos 125.913.479 eleitores, 51% mulheres, 24% de 25 a 34 anos, 35% com primeiro grau incompleto. Para eles, temos atualmente registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nada menos que 29 partidos. É muita coisa, ainda mais se pensarmos que a maioria deles oferece opções mais comerciais que políticas. Quem sabe as novas regras possam eliminar boa parte desses organismos. Quem sabe isso melhore o perfil de boa parte de nossos políticos. E quem sabe isso também ajude a melhorar a memória do eleitor, já que pesquisas apontam que sete em cada dez esquecem o nome de seus candidatos. Assim, se há maus políticos - e como há! -, existem também maus eleitores.

Motivos não faltam para se queixar deles, os políticos. Mas que tal prestar atenção no que é efetivamente proposta e naquilo que é fofoca? Em 1989, a internet não era sequer uma possibilidade, e se hoje ela nos deu a possibilidade de conhecer no mesmo dia os resultados de uma eleição, também trouxe o perigo da multiplicação da maledicência. Circulam na internet mensagens sobre supostos fatos deste ou daquele candidato, informações muitas vezes falsas, que vão se espalhando pela inércia e são tidas como verdadeiras, porque grande parte das pessoas não se preocupa em verificar a sua procedência. Ou preferem acreditar naquilo que lhes é mais conveniente. "Não existe opinião pública, existe opinião publicada" (frase atribuída a Winston Churchill).

Quem nasceu em 1989 tem hoje 17 anos. Votaram ou votarão, se quiserem (para eles, o voto é opcional) pela primeira vez. Segundo o TSE, os jovens de 17 anos somam 1,99 milhão e representam 1,58% do eleitorado. Os de 16 anos, para quem o voto também é facultativo, são 1,09 milhão (0,87% do total). Essa geração estava nascendo quando o país voltou às urnas para escolher o seu presidente. Eles sequer testemunharam as esperanças das pessoas que foram às ruas em 1984, acreditando que poderiam mudar o rumo dos acontecimentos. Não mudaram, mas entraram para a história do mesmo jeito. A política certamente não é um jogo de damas - nem de cavalheiros -, mas ignorar o que acontece nos palácios, no Congresso, nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras Municipais é o primeiro passo para estimular a mediocridade e perpetuar o nosso atraso.


Vitor Nuzzi
Rio de Janeiro, 20/10/2006

Mais Vitor Nuzzi
Mais Acessadas de Vitor Nuzzi em 2006
01. Boa nova: o semi-inédito CD de Chico - 2/5/2006
02. Um imenso Big Brother - 6/2/2006
03. Os 40 anos de A Banda versus Disparada - 30/10/2006
04. Outra palavra, da cidade Coração - 11/4/2006
05. Democracia envelhecida - 20/10/2006


Mais Especial Eleições 2006
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
20/10/2006
03h19min
A democracia não envelheceu. O que acontece é que política é um assunto enfadonho e faz com que as pessoas interessadas soem levemente cansativas. Políticos são, por necessidade, mentirosos e inescrupulosos, e sobrevivem apenas porque os crédulos e os ingênuos não desistem deles. Hoje, graças a Internet, por exemplo, as pessoas estão interessadas em outras coisas mais legais.
[Leia outros Comentários de Guga Schultze]
20/10/2006
16h36min
Política é um assunto enfadonho para quem acha política um assunto enfadonho. Credulidade e ingenuidade é achar que "outras coisas" são legais e lavar as mãos.
[Leia outros Comentários de Vitor Nuzzi]
23/10/2006
09h05min
Talvez possa estar errado, não sei, mas, por uma visão de achismo, penso que o grande problema da democracia é que as pessoas não acreditam mais nela, e não compreendem a diferença de democracia como valor e como processo.
[Leia outros Comentários de Marcelo Telles]
23/10/2006
12h30min
Em minha opinião, a indiferença (à política) é o maior problema do Brasil.
[Leia outros Comentários de Janethe Fontes]
30/10/2006
17h00min
Vitor, lendo os comentários ao seu texto, fiquei um tanto confusa. Aos politicos inescrupulosos é bem interessante que a maioria continue achando política chata e se afaste cada vez mais do cenário político. Mas é meio sem sentido usar Internet em oposição a política. Será que alguém aí já notou que entre os muitos usos da Internet, política é sem dúvida alguma um deles? Outra coisa que me intriga é essa história de estarem cansados de democracia... Quer dizer que o brasileiro está pronto pra outra ditadura? Tem outra alternativa? Talvez quando as pessoas se tocarem de que fazemos política todos os dias, de várias maneiras, a coisa fique menos chata. Eu, por minha parte, como você continuo gostando um bocado de democracia, e de política.
[Leia outros Comentários de Selma Vital]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Sistemas de Informação
Emerson de O. Batista
Saraiva
(2004)



Palavras de Amigo
Nereu de Castro Teixeira
Paulinas
(1986)



Evangelho De Lucas
Frei Gilberto Gorgulho
Do Autor
(1973)



Em Cima Daquela Serra
Yara Kono
Companhia das Letras
(2013)



a sátira social de fernão mendes pinto
Rebecca Catz
Prelo
(1978)



Koxuk Xop - Imagem
Ana Alvarenga / Fotógrafas Tikmu un Aldeia Verde
Azougue
(2009)



Livro Administração Primeiros Passos no Comércio Exterior
Sérgio Audician
Do Autor
(1999)



Dinosaur Dream
Dennis Nolan
Aladim
(1994)



Monseigneus Lefebvre O Bispo Rebelde
Jean Anne Chalet
Difel
(1977)



Ansiedade Corporativa - Confissoes Sobre Estresse E Depressao No Trabalho E Na Vida - Serie O Executivo Sincero
Adriano Silva
Rocco
(2015)





busca | avançada
77175 visitas/dia
2,4 milhões/mês