Digestivo nº 80 | Julio Daio Borges | Digestivo Cultural

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DIGESTIVOS

Quarta-feira, 8/5/2002
Digestivo nº 80
Julio Daio Borges
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+ 3 Comentário(s)




Literatura >>> Aos que trazem coragem a este mundo
Tom Wolfe escreveu que Hemingway tinha um ego tão enorme que podia bater com ele na sua cabeça como se fosse uma bexiga de porco. Orson Welles, que dividia com o autor de “O velho e o mar” o gosto pelas touradas e o fascínio pelos toureiros, reconhecia na sua literatura uma admirável mas limitada capacidade de contar histórias. Disputas pessoais e considerações técnicas à parte, a Bertrand Brasil relançou, na última Bienal, “Adeus às armas” (“A farewell to arms”), romance seminal de Ernest Hemingway. A história de amor, tendo como pano de fundo os horrores da Primeira Guerra, sofreu toda sorte de adaptações para o cinema, e é bem provável que todo mundo a conheça pela paixão desenvolvida entre um soldado ferido e uma enfermeira dedicada (motivo ecoado, por exemplo, em “O Paciente Inglês”, de 1996). A leitura do volume, porém, revela um “caso” muito menos açucarado do que toda a cinematografia a respeito faz supor. Impressiona, ao contrário, a frieza e a indiferença que o protagonista desenvolve para sobreviver emocionalmente aos bombardeios, às mortes, às pessoas que vêm e vão. O absurdo de uma guerra que não fazia sentido nem para aqueles que lutavam no front é chocante, mas, surpreendentemente envolvidos pela narrativa convincente de Frederick Henry, vamos aceitando essa realidade e descobrindo como conviver com ela. Mesmo Catherine Barkley, a enfermeira, de quem se poderia esperar um romantismo convencional e exacerbado, encanta justamente por ser quase uma antimulher: não exige falsas demonstrações de sentimento; não objetiva casar-se com Frederick Henry; não se envergonha de aceitar, resignada, o seu papel. Monteiro Lobato, que traduz essa edição, enxergava nos diálogos de Hemingway um modelo. O fato é que o escritor nascido no século XIX continua tendo muito a nos oferecer. Seu adeus não foi, felizmente, para sempre. [Comente esta Nota]
>>> Adeus às armas - Ernest Hemingway - 352 págs. - Bertrand Brasil
 



Música >>> Nada será como antes
Não é todo dia que o Clube da Esquina faz 30 anos. A cantora Vânia Bastos foi atrás da efeméride e preparou um CD em homenagem a aquele pessoal de Minas. Com texto introdutório de Fernando Brant, um dos letristas do Clube, o disco acabou se convertendo no símbolo oficial da passagem destas três décadas. Além do beneplácito de Brant, uma das faixas conta com a participação de Milton Nascimento (o líder do Clube, segundo o encarte), fora algumas fotos do arquivo pessoal de Wagner Tiso e Nivaldo Ornelas. As gravações são quase “a capela”, dada a contenção do piano de Luiz Avellar. O respeito supremo às melodias e às harmonias originais não provocou releituras “modernamente” desagradáveis (como é de praxe), mas também não acrescentou muito ao já conhecido. Talvez fosse esse o desejo dos realizadores: remeter diretamente ao álbum de 1972 e, mais uma vez, reavivar a antiga chama. Ainda que uma Vânia em trajes de gala destoe enormemente do despojamento daqueles dois garotos descalços e estropiados, as lembranças afloram à mente de quem ouve. Havia muita juventude e muito sonho naquelas canções de Lô Borges, Bituca, Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Flávio Venturini e Márcio Borges. Sentimentos que todavia ecoam, embora as novas gerações já estejam surdas (de tanto barulho) para poder escutar. Na música, os mineiros lamentavelmente não tiveram a mesma sorte dos baianos. [Comente esta Nota]
>>> Vânia Bastos canta Clube da Esquina - Abril Music
 



Artes >>> Um pintor do Brasil
Desde o fim de abril (até o fim de maio), a Nova André Galeria expõe 72 telas do pintor cearense, quase octogenário, Aldemir Martins. A mostra tem a curadoria de Carlos von Schmidt e inaugura as instalações da Nova André, numa esquina da rua Estados Unidos. O edifício enfatiza suas linhas de força e de sustentação, através da cor vermelha; coberto de vidro, apostando na transparência, ilumina a vista dos passantes através das obras, emprestando poesia também aos motoristas celerados. A seleta de Aldemir Martins se concentra na produção pós-anos 80, abrangendo, assim, duas décadas da plenitude do artista, que já tem os seus motivos definidos e um traço que não hesita jamais. Em primeiro plano, estão as paisagens praianas, com as cores que lhe são mais caras: o amarelo-alaranjado (do sol), o verde-água (do mar) e o azul-violeta-arroxeado (do céu). As composições têm todas muito brilho e estabilidade (a linha do horizonte se mantém firme, nos conjuntos de dois ou três quadros). Em seguida, para deleite dos visitantes, os impávidos e charmosíssimos gatos. De corpo volumoso, em poses lânguidas ou aristocráticas, apoiando-se em rabos grossos e patinhas delicadas; altamente hipnóticos, principalmente em tons pouco usuais como o cor-de-laranja e o verde-azulado. Destacam-se também os arranjos florais, sugerindo ou combinando-se com frutas, reafirmando o status de Aldemir Martins como o pintor, por excelência, dos trópicos. Aulas grátis, como essa, quase não há. [Comente esta Nota]
>>> Nova André Galeria - Rua Estados Unidos, 2280 - Tel.: 3081-6664
 



Gastronomia >>> O Conselheiro também come (e bebe)
O Nordeste está em São Paulo. Basta circular pelo Largo 13 ou pelo Largo de Pinheiros e constatar: calçadas estreitas e densamente povoadas; sol de rachar o côco; som na caixa e no último volume; lojas de umbanda ou macumba; barracas armadas, comércio a todo vapor – sem mencionar a presença atarracada, muitas vezes afro, o sotaque sonoro e a voz de taboca rachada. Se não houvesse tanta pobreza e miséria em São Paulo, quem já visitou sentiria saudades dos estados do Norte. (Não que lá não haja, mas a poética dessas grandes cidades não se repete nesta metrópole.) Nesse cenário de calor e de vida amontoada, encontra-se o Casa Rainha do Norte: uma mistura de mercearia (ou, para ficar mais chique, “empório”) e restaurante com comidas típicas. Um dos pontos gastronômicos mais simples e singelos desta capital. Fundado e dirigido, há quase duas décadas, por seu Adalberto Elias da Silva e dona Maria das Neves Bezerra, segue administrado por eles e por seus filhos. Cada dia da semana tem o seu prato principal, e o cardápio todo cabe num cartão de visitas. O preço é especialmente baixo (se comparado com a “cena” paulistana), mas condizente com a oferta de churrasquinho grego ali na esquina. Não é definitivamente um local para gastrônomos deslumbrados, mas sim para aficionados e para quem quer fazer “pesquisa” gastronômica séria. Especialidades da casa: Feijão de Corda com Carne de Sol; Cabrito e Mocotó (ou caldo de Mocotó); Baião de Dois com Rabada; Fava com Cabrito; Galinha Caipira e Sarapatel. Porções (ou guarnições) recomendadas: Queijo de Qualho Frito (na Manteiga de Garrafa) e Mandioca (Inhame). Pode ser encomendada, ainda, uma Buchada de Bode completa. Para molhar a goela oferece desde Tubaína até uma coleção de pingas para derrubar Josimar Mello: Marimbondo, Mucuri, Pica Pau (afrodisíaca) e a tal Rainha (da Paraíba). Otávio Augusto, o ator, é também habitué. Afinal, a experiência do Rainha do Norte é única; e inesquecível. [Comente esta Nota]
>>> Casa Rainha do Norte - Rua Paes Leme, 46 - Tel.: 3814-8410
 



Cinema >>> Vindita
Abril Despedaçado, filme de Walter Salles que acaba de estrear, é o mais novo candidato a unanimidade nacional. Devido a uma campanha bem-sucedida pelos festivais de cinema, mundo afora, vem sendo aclamado pela crítica especializada como obra-prima – antes mesmo de passar pelo crivo de um juiz importante: o público. A consagração antecipada, meses antes da estréia, lembra o marketing esmagador da indústria cinematográfica hollywoodiana – embora a temática de Walter Salles seja a regionalista-universalista, fugindo a esquemas fáceis que poderiam, mais imediatamente, conduzi-lo ao mainstream global. Ninguém nega (nem provavelmente o próprio) que ele objetivava o Oscar. Todos os elementos estão lá: a estética terceiro-mundista; os atores brasileiros laureados aqui e ali (Santoro com “Bicho de Sete Cabeças”, Luiz Carlos Vasconcelos com “Eu Tu Eles”, José Dumont com “A Hora da Estrela”); o protagonista-infante; o destino trágico; o final de fazer chorar; a analogia, muito a propósito, com os conflitos étnicos e do Oriente Médio. Juntando a fotografia sem precedentes, o romance água-com-açúcar, o som e a música impactantes, tem-se a receita infalível para o Oscar. Mas Walter Salles foi acusado de lobby; e voltou atrás. Tirando as questões políticas e o coro do “já ganhou”, Abril Despedaçado é um marco, nem que seja técnico, na cinematografia nacional. Será aquele tipo da atração inescapável, sobre a qual cada um fará juízo próprio. Mas não é obra-prima; embora só a posteridade possa, com segurança, afirmar. [Comente esta Nota]
>>> Abril Despedaçado
 

 
Julio Daio Borges
Editor
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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
2/5/2002
12h40min
Não é verdade que a crítica especializada está louvando "Abril", e nem a imprensa cultural de um modo geral. Pelo contrário, há uma certa má vontade em relação ao filme por ele ter chegado com tanto atraso ao país de origem, e se tal má vontade talvez não prejudique as resenhas em si, está prejudicando o tom da cobertura, que vem num tom "antes tarde do que nunca". Não estou "defendendo" o filme, mas o panorama que descrevi é bastante nítido.
[Leia outros Comentários de Sérgio Menezes]
2/5/2002
21h23min
Ouvi pouco sobre o filme antes do lançamento. Cheguei no cinema com meia hora de atraso, culpa do dilúvio que fez com que João Pessoa ficasse debaixo d´água, transformando a cidade num caos aquático. Mas fiquei encantada com o filme. A fotografia é linda; as tiradas do personagem de Ravi (que por sinal é daqui) são muito, mas muito engraçadas; o filme é cheio de simbologias; os movimentos de câmera são ousados, diferentes; a música é envolvente. Pode até ter sido "fabricado" para ganhar prêmios, mas valeu a pena. Quer saber? O que menos me emocionou no filme foi a história em si. Ele é tão rico em imagens, detalhes e metáforas que o conflito entre as duas famílias acaba sendo o pretexto, e não o motivo principal.
[Leia outros Comentários de Adriana]
8/5/2002
09h12min
O filme é bom, está bem feito e não deixa brechas na fotografia, na trilha, nos atores, nem mesmo na linha açucarada do ramance. É bom poder estar aqui para ver essa qualidade do nosso cinema. Quero faroeste caboclo. Quero país retratado.
[Leia outros Comentários de Pompilio]

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