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Quinta-feira, 8/5/2003
Ação e Reação, de Jean Starobinski
Ricardo de Mattos
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Jean Starobinski nasceu em Genebra no dia dezassete de novembro de 1.920. Filho de médicos, formou-se primeiro em Letras pela Universidade de Genebra no ano de 1.941 e posteriormente em Medicina, obtendo doutorado nas duas áreas. É membro de diversas academias e leccionou em não poucas Universidades, como a de Baltimore, Basileia e Genebra. Entre suas obras podemos citar Montesquieu Por Ele Mesmo, Jean Jacques Rousseau: A Transparência e o Obstáculo, Montaigne Em Movimento, A Invenção da Liberdade. Reparo nele uma certa preferência por temas relacionados ao século XVIII. Além destas, escreveu Ação e Reação: Vida e Aventura de um Casal, obra de semântica histórica farta de academicismo; na verdade, é a organização de sua recolha. Tudo o que encontrou sobre o tema acção/ reacção nas ciências naturais, na medicina, na política, na psiquiatria e na crítica, ele trouxe para este livro. É invejável a ordem e o rastreamento de raciocínios que ele faz, pesquisando entre vários autores, filósofos e cientistas o emprego dado aos termos acção e reacção, abrangendo séculos de história. Entretanto, rastrear raciocínios e desvendar a origem das palavras são operações que precisam estar necessariamente vinculadas a algum projecto, para então revelar-se a utilidade delas. Por mais consistente e elaborado que seja o texto, permanece a interrogação relativa à finalidade de todo aquele empenho. O entusiasmo obscureceu o discernimento.

"Acção" é um substantivo derivado do verbo "agir". Este verbo provém do latim agere, cujo significado é empurrar, fazer andar, tocar - fazer um rebanho movimentar-se. A acepção de mover o gado prende o termo ao universo rural e aparenta-o com ager - campo. Exclua-se o movido e mantenha-se a ideia de impulso ou influência. O termo "reacção" é de origem mais recente e presa ao anterior, nascendo nos tratados dos comentaristas medievos de Aristóteles - a física clássica, uma matéria a mais para a investigação dos filósofos, abrangia desde a concepção até o deslocamento dos corpos; por isso, até tarde, "médico" e "físico" designavam o mesmo profissional -, fortalecendo-se entre os escolásticos ingleses e renascentistas italianos até ser coroado por Isaac Newton (1.642/1.727) em sua Terceira Lei do Movimento: "A reacção é sempre contrária e igual à acção, o que quer dizer que as acções de um corpo sobre o outro, e vice-versa, são mutuamente iguais e de direcções contrárias".

Neste livro de Starobinski cuida-se inicialmente dos termos "acção" e "reacção", bem como do fenómeno a envolvê-los. Qual fenómeno? Primeiramente o físico, verificado quando um agente actua sobre um paciente desencadeando um processo que o atinge em retorno. As primeiras reflexões envolviam apenas um agente e um paciente - no lugar de "reacção", empregava-se "paixão" -, porém a maior atenção nas observações mostrou uma resposta deste atingindo, de alguma forma, aquele. Para explicar a existência do fenómeno, foram elaboradas teorias referentes às "potências activas" e "potências passivas" ou ainda, à simpatia e antipatia entre os elementos. Simpatia, antipatia, empatia, patético, patológico: termos todos que têm "pathós" em sua formação, palavra grega cuja nítida definição é muito difícil, visto significar tanto "sentimento" quanto "doença". Se um objecto age sobre outro que reage, então há simpatia entre eles, estava em cada um a possibilidade de agir e reagir entre si. Embora a reacção pareça dependente da acção e secunde-a no tempo, há quem as queira simultâneas, como Kant. Se hoje não prestamos atenção a esta ginástica do raciocínio, lembremos o longo período durante o qual tentava-se entender o movimento do mundo por um primeiro motor imóvel - Deus. Um motor que movia - kinein - sem sofrer uma reacção - no caso, antikinein - por parte do movido. Além de Deus ser este primeiro motor imóvel, é de apontar-se o liame entre as noções de "mobilidade - imperfeição" e "imobilidade - perfeição". Veja-se São Tomás de Aquino:

"5. Daqui se infere ser necessário que o Deus que põe em movimento todas as coisas é imóvel. Com efeito, por ser a primeira causa motora, se Ele mesmo fosse movido, sê-lo-ia ou por si mesmo ou por outro. Ora, Deus não pode ser posto em movimento por outra causa motora, pois neste caso haveria uma outra causa anterior a Ele, com o que não seria Ele a causa motora. Se fosse movido por si mesmo, teoricamente isto poderia ocorrer de duas maneiras: ou sendo Deus, sob o mesmo aspecto, causa e efeito ao mesmo tempo, ou sendo Ele, sob um aspecto, causa de si mesmo, e, sob outro, efeito.

Ora, a primeira hipótese não pode ocorrer, pois tudo o que é movido está em potência, ao passo que o que move está em ato (na qualidade de causa motora). Se Deus fosse sob um e mesmo aspecto causa e efeito ao mesmo tempo, seria necessariamente potência e ato sob o mesmo aspecto e ao mesmo tempo, o que é impossível.

Tampouco pode-se verificar a segunda hipótese acima apontada. Pois, se Deus fosse sob um aspecto causa motora, e sob outro efeito movido, já não seria a primeira causa em virtude de si mesmo. Ora, o que é por si mesmo, é anterior ao que não o é. Logo, é necessário que a primeira causa motora seja totalmente imóvel
".

Starobinski efectua uma meticulosa demonstração do raciocínio e emprego dos termos pelos filósofos franceses setecentistas, concentrando-se em Diderot. Este, assim como Rousseau e Voltaire, reservava um lugar para esta matéria em suas especulações, pois ainda em seu século os filósofos interessavam-se pela compreensão do mundo como um todo. Rousseau possuía um interesse pela botânica a ultrapassar o amadorismo. Voltaire compartilhou com Madame du Châtelet, no exílio provocado pelas Cartas Inglesas, o gosto pelas ciências experimentais, existindo até um laboratório no castelo de Cirey. Nos escritos de Diderot, grassam os termos químicos, pois químico também pretendia-se, porém denunciam um conhecimento predominantemente teórico. Exemplo disso foi seu debate com Rousseau sobre a inerência ou não do movimento à matéria. Rousseau considerava a matéria inerte por si, dependendo seu movimento de uma causa superior - Deus - ou, permanecendo fiel à terminologia, o movimento dos corpos seria uma reacção a uma acção proveniente de um ser superior. Diderot defendia a possibilidade de mover-se como característica da matéria, e para defender sua posição, elabora um pensamento a beirar o tortuoso, partindo da levedura e da fermentação para alcançar os distúrbios do sistema nervoso. Por trás dos discursos destes dois filósofos, há a defesa do dualismo por um - Deus está fora do mundo - e do panteísmo por outro - Deus está no mundo e em cada coisa. O autor do livro comentado exaure-se ao seguir os passos do filósofo devido ao seu interesse pelo duo acção/reacção que nesta pesquisa específica deve ter recebido um vigoroso alento. Sua consideração é terminológica; um físico ou químico modernos talvez não manifestem grande interesse pelo trato dispensado. Em todo o volume, Albert Eistein é mencionado uma vez.

Observe-se a fidelidade cega do estudioso ao tema. Tantos filósofos abordados escreveram obras importantíssimas, divisoras d'águas no caso de Descartes, ou no mínimo importantes para as respectivas épocas. Starobinski, contudo, segue procurando aqui e ali onde aparecem as palavras "acção" e "reacção", bom como o sentido do emprego. Deve ter perdido noites de sono querendo determinar o significado dos termos para Buffon, mas não apresenta uma destinação a estes estudos todos.

Não é uma obra de divulgação, mas de investigação. Exige um conhecimento prévio das matérias tratadas, bem como deve o leitor saber de quem se fala. Nada apresenta de tortuoso, é um texto claro e o interesse aumenta no capítulo VII, quando a política e a filosofia do século XIX são estudadas. Entretanto, voltarei ao livro apenas quando quiser caprichar na forma de uma pesquisa.

Para ir além






Ricardo de Mattos
Taubaté, 8/5/2003

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