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COLUNAS

Segunda-feira, 6/12/2004
Como ser uma webcelebridade
Andréa Trompczynski
+ de 8600 Acessos
+ 4 Comentário(s)

"Tudo o que é preciso na vida é ignorância e confiança; depois, o sucesso está garantido"
(Mark Twain)

Tenho em casa uns dez livros de auto-ajuda. A maioria, presentes dados pela minha mãe em épocas perturbadas (devem ser mais de dez). Sim, eu os leio. É uma das minhas leituras favoritas e uma sinistra diversão. A cada capítulo, de qualquer um deles, percebo mais e mais o quanto somos doentes. Um leitor assíduo do Digestivo, em minha coluna anterior, comenta sobre nossa dependência de "drogas" aceitas pela sociedade, algumas práticas comuns entre nós, viciantes, mas que são tidas como normais. Práticas recomendadas e aplaudidas pelos livros mais vendidos de auto-ajuda. Relendo ontem um desses para descansar os olhos de um livro bom (tenho sempre à mão um livro muito bom e um trash, hábito de minha infância, que me fez uma pessoa que gosta de coisas ditas "cultas" da mesma maneira que gosta dos chamados "lixos culturais", não sei bem o porquê), tive ainda mais certeza do meu futuro de ermitã com úlcera estomacal e 72 gatos.

Faço então um rápido manual de como se tornar uma webcelebridade utilizando livros de auto-ajuda. É. Webcelebridade é exatamente isso que você pensou. Esses famosos da internet, que têm grupinhos de seguidores, os blogueiros em geral. Esses mesmos, o nosso novo "é isso que quero ser quando crescer". Darlenes das letras!

Minha primeira dica baseia-se o capítulo dezesseis do Como Conseguir Tudo o Que Você Quer da Vida, da dra. Joyce Brothers: "Todo mundo tem um complexo de inferioridade. As pessoas temem que algum dia alguém descubra a verdade sobre elas, são então suscetíveis à lisonja. Faça mira nos pontos de maior interesse para a pessoa que está sendo elogiada". Caríssimos candidatos a webcelebridades: elogiem o blogueiro do momento. Se ele publicar um livro então, claro que você não precisa lê-lo nem comprá-lo, apesar de mentir que o fez, guarde seu dinheiro para o livro da dra. Joyce -que é melhor negócio- elogie-o escancaradamente enviando um comment, eles suplicam por comments. Não há vaidade que resista. Ele colocará um link para o seu blog e você terá uns dez acessos a mais nesse dia. Não é maravilhoso?

Segunda regra de ouro, capítulo oito, "A Sedução do Cometimento Total": "Está você com disposição de trabalhar duro para vencer? De esforçar-se ao máximo? A sacrificar certos prazeres porque seu tempo e energia devem ser dedicados a um objetivo? Se a resposta é sim, seu alvo íntimo será atingido". Passe o dia em frente ao seu futuro blog de sucesso. Quem precisa de dinheiro perto da realização pessoal de ter uma comunidade fundada por um fã seu no Orkut? Não preste atenção nesses ignorantes que o criticam (ah, esqueci, nunca diga palavras simples como ignorantes, invente algumas mais modernas e raivosas como "neoretardados", você fará moda, como eu cunhei webcelebridade, uau, somos o máximo). Afinal, nossos pais estão aí para vivermos às custas deles, não importa que já tenhamos trinta anos. O importante é o "foco no websucesso" (clap,clap,clap).

Terceira regra, rumo à fama, capítulo onze, "Torne-se uma Pessoa Excepcional": "Podemos nos tornar excepcionais por sabermos mais a respeito de determinado assunto do que qualquer outra pessoa no mundo, ou determinado conjunto de assuntos". Isso lhe dará o poder de humilhar publicamente qualquer um que não saiba aquilo que você sabe. Escolha palavrinhas cáusticas nesse seu post humilhante, citando nomes, sem culpa, pois é alguém que sabe menos que você. Será fascinante ler o que você mesmo escreveu cerca de vinte vezes e deliciar-se com as palavras escolhidas por Aquele Que Sabe, você.

Quarta regra, capítulo nove, "Você e seu Potencial de Sucesso": "Considere-se uma pessoa bem-sucedida, use o poder do pensamento para convencer-se disso, todos os dias". Para tornar-se uma webcelebridade, sinta orgulho ao falar em alto e bom som que você tem um blog de sucesso. Caso não sinta tanto orgulho ainda, fale para sua imagem no espelho durante dez minutos pela manhã que você é um sucesso, aproveitando para treinar olhares malvados e arrogantes, que infelizmente o mundo terá o azar de perder, pois você passará o dia na frente do computador, sozinho (muito bem-acompanhado de você mesmo), atualizando o seu blog de sucesso.

Que é, sim, literatura. Depois de repetir no espelho todas as manhãs, não esqueça, por dez minutos (dependendo do blog, um pouquinho mais não fará mal), ele é literatura.

Faltam apenas 71 gatos, o primeiro chama-se Mingau, é cinza, tem o pelo macio e ronrona no meu colo.

Memorias de mis putas tristes
O novo livro de Garcia Márquez foi o primeiro caso de pirataria denunciado por uma editora. Camelôs vendem as versões nas ruas da Colômbia por US$4. Imagino a multidão que comprou o livro, achando que terá bons momentos de pornografia (terá, pois é a história de um velho de 90 anos que relembra todas as suas mulheres -e Gabo teve muitas em sua própria vida nas quais se inspirou para escrever as "putas"), mas que saberá no fim o que é mesmo literatura.

Fotos de esfomeados em preto-e-branco
Ter uma ONG é um ótimo negócio. Ou todo mundo ficou tão bonzinho de repente? Os governos não precisam pagar direitos trabalhistas para os serviços prestados por ONGs ou OSSIPs, porque não há fiscalização que funcione, a Folha de Londrina tem falado de um boom destas prestando serviços públicos. Além das estrangeiras (Ferréz, na Caros Amigos também escreve sobre o assunto), lembro que no Canadá haviam propagandas caríssimas de ONGs usando imagens da pobreza do Brasil, pedindo contribuições. Crianças pobres, pretas, rodeadas de moscas fazem a publicidade perfeita de uma ONG. Quais são as verdadeiras? Não há muitas maneiras de distinguir umas das outras porque apenas chamar-se ONG parece um visa para a santidade.

Acabe com as suas inibições -através do poder da sua mente interior!, "Auto-hipnose", Leslie M. LeCron
Algo deve funcionar errado em minha mente, claro, porque meu cérebro não se auto-hipnotiza. Meu senso crítico ri amargamente dessas mágicas, como Andy Kaufmann morrendo de câncer e percebendo que o milagre que um suposto curandeiro faria era um engodo, em Man on the Moon do Milos Forman (que tantas e tantas vezes eu vi e verei ainda). Dale Carnegie, que publicou dois best-sellers de auto-ajuda Como Evitar Preocupações e Começar a Viver e Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas (este último meu favorito), conta que reclamava que não tinha sapatos quando viu um homem sem pés e regozijou-se. Mas eu -definitivamente há algo errado comigo- entristeço mais ainda vendo o sem-pés.

Almanaque Sadol
"Pensais honestamente, e por isso odiais o mundo todo. Detestais os crentes porque a fé é um indicador de estupidez e de ignorância; e detestais os descrentes porque não têm fé nem ideal. Odiais os velhos pelas suas mentalidades ultrapassadas, e os novos pelo seu liberalismo."
(Anton Chekhov)


Andréa Trompczynski
São Mateus do Sul, 6/12/2004

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
7/12/2004
02h00min
Ei, Andréa! Eu gosto de blogs, pelo menos do meu. E eu li o Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, que meu recém-saudoso pai me deu quando eu tinha uns 10 anos... mas não sei porque, preferi Nostradamus na época. Assim como preferi os discos do Iron Maiden que eu pedia a ele (passado, passado...). Como o mundo seria lindo se o sr. Carnegie tivesse influenciado a todos, não? Talvez o Bush fosse apenas a Madre Teresa ressucitada e com cara de palerma. Ou o Corinthians teria comprado a Casa Rosada pra usá-la como centro de treinamentos, em vez de um pretenso "craque argentino". Ora, na verdade, eu me sinto um pouco mal-humorado com livrinhos de auto-ajuda, mas talvez um dia eu me torne uma webcelebridade sem querer, já que não cometerei os exercícios acima citados... eh eh eh!!! No fim, apenas digo que gostei, achei divertido seu novo texto. Agora vou cuidar de alimentar das minhas 12 bestas apocalípticas que destruirão a memória do sr. Carnegie. Depois, vou escutar um tango em homenagem à humanidade, que contém seres tão fantásticos como poetas, escritores de livros de auto-ajuda e blogueiros vaidosos. Boa noite e sorria apesar de tudo. Seu sorriso pode conquistar o mundo!!! (Ah ah ah...)
[Leia outros Comentários de Alessandro de Paula]
14/12/2004
13h28min
Cara Andréa, Li seu texto "Como ser uma Webcelebridade" e desejo fazer alguns comentários. Em primeiro lugar, não entendo muito bem porque alguém deseja ser celebridade por meio de um Blog. Celebridade se faz na vida real e não no universo virual da Web, onde as pessoas, em sua maioria não têm o que fazer e ficam "inventando" coisas para passar o tempo (vide a grande bobagem que é o Orkut). Em segundo lugar, celebridade se faz com conteúdo, não com imagens e abobrinhas superficiais. Em terceiro lugar, ser celebridade é o resultado final de toda uma trajetória de realizações, o que só é alcançado quando se tem credibilidade e algo inovador a ser mostrado. Em quarto lugar, a Web é o último lugar no mundo onde alguém tem uma chance real de se tornar célebre. A Web é somente um meio de comunicação para trocas de experiências e vivências. Além de servir como canal para a pesquisa de informações. Nada mais do que isso. O resto é devaneio de quem está com tempo sobrando e não tem coisa mais importante para fazer na vida.
[Leia outros Comentários de José Diney Matos]
14/12/2004
14h58min
Andréa, você já leu este blog? É bem legal, satiriza quase todos os que eu li. É realmente uma pena que as nossas vidas não sejam tão facilmente reduzidas e resumidas como nos livros de auto-ajuda. Também tenho o hábito de ler mais de um livro ao mesmo tempo, os "simples" são para descansar a cabeça dos "sérios". É ótimo que existam os dois tipos, embora o espaço nas livrarias dos "simples" esteja crescendo muito. Abraços, Irene.
[Leia outros Comentários de Irene Fagundes Silva]
15/1/2011
10h49min
Pra que serve mesmo um livro de autoajuda? Sei que estão entre os mais vendidos, e isso ninguém duvida. Mas será que alguém pode ditar como uma pessoa deve agir, como ela deve viver a sua vida? Ou será que essa é só mais uma forma de ganhar dinheiro? Dinheiro - quero dizer, para quem escreve, porque pro leitor, necas. É por isso, Andrea, que sou mais aquele seu artigo "A Auto-desajuda de Nietzsche". No entanto, gostei muito do "Como ser uma webcelebridade".
[Leia outros Comentários de Vicente Freitas]
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