Internet 10 anos – 1996 | Julio Daio Borges | Digestivo Cultural

busca | avançada
64082 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Eudóxia de Barros
>>> 100 anos de Orlando Silveira
>>> Panorama Do Choro
>>> Eduardo Freire lança livro e promove imersão em Project Thinking na Bett Brasil 2025
>>> Renan Inquérito celebra 10 anos do álbum “Corpo e Alma” de forma gratuita em SP
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
Colunistas
Últimos Posts
>>> Pondé mostra sua biblioteca
>>> Daniel Ades sobre o fim de uma era (2025)
>>> Vargas Llosa mostra sua biblioteca
>>> El País homenageia Vargas Llosa
>>> William Waack sobre Vargas Llosa
>>> O Agent Development Kit (ADK) do Google
>>> 'Não poderia ser mais estúpido' (Galloway, Scott)
>>> Scott Galloway sobre as tarifas (2025)
>>> All-In sobre as tarifas
>>> Paul Krugman on tariffs (2025)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> O mau legado de Paulo Francis
>>> Abraços Partidos, de Pedro Almodóvar
>>> Leituras, leitores e livros – Parte III
>>> Ceravolo e a velha internet
>>> Felicidade: reflexões de Eduardo Giannetti
>>> Promoarte 2001
>>> A Promessa de Nicholson e o bem-acabado Desmundo
>>> Apresentação autobiográfica muito solene
>>> Parei de fumar
>>> Tem café?
Mais Recentes
>>> Matemática Aplicada À Economia E Administração de L. Leithold pela Harbra (2001)
>>> Bwoufallo Bill ? - Vol. 24 de Roba pela Dargaud Benelux (1995)
>>> Um Estudo Em Vermelho - Edição Definitiva - Comentada e Ilustrada de Arthur Conan Doyle pela Zahar (2009)
>>> Levante-se o Véu! - Reflexões Sobre o Exercício da Justiça Em Portugal de Álvaro L. Lúcio; José A. Barreiros; José Braz pela Oficina do Livro (2011)
>>> Você, Eu e os Robôs - Pequeno Manual do Mundo Digital de Martha Gabriel pela Atlas (2018)
>>> O Que Aconteceu Com Annie de C. J. Tudor pela Intrinseca (2019)
>>> Catalogo da Cidade do Salvador 1949 de S/a pela G. Rigaud - A. Cedro (1949)
>>> Harry Potter E O Cálice De Fogo de J. K. Rowling pela Rocco (2001)
>>> Livio Xavier: Politica e Cultura: um Breve Ensaio Biografico de Alexandre Barbalho pela A casa (2003)
>>> O Retrato De Dorian Gray de Oscar Wilde pela Civilização Brasileira (2022)
>>> O Homem De Giz de C. J. Tudor pela Intrinseca (2018)
>>> A Garota Do Lago de Charlie Donlea pela Faro (2017)
>>> Invasão Silenciosa da Amazônia de Luiz J. Mendonça pela Usina de Letras (2011)
>>> O tao e o t'ai chi kung de Robert C. Sohn pela Pensamento
>>> Harpas Eternas - Vol. 1 (11º edição) de Josefa Rosalia L. Alvarez pela Pensamento (2010)
>>> Os vingadores - a chegada dos vingadores e a vingança de Ultron de Kurt Busiek - George Perez pela Panini Comics - Salvat (2014)
>>> Introdução a mecânica quântica de Hrebert A Pohl pela Edgard Blucher (1971)
>>> Os Lusiadas Em Quadrinhos - serie classicos em HQ (11º reimpressão) de Fido Nesti pela Peiropolis (2018)
>>> Requiem For A Nun (modern Classics) de William Faulkner pela Penguin (1982)
>>> Metalografia dos Produtos Siderugicos Comuns de Hubertus Colpaert pela Colpaert (2025)
>>> Thelma O Unicornio de Aaron Blabey pela Nanabooks (2021)
>>> Distribuição De Renda: Medidas De Desigualdade E Pobreza de Rodolfo Hoffmann pela Edusp (1998)
>>> Conversa Com Gestores De Acoes Brasileiros de Luciana Seabra pela Empicurus (2016)
>>> O Dilema de John Grisham pela Rocco (2015)
>>> Coleções e Expedições Vigiadas de Luís Donisete Benzi Grupioni pela Anpocs (1998)
COLUNAS >>> Especial Internet 10 anos

Sexta-feira, 18/11/2005
Internet 10 anos – 1996
Julio Daio Borges
+ de 14700 Acessos
+ 1 Comentário(s)

(Começa aqui...)

Em 1996, eu estudava francês e fui passar uma temporada em Paris. Mas não ouvi falar de internet lá. Nem me passava pela cabeça. Imagine que sem e-mail eu escrevia longas cartas para os meus amigos, esperando que eles me respondessem, porque ia ficar lá "longos" dois meses. Eu tinha saudade dos meus amigos, mas eles não me responderam pelo correio.

Minha maior relação com tecnologia em Paris, em 1996, foi que eu comprei os CD-ROMs que eu invejara de um professor da Poli: comprei os do Louvre e o do Musée d'Orsay (não havia pirataria ainda). Hoje isso não faz o menor sentido porque provavelmente todas as imagens estão disponíveis (e muito mais acessíveis)... na internet. Mas em 1996 não havia quase internet. (Eu não sei se eu já falei pra vocês...)

Em 1996, também, eu comecei a namorar uma colega do francês, já em São Paulo, e ela me contou secretamente que seu pai tinha um e-mail...! "Nossa, seu pai deve ser importante", disparei - naquele então, expliquei, nem as empresas (brasileiras) tinham e-mail direito... Como disse, eu acessava a Web desde 1995, mas não sabia distinguir - acreditem - um endereço de site de um endereço de e-mail.

O grande impulso para meu contato mais estrito com esse mundo foi outro estágio que fiz numa consultoria em meados de 1996 (com a ida a Paris, acabei abandonando o estágio da Poli em 1995). Lá, nessa empresa, pude entender o que era a internet na prática. Eu administrava uma rede e, longe de toda a teoria da faculdade, pude me apaixonar novamente pela computação.

Com o dinheiro desse estágio comprei o primeiro computador do meu bolso, onde fui instalando cada coisa. E perdendo finais de semana em instalações e reinstalações de periféricos... Meus colegas mais radicais compravam a placa-mãe e montavam. Inclusive a "torre", com ventilador, fonte (de alimentação), BIOS, aquelas coisas (alguém um dia soube dessas coisas?).

Mas o texto é sobre internet, não é mesmo? Pois então. Em 1996, eu comprei o meu primeiro fax-modem, da US Robotics. E instalei o bicho. Antes, antes de 1996, as pessoas até tinham fax-modem, mas como eram poucas pessoas, nem conseguiam se descobrir, nem se encontrar, muito menos se comunicar... utilizavam mais a porção "fax" do que a "modem".

Instalar a internet era o ó do borogodó. Eu já havia instalado no escritório, assim em casa foi relativamente fácil. Você pegava um CD-ROM de um provedor - eles distribuíam em shoppings -, e seguia o manual passo-a-passo. O primeiro que peguei foi da IBM; não funcionou. O segundo, por influência de um colega da Poli, foi da MTECnet. Esse funcionou.

Meu e-mail era j.d.borges@mtecnet.com.br. Eu achava fácil, minha namorada achava difícil. O e-mail mais fácil para ela era o de uma amiga da faculdade de direito: ianda@mandic.com.br. Tive ainda o j.d.borges@ams.com.br e o j.d.borges@netpoint.com.br - e seguia teimando com a minha namorada que os meus endereços eram muuuito mais fáceis de guardar...

Naquela época, a internet era uma coisa de dois ou três links. Na página do meu provedor, havia algumas indicações para navegação. Por exemplo, a loja CDNOW. A Amazon também estava lá, mas dela eu já sabia, por causa de um colega de trabalho que adorava comprar livros na língua do Tio Sam, e que tinha até mousepad da Amazon - um luxo só.

Naquela época, também, era preciso instalar, além do fax-modem, o navegador. Hoje o Internet Explorer já vem pré-instalado no Windows, mas em 1995-96 todo mundo usava o Netscape - e disquetes eram passados com a versão 2.0 e 3.0 (gold). O Explorer ainda gerava dúvidas e eu me lembro de um colega defendendo-o ardentemente, porque, através dele, era possível clicar com o botão da direita do mouse e salvar imagens...

Surgiam as primeiras homepages. E esse mesmo colega meu queria porque queria que a sua abrisse ao som de Beethoven. Era sua maior preocupação. Outro, outro colega da Poli com homepage, ficava preocupado se o GIF animado que havia colocado na sua página efetivamente girava em outros browsers... Os professores - coisa rara - estimulavam e até concediam espaço no servidor da USP para quem quisesse tentar.

Eu não tentei. O que eu ia colocar lá? Mas participei da feitura do site da empresa de alguma forma. Um consultor, quase tão jovem quanto eu, justamente com experiência anterior numa empresa de internet, montava o mgdk.com.br aos poucos e me mostrava. Baixava o tal do HotDog e quebrava a cabeça por causa de bobagens como: a cor de fundo; o link para envio de e-mails; e, até, se ia aparecer "LTDA." ou não.

Na empresa, fiquei com a incumbência de administrar os e-mails corporativos e, de uma hora pra outra, me senti o Master of the Universe. (Também quando me deram a chave do escritório, durante uma mudança, mas essa é outra história...) Eu criava os endereços das pessoas (primeiro ponto último nome arroba etc.), detinha todas as senhas e infernizava todo mundo com o uso indiscriminado do endereço todos@mgdk.com.br, que espalhava mensagens para obviamente todos na empresa.

Surpreendentemente, em 1996, não havia quase spam. Minha namorada da época, inclusive, usava um cliente de e-mail (Outlook da vida) que, quando não havia mensagem, confortava assim a pessoa: "Sorry, you have no e-mails". Foi ela quem descobriu o Hotmail, que insistia em chamar de "Hotline". Ah, e logo que saiu a versão (nova?) do Outlook Express que permitia administrar múltiplas contas de e-mail, eu dei pulos de alegria e anunciei a boa-nova aos quatro ventos.

Era sinal de status ter o e-mail da empresa em que você estagiava ou trabalhava. Era um sinal de vínculo e praticamente de reconhecimento. A minha empresa era nova e pouca gente conhecia (tinha de explicar), mas meus colegas de faculdade ostentavam e-mails arroba banco-não-sei-quê, e-mail arroba corretora-não-sei-das-quantas, e-mail arroba consultoria-não-sei-de-que-tipo.

Agora não sei se foi em 1996 (ou em 1997), mas peguei minha primeira peça usando e-mail falso nesses anos. Por algum motivo que agora me é obscuro, um professor, temido na Poli, entrou na nossa lista de discussão. Ele era um dos poucos que tinha, e fornecia, seu e-mail, e parece que - como castigo - todo mundo o copiava em todas as mensagens.

Configurei meu Outlook para enviar e-mails como se fosse ele. Funcionou. E vinguei o professor. Comecei a responder às mensagens mais banais da turma ameaçando reprovar os mais brincalhões. Um colega meu que dependia da aprovação na matéria desse professor para se formar naquele ano (ou no outro) arrepiou os cabelos, tremeu na base e gelou. Até hoje não tenho certeza se me perdoou pela brincadeira, mas que foi engraçado, foi.

No dia seguinte, a suposta mensagem do temível professor era o comentário. Estimulado, inventei uma porção de coisas sobre a vida do professor. Inventei, por exemplo, que sua filha (admirada pela sua beleza por todos) estudava no Mackenzie e que sua faculdade (a dela) colocava no chinelo a PUC e até a USP. A lista de discussão ferveu e os quebra-paus foram aumentando.

Até o dia em que eu me enchi e revelei que era eu por trás de tudo. "Genial!", exclamou um colega bem-humorado; já os outros não sei ao certo o que acharam... Quando da minha formatura, no momento exato em que fui pegar o canudo, foi o tal professor quem me entregou e apertou minha mão. Pensei que ele fosse me repreender de alguma forma (ou até me agradecer, quem sabe) mas apenas sorriu e nada falou.

A internet para nós era quase uma brincadeira, mas para muita gente, principalmente nos Estados Unidos, já era coisa séria. Nessa mesma época, estavam sendo inventados (ou aperfeiçoados) o Yahoo!, o AltaVista, o mesmo Hotmail e até - como embrião num paper dos acadêmicos Larry Page e Sergey Brin - o Google. Eu não sei se - podendo ou sabendo - teria começado antes. O Cadê - como eu já disse aqui - tinha metade dos visitantes que o Digestivo tem hoje e era a grande sensação da internet brazuca (foi vendido por milhões logo depois).

Eu comecei no outro ano, 1998, pelo e-mail, via newsletter, como o CardosOnline. Jamais acreditaria, se me dissessem em 1995-1996, que meu futuro estaria na Web. Naqueles anos, quem investia em internet, investia em infra-estrutura. A mesma consultoria em que eu trabalhava, por exemplo, pensou em abrir um provedor - e me convocaram para uma minirreunião...

"Olha, provedor, eu não sei, não... Mas tem um negócio muito, muito bom, chamado Digestivo Cultural, o problema é que vocês vão ter de esperar uns anos..."


Julio Daio Borges
São Paulo, 18/11/2005

Mais Julio Daio Borges
Mais Acessadas de Julio Daio Borges em 2005
01. É Julio mesmo, sem acento - 1/4/2005
02. Melhores Blogs - 20/5/2005
03. O 4 (e os quatro) do Los Hermanos - 30/12/2005
04. Não existe pote de ouro no arco-íris do escritor - 29/7/2005
05. Schopenhauer sobre o ofício de escritor - 9/9/2005


Mais Especial Internet 10 anos
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
20/11/2005
23h19min
Julio (sem acento né?). Estou aqui em cólicas, rindo pra cacete(boa forma de terminar o domingo, obrigada). Texto brilhante. Vc já deve ter ouvido (lido) isto mil vezes, mas me permita a repetição. Seu primeiro modem era US Robotics??? Ué, o meu ainda é... Será que isto é bom??? Rs... Adoraria que meu outlook me confortasse na ausência de new e-mails: “Sorry, you have no e-mails”. Amei tudo... As sextas? Estarei por cá. É quando vc é o colunista, certo?
[Leia outros Comentários de Tâmara Alves]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Queremos Ver Jesus
Charlotte F. Lessa
Casa
(1994)



Futuro Feito a Mão
Leonardo Chianca
Saraiva
(1997)



Trevas no Paraíso
Luiz Fernando Emediato
Geração
(2004)



Que Trânsito Maluco
Cláudio Martins
Ftd
(2000)



O Arteiro e o Tempo
Luís Fernando Veríssimo; Glauco Rodrigues - 15ª Ed
Berlendis & Vertecchia
(2002)



Honoráveis Bandidos um Retrato do Brasil na era Sarney
Palmério Dória
Geração
(2009)



Pesquisa e Atividades Complementares: Tecnologias Que Mudam Nossa Vida
Ethevaldo Siqueira
Saraiva/anhanguera
(2009)



Lady Musashi e a Ordem dos Cavaleiros Arcanos
Maicon Tenfen
Gaivota
(2022)



Abra uma Loja para o Sucesso
Orlando Ferreira
Bom Texto
(2008)



O fantasma de Clara
Taylor Caldwell
Record





busca | avançada
64082 visitas/dia
2,5 milhões/mês