Promoarte 2001 | Adriana Baggio | Digestivo Cultural

busca | avançada
78889 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Festival exibe curtas-metragens online com acesso livre
>>> Lançamento do thriller psicológico “ A Oitava Garota ”, de Willian Bezerra
>>> Maurício Einhorn celebra os 45 anos do seu primeiro álbum com show no Blue Note Rio, em Copacabana
>>> Vera Holtz abre programação de julho do Teatro Nova Iguaçu Petrobras com a premiada peça “Ficções”
>>> “As Artimanhas de Molière” volta aos palcos na Cidade das Artes (RJ)
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
Colunistas
Últimos Posts
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> 21 de Junho #digestivo10anos
>>> 3 Alexandres
>>> Blogueiros vs. Jornalistas? ROTFLOL (-:>
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> O poeta, de Vinicius de Moraes
>>> Crítica à arte contemporânea
>>> Pecados, demônios e tentações em Chaves
>>> Satã, uma biografia
>>> Críticos em extinção?
>>> DeepSeek by Glenn Greenwald
Mais Recentes
>>> Infinito - Os Imortais de Alyson Noël pela Intrínseca (2013)
>>> Para Sempre - Os Imortais de Alyson Noel pela Intrinseca (2009)
>>> Terra De Sombras - Portugues Brasil de Alyson Noel pela Intrínseca (2013)
>>> Lua Azul - Os Imortais - Portugues Brasil de Alyson Noel pela Intrínseca (2013)
>>> Calhoun: Catherine & Amanda - Vol. 1 de Nora Roberts pela Harlequin Books (2010)
>>> A Máquina De Fazer Espanhóis de Valter Hugo Mãe pela Biblioteca Azul (2016)
>>> Lembranças De Nós Dois de Judith Mcnaught pela Bertrand Brasil (2023)
>>> Crônicas De Repórter de Pedro Bial pela Objetiva (1996)
>>> Lula E Minha Anta de Diogo Mainardi pela Record (2007)
>>> Em Busca da Sabedoria de N. Sri Ram pela Teosófica (2020)
>>> A Cabeca De Steve Jobs As Licoes Do Lider Da Empresa Mais Revolucionaria Do Mundo de Leander Kahney pela Agir (2008)
>>> Nosso Jogo de John Le Carré pela Record (1996)
>>> A Grande Esperança Viva Com a Certeza de Que Tudo Vai Terminar Bem de Ellen G. White pela Casa Publicadora Brasileira (2011)
>>> Senhora Do Jogo - Mistress Of The Game de Sidney Sheldon pela Record (2007)
>>> O Regresso de Michael Punke pela Intrínseca (2016)
>>> The Casual Vacancy de J.K Rowling pela Wentworth Press (2012)
>>> Um Conto Do Destino de Mark Helprin pela Editora Novo Conceito (2014)
>>> Brinquedos E Brincadeiras de Roseana Murray pela Ftd (2014)
>>> A Risada Do Saci (contos De Espantar Meninos) de Regina Chamlian pela Editora Atica (2009)
>>> Histórias De Bichos Brasileiros de Vera do Val pela Wmf Martins Fontes (2010)
>>> Matemática. Caderno De Atividades. 7º Ano de Imenes pela Moderna (2010)
>>> Novos Brasileirinhos de Lalau e Laurabeatriz pela CosacNaify (2002)
>>> Eu Chovo, Tu Choves Ele Chove de Sylvia Orthof pela Objetiva (2003)
>>> As Esganadas de Jô Soares pela Companhia Das Letras (2011)
>>> Lembra De Mim? de Sophie Kinsella pela Record (2009)
COLUNAS

Quinta-feira, 23/8/2001
Promoarte 2001
Adriana Baggio
+ de 5100 Acessos

Já comentei aqui neste espaço a vinda de uma exposição internacional de artes plásticas à Paraíba, promovida pelo Tribunal de Justiça do Estado. A Expoarte 2001 começou no dia 10 de agosto e vai até o dia 30. Pelos jornais acompanhei a repercussão do evento, desde as colunas sociais, que registraram a vernissage cujo ingresso custou R$ 100,00, até outras matérias falando do quão movimentada está a visitação, principalmente por excursões escolares. Analisando este último aspecto, pensei horrorizada na possibilidade de ter que me apertar entre as telas com um bando de alunos e seus professores. Nada contra eles, mas um ambiente lotado e barulhento, como é típico de crianças, não é o mais adequado para quem vai ver um Picasso pela primeira vez.

Escolhi este último domingo para ver a Expoarte, já no final do horário de visitação. Escolha acertada, pois a movimentação era pouca. Tinha feito um dia de sol, e provavelmente a praia era um programa mais adequado àquele dia. Cheguei com um casal de amigos à praça onde fica o Tribunal de Justiça da Paraíba. Gostaria de falar um pouco sobre a arquitetura da fachada do prédio, mas confesso que não lembro. Sei que é um prédio antigo, imponente, como são todos os prédios do Poder Judiciário, mesmo aqueles inacabados. Mas a fachada, que gostaria de comentar, estava coberta por diversas flâmulas gigantes. Estas flâmulas eram feitas de algum material que lembrava veludo vermelho. Sobre este fundo, para acentuar ainda mais a idéia de pompa e circunstância, estava impressa a marca da exposição em letras douradas. À primeira vista, parecia um cenário mal-feito de alguma peça sobre castelos europeus, com aquelas flâmulas rubras e douradas. Para completar, alinhadas com a fachada, um monte de bandeiras de diversos países. Será que a idéia era passar o caráter internacional mostrando as bandeiras de diversos países? Fiquei na dúvida.

Refeitos da impressão inicial, subimos as escadarias que levam à entrada do edifício. Logo no começo, uma mesa e uma estante de aço faziam as vezes de chapelaria e guichê. Ali compramos nossos ingressos e tivemos que deixar nossas bolsas e chaves. Fiquei decepcionada, pois gostaria muito de ter tirado um pedacinho da tinta da tela de Picasso para colar na minha agenda e ter de lembrança. Depois deste procedimento inicial, subimos uma escadaria central que se bifurcava em dois caminhos. Escolhemos o que dizia ENTRADA - ENTRÉE - WAY IN. Junto ao corrimão, bandeiras intercaladas do Brasil e da França. Desde quando bandeira é objeto de decoração? Será que não deveria ter uma bandeira da Bélgica e da Espanha também, já que entre as obras haviam algumas de artistas destes países? Enfim, subimos e ficamos esperando por poucos minutos em uma ante-sala do Salão Nobre do Tribunal, local que estava tendo a honra de receber a exposição. Assim que um dos monitores ficou livre, entramos na sala para a visitação. Recebeu-nos um monitor mal-preparado, que tinha decorado as informações sobre cada quadro, e que passava rapidamente por cada um deles. As obras estavam dispostas em corredores. Faltava tempo e espaço para uma contemplação adequada, já que estávamos procurando acompanhar as explicações do monitor. Em certo momento, nos atrasamos e acabamos perdidos no grupo da monitora que vinha logo atrás, que era muito melhor em termos de naturalidade e informações.

Percorremos todas as obras, e como o horário de visitas tinha terminado, pudemos ficar passeando à vontade. Mais ou menos à vontade, porque todo o tempo um dos seguranças me seguia de perto, com medo que eu cedesse aos meus instintos e desse uma canivetada no Renoir. E por falar em segurança, atração à parte foram os guardinhas vestidos como Dragões da Independência, com uniformes vermelhos e azuis, plumas e uma casaca que se abria em abas bem na altura do derrière. Eles ficariam melhores lá fora, junto das flâmulas e bandeiras.

O primeiro quadro da exposição é um Portinari, meio deslocado ali no meio de todos aqueles franceses. O título é Perna de Pau e sua Senhora. As mãos, pés e faces do casal são mal-tratados, grosseiros, sendo as extremidades desproporcionais do resto do corpo. É uma maneira de caracterizar o povo brasileiro, principalmente os trabalhadores, a parte mais sofrida. Depois dele vem as obras internacionais da exposição. Não vou falar detalhadamente sobre cada um dos quadros, pois o objetivo do texto não é este.

Apesar de o tema da curadoria ser o impressionismo francês, a exposição conta com obras cubistas, expressionistas e surrealistas. É um recorte de tempo e espaço do que aconteceu nas artes plásticas no fim do século XIX e início do século XX, principalmente na França. Uma das obras que mais me chamou a atenção, por uma questão de gosto pessoal, foi Carnaval em Veneza, de Felix Ziem. O céu deste quadro é fantástico, toma conta de quase metade da tela. Deste céu destaca-se a catedral de São Marco, que por ser branca, parece saltar da tela. Depois, as velas de um barco, vermelhas e amarelas, dão um colorido emocionante ao conjunto. Por último, os barcos menores e seus passageiros estão imprecisos, são apenas pinceladas de cores, como reza o impressionismo.

Também fiquei maravilhada com o Matisse O Vestido Branco. Com pinceladas em várias direções, espaços brancos e uma perspectiva esquisita, parece mais um desenho de criança, que usou demais o azul e viu sua tinta preferida acabar. Muito distante dos rigores do classicismo, o quadro de Matisse é uma beleza.

Mas a maior emoção, e confesso que meus sentimentos foram muito direcionados pelo mito e não somente pela estética, foi estar frente a frente com dois Picassos: Natureza Morta com Cerejas e Mulher de Chapéu Verde. Este último, principalmente, é o que eu gostaria de ter na parede da minha casa, caso tivesse 3 milhões de dólares para investir neste mimo. Mulher com Chapéu Verde é um Picasso típico. O rosto de uma mulher é recortado em várias formas geométricas, formando um quebra-cabeça cujas partes não correspondem. Um dos olhos está de lado, observando os observadores de viés. De um lado da cabeça, o penteado. De outro, o famoso chapéu verde. É uma desconstrução incrível, uma gestalt cujo resultado é fascinante, maravilhoso.

Outra obra intrigante é a Shéhérazade, de Magritte. Uma imagem surrealista. Contra um fundo de céu e mar azuis, e uma gramínea verde, está uma estrutura em volutas como se fosse formada por diversas bolinhas brancas. Esta estrutura forma dois olhos e uma boca. Ao lado, uma bola branca maior, como uma caixinha redonda. A expressão dos olhos e da boca é incrível. De longe, parecem recortes aplicados na tela. É realmente uma imagem de sonho. Disse o monitor que a bola branca é característica da obra de Magritte, já que aparece em outros quadros. Mas ninguém ainda descobriu o mistério do seu significado. Para mim, o conjunto lembra pérolas. Pérolas que formam a estrutura, e a bola branca é uma pérola maior, ou a concha de onde vieram as outras pérolas.

A exposição tem ainda outras obras famosíssimas, como um Renoir. E para finalizar, duas telas do pintor paraibano Pedro Américo, do século XIX. O estilo é clássico, e uma delas retrata os filhos de Henrique IV, e a outra, um Cristo com a coroa de espinhos. Também estão meio deslocadas ali, não pelo valor, mas pelo estilo escolhido para a exposição.

Terminada a visita, descemos as escadarias, pegamos nossas bolsas e chaves e comprei o catálogo da exposição, a R$ 10,00, que achei caro. Achei mais caro ainda quando abri e vi o céu azul de Felix Ziem transformado em um cinza amarronzado. Mas quase rolei escadaria abaixo ao ver a reprodução da obra de Portinari. O Perna de Pau e sua Senhora tinham trocado de lugar. Talvez a Senhora estivesse cansada de apoiar o marido, e por isso pediu que ele mudasse de lado. Ou será que foi o pessoal da gráfica que inverteu o cromo?

É por essas e outras que não dá para deixar de lado o espírito crítico, mesmo tendo uma oportunidade ímpar de ter contato com obras que, provavelmente, passariam pela Paraíba só no espaço aéreo. O problema é a motivação por trás da Expoarte. Um objetivo promocional faz com que uma exposição deste porte, em vez de ser instalada em um espaço amplo, mais adequado para a visitação, fique confinada em uma sala do Tribunal de Justiça. A monitoria é mal preparada, e corre por entre os quadros para poder atender a fila que se forma no lado de fora do edifício. A decoração e a sinalização do Tribunal são pretensiosas de uma maneira provinciana. É a tentativa do imponente que falha e cai no ridículo, no grotesco. Mas o pior defeito, a meu ver, é a curadoria mal delimitada. Parece que as obras que vieram para cá eram as disponíveis na Galerie Cazeau-Béraudière, e com base neste lote, definiu-se o tema da exposição.

Na mídia, a repercussão da Expoarte tem sido sempre positiva, nunca crítica. Vangloria-se a iniciativa do desembargador Marcos Souto Maior e do restaurador Flávio Capitulino, articulador da vinda das obras. Ninguém fala dos problemas de organização, dos erros grotescos do catálogo, do caráter puramente promocional deste evento. A única criativa que li foi de uma pessoa que achava que deveria haver exposições assim com os artistas locais. Ou seja, ninguém questiona a maneira como as coisas foram feitas, questionam apenas quem é o beneficiário de tanta atenção.

Dando uma de Polyana e vendo o lado bom da coisa - porque há, não tenham dúvida-, pelo menos o desembargador optou por trazer uma exposição de arte para se promover, e não um show de pagode ou coisa parecida. Esquecendo os fins e se concentrando apenas nos meios, a oportunidade de ver os Picassos, o Matisse, o Renoir e outros pintores maravilhosos que eu nem conhecia, é imperdível. É bom perceber que, mesmo deslocado naquele recorte, nosso Portinari não deixa nada a dever a nenhum daqueles pintores. E finalmente, meu coração se enche de esperança ao perceber que, mesmo por motivos um pouco tortuosos, a prosaica João Pessoa entrou no circuito internacional das artes plásticas. E para os críticos o desembargador já mandou um aviso: ano que vem chega uma penca de quadros de Salvador Dali para a Expoarte 2002.



Adriana Baggio
Curitiba, 23/8/2001

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Uma norma para acabar com os quadrinhos nacionais? de Gian Danton
02. Você vem sempre aqui? de Ana Elisa Ribeiro
03. Uma defesa de Juno de Giovana Breitschaft
04. O centenário do Castor de Pilar Fazito
05. Erotismo, sensualidade e literatura de Marcelo Spalding


Mais Adriana Baggio
Mais Acessadas de Adriana Baggio em 2001
01. À luz de um casamento - 18/10/2001
02. O Segredo do Vovô Coelhão - 15/11/2001
03. Náufrago: nem tanto ao mar, nem tanto à terra - 25/3/2001
04. Marmitex - 1/11/2001
05. Arte, cultura e auto-estima - 9/8/2001


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Opinião Giratória Foto Original
Sergio Nogueira Lopes
Do Autor
(2010)



The Startup Owners Manual
Steve Blamk and Bob Dorf
K&s Ranch
(2012)



Osório Síntese de Seu Perfil Histórico
J B Magalhães
Biblioteca do Exército
(1978)



O Livro Dos Arteiros: Arte Grande E Suja!
Maryann F. Kohl
Artmed
(2002)



Galeria
Regina Barros Correia Casillo
Solar Do Rosário
(2008)



Gramática Histórica
Ismael de Lima Coutinho
Acadêmica
(1954)



A Vizinha e a Andorinha
Alexandre Staut, Selene Alge
Cuore
(2015)



Livro Ensino de Idiomas Jane Eyre Volume 2 + CD
Charlotte Brontë
Richmond Publishing
(2024)



Basic Stochastic Process
Zdzislaw Brzezniak e Tomasz Zastawniak
Springer
(2005)



Guia de Procedimentos Para Implantação do Método de Análise de Perigos em Pontos Crríticos de Controle
Da Editora
Ponto Crítico





busca | avançada
78889 visitas/dia
1,7 milhão/mês