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Segunda-feira, 30/7/2001
O Sol e Louis Armstrong
Arcano9
+ de 2800 Acessos

Permita-me uma generalização que não tem muito a ver com estes últimos dias iridescentes na Inglaterra. O sol arde, a temperatura atinge os 32 graus e eu me pergunto se estou em St. James's Park ou em uma praça de Trípoli, com centenas de pessoas disputando as sombras para se aliviar do calor. A generalização que quero fazer é a seguinte: a Grã-Bretanha tem um clima horroroso, você sabe. Por meses a fio, de setembro a maio, tem-se apenas o cinza das nuvens carregadas ou a escuridão do inverno precoce ou prorrogado. O Winter Blues te atinge, você chora, chega em casa e vai direto para a geladeira, come feito um doido, depois senta para ver o (entediante) programa de TV de Realidade, esperando travar contato com algo que lhe traga a alegria dos dias de sol, a brisa tépida e macia, o beijo da namorada carinhosa. Frente à TV, bebendo vinho, esperando a alegria.

Pois nesses dias, saúdo o espírito dos tempos dourados do Jazz, aquele que em uma bela tarde de sol paulistana se apresentou a mim disfarçado de LP, um disco velho de uma coleção da editora Abril, enfocando os grandes nomes da "maior contribuição cultural dos EUA ao mundo neste século". O disco se iniciava com a inesquecível Muskrat Ramble. Sem baixo acústico e sim uma tuba marcando o beat. Eu tinha doze anos. E dancei, dancei e dancei, emocionado de fato com a vitalidade daquele som. O som que expressava toda a alegria que eu precisava para viver, que eu queria que todo o mundo tivesse - a energia a que eu recorro agora para viver nesta ilha de repetidos compassos depressivos.

Louis Armstrong - como você já está sabendo, por intermédio do meu colega Fabio Danesi Rossi, aqui do Digestivo - está sendo lembrado particularmente neste mês, pois há exatos 30 anos, no dia 6 de julho, o mundo perdia este que... vou evitar expressões batidas. Melhor não falar nada, muito melhor. O bom é ouví-lo, ouça tudo que você puder, quase tudo que ele fez é nota 10. Mas, é claro, cada fã tem suas músicas favoritas. As minhas: Muskrat Ramble, Potato Head Blues, West End Blues, Basin St. Blues, todas da época dos Hot Five/Hot Seven, os grupos nos quais Armstrong aprimorou o estilo New Orleans de fazer Jazz, nos Anos 20. De Armstrong no periodo do seu grupo All Stars, posterior, recomendo um dueto primoroso dele com Jack Teagarden, o trombonista de sua banda, cantando Rockin' Chair. E se você só quer a coisa mastigadinha, vá lá, até Hello Dolly e What a Wonderful World podem abrir seu coração. Mas, faça-me um favor, ouça-o como ele deve ser ouvido - para se alegrar.

Ouça-o e recomende aos seus amigos, se gostar, ou aos inimigos, se não gostar. Mas não faça muitos comentários, pois você certamente não vai ser original. Já foi falada coisa demais a respeito de Louis Armstrong. Sua imagem foi profanada, apropriada indevidamente - coisa que só fazem com lendas, pessoas que se tornaram algum tipo de arquétipo. Lembra do mecânico das propagandas de TV da Dpaschoal? (Você quer saber? Acho que Satchmo não ligaria, acharia até engraçado).

Passei na Tower Records hoje, uma das maiores e melhores lojas de CDs aqui de Londres, lá na Piccadilly Circus. Trinta anos após sua morte, Armstrong ainda é best seller. Encontrei 40 títulos diferentes na prateleira com seu nome, mas certamente há muito mais há venda. Não fui até a prateleira da Ella Fitzgerald para verificar a presença do pistonista na histórica gravação que os dois fizeram de Porgy and Bess. Não fui até a prateleira de novidades importadas do Japão, onde talvez tenha sido produzido um CD só com participações ainda não comercializadas de Armstrong em programas de TV. Não fui até a prateleira de Fletcher Henderson, o bandleader com quem ele trabalhou por pouco mais de um ano, em 1924.

Mas na própria prateleira, encontrei algumas coisas que merecem destaque. Um vendedor da loja, notando meu acentuado interesse particularmente pelo período Hot Five/Hot Seven de Armstrong, me recomendou uma set box com 4 CDs entitulado simplesmente Louis Armstrong Hot Five/Hot Seven do selo JSP, trazendo grande parte da produção dos dois grupos do pistonista, tudo remasterizado. Potato Head Blues na quinta faixa do disco 2. O preço, bastante razoável: 19,99 libras. Para quem está procurando um sample mais abrangente, a Tower também vende uma outra box do conceituado selo Verve, Louis Armstrong The Ultimate Collection, com 3 CDs. Rockin' Chair no disco 2. O preço bastante mais salgado, porém: 30,99 libras.

Se você não é chegado em comprar CDs desse tipo de música (afinal, admitir que gosta de Diexeland pode significar que você não é um intelectual, não é? Melhor adquirir o último do Ornette Coleman ou do McCoy Tyner) ainda restam os ocasionais shows. Por aqui, a cena de jazz tradicional é tão fraca ou pior do que a de São Paulo, acredite. Há shows eventuais, como num recente festival de jazz itinerante (o Jazz on the Streets) que tomou locais como a praça de Covent Garden e o Soho. Mas mesmo com o eventual lampejo, o principal no festival foi o jazz mais cool - paradoxalmente, o menos indicado a uma apreciação ao ar livre.

É claro que os shows de bandas de jazz tradicional não vão repetir fielmente a força bruta das bandwagons que atravessavam New Orleans nos anos 10, ainda desenvolvendo aquele ritmo novo e incerto, mas certamente o Brasil tem (ai, que saudade!) uma das melhores bandas de jazz tradicional do mundo na atualidade. A Traditional Jazz Band merece ser perseguida, vai por mim. E durante muito tempo, um período de oito anos para ser mais exato, eu persegui o grupo em todas as suas apresentações em São Paulo. Numa delas, no auditório da rua Estado de Israel, bem me recordo de ter assistido o show de pé durante mais de uma hora, sem reclamar. As pessoas, como eu, seguiam o banjo ou a washboard com estalar de dedos, batendo as mãos nas pernas ou mesmo cantarolando baixinho. Impossível mesmo era ficar parado. Saravá, TJB. Vocês poderiam fazer uma temporada no Ronnie Scott's. Muitos destes ranzinzas da Central Line iriam descobrir que, além das nuvens, os anjos não sacodem ao som de arpas. Isso me faz lembrar de um verso que li em um livro sobre jazz, um verso escrito por uma pessoa que certamente, como eu, ao ouvir nosso querido Satchmo soprando seus bemóis nas suas velhas gravações, imagina que seja ele em pessoa que ande batendo um papo com Deus para que o sol apareça, para que você sorria indo para o trabalho, para que você abrace seus amigos, para que você sempre se divirta, pois se divertir sim é o que mais importa nesta vida.

Faça aquilo que você sempre fez:
Continue tocando
Alegre os anjos
Para que os pecadores no inferno
Não sejam muito torturados.
Arcanjo Gabriel,
Dê uma trombeta a Armstrong!
(Jiri Jewtuschenko)


Arcano9
Londres, 30/7/2001

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