Será que livro é lugar de crônica? | Marcelo Spalding | Digestivo Cultural

busca | avançada
55391 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> ZÉLIO. Imagens e figuras imaginadas
>>> Galeria Provisória de Anderson Thives, chega ao Via Parque, na Barra da Tijuca
>>> Farol Santander convida o público a uma jornada sensorial pela natureza na mostra Floresta Utópica
>>> Projeto social busca apoio para manter acesso gratuito ao cinema nacional em regiões rurais de Minas
>>> Reinvenção após os 50 anos: nova obra de Ana Paula Couto explora maturidade feminina
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
Colunistas
Últimos Posts
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Jeff Jarvis sobre o WikiLeaks
>>> Folia de Reis
>>> Hamlet... e considerações sobre mercado editorial
>>> Pedro e Cora sobre inteligência artificial
>>> Fred Trajano sobre Revolução Digital na Verde Week
>>> Spyer sobre o povo de Deus
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> O tempo e a água (série: sonetos)
>>> A história de Tiago Reis e da Suno (2023)
>>> Arquipélago
Mais Recentes
>>> Salomao, O Homem Mais Rico Que Ja Existiu de Steven K. Scott pela Sextante (2008)
>>> O Menino Que Perdeu A Sombra de Jorge Fernando Dos Santos pela Positivo (2013)
>>> Visão Espírita da Bíblia de Herculano Pires pela Correio Fraterno (2000)
>>> Cantar Em Espirito e Verdade Orientaçao para Ministerio de Musica de João Carlos Almeida pela Loyola (1994)
>>> Themen Neu - Kursbuch 2 de Hartmut Aufderstrasse, Heiko Bock, M. Gerdes, H. Muller, J. Muller pela Hueber Max Verlag Gmbh & Co (2002)
>>> Era uma Voz de Gisele Gasparini, Renata Azevedo & Mara Behlau pela Thot (2006)
>>> Hiperatividade - Como Ajudar Seu Filho de Maggie Jones pela Plexus (2004)
>>> Programaçao Neurolinguistica Para Leigos de Romilla Ready pela Alta Books (2019)
>>> Touch And Feel - Dinosaur de Dk pela Dk Children (2012)
>>> Gibi Chico Bento n 316 Edição com Album Ploc É O Tchan! Total de Mauricio de Sousa pela Globo (1999)
>>> O Segredo da Pirâmide - Salve-se Quem Puder de Justin Somper pela Scipione (2012)
>>> Rompendo o Silêncio de Wilson Oliveira da Silva pela Do Autor
>>> Problema e Mistério de Joana D Arc de Jean Guitton pela Dominus (1963)
>>> Toda a Verdade Sobre os Discos Voadores de Ralph Blum] - Judy Blum pela Edibolso (1976)
>>> Como Conjugar Verbos Em Frances de Jorge De Souza pela Campus Editora Rj (2004)
>>> Nova York - Guia Visual da Folha de Ana Astiz pela Folha de São Paulo (1997)
>>> Papai Foi Morar Em Outro Lugar de Gergely Kiss pela Ciranda Cultural (2011)
>>> Bruxa Onilda Vai A Festa de E.larreula/r.capdevila pela Scipione (2001)
>>> Na Minha Casa Tem Um Lestronfo de Rosana Rios pela Elo (2022)
>>> Os Fofinhos - Woofits - Livro Ilustrado - Album - Completo de Os Fofinhos - Woofits - Multi Editorial pela Multi Editorial (1983)
>>> O Fantástico Mistério De Feiurinha de Pedro Bandeira pela Moderna (2014)
>>> Mansfield Park de Jane Austen pela Martin Claret (2012)
>>> Os Três Mosqueteiros - Coleção Clássicos Zahar de Alexandre Dumas pela Zahar (2011)
>>> Os Pensadores -Sócrates - Defesa de Socrates - Apologia de Sócrates de Sócrates pela Abril Cultural (1980)
>>> Garota, Interrompida de Susanna Kaysen pela Unica Editora (2013)
COLUNAS

Terça-feira, 1/8/2006
Será que livro é lugar de crônica?
Marcelo Spalding
+ de 8200 Acessos
+ 7 Comentário(s)

Ela está todos os dias em nossos jornais, invadiu a rede a partir dos blogs, transforma jornalista em artista e jornalismo em literatura: eis uma definição de crônica entre tantas possíveis. Gênero dos mais polêmicos, a crônica é ao mesmo tempo berço de grandes nomes como Machado de Assis e arena de gladiadores verbais como Roberto de Campos.

Em minhas oficinas, quando preciso diferenciar a crônica do conto (ou de uma narrativa ficcional), costumo lembrar que na crônica o narrador e o autor devem ser a mesma pessoa, que a crônica deve refletir algo da realidade e encerra uma opinião. Necessariamente, portanto, é datada, diferentemente do que costumamos chamar de literatura, e por isso mesmo não é comum vermos livros de crônica bem sucedidos, a não ser que compilem as crônicas de um conhecido jornalista contemporâneo (Jabor, LFV), mas aí vende pelo autor, não pelo gênero. Muito mais raro é vermos um importante prêmio literário concedido a um cronista em detrimento a um romancista, contista ou poeta.

Esse preconceito dos literatos para com a crônica não impede que alguns cronistas rompam a efemeridade jornalística e tornem-se escritores mais ou menos respeitados, especialmente a partir da mudança do jornalismo político para o empresarial. É o caso de João do Rio, o pioneiro, mas também de vários da geração seguinte, como Millôr Fernandes, Fausto Wolff e Antônio Maria.

Antônio Maria d´Albuquerque de Moraes ("Zé Maria, para os íntimos") foi cronista dos mais originais e compositor de algumas das músicas mais tristes e bonitas do cancioneiro brasileiro, como "Ninguém me ama". Nascido em 1921 no Pernambuco, criou programas de rádio, trabalhou na televisão, produziu esquetes para teatro e escreveu quase três mil crônicas que exploravam um lado oposto ao do compositor, o riso. E é este lado que Joaquim Ferreira dos Santos procura resgatar em Seja feliz e faça os outros felizes (Civilização Brasileira, R$ 22,90, 112 págs.). Joaquim, também jornalista, selecionou 34 crônicas escritas para jornais garimpando coleções de O Globo, Última Hora e O Jornal entre 1955 e 1964, ano da morte do cronista.

Pela diagramação já percebemos que os editores também se perguntaram se livro é lugar de crônica: há um cabeçalho trabalhado em cada página, letra capitular no começo dos capítulos e o desenho de um homem lendo jornal ao lado dos títulos, além da reprodução de páginas de jornal. Também a apresentação do livro tem este objetivo de transportar o leitor para o mundo das redações barulhentas em que Maria trabalhava num Rio de Janeiro há muito perdido. Mas são os próprios textos que nos remetem ao passado - e este é o ponto forte do livro -, não pela linguagem, que é desembolorada e clara, mas pela visão de mundo de um homem que viveu num mundo já meio século distante do nosso: "você fez mal, José, quando se casou com uma mulher feia", escreve Antônio Maria na crônica que abre esta antologia, "diz um escritor francês que nós, homens, devemos desposar mulheres muito bonitas, porque só assim, um dia, nos veremos livres delas".

Num sentido inverso, é impressionante que desde àquela época temas como mendicância, crise financeira e dólar alto já estivessem em pauta, nos levando a perguntar o que fizemos com nosso país ao longo destes cinqüenta anos. Apenas para ilustrar, veja se estas "Frases para dezembro" não poderiam estar nos jornais do fim do ano passado: "Eu espero que o ano que vem seja um pouquinho melhor", "Nunca houve um ano tão ruim para negócios", "Minha filha, com a vida pelo preço que está, nós não vamos fazer nada", "Mas, hoje em dia, qual é a diferença que existe entre o champanhe nacional e o francês", "Você acha que, com as coisas como estão, este Governo agüenta até o fim do ano?".

Provavelmente você agora quer saber a que dezembro estas frases se referem, mas curiosamente a data de publicação não é mencionada em lugar nenhum, tampouco o jornal e o local onde o texto foi publicado, o que só podemos atribuir a um descuido da edição que, se não compromete, empobrece o ponto forte do livro, qual seja a competência que Antônio Maria tem de suscitar saudade mesmo em quem não viveu seu tempo, um tempo em que os melhores escritores eram impressos nas páginas mal cheirosas dos jornais, um tempo anterior aos blogs, à ditadura militar e à ditadura do mercado.

Seja feliz e faça os outros felizes, bem como outros livros de Antônio Maria lançados pela Civilização Brasileira, ainda tem outras duas funções importantes. A primeira é mostrar aos novos "escritores" e blogueiros que escrever crônica só parece simples, pois requer originalidade, talento e criatividade para lidar com temas cotidianos sem torná-los corriqueiros. A outra função é fazer eco à personagem que Maria se tornou ao longo do tempo, personagem de histórias folclóricas repetidas ainda hoje por gente como Millôr, Cony e Wolff. Uma delas, contada por Fausto Wolff, em A Milésima Segunda Noite, merece ser reproduzida aqui e fica como fecho da metade cômica do cronista Antônio Maria:

"(...)Um dia, Maria teve de viajar para São Paulo e numa reunião social encontrou uma mulher realmente deslumbrante que se deslumbrou com sua verve. Ambos haviam bebido um pouco demais e, quando a mulher perguntou-lhe o nome, não titubeou:

"- Carlos Heitor Cony

"Cony era realmente muito conhecido e admirado em São Paulo por causa dos seus excelentes romances e a mulher que já parara na de Maria ficou ainda mais excitada.

"Não sabemos se por culpa ou bebedeira, no quarto do hotel, Maria não deu conta do recado. Voltou para o Rio, e, ao encontrar-se com Cony alguns dias depois, no Lidador, lhe informou:

"- Broxaste em São Paulo."


Para ir além






Marcelo Spalding
Porto Alegre, 1/8/2006

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Pokémon Go, você foi pego de Luís Fernando Amâncio
02. O testemunho de Bernanos de Celso A. Uequed Pitol
03. À primeira estrela que eu vejo de Ana Elisa Ribeiro
04. O que este país tão longe ao sul tem a oferecer de Duanne Ribeiro
05. De volta à cultura audiovisual de Marta Barcellos


Mais Marcelo Spalding
Mais Acessadas de Marcelo Spalding em 2006
01. O centenário de Mario Quintana, o poeta passarinho - 8/8/2006
02. Um defeito de cor, um acerto de contas - 31/10/2006
03. Romanceiro da Inconfidência - 10/1/2006
04. A literatura feminina de Adélia Prado - 25/7/2006
05. As cicatrizes da África na Moçambique de Mia Couto - 5/12/2006


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
19/7/2006
13h26min
Bacana, Marcelo, mas acho que as crônicas só estão no lugar errado quando são mal editadas, entende? Se são bem-escolhidas, pega-se a coletânea das menos datadas e tal. Isso, sim. Acho que o barato das crônicas é, justamente, elas não terem lugar fixo, caretice, formato adequado, etc. Abraço
[Leia outros Comentários de Ana Elisa Ribeiro]
30/7/2006
21h00min
O livro é muito bom, recomendo a qualquer um. Agora, sobre o lance das datas, acho que isso não foi descuido, e sim uma opção da editora. As crônicas do Fernando Sabino também não vêm datadas. As do LFV não. E, no fim das contas, a data não influi muito. Quando o cronista é bom mesmo, como é o caso do Antônio Maria, as datas são dispensáveis.
[Leia outros Comentários de Rafael Rodrigues]
1/8/2006
15h50min
Caro amigo, a crônica serve e muito a nós historiadores. Quando inicio qualquer trabalho de História, sobre um determinado período, recorro às crônicas, pois elas apresentam detalhes que, às vezes, passam sem a percepção do ser humano comum, e é preciso encontrar a fala dos homens, na arquitetura, na beleza das ruas, num beijo de namorado no jardim, até nas prostitutas como elas se comportavam... Os crônistas não guardam temores ou pudores, e a crônica revela fatos e contextos que às vezes é preciso reler na História e recontar, com um recorte social, diferente dos textos de punho de renda, que geralmente existem no mercado editorial. Gosto da crônica nesse sentido, e já escrevi algumas em livros, e até gravei em discos, pena que o mercado da informação tenha serias dificuldades em colocar em pauta tudo o que acontece.
[Leia outros Comentários de Manoel Messias]
3/8/2006
09h01min
Pelo potencial que têm em retratar o cotidiano e arquivar em papel (ou blogue) o momento histórico, as crônicas já merecem compôr os livros. Ainda que precisem ficar quiescentes ali...
[Leia outros Comentários de José Marcos Resende]
4/8/2006
15h32min
Acho que os livros são lugar de crônicas, sim. Tenho vários livros de crônicas, e nada melhor do que passar domingos a ler Fernando Sabino, por exemplo, revisitando crônicas antigas, vivendo um outro cotidiano. Não é simples fazer crônica. Me meto a cronista num blog e num site e sei como é difícil fechar uma idéia interessante de ler no mundo que é hoje o da internet e da informação.
[Leia outros Comentários de Cristina Carneiro]
10/8/2006
16h24min
Legal o artigo. Faço Jornalismo na Universidade Federal de Alagoas e, nos últimos dias, o nosso professor de jornalismo opinativo não conseguiu transmitir a verdadeira essência de uma crônica. A turma era desinteressada, a maioria dos estudantes não tinham costume de lê-las. Como sou adepto deste gênero sempre levei textos pra ele se situar um pouco mais sobre o tema. (E vou levar este texto também.) Mas após o conhecimento de alguns bons cronistas, o que sevê é que todos os alunos estão tendo uma ótima produção. Mostrando que a crônica pode assumir múltiplas facetas sem perder suas carcterístíticas de transmitir o cotidiano. Foi a primeira vez que vi todos participarem empolgadamanete da producão de textos. Salve a crônica. Pois é o canal para a liberdade dos jornalistas e o que pode salvar e diferenciar todos os meios de comunicação. (Não só os blogs.)
[Leia outros Comentários de Jhonathan Wilker]
23/9/2006
15h50min
Ótima dica o livro do José Maria. A crônica é um vício. Quando a gente gosta do modo de escrever de algum cronista, assumimos uma parceria com ele. Não consigo parar de ler David Coimbra, Paulo Santana, Luis Fernando Verissimo e tantos outros. Basta acontecer algo diferente e já fico curiosa para saber se eles vão comentar e de que forma. Para não perdê-las, melhor colocar em livros.
[Leia outros Comentários de Ana Mello]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Guia Para o Planeta Terra
Art Sussman
Cultrix
(2000)



Poder S. a - Histórias Possíveis do Mundo Corporativo
Beto Ribeiro
Marco Zero
(2008)



História da Linguística - 2ª Edição
Joaquim Mattoso Câmara Jr.
Vozes
(1975)



The Woman S Encyclopedia of Myths and Secrets
Barbara G. Walker
Harper One
(2019)



Cozinha Regional Brasileira Goiás
Abril Coleções
Abril Coleções
(2009)



Trilha sonora para o fim dos tempos 385
Anthony Marra
Intrínseca
(2018)



Livro Pediatria Social A Criança Maltratada
Franklin Farinatti
Medsi
(1993)



Marx on Economics
Karl Marx
Harvest
(1970)



Sofrer e Amar
João Mohana
Agir
(1966)



208 Maneiras De Deixar Um Homem Louco De Desejo
Margot Saint-Loup
Ediouro
(2002)





busca | avançada
55391 visitas/dia
1,7 milhão/mês