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Quarta-feira, 30/5/2007
Pastelão literário na terra do Nobel
Tais Laporta
+ de 2700 Acessos

Poucos conhecem Henning Mankell no Brasil. O escritor sueco, em compensação, é um estouro em seu país de origem. Os romances da série policial protagonizada pelo inspetor Kurt Wallander já circularam o mundo com pelo menos 20 milhões de cópias vendidas. Suas sagas ganharam, inclusive, adaptações televisivas. Agora, chega aqui O homem que sorria (Companhia das Letras, 2006, 432 págs.), quarto volume da série, originalmente publicado na Suécia em 1994.

O romance integra uma coleção de obras policiais resgatadas pela Companhia das Letras. Com esses lançamentos, a editora pretende alcançar um terreno desocupado: o de sucessos pouco explorados no Brasil. As resenhas sobre a literatura de Mankell (genro, aliás, de Ingmar Bergman) são quase exclusivamente internacionais. Mas não é só aqui que o autor entra vagarosamente. O jornal britânico The Observer salienta que os ingleses não encontram familiaridade com o tom da narrativa criada pelo sueco. "Todos os romances de Mankell contêm críticas sociais, mas muitas delas parecem estranhas aos olhos britânicos", observa a publicação.

Para os brasileiros, pelo contrário, a identificação deveria ser mais latente. Quando, em O homem que sorria, Kurt Wallander descobre ligações criminosas de um empresário no exterior, o grande suspeito de intermediar as operações ilegais é o Brasil (São Paulo e Rio de Janeiro seriam as "matrizes"). O senso crítico ou o conformismo presentes nos personagens de Mankell - especialmente em relação à corrupção e à impunidade - muito se aproxima do nosso. "Moral, justiça e democracia são explicitamente questionados no romance, característica incomum em ficções policiais", complementa o The Observer.

No suspense, o protagonista se vê diante de duas mortes intrigantes, poucos meses depois de pedir licença da polícia na pequena cidade de Ystad. Aterrorizado por ter assassinado um homem em sua última aventura profissional, Wallander já estava decidido a se afastar definitivamente, quando algo o impulsionou a voltar à ativa. Tudo o que tinha, inicialmente, eram dados esparsos: pai e filho mortos, ambos advogados; uma mina terrestre plantada no quintal de sua secretária; e um imponente castelo, cujo dono foi único cliente do advogado pai.

O mistério inicial segue o padrão Agatha Christie. Há um quebra-cabeças que faz o leitor pensar, repensar e, mesmo assim, nem cogitar a solução. Em Mankell, contudo, as evidências logo se escancaram diante dos policiais. Apesar de as provas apontarem para um caminho óbvio, as investigações prosseguem lentamente. Ao invés de avançar, O homem que sorria estanca em longas páginas nessa situação, até tomar subitamente um ritmo alucinante. O inspetor Wallander passa de detetive Hercule Poirot para um aventureiro agente 007.

Não é à toa que o romance parece ter sido encomendado para ganhar uma versão cinematográfica. É bem articulado no seu desenrolar, mas também serve de roteiro mastigado para o cinema e a TV - tanto que já foi adaptado para produções do gênero. Pode-se dizer que o autor já fabrica suas histórias com uma projeção hollywoodiana, embora preserve uma certa complexidade narrativa e algum aprofundamento psicológico, características essenciais em um romance.

Em certos momentos, os personagens passam batidos pela narrativa, o que evidencia um conhecimento superficial do narrador sobre seus pensamentos e motivações. Nada demais se é a linha do romance. Mas o narrador ora mergulha no personagem - descrevendo seus medos e obscuridades mais profundos - e ora é expulso de seu "eu", passando para a condição de observador alheio. Assim se sente o leitor no início do livro, quando conhece as angústias interiores de Wallander, mas não as motivações que o fazem voltar para a polícia.

Até mesmo os produtos em formato "pastelão" - que ninguém duvida ser uma fórmula comercialmente viável - têm se preocupado em encobrir algumas brechas que reforçam seu tom simplista. Não querem perder os leitores mais exigentes (os chatos, em boa tradução), tampouco aqueles que lêem a ficção por curiosidade e podem usá-la como referência para adquirir obras do mesmo autor. Não parece um cuidado presente em O homem que sorria - mas também não parece que os suecos e o resto do mundo se importam com isso.

O leitor também pode sentir falta, em certos momentos, de descrições mais minuciosas. Um exemplo é o recipiente encontrado no carro do advogado Sten Tortensson após sua morte. O perito o descreve inicialmente com tal superficialidade que fica difícil imaginar suas características, embora conhecê-las seja fundamental para acompanhar o raciocínio das investigações. Não é porque Drummond dizia que escrever é cortar palavras que se possa mutilar informações essenciais. Dizem por aí que o bom contador de histórias não atropela um raciocínio só porque já o conhece.

Entre altos e baixos, a instabilidade da saga policial pode incomodar. Que o leitor não espere ver solucionadas todas as pendências que o autor levanta. Muito menos se aprofundar nos questionamentos que surgem ao longo do livro - como a respeito da misteriosa indústria do tráfico de órgãos. Na verdade, é melhor que as expectativas se limitem ao conhecido desfecho "sentimentalóide", a saída mais rasteira para os dilemas sem solução. A crítica social e o tom jornalístico servem apenas de pano-de-fundo para esse pretenso épico.

Um país conhecido pela sua excelência literária (a Suécia é a terceira com o maior número de prêmios Nobel de Literatura) também tem seus Sidneys Sheldon e Paulos Coelho. O personagem Wallander é, de fato, um herói sueco. É tão cultuado por fãs que possui até uma entidade com seu nome. Seu site dá todas as coordenadas para quem quer conhecer a série policial. Apesar de seguir a infalível receita da saga do herói, a impressão na última página é que muitos livros começam bem, mas poucos terminam da mesma forma.

Para ir além






Tais Laporta
São Paulo, 30/5/2007

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